Harley-Davidson LiveWire: uma experiência eletrizante
O MOTO.com.br foi para a Espanha e teve o primeiro contato com a moto elétrica da fabricante norte-americana, que desembarca no Brasil até 2021
Por Gabriel Carvalho
Por Gabriel Carvalho
A indústria de motos começa a seguir uma tendência que se iniciou nos carros: a busca pela eletrificação. Se no caso das quatro rodas já existe no Brasil uma certa variedade de modelos movidos a energia elétrica produzidos por fabricantes de grande alcance - Renault, Nissan e BMW, por exemplo - o mesmo não se aplica quando o assunto é moto.
Isso deve começar a mudar em 2021, quando uma grande fabricante do mercado das duas rodas promete lançar uma moto elétrica em nosso país. É a previsão dada pela Harley-Davidson do Brasil para trazer para o território nacional a LiveWire, primeira motocicleta elétrica da marca.
Desde o ano passado, a moto é vendida no mercado internacional e a confirmação da vinda da LiveWire para o país aconteceu durante o Festival Duas Rodas, realizado no segundo semestre de 2019. O modelo, porém, já gerava certa dose de expectativa desde as primeiras aparições públicas, ainda na fase de desenvolvimento.
Eis que, no início deste ano, o MOTO.com.br foi convidado pela Harley-Davidson do Brasil para viajar para a Espanha para o evento chamado Triple S, que em breve será tema de matéria em nosso site.
A grata surpresa na programação do evento, no último dia de atividades programadas, era a oportunidade de ter o primeiro contato com a LiveWire. Um contato breve, mas significativo, que começa a ser contado nas próximas linhas.
Enquanto os jornalistas se preparavam para sair com a LiveWire, um dos instrutores e guias da Harley-Davidson no evento passou o aviso para todos, inclusive para o autor deste texto: “Quando ligar a moto, cuidado. Se a moto está ligada, está viva. Se você encostar sem querer no acelerador com a moto parada, ela pode pular para a frente”, disse o instrutor.
O alerta é importante, pois a LiveWire não emite som algum enquanto está parada. Entretanto, a fabricante pensou nisso e criou um recurso para alertar o motociclista: quando a LiveWire está parada, uma pulsação é emitida nas laterais da região onde ficaria o tanque de combustível de uma moto comum e o ponto de apoio da parte interna das coxas do piloto.
Tal pulsação pode ser ajustada em termos de intensidade ou desligada. Por ser o primeiro contato, o repórter achou prudente manter a pulsação ativada. Não custa lembrar: o H-D Revelation, nome dado pela fabricante ao motor elétrico da LiveWire, desenvolve 105 cv de potência máxima e torque de 11,83 kgf.m. Como em outras motos elétricas, o torque total é disponibilizado ao acionar o acelerador.
Sem marchas, a LiveWire não possui manete no punho esquerdo. Acostumado com motos tradicionais ou com scooters – estes contam com o freio traseiro no local, já que possuem transmissão automática - o repórter subiu na moto e buscou um manete como se fosse acionar uma embreagem. Força do hábito, logo descartada.
Para os primeiros momentos, o repórter optou pelo modo ‘Road’, que entrega potência e torque de forma equilibrada. Os demais modos pré-programados, totalizando quatro, são ‘Rain’, ‘Range’ e ‘Sport’. O primeiro é para piso molhado, o segundo ajusta os parâmetros para oferecer a maior autonomia possível e o terceiro para oferecer desempenho máximo. Além deles, há três modos customizáveis, que podem ser personalizados de acordo com a vontade do motociclista.
Mesmo no modo ‘Road’, a força da LiveWire impressiona. A ausência do som tradicional de um motor a combustão - o som da elétrica da Harley você pode ouvir aqui - fica em segundo plano quando o acelerador é um pouco mais exigido e a moto responde rapidamente. A velocidade cresce rápido, mas de forma progressiva.
Nesse momento, o piloto está tomado pela boa ciclística da LiveWire, pelo bom conjunto de suspensão da Showa - com garfo invertido na dianteira e monoamortecedor na traseira, ambos ajustáveis - e pela progressividade e sensibilidade dos freios Brembo, que contam com ABS atuante em curvas, recurso disponível também para o controle de tração. São 249 quilos em ordem de marcha, mas a sensação é de pilotar uma moto mais leve.
Quanto à posição de pilotagem, esqueça qualquer experiência com uma das motos do lineup atual da Harley-Davidson no Brasil. Na LiveWire, as pedaleiras são recuadas e a posição lembra a de uma naked/streetfighter de alto desempenho. E, falando em alto desempenho, era chegada a hora de experimentar o modo Sport.
Após entender melhor as condições do piso e as reações da LiveWire, o repórter decidiu experimentar o modo ‘Sport’, no qual a elétrica da Harley-Davidson entrega desempenho máximo. A velocidade cresce mais rápido ainda, mas a progressividade na entrega continua. Ponto para o trabalho de desenvolvimento da fabricante em cima do H-D Revelation.
A sensação ao exigir mais do acelerador da LiveWire não causa estranheza, pelo contrário: é como se a moto fosse uma velha conhecida, as reações trazem a mesma empolgação de uma motocicleta movida por um motor a combustão, mas sem o som característico com o qual estamos acostumados.
O que surpreende no modo Sport é a intensidade do freio-motor. Ao fechar o acelerador, a velocidade é reduzida de tal maneira que nem é necessário acionar com tanta intensidade os freios caso o motociclista pilote de forma um pouco mais tranquila. Caso a pilotagem seja mais esportiva, o freio-motor faz a diferença para encurtar as distâncias de frenagem.
E quando o freio-motor entra em ação é a hora do RESS (ou Sistema de Armazenamento de Energia Recarregável) atuar. Nas reduções de velocidade, ao fechar o acelerador, o motor da LiveWire se transforma em um gerador que leva energia de volta à RESS, ampliando assim a autonomia da moto.
Falando em autonomia, a Harley-Davidson estipula em cerca de 160 quilômetros a distância que pode ser percorrida com uma carga quando o trajeto do motociclista é composto por trechos urbanos e rodoviários. Quando o caminho é somente urbano, a LiveWire pode rodar até 235 quilômetros com uma carga.
Este repórter não fazia a menor ideia do que seria pilotar uma moto elétrica, apesar de ter esclarecido algumas dúvidas no passado em conversas informais com Eric Granado, piloto que representa o Brasil na MotoE, categoria composta por motos elétricas e que vai para a segunda temporada como uma das classes que integram a programação da MotoGP.
A Energica, que fornece as motos para a MotoE, tem uma vantagem em relação à Harley-Davidson nos modelos de rua: a autonomia. Na linha 2020, os modelos da Energica podem rodar até 400 quilômetros na cidade com uma carga.
O desenvolvimento da tecnologia elétrica avança a passos constantes e a Harley-Davidson, que diz querer liderar a eletrificação no mundo das duas rodas, já deve estar trabalhando para ampliar a autonomia da LiveWire e de outros futuros modelos que a fabricante deve introduzir no mercado.
Há quem possa sentir falta do som de motor com o qual estamos habituados, há quem possa sentir falta da troca de marchas. Há quem possa dizer que não quer saber de motos elétricas simplesmente por se tratar de uma moto elétrica.
Após experimentar a LiveWire, porém, fica a recomendação: deixe de lado os conceitos pré-estabelecidos sobre motos e, se puder, viva a experiência de pilotar o modelo. A LiveWire é uma moto que traz muito do que a gente já conhece sobre motos e, ao mesmo tempo, proporciona uma experiência única - tão única que talvez as palavras escritas aqui não sejam suficientes para explicar para o leitor o que foi vivido em Antequera.
E o “se puder” é relevante: o preço da Harley-Davidson LiveWire ao desembarcar no Brasil pode ser um obstáculo para muitos que vierem a se interessar pela moto como acontece com os carros elétricos no Brasil, que possuem preços pouco convidativos. Esse deve ser o caso da LiveWire, que na Espanha, por exemplo, tem preço inicial em € 33.700, o equivalente a R$ 177.250 em conversão direta - nos Estados Unidos, o preço inicial é de US$ 29,799, aproximadamente R$ 142.210.
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