Grandeza vista com outros olhos

Suzuki Burgman 400, o ''Jaspion'', é avaliado por motonauta no Moto Repórter. Confira!

Por Leandro Alvares

Leonardo Brito

Primeiramente, vamos conhecer os personagens desta história: de um lado eu, 35 anos, jornalista não praticante e motociclista desde 24 de setembro de 1995. Do outro, “Jaspion”, um simpático Suzuki Burgman 400 prata ano 2007, sonho de consumo que meu pai acalentou durante três anos.

Sempre fui adepto das trail — minha primeira moto foi uma XR 200, depois dela vieram duas Falcon —, mas tinha uma curiosidade inata por aquele scooter. Será que era mesmo tão confortável quanto o tamanho do banco e a ausência de transmissão convencional faziam supor?

Só havia um jeito de saber: negociar com meu pai a “cessão temporária” de sua jóia particular. Não demorou muito e lá estávamos eu e a cobaia, Jaspion, frente a frente.

Quem projetou o Burgman 400 certamente jamais imaginou que ele viria dar com os costados e as rodas no Brasil. Como um legítimo gaijin, ele ainda mostra dificuldades em sua adaptação, mesmo depois de alguns anos por aqui.

No começo, ele me deixou receoso, não sentia confiança em mim mesmo para equilibrar aquela massa nas saídas de semáforo. Mesmo a parada no farol era um momento de tensão para mim.

O rodar é macio e confortável até que se pega um trecho de asfalto mal conservado. As suspensões de curso curto sofrem horrores na buraqueira nossa de cada dia e as belas rodas aro 13 não são suficientes para absorver os choques.

O resultado é que a cada pancada o scooter corcoveia feito os touros de J.R. Ewing em Dallas, além de sua parte inferior requerer mais atenção em lombadas, notadamente quando se roda com garupa.

Passei por uma lombada no Guarujá que deu até pena do Jaspion, muito embora eu estivesse devagar. Notei também um incômodo nos punhos devido à posição do guidão. Suas pontas são levemente inclinadas, como nas customs, e isso me causou alguns minutos de dor nos punhos por conta da posição não-natural que eles se encontravam.

Isso aliado à tensão de estar pilotando um scooter daquele tamanho — que ainda por cima não era meu — num trânsito extremamente travado (era feriado prolongado aqui na Baixada) tornaram a primeira parte do passeio-avaliação um inferno de Dante.

Conforme o tempo foi passando, o Jaspion foi mostrando que tem seu lado bom. O primeiro ponto positivo foi a ergonomia dos comandos: a despeito da inclinação das pontas do guidão, os comandos são bem distribuídos e de fácil acesso. E ainda contam com um prático e útil lampejador de farol, bem localizado e de fácil manuseio.

Gostei bastante dos porta-objetos no escudo frontal, um de cada lado e com tampa, ótimos para pequenos volumes e coisas que precisam ficar a mão. Agora o que “mata a pau” mesmo é o bauleto sob o banco. Incrível como cabe coisa nele! Cabem até dois capacetes, mas atenção: fiz a experiência com dois cascos tamanho 60 e o banco não fechou de jeito nenhum. Fica, portanto, o aviso aos “cabeções”: dois corpos grandes não ocupam o mesmo espaço no Burgman 400.

Outra coisa boa nele, como já era de se esperar, é o banco. Aqui vale também o princípio da adaptação já descrito no lance do guidão: no começo, ele massacrou minha coluna, mas depois de um tempo já éramos bons amigos. E realmente, o banco é quase um divã.

O garupa, então, está com a vida que pediu a Deus: posição elevada, bom espaço para os pés (no 400, a pedaleira-plataforma cai muito bem, ao contrário do que acontece na caçula 125) e um encosto de tamanho adequado e bem integrado ao estilo do scooter. Fora a facilidade de montar nele, devido à baixa altura.

Depois que você pega o jeito, já se sente à vontade para uma condução mais solta. A palavra-chave para esses scooters grandes é adaptação. Tudo neles é diferente e motociclistas muito “viciados” em um tipo de moto certamente vão sofrer quando encararem um scooter grande pela frente.

Tem que se ter em mente, também, que as características desses scooters não estão de acordo com o que se encontra no Brasil. Meu pai comprou o Jaspion pensando em mais conforto do que teve com seu antigo Address e seus dois ex-Burgman 125.

Até lembro quando ele me perguntou: “E então, é igual a sua moto quando passa em buracos?” Puxa vida, minha moto era uma Falcon! Só eram iguais por terem duas rodas, e olhe lá. É nesse erro que muitos incorrem de achar que eles são iguais aos outros tipos de motos. Não são, e muitos só descobrem isso depois de um tremendo desencanto.

Quanto a mim, passei a olhar o Burgman 400 com outros olhos. Minha conclusão é de que alguns de seus defeitos podem ser superados com o tempo e o costume. Outros, talvez nem mereçam ser chamados de defeitos, e sim falta de costume com nosso país.

Como um legítimo gaijin, ele conserva suas tradições enquanto tenta entender o país que o adotou.

O “motonauta” Leonardo Brito participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Moto Repórter

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