Viagem sozinho de moto pela América do Sul

Nesta semana, Rodrigo Schmiegelow conta as vantagens e as desvantagem de viajar sozinho de moto

Por Gabriel Carvalho

Texto: Rodrigo Schmiegelow - 'O Mundo em Lanches'

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Logo nos meus primeiros dias na viagem sozinho de moto conheci um grupo de cinco motociclistas no final do Estado de São Paulo pela BR 116.  

Parte deles vieram do Recife e tinham começado a jornada fazia apenas cinco dias, outra parte se juntou em Florianópolis, o plano era chegar em Ushuaia em mais 5 dias.  

Os acompanhei até Curitiba andando em comboio pela primeira vez na vida, achei uma experiência interessante e bem diferente do que eu estava acostumado. 

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Fomos jantar e eles me convidaram para acompanhá-los até o fim do mundo.  

No começo fiquei tentado, era como se fosse um atalho para os meus planos de destinos chegando a um que sonhava em passar mesmo ainda não tendo certeza se iria ou não.  

Seriam apenas cinco dias depois poderia recomeçar a minha viagem sozinho de moto de lá.  

Pensei bastante durante a noite e no dia seguinte, às 5h, acordei no horário marcado apenas para me despedir.  

De forma leve me chamaram de louco por viajar sozinho, para mim os loucos eram eles em fazer uma viagem tão intensa com longas distâncias percorridas diariamente.  

Cada louco com sua loucura.  

Meu propósito com a viagem sozinho de moto 

Apesar de ser uma proposta tentadora eu estaria deixando para trás, pelo menos por um tempo, tudo o que eu imaginava para essa minha experiência.  

A começar por explorar um pouco mais o sul do Brasil, que ainda conhecia pouco.  

Mas mais do que isso, pausaria minha proposta de conhecer lugares, culturas, pessoas e culinárias para o meu projeto O Mundo em Lanches.  

E nestas poucas horas que acompanhei o grupo também deixei de curtir a rota sem preocupações porque com eles tinha metas e tinha um grupo, cada um com sua função na estrada, mas requerendo mais atenção e acompanhando um ritmo em conjunto.  

Segui o meu rumo 

Segui meu rumo e foi ótimo. Me senti com a leveza de ter feito a escolha certa e tudo o que aconteceu ainda no Brasil depois disso foi maravilhoso.  

E por que eu gosto tanto de viajar sozinho de moto? 

Listei aqui alguns pontos negativos, outros positivos e algumas curiosidades ao decorrer dessas vantagens e desvantagens que só aconteceram por estar apenas eu e a motoca nesta jornada - comentei sobre a viagem nesta publicação no MOTO.com.br.  

Ah, e antes de mais nada, é muito difícil estar sozinho enquanto viajo.  

Desvantagens em uma viagem sozinho de moto:  

Estar de fato sozinho  

Acabei de falar que é muito difícil estar sozinho em uma viagem, e é mesmo, mas neste caso, como foram cinco meses de estradas, acabei passando - veja as estradas por onde passei - alguns longos trechos sem conhecer quase ninguém pelo caminho.  

Isso foi principalmente descendo de Mendoza a Bariloche, na Argentina, onde percorri longos quilômetros passando apenas por pequenas cidades, a maioria delas mineradoras, então eram muito paradas.  

O que intensificou este sentimento foi o desgaste das estradas na região, com o sol escaldante do verão Argentino neste cenário que é meio desértico, estradas de rípio e poucos pontos de paradas - sombra? Fiquei sem saber o que era isso por alguns dias.  

Divisão de custos 

O problema aqui é consequência do ponto anterior. 

Como um dos meus propósitos é conhecer culturas através das culinárias para o projeto O Mundo em Lanches, gosto muito de ir em restaurantes locais e muitos deles não tem pratos individuais.  

Nossa, que problemão! De fato, não é, mas se vai viajar sozinho leve em consideração isso, que também reflete em compras no mercado já que em muitos deles não consegue produtos a granel.  

Além disso, os baús que eu tenho na moto são todos de plástico preto e esquentam muito, ficando mais difícil carregar alimentos perecíveis - a vantagem é ter a comida quentinha na hora do almoço.  

Se alguém tem uma solução para isso, aceito dicas.  

Divisão de custos não apenas para alimentação 

Essa divisão de custos também se dá para hospedagens. Eu gosto muito de ficar em hostel pelo custo benefício e por encontrar outros viajantes com o mesmo perfil do que eu.  

Mas em cidades pequenas não existem hostels então foquei mais em Airbnb que têm o custo fixo se eu for sozinho ou se tiver mais pessoas comigo, o que poderia baratear neste sentido também.  

Coragem  

No começo deste texto falei sobre o grupo de motociclistas descendo para o Ushuaia, o fim do mundo. Eu também tenho muita vontade de conhecer a região, mas desde que saí de casa tinha em mente que só iria se fosse com algum grupo junto.  

Depois dessa oportunidade não encontrei mais nenhum grupo fazendo o percurso e, confesso, não tive coragem de seguir mais para o sul do continente sozinho.  

Uma pequena parte que me serviu como desculpa é que precisa de dinheiro para não ir até lá apenas pelo Check In, apenas para falar que fui. 

Quero ir para aproveitar, fazer os passeios, subir montanhas, visitar os lagos e rios e até chegar mais perto da Antarctica e meu dinheiro não dava para isso.  

Mas a verdade é que fiquei com medo de enfrentar o frio, o vento e as estradas de rípio na continuação da Ruta 40 sem ter um apoio emergencial.  

Pouco antes já tinha enfrentado tudo isso em uma intensidade bem menor do que seria de Bariloche em diante e não me apeteceu passar por outro perrengue nessas condições.  

Então atravessei para o Chile e cheguei até Puerto Montt, o mais ao sul que já fui. Essa cidade não gostei muito, mas Puerto Varas, apenas 20km de distância dela foi tão surpreendente que encerrei meu último texto falando sobre o Vulcão Osorno, visível nesta cidade, releia aqui.  

E são apenas essas desvantagens? 

Essas foram as três principais desvantagens em uma viagem sozinho de moto para mim.  

Passei por dois grandes perrengues nestes 14 mil quilômetros: a corrente de moto estourando em Valparaíso e as estradas desmoronando em La Jaula.  

Para mim, em ambos foi melhor estar sozinho. No primeiro, consegui deixar a moto dentro de uma sala de um pessoal que morava na região, no segundo acampei por quatro noites em um vilarejo de quatro casas, ganhando comida e chuveiro que talvez não estariam disponíveis para mais pessoas.  

E agora começo com as vantagens em viajar sozinho de moto: 

Para mim a maior e a que já vale por tudo:  

Liberdade 

Ter flexibilidade: 

- para escolher o meu caminho;

- mudar de rota; 

- dormir onde quiser; 

- estender estadia em algum lugar que gostei;

- ter o meu próprio ritmo, poder parar, respirar, fotografar; 

- ficar com fome sem me preocupar em deixar alguém com fome; 

- reduzir o plano inicial de rota porque não estava a fim de continuar naquele dia.

E por aí vai, é o que mais gosto. 

Ah, e a mais importante, poder ter feito toda essa jornada sem ter que esperar o momento de ninguém. 

Tenho muitos amigos e vejo comentários em alguns grupos no Facebook de gente que sempre está esperando alguém para viajar. 

Neste caso até quando esperaria alguém com disponibilidade para viajar por cinco meses? Na verdade, viajar sem data para voltar. Preferi não descobrir e seguir o meu rumo.   

A segunda grande vantagem de viajar sozinho de moto é conhecer pessoas 

Faz parte da liberdade e também acontece em viagens que vou com mais alguém, mas estando sozinho fico mais aberto a conhecer pessoas.  

Me conhecendo, dificilmente teria feito uma rápida amizade com outro motociclista em uma estrada em um dia e marcado de ir fazer uma pequena viagem no dia seguinte se tivesse com mais alguém - e foi uma das únicas oportunidades de rodar pelos Andes e subir ao Cristo Redentor de Los Andes, foi incrível. 

Também uso muito o Couchsurfing, uma plataforma social que conecta viajantes - saiba mais nesta publicação que escrevi no O Mundo em Lanches 

Nela fico sabendo de eventos que as pessoas da região que estou compartilham, desde ida a algum bar para trocar ideia às festas.  

E nos hostels também, gosto deste tipo de hospedagem por isso, normalmente tem bastante gente viajando sozinho também e rapidamente criamos alguns grupos para conhecer algum lugar.  

A liberdade também leva à flexibilidade 

Eu não sou o maior planejador em uma viagem, gosto de ter uma ideia do que quero fazer, mas estar flexível para pegar indicações, mudar as datas das programações, ou até mesmo mudar de ideia se der na telha, sozinho faço tudo isso e as vezes me junto com grupos que iam fazer passeios que eu nem imaginava.   

Listei algumas vantagens em viajar sozinho de moto (ou com qualquer outro meio de transporte) que estão ligados entre si, mas que são muito importantes para mim.  

Tem outras vantagens e desvantagens? Conte-nos aqui nos comentários. 

Confira aqui os meus textos já publicados no MOTO.com.br.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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