8 ou 80: uma viagem de moto pela América do Sul

Confira a coluna de estreia de Rodrigo Schmiegelow, que em novembro de 2019 deu início ao sonho de viajar pelo mundo

Por Gabriel Carvalho

Texto: Rodrigo Schmiegelow

Entre o 8 e o 80 foi o resumo da minha longa viagem de moto pela América do Sul, que vou começar contando nesta publicação e continuar nas próximas. Mas, antes, vou contar um pouco sobre as minhas motivações e sobre mim. 

O que motivou minha viagem de moto pela América do Sul? 

Eu me encanto com cada curva que me leva a algo que nunca tinha visto antes. E as curvas descrevem bem meu estilo de viagem. As curvas são o presente, quando bem fechadas você já não vê mais o que ficou para trás e muito menos sabe o que vem pela frente, é só a concentração no momento atual vivendo intensamente aquela adrenalina retomando a aceleração para o próximo passo. Com o sucesso que as serras fazem para os motociclistas, essa sensação com certeza não é só minha.  

Ou é 8 ou 80 

Entre o 8 e o 80 foi o resumo da minha longa viagem de moto pela América do Sul. Foram 14 mil quilômetros, 145 dias e mais de 140 cidades em 4 países diferentes. 

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Estradas de tudo quanto é tipo: serras maravilhosas, retas intermináveis, de terra batida, de rípio (terra com pedra), areião, tapetōes e esburacadas, em cenários ou tempestades surgindo no horizonte de tirarem o fôlego.   

Beirei o mar e explorei interiores. Conheci muitas paisagens, culturas e gastronomias, e muita gente do mundo todo. E é claro, como de costume em longas viagens sozinho, conheci muito mais eu mesmo. 

Quem sou eu? 

Sou Rodrigo Schmiegelow, publicitário. Reorganizei toda a minha vida para, em novembro de 2019, realizar um sonho: viajar pelo mundo, começando de moto pelo Sul do Brasil, passando por Uruguai, Argentina e Chile, até ser obrigado a voltar por conta de nada mais nada menos do que ele: o coronavírus, claro. Não quero comparar com o impacto do vírus no mundo, mas a chegada dele refletiu também em quase todas as pequenas coisas, como uma viagem, por exemplo.  

Quais os próximos passos da viagem de moto pela América do Sul? 

Aguardo a vacinação para seguir viagem com minha motoca, que vou buscar no Chile (logo mais conto sobre isso), dessa vez como Nômade Digital, atendendo meus próprios clientes remotamente em minha área de atuação.   

E claro, alimentando o meu projeto 'O Mundo em Lanches', onde compartilho essas experiências e pretendo transformar as gastronomias conhecidas em sanduíches deliciosas para que o que eu vivi se torne algo palpável para quem me acompanha. 

Como tudo começou? 

O sonho da viagem começou quando eu ainda estava com uns 16 anos e aí volto aos 8 ou 80 que comentei no início do texto. Parti aos 33, mais velho do que os jovens de pouco mais de 18 anos que encontrei pelo caminho, e bem mais novo do que as aposentadas que esperaram se desvincular do trabalho para partir.  

Eu me estruturei, trabalhei por anos, juntei dinheiro, consegui alguns clientes com mais flexibilidade e fui. Não era uma viagem de desapego total, como muitos que cruzei, mas muito menos era de luxo e glamour, era o suficiente para o meu estilo, acampando vez ou outra e ficando em hostels em boa parte do tempo.  


Foto: arquivo pessoal

E qual foi a máquina nesta viagem? 

A minha moto também. Pesquisei bastante até chegar na decisão oficial da viagem: uma Kawasaki Versys X-300. 

Há quem viaje de 125cc, outros apenas com 1000 cc para cima. Encontrei uma no meio termo, que me dava conforto suficiente sem gastar muito. Aguentava rodar os 500km, 600km por dia, que também era o meu limite - e bem menos do que um grupo que conheci de 1000cc, indo do Recife ao Ushuaia durante as férias de pouco mais de um mês, rodando no mínimo 1.000 km por dia. Para mim já é loucura e está fora da minha proposta, do meu fôlego também.   

Parti sem entender nada de mecânica 

Eu amo a flexibilidade e a liberdade que a moto oferece. Mas não entendo nada de mecânica e isso quase foi um impeditivo inicial, mas mesmo assim eu fui. Por sorte, precisei apenas uma vez de mecânico na urgência, quando estourou a corrente em uma ladeira íngreme em Valparaíso, no Chile.   

Como foi a viagem de moto pela América do Sul? 

Foi uma linda viagem de moto pela América do Sul, foi incrível. Aqui eu posso dizer que fui muito mais do que os 80. Viajo apenas com uma ideia do que quero fazer, permitindo-me ser flexível para mudar o rumo a partir do que vejo e das dicas de quem vou conhecendo pelo caminho. E foi isso que me ajudou no meu retorno em meio a crise sanitária. 

Imprevistos no caminho 

Cheguei no Chile no dia em que o primeiro caso de covid foi confirmado no Brasil - no dia seguinte as confirmações foram na Argentina e no Chile. Deste dia em diante fui acompanhando a evolução dos casos e a cada parada para um café nas estradas via essa notícia cada vez tomando mais conta da programação na televisão.  

Em La Serena, caminho entre Santiago e San Pedro do Atacama, conheci outros dois motociclistas viajantes chilenos indo para a Bolívia, trocamos ideia, contatos e seguimos os nossos rumos.  

Agora já não tinha mais escolha  

Quando cheguei ao Atacama, as coisas apertaram de vez. De um dia para o outro, os governantes começaram a anunciar a quarentena e o fechamento das fronteiras. Isso foi em um sábado, a Argentina já fecharia no domingo e a Bolívia na segunda-feira. Sem saber o que faria, fui tomar um café com a dupla de motociclistas que tinha conhecido em La Serena e que não tinham ido até a Bolívia por conta de tudo isso.  

Eles me ofereceram um lugar para guardar a moto no quintal e algumas noites de hospedagem até eu conseguir voltar para o Brasil.  

A volta até Santiago 

E foi o que fiz. Acompanhei os dois de volta a Santiago em uma viagem tranquila de cinco noites, acampando na praia na maioria delas. Curtindo a paisagem e a beleza do Oceano Pacífico, e os pores do sol incríveis, vivendo alguns dias como se nada estivesse acontecendo no mundo - principalmente porque meu celular quebrou bem neste momento, sorte minha.  

No final, tudo deu certo na medida do possível. Peguei um voo de volta ao Brasil e fui me restabelecendo enquanto aguardo os próximos passos.   

O que aprendi em minha viagem de moto pela América do Sul?      

O que mais aprendi nesta longa viagem de moto pela América do Sul é que não existe 8 ou 80. Tem muita coisa nesse meio, tem muita coisa antes do 8 ou depois dos 80, e estar preparado mais ou menos ou se comparando com o momento dos outros é muito pior do que não fazer. Com a minha flexibilidade e o gosto por conhecer pessoas, eu fui. 

Viajar é para todos, só basta querer. 

Você gosta de viajar? Vou escrever aqui às terças e ficarei feliz em responder as suas dúvidas sobre viagens de longa duração. 

Nas próximas publicações também vou falar um pouco mais sobre a moto, sobre as estradas e lugares por onde passei, com perrengues e aventuras inimagináveis. Acompanhe!


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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