Coluna Motostory - A herança e o fora de estrada em 1970

O retorno do Carlão para o mundo das motos, a primeira prova de cross e os novos amigos da imprensa.

Por Thiago Dantas

Na última coluna descobrimos como Carlão começou a gostar do mundo de duas rodas até suas corridas em Vespas modificadas. No texto de hoje, ele conta a história do movimento das motos fora de estrada dos anos 70,  sendo um dos principais protagonistas.

No início dos anos 70 ocorreu uma prova de motocross na Cidade Universitária, e logicamente Carlão foi assistir. A pista era simples com dois pulos, mesmo assim, o público se juntou para acompanhar as manobras de Walter Tucano Barchi, Carlos Taques Bittencourt e Denisio Casarini. As motos usadas eram em sua grande maioria Yamaha de trilha e poucas motos especiais de motocross. Após essa prova inaugural, ocorreu outra em São Roque-SP que foi até televisionada e teve como destaque Paulé Salvalaggio.


Carlão Coachman na pista de cross próximo a ponte Cidade Jardim. Foto: Acervo Família Coachman Motostory

Mas foi no fim de 1973, após sua esposa, Lídia, receber uma pequena herança que Carlão começou a sua procura pela sua primeira moto. Seu foco de compra era uma moto trial e foi apenas em Abril de 1974 que ele achou a moto. Comprou uma Yamaha DT 250-A 0km.


Cópia da nota fiscal da Yamaha DT 250 adquirida por Carlão Coachman em 1974 Foto: Acervo Motostory

Após retirar a moto em um sábado da concessionária. Carlão verificou, em uma inspeção em sua casa, que faltava uma peça que fixava o eixo dianteiro por baixo. Na segunda, retornou à loja para comunicar a falha, mas o gerente não quis aceitar, afirmou que ele tinha perdido a tal da peça. Só depois que sua esposa conversou com o supervisor e conseguiu uma peça nova que Carlão partiu para as primeiras trilhas. 

Seus primeiros passeios foram nas trilhas da região do Morumbi aos sábados. Quando queria algo diferente, ele procurava a várzea, na Av. Marginal, próximo a Ponte da Cidade Jardim onde havia um campo de futebol e um bar com cerveja gelada e excelente sanduíche. 

Frequentando este local, ele conheceu o músico Julio Camargo Carone, outro amante das trilhas e que possuía uma DT 125E 1974 e uma AT1 250 1973. Os dois começamos a fazer trilhas juntos. Logo, Julio apresentou o Carlos Taques Bittencourt, que tinha uma Puch 125 e uma Suzuki 380 e havia participado daquela primeira prova de cross na Cidade Universitária e a turma foi crescendo. Também conheceu um vizinho que tinha uma DT 250 1972, e juntos, faziam trilhas na Granja Viana.

Nessa época, conheceu Philippe Estanislau do Amaral, que depois se dedicaria ao trial e aos quads, em que hoje é uma referência. Não tardou e o Carlos Bittencourt, o famoso “Bitencas”, apresentou o Emilio Camanzi, que tinha uma Suzuki 185 e na época era o editor da revista Quatro Rodas e que, por falta de companhia, às vezes levava sua moto para Belo Horizonte para fazer trilhas com o pessoal de lá.


Turma do Carlão em 1979 na região Oeste de São Paulo. Em pé: Julio Carone, Carlão, Sinésio Fernandes, Emilio Camanzi, Bitencas. Agachados: Luiz Costa Filho, Charles Marzanasco Filho e "Japa" da Editora Abril. Foto: Claudio Laranjeira/Motostory

Pronto. Esse grupo de amigos e conhecidos começou a se juntar para fazer trilhas e como o Carlão era o mais assíduo, o nome do grupo era Turma do Carlão. Além disso, Carlão tinha um ótimo senso de direção e nunca se perdia no caminho. 

Carlão, acabou conhecendo também Luiz Costa Filho, então da revista Duas Rodas, mais um que fazia trilha com a Turma do Carlão. 

Após assistir o filme chamado “Duas Ovelhas Negras”, onde o detetive usava uma Montesa para perseguir os bandidos, Carlão queria uma igual. Foi assim, que munidos de cartão de visita, que ele foi para a esquina do veneno em São Paulo, região da Rua General Osório,  procurar uma Montesa. Após alguns dias, ele recebeu a ligação de um lojista e foi pegar uma Montesa por Cr$ 22 000 e, agora, ele tinha duas motos.

Nessa época, seu amigo Décio Fantozzi, recém-casado, teve sua Honda CB 500 Four roubada de sua casa. Em uma oportunidade, Décio também pegou uma Montesa e os dois juntos começaram a brincar com as motos.  Os dois se intitulavam “pangarés”, apelido que pegou para o Décio. 


Carlão (Montesa Cota 247) empresta sua Yamaha DT 250 para Claudio Carmona, Decio Fantozzi (Pangaré) em outra Montesa na Cidade Universitária, São Paulo, 1977. Foto Acervo: Familia Coachman/Motostory

Além de todo esse pessoal, também se juntou à Turma do Carlão o Ronnie Kopenhagen Hornet, um rapaz que abordou o Carlão na Av. Europa e falou que ele tinha uma Montesa igual. Carlão falou que sempre fazia trilha ao Sábado de manhã e passou seu endereço. No Sábado, Ronnie estava lá pronto com a sua Montesa. Ele já tinha morado nos Estados Unidos e tinha praticado off road por lá (cross, baja e flat track) e andava muito bem de moto. Adorava se desafiar, por isso, sempre tentava subir ou descer os barrancos das trilhas. 

 
Ronnie Hornet Kopenhage empinando moto na região da Granja Viana, em São Paulo, 1977. Foto Acervo: Flávio Freire/Motostory

A Turma do Carlão soube aproveitar. Imagina conseguir fazer trilha na região do Morumbi? Curtir a natureza na própria cidade de São Paulo. Uma delicia! 

Quer saber mais sobre a vida de Carlão Coachman? Leia as colunas do MOTOSTORY, clique aqui. 

 


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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