Atacama Parte II
Confira a segunda parte de uma viagem de moto cheia de aventuras e boas histórias pela América do Sul
Por Leandro Lodo
Por Leandro Lodo
André Vegas
A parte I finalizou em um dia de turista em Buenos Aires, acabamos ficando dois dias na cidade para conhecer um pouco do principal centro de nossos “hermanos”, depois de descansar um pouco em terras argentinas os próximos dias da aventura ao Atacama serão de muita estrada e muitos Km rodados.
De pé logo cedo, a vontade de andar de moto já estava aflorando, mesmo com 2500 KM no odômetro os últimos dias estavam muito tranqüilos neste quesito. Com tudo preparado partimos rumo ao norte da argentina, a saída de Buenos Aires estava movimentada, transito e estrada com muitos carros. Chegamos a um pedágio e o susto do dia... Parei do lado da cabine e paguei as duas passagens, o operador me deu o troco e aguardei a liberação da cancela, fui liberado e passei mantendo a velocidade baixa aguardando meu pai. Os metros se passavam e nada dele aparecer, parei no acostamento mais a frente e depois de alguns instantes ele aparece, bravo e com uma marca amarela no capacete e no baú da moto... O “hermano” operador deu o mesmo sinal para ele passar e assim que partiu a cancela abaixou em cima dele, batendo na cabeça e travando no baú traseiro, a moto acabou desequilibrando e tombou com o peso das bagagens. A sorte foi que o slider deu conta do recado, por fim apenas o susto e algumas marcas no capacete e no baú.
Mas não podemos desanimar, seguimos viagem pelas belas rutas argentinas, rodovias em bom estado e com boa velocidade, os argentinos são pé-de-chumbo, andam sempre no limite ou um pouco acima dele. O tempo estava muito agradável, um calor gostoso nos acompanhou pelas longas retas que traçamos até a chegada em Rosário, cidade que visitamos apenas de passagem, paramos no centro onde havia um grande monumento, descansamos alguns momentos, algumas fotos e partimos para outra pernada. O clima esquentou mais e o calor começou a incomodar um pouco, exigindo mais paradas para hidratação, muita água, sorvetes e etc, continuávamos rumo ao norte e antes no fim da tarde chegamos onde pernoitaríamos, Córdoba. Na entrada da cidade finalmente e pela primeira vez fomos parados pela policia argentina, mais por curiosidade das motos, pois olharam rapidamente os documentos e nos liberaram. Córdoba também é uma cidade grande, não conhecemos muito, mas deu para perceber um grande volume de comércios, empresas, hotéis e etc. Passamos por um grande centro, com uma Igreja linda. Nos hospedamos em um hotel qualquer apenas para dormir e descansar pois hoje o dia foi produtivo com mais de 700 KM.
Apenas de passagem por Córdoba, levantamos cedo e fomos para estrada, nosso primeiro destino era próximo 40 KM dali, Villa Carlos Paz, uma cidadezinha pequena com um lago e pedalinhos e que segundo informações tinha um famoso relógio “cu-cú“. Procuramos esse relógio, procuramos, procuramos e nada. Eu olhava para o alto tentando identificar o local, imaginando algo estilo Big Bem... Não se engane, o famoso El Reloj CU-CÚ é simples e minúsculo, deve ter uns 4 ou 5 metros no máximo e conta com uma placa informativa o qualificando com Patrimônio Histórico. Me desculpe, mas achei essa atração muito sem graça e não recomendaria a ninguém. Na estrada novamente agora seguimos sentido oeste, seguindo placas para Mina Clavero, pegamos uma estrada muito gostosa, de pista simples, com muitas curvas e penhascos, a estrada estava vazia o que tornou o trajeto inesquecível, um belo visual nos acompanhou. Me pareceu uma antiga área de exploração, então por onde passávamos avistávamos rochas perfuradas por todo horizonte, outros momentos que não saem da memória. Chegando a entrada da cidade seguimos para o Dique La Viña, como o próprio nome diz, um dique. Uma grande construção de barragem de águas, não tinha ninguém para explicar, mas deve ser utilizado para represar a água na cidade nos períodos de seca, pelas datas em uma placa foi construído entre 1939 e 1944. Quem estiver de passagem vale a pena parar para conhecer, uma atração rápida e aproveitamos para esticar as pernas.
Mas vamos voltar ao que interessa, borá para estrada! Seguimos para o oeste, o Sol nos acompanha como em todas as tardes, o caminho novamente tranqüilo, vamos passando por grandes campos do interior argentino até começar a se aproximar de Mendonza, a cidade do vinho. Já é possível identificar essa característica ao se aproximar da cidade, muitas propriedades com plantações e a produção estava a todo vapor. Chegando à cidade fomos direto ao centro procurar um hotel, decidimos por algo um pouco melhor, estávamos cansados e iríamos ficar em Mendonza dois dias, ideal para dar uma relaxada antes de atravessar a cordilheira e conquistar mais uma fronteira inédita para nós. Primeira noite padrão: procuramos o centro e um restaurante para jantar, andamos um pouco e avistamos um Cassino que não nos animou então fomo dormir.
O segundo dia foi típico, visitamos algumas vinícolas nos arredores da cidade, um passeio gostoso, mas que requer uma atenção! A cada vinícola visitada são ofertadas degustações do principal produto da região, o vinho. Quem não toma cuidado pode facilmente se embriagar e para nós que estávamos de moto não seria uma boa experiência. Em uma das vinícolas visitamos um grande museu onde estavam expostos todo tipo de ferramenta utilizada nos antepassados da produção. É muito curioso avaliar as ferramentas e verificar a evolução das mesmas e da própria produção, o museu era muito completo e vale a pena conhecer. Na parte da tarde o programa era aventureiro e meu pai abortou a missão, cansado decidiu ficar no hotel e parti sozinho para conhecer outro local incrível que estava marcado no “caderno de sonhos”. Fiz um rápido planejamento pelo mapa da região e segui com destino a cordilheira, quanto mais você se aproxima, mais tem a idéia da dimensão dessa formação, é algo inexplicável.
O destino foi uma antiga rodovia, utilizada para travessia da cordilheira antes das modernas e asfaltadas rodovias atuais. Conhecida como Caracoles del Año a estrada é cinematográfica, sem asfalto e com muito “rípio” não era o terreno ideal para minha Bandit, mas a vontade de explorar e realizar mais um sonho foram maiores e rodei mais de 200 KM subindo a cordilheira nos meio de lhamas selvagens e aclives e declives de dar medo. Os precipícios à beira da estrada sem qualquer proteção faz você pilotar bem afastado dos cantos da estrada, mas alguns pontos são estreitos e com o terreno tão irregular que segui com os dois pés no chão para evitar sustos. Durante todo o percurso não encontrei nenhum outro aventureiro ou maluco, durante um período o medo começou a tomar conta, estava em um local desconhecido, não encontrei uma alma pelo caminho e meu GPS não estava sincronizado com a estrada, nada de placas ou algo que sinalizasse se estava no caminho certo até o momento que cheguei bem no alto da montanha, lá encontrei uma cruz e um pequeno santuário, um pouco mais a frente a estrada se dividia... eis o ponto mais tenso: direita ou esquerda?!?! Parei e desci da moto, tentei avistar algo ou alguém por todos os lados, tentei navegar um pouco pelo GPS para encontrar alguma informação relevante e nada.
A sorte deveria estar ao meu lado e decidi pela esquerda! E segui com aquele receio, alguns momentos dramáticos onde pensava em voltar, mas decidi seguir por mais 30 minutos, caso não encontrasse o caminho correto iria voltar pelo mesmo caminho que fiz na ida. E realmente a sorte estava do meu lado naquele dia, avistei a única placa pelo caminho todo e indicava a cidade de destino a 27 km... A tranqüilidade voltou e segui novamente curtindo aquele passeio Off-road com minha moto nada adequada. O passeio terminou em uma bela reta com diversas arvores todas alinhadas horizontalmente seguindo a estrada, um conjunto lindo, parecia que as arvores foram colocadas cuidadosamente e milimetricamente alinhadas. Espetáculos a parte cumpri o objetivo e voltei a Mendonza pela auto-estrada onde a Bandit se sente muito mais a vontade. De volta ao hotel é hora de reorganizar as coisas e descansar, no dia seguinte voltaremos à estrada e vamos atravessar a cordilheira.
Mais de dez dias viajando, não tínhamos parado para pensar, mas essa já era a maior aventura dos VEGAS Riders e ainda estávamos na metade, estava muito empolgado e já pensava em ver as águas do oceano pacifico do outro lado no continente. Em Mendonza preparamos as motos e tomamos o café, seguimos pela mesma estrada que voltei no dia anterior da aventura off-road. No horizonte a neve no cume da cordilheira me chamava muita atenção, não via a hora de chegar lá no meio e quem sabe tocá-la, seguimos a estrada cheia de caminhões, novamente uma estrada de tirar o fôlego de tão linda, o visual rochoso contrastava com o leito do rio que a estrada circundava, por boa parte do caminho uma antiga linha férrea desativada também nos acompanhava, alguns túneis e seguimos com a sensação de aclive permanente. A temperatura só diminuía e o calor de Mendonza já não nos acompanhava. Mais à frente avistamos um bloqueio, não entendi se era um pedágio ou algo do tipo. Eram apenas cabines onde passava apenas um veículo por vez, quando me aproximei percebi que eram homens do exercito ou policia da fronteira, não sei ao certo.
Mas estávamos bem devagar apenas seguindo o fluxo. Se aproximando lentamente não pensei que era necessário parar e segui em velocidade super reduzida e logo ouvi o apito e a solicitação de parada. O Oficial ficou um pouco aborrecido e nos deu uma bronca, falando aquele espanhol enrolado e eu de capacete quase não entendi nada, questionei se poderia seguir e ele nos liberou. Toda essa cena pra nada. Alguns KM a frente um posto e a entrada do conhecido Aconcágua. A mais alta montanha, o Everest das Américas estava ali na nossa frente, logicamente não é possível de tão perto avistar a grandiosa montanha, mas a sensação de estar por perto já é satisfatória, ver aquele pessoal “a caráter” para expedições na neve é engraçado e eles devem achar o mesmo de dois motociclistas com placas do Brasil... Motos abastecidas e meu pai começou a sofrer com o frio, aproveitou a parada para colocar um moletom por baixo e reforçar o cachecol eu também aproveitei para colocar o forro da jaqueta. Na estrada pouco a frente do acesso ao Aconcaguá avisamos as primeiras placas de divisa da fronteira, chega a emocionar, mas estamos conquistando uma fronteira inédita.
Pela primeira vez atravessamos a fronteira do Chile, um país cheio de particularidades, com um povo extremamente educado e hospitaleiro. A placa dizia “Bienvenido A La República De Chile” e lá estávamos!! Mais adiante a aduana, uma galpão fechado gigante, a primeira aduaneira fechada que vi... acredito que seja dessa forma para os períodos de inverno que naquela região são bem intensos. Entramos e entregamos a papelada passando por alguns guichês, vai pra lá, entrega papel aqui e ali e finalmente estávamos liberados, um oficial nos acompanhou até as motocicletas e pela primeira vez pediu para olhar as bagagens... perguntou se levávamos alimentos e etc. Deu uma rápida olhada e uma mala, abriu o baú da outra moto e nos liberou. Tudo isso aconteceu em apenas uma manhã... que dia! E os mortais também se alimentam, certo? Então paramos na famosa estação de esqui de Portillos. Fica a poucos KM da aduana e é muito luxuosa.
Pelas fotos no interior do hotel, no inverso aquilo deve “bombar”. Fomos direto ao restaurante, uma mesa cheia de talheres, pratos sobrepostos e copos... nem lembrava mais dessas formalidades, nós com capacetes, tankbags e jaquetas não combinávamos muito com o ritual, mas era só alegria, principalmente quando avistamos o cenário exposto pela janela em frente nossa mesa: As paredes de duas grandes montanhas formavam um “V” em nossa frente, na base um lago verde esmeralda e a neve contrastando com a cor das montanhas... Parecia um filme, mas era o nosso filme... a nossa viagem sonhada e planejada mentalmente por anos se realizando a cada dia com locais, paisagem e acontecimentos que ficarão pra sempre na memória. Impressionante como consigo relatar detalhes de um momento que aconteceu ano passado como se tivesse ocorrido semana passada. Uma bela macarronada nos foi servida, com um delicioso molho de tomate. Almoçamos muito bem e até avaliamos ficar por ali, fora de temporada a estadia estava muito em conta, mas não teríamos muito o que fazer lá naquela época... Quem sabe um dia voltamos na alta estação para nos aventurar esquiando... De volta as máquinas quase congeladas, meu pai agrega a capa de chuva ao arsenal “anti-frio” que ele montou ao seu redor.
Seguimos para os caracóis que simbolizam a descida da cordilheira para o lado chileno, são diversa curvas estilo cotovelo que fazem a descida brusca do alto da formação, contornamos cada curva no melhor estilo turista, devagar e fotografando, paramos em diversas delas para admirar a região. Mais um local para guardar na memória e contar histórias para interessados. Seguimos viagem até chegar próximo a Santiago, o transito de cidade grande logo nos envolveu e queríamos logo sair dali. Apesar de algumas boas atrações pulamos conhecer a cidade de Santiago devido ao tempo necessário, seguimos direto para seu litoral com destino a cidade de Algarrobo. Uma pacata cidade litorânea que fomos apenas para conhecer e tentar se hospedar no que achávamos ser um hotel que tem a maior piscina do mundo, com 1 km de extensão e 80 mil m² a atração pode ser vista do espaço através dos satélites de fotos do Google Maps e nos chamou a atenção, encontrar tal empreendimento em uma cidade tão pacata foi bem fácil, porém não se tratava de um hotel e sim de um condomínio particular de luxo.
Obtemos informações que muitas das unidades são utilizadas como “hotel” sendo alugadas constantemente, porém é necessário entrar em contato com um corretor, negociar e tudo mais. Então apenas conhecemos o empreendimento e retornamos a cidade em busca de hospedagem. Encontramos uma belíssima pousada de frente para o mar com um visual incrível, muito charmoso o local, ideal para passar uma boa temporada de paz com sua companheira. Estávamos retirando os equipamentos da moto e um homem se aproximou e logo começamos a conversar, era um motociclista chileno que tinha uma casa na cidade, logo marcamos de jantar no restaurante da pousada para conversarmos e trocar algumas idéias e dicas. O jantar foi bem proveitoso, nosso novo amigo nos deu muitas dicas e nos presenteou com um mapa rodoviário com os principais postos de gasolina, um achado!! Com isso nosso principal medo, ficar sem gasolina no deserto, foi vencido. Já estava esquecendo de comentar, mas finalmente chegamos no litoral do outro lado do continente, sim o oceano pacifico estava nos nossos pés... no fundo da pousada que era “pé na areia”, mais uma vez um sentimento incrível, a sensação de cruzar o continente em uma aventura fazendo o que mais gostamos... andar de moto.
Nossos próximos dias seriam de estrada, vamos entrar na região do atacama e seguir sentido norte, saímos de Algarrobo por uma simpática estrada (indicação de nosso novo amigo) de vias simples e com uma arborização incrível seguimos curtindo o visual charmoso do Chile. Em pouco mais de uma hora chegamos a Valparaiso, uma bela cidade conhecida por suas casinhas coloridas, ao chegar pela estrada que da acesso a cidade, é de impressionar os declives que você passa para chegar a orla da praia, acho que foram as descidas mais íngremes que já passei na minha vida. Uma seqüência interminável e logo chegamos a praia, paramos apenas para algumas fotos e esticar o esqueleto. Ainda rumo ao norte, seguimos sempre paralelos a costa que em alguns momentos nos presenteava com uma brisa e a visão de um lindo e azul oceano. A região do atacama é conhecida por suas diversidades, parece que tudo é ao extremo, durante o dia um calor forte quando se esta parado, na moto em velocidade de cruzeiro o vento te remete ao frio e a noite é congelante e não recomendada para se rodar.
Aos poucos a vegetação e as cores de flores vão acabando e a paisagem muda a cada KM percorrido se tornando seca, o céu da região é conhecido como o mais limpo do mundo e assim estava naquele dia. Céu extremamente azul, no horizonte apenas formações de montanhas com uma cor neutra e uma reta de cerca de 700 km pela frente quase sem movimento. Acho que essa é a descrição que ficou na minha memória e retrata como uma foto aquele dia. Seguimos ansioso curtindo cada momento e cada paisagem, em alguns momentos você se sente parado, mas ao reparar com detalhes começa a perceber que cada paisagem tem sua individual beleza. Foi um dia incrível, sonhado por boa parte da minha vida finalmente estava no Atacama. Pernoitamos numa cidade pequena pouco antes de Copiapó, aquela cidadezinha onde os mineiros ficaram presos, se chamava Vallenar. O hotel era bem simples, estilo familiar com um quarto amplo, estávamos bem cansados e este foi um dos poucos dias que acabou sendo necessário rodar alguns KM à noite.
Após uma noite de descanso e um café da manhã simples para enganar o estomago, estávamos ansiosos para iniciar a exploração da grande região desértica. Ritual matinal feito a motos que ficaram nos fundos do hotel em uma espécie de garagem, onde diversos veículos estavam aglomerados, estava pronta. E assim partimos para um dos mais importantes e longo dia da viagem. O clima típico nos acariciava com mais um belo dia de céu limpo com um azul hipnotizante, a pista estava em ótima condição apesar de ser uma via simples de mão dupla, a visão só é obstruída pela linha do horizonte ou por alguma formação de montanhas não muito alta e as retas são realmente intermináveis! O vento pela manha é bem gelado nos obrigando a mesmo com o Sol brilhando, a utilizar proteção no pescoço e forro na jaqueta. Seguimos rumo ao Norte do Chile, atravessando o deserto e curtindo uma bela manha de Dezembro, cerca de 50 KM a frente avistamos o acesso a cidade de Copiapó, cidade que estava famosa no final de 2010 pelo acidente na Mina que manteve por mais de dois meses trabalhadores presos em seu interior. Uma foto para recordação e seguimos em frente em uma jornada longa que chegaria próxima dos 1.000 KM naquele dia.
Por ser uma via simples a velocidade máxima desta rodovia era 100 Km/h. Vejam as fotos, olhem o tamanho das retas e o movimento... quase não passavam carros, estava tudo livre e nós mantendo 100 Km/h! Estávamos mantendo a velocidade permitida, afinal diferentemente da Argentina, no Chile os demais veículos respeitam os limites estabelecidos, mas em alguns momentos ultrapassávamos um pouco o limite, depois voltávamos ao limite e assim seguíamos atravessando aquela região magnífica, mas como todos conhecem a famosa “Lei de Murphy” nos mostrou que o provérbio não foi criado à toa. Após uma leve subida onde não se tinha total visão do horizonte, uma patrulha estrategicamente posicionada para fiscalizar a velocidade surgiu e nos flagrou segundo eles a 122 e 123 Km/h... Imediatamente o policial se posicionou no meio da pista sinalizando para que parássemos.
Aquela sensação de nervosismo nos contagiou e nos poucos momentos que tivemos antes da abordagem já começamos e pensar no: o que e como falar... Com um espanhol/castelhano bem difíceis de entender o policial nos abordou e solicitou os documentos da moto e carteira de habilitação, entrou no carro onde o outro colega estava e ficaram por alguns instantes, quando voltaram começou uma cena digna de cinema pela má interpretação nossa e dos policiais, como nós quase não entendíamos o que eles falavam e o contrario também ocorria, os gestos eram muito utilizados, eles apontavam para cada um de nós e nos mostravam as respectivas velocidades no radar, querendo fazer como que entendêssemos que eu estava a 123 e meu pai a 122 km/h. Mas para dificultar e enrolar ainda mais a situação nós fazíamos que não entendíamos nada e pedíamos para nos liberar para seguir viagem. Mas o Sr. Guarda não estava querendo nos liberar, começou a falar que nossos documentos estavam apreendidos e que transitar acima da velocidade no Chile era muito grave e que iríamos a julgamento.
A situação começou a ficar preocupante, pois no dia da ocorrência era um Sábado e eles nos explicavam que teríamos que voltar a Vallenar e que o julgamento para pagamento da multa e devolução dos documentos seria na segunda ou na terça-feira, novamente fazíamos que não entendíamos e partimos para estratégia de concordar que estávamos errados e perguntar quanto era a multa. Falamos ao guarda: OK! Entendemos que passamos do limite da velocidade! Não vamos mais fazer isso, nos desculpe. Mas precisamos pagar a multa e seguir viagem, vamos para Argentina ainda hoje. Insistindo e insistindo parece que os policiais cansaram de tentar nos explicar e perguntou no rádio se poderíamos pagar a multa no local... Neste momento sentimos um “jeitinho brasileiro”, eu perguntava quanto é a multa, quanto temos que pagar e então a falou o que nos tranqüilizou... o policial respondeu: Quanto vocês tem? – Neste momento senti que pagando algum valor seriamos liberados e seguiríamos a viagem e procurando “La plata” lembramos que o ultimo hotel de Vallenar, por ser familiar não aceitou “La tarjeta”, e tivemos que pagar em dinheiro. Ficando com pouca moeda local e no momento tínhamos menos de 100 dólares e um pouco mais de moeda Argentina.
A preocupação voltou com toda força e em uma tentativa desesperada eu comecei a tirar e contar moedas em cima do capo da viatura, foi engraçado. Algumas moedas caíram no chão e a cena começou a virar uma bagunça: meu pai de um lado falando com os policiais pedindo para que nos libere, eu contando moedas e finalmente no meio de toda esta cena grotesca os policiais desistiram... UFÁ... falaram algo como: Não façam mais isso, estaremos de olho, entraram no carro e partiram, não precisamos pagar nem 1 centavo e a alegria voltou a reinar, eu e o Sr. Walter riamos da situação ali no acostamento enquanto guardávamos tudo e nos preparávamos para voltar à estrada, combinando que não passaríamos mais dos 100 Km/h. Quando estávamos quase prontos para voltar a estrada, avistamos a viatura voltando no sentido contrario... Assustados com a possível desistência dos policiais, aceleramos os preparativos e já montamos nas motos, então fizeram o retorno e pararam novamente atrás de nós, anotaram provavelmente as placas e seguiram no mesmo sentido que o nosso, voltamos a estrada e a viatura a nossa frente à 80 Km/h... Perguntava ao meu pai, vamos ultrapassar?!? E achamos melhor ficar atrás mesmo. Eles rodaram por mais de uma hora conosco, bem devagar e nos observando até que chegaram a um acesso e acabaram seguindo em outro sentido. Finalmente nos livramos de vez desta apreensão e seguimos rigorosamente à 100 Km/h. Felizmente com um pouquinho de paciência e jogo de cintura deu tudo certo.
E depois de toda essa confusão, finalizo aqui a parte II desta aventura que vivemos no final de 2010. Este dia precisa até ser dividido para que tantos detalhes, emoções e situações inusitadas possam ser contadas com os detalhes que merecem. Rodando cerca de 1000 KM, atravessando o deserto do atacama, parados e escoltados pela policia, quase congelando de frio em uma das paradas e o momento que o asfalto acabou... todos esses são os fatos que vocês viram e verão na próxima parte do relato que irá contar como esse dia terminou... Espero que em breve possa publicar a parte III , até lá!!!!
Participantes da Etapa 2010 (Atacama):
André Borges P. R. Vegas
Idade: 24 anos
Moto: Suzuki 650 S
Walter Rosati Vegas
Idade: 51 anos
Moto: Suzuki 650 S
Para visualizar a Parte I desta aventura, acesse:
http://www.moto.com.br/viagens/conteudo/atacama_parte_i-50061.html
Aproveite e prestigie outros dos nossos relatos publicados:
Route66 (2010)
http://www.moto.com.br/viagens/conteudo/quase_5_mil_km_em_aventura_solo-33586.html
Sul (Uruguai) (2010)
http://www.moto.com.br/viagens/conteudo/aventura_da_familia_vegas_pelo_sul_do_pais-29683.html
Sul (Argentina / Paraguai) (2009)
http://www.moto.com.br/viagens/conteudo/aventura_da_familia_vegas_em_2009-34151.html
O “motonauta” André Vegas participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Envie sua notícia!
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