Aventura da Família Vegas pelo Sul do País
VEGAS Riders 2010: De São Paulo ao extremo Sul do País totalizando 4.100 km em nove dias.
Por Roberto Brandão
Por Roberto Brandão
André Borges Pereira Rosati Vegas
A família Vegas novamente se organizou para a aventura anual sobre duas rodas. Este ano, porém, com o desfalque do Thiago, que por motivos profissionais não pode participar. Portanto seria uma aventura apenas entre pai e filho a bordo de um mesmo modelo, a Bandit 650 S. O objetivo principal era rodar entre três e quatro mil quilômetros e visitar o extremo sul do país, o Chuí. Tínhamos nove dias para isso, muita coragem e espírito de aventura. Realizamos um planejamento prévio, mas nada muito profissional, sem GPS ou destino e rota definida. Saímos com o roteiro decorado na cabeça e um guia para as horas de desespero.
Acordamos cedo no primeiro dia, para garantir uma boa esticada em quilômetros. Saímos de São Paulo já um pouco atrasados, por volta das oito horas da manhã, sentido a região sul do país. Aproveitamos a inauguração do trecho sul do rodoanel para o incluirmos no nosso roteiro. Tempo bom e céu claro estavam nos animando para iniciar a aventura. Decidimos tentar seguir pela Regis Bittencourt mesmo sabendo das condições da primeira serra, próximo à Registro (SP) e acertamos na previsão do que nos esperava. Muitos caminhões e transito lento. Mas nada de desanimar, um pouco de paciência e uma hora de transito é o suficiente para superar o único trecho complicado do roteiro.
Seguimos pela BR116 até a entrada da Serra da Graciosa, já no Paraná. Descemos a serra de paralelepípedo lentamente, curtindo a paisagem e tirando fotos. Estava um calor forte, propício para guardar a jaqueta na bagagem por alguns instantes e curtir o vento no corpo. Para quem nunca foi, vale a dica de conhecer esta serra, meu pai já havia visitado a serra no ano passado, porém de carro. Esta foi a oportunidade perfeita para uma estréia sobre duas rodas. Já no fim da serra e famintos, fomos em direção à cidade de Morretes, cidade muito bonita com casarões antigos no centro e um prato tipicamente histórico, a barreada. Não é a refeição mais indicada para esse tipo de viagem, mas estávamos dispostos a degustá-la.
Após o almoço, seguimos sentido litoral, chegando a Matinhos, onde pegamos o Ferry Boat até a praia de Guaratuba. Esta merece destaque. Uma praia linda, organizada, deu até vontade de ficar por lá, mas seguindo o planejamento deveríamos ir em frente. Ainda tínhamos que rodar cerca de 250 km. Descendo agora pela BR101, nosso destino para pernoite era Balneário Camburiú, cidade que dispensa comentários. Totalmente voltada para o turismo, Balneário possui toda infra-estrutura necessária para o turista. Nos instalamos em um hotel e seguimos para uma voltinha de moto na avenida beira-mar. Muita gente na rua e trânsito de cidade grande. Tivemos até que utilizar o corredor para agilizar o passeio.
O dia seguinte, tiramos para conhecer a cidade. Andamos no famoso e bem estruturado teleférico, conhecemos a praia de pitangueiras e o morro do careca. O tempo, pra variar, estava lindo. Muito sol e calor. Na volta do teleférico nos deparamos com um mini encontro de BUG´s. Os lindos modelos, alguns personalizados, nos fizeram ficar alguns minutos admirando e renderam algumas fotos. Visitamos o Cristo-luz, porém durante o dia que quase não tem atrações, poucas pessoas e algumas fotos. Neste momento, decidimos continuar a aventura, saindo no fim da tarde de Balneário.
Seguimos pela BR101 sentido sul, passando direto por Florianópolis até chegar a Tubarão. Após “Floripa”, a BR ainda está em obras para duplicação, porém a organização e a quantidade de trechos de lentidão melhorou muito desde o ano passado, que foi a última vez que passamos nessa região. Por volta das 18 horas já estávamos em Tubarão. A idéia inicial era pernoitar em Tubarão, para no dia seguinte visitar a Serra do Rio Rastro, que fica a 50 km dali. Mas como já havíamos visitado essa Serra ano passado durante o dia e lembrando que a Serra possui iluminação especialmente para visitas noturnas, decidimos seguir viagem e desta vez visitar esse inesquecível local à noite.
Chegando à serra, começaram as curvas, pista simples, piso de concreto e muitas, muitas curvas. Começamos a conversar e brincar pelo inter-comunicador dizendo que era possível ver a placa de sua própria moto em algumas curvas. Porém no meio de tantas curvas, me perguntei: Cadê a iluminação? Já estávamos no meio de diversas curvas há cerca de 15 minutos e a escuridão permanecia. Graças à um céu estrelado e a uma lua incrível que só aumentava de tamanho a cada quilometro de subida, a escuridão não estava total. Mas quando menos esperávamos o “sol raiou”.
Chegamos ao trecho iluminado. Com uma luz de tom alaranjado, a serra fica ainda mais charmosa e as íngremes subidas resultaram em alguns vídeos e diversas fotos. Foi uma experiência incrível que infelizmente terminou alguns quilômetros acima. Nos quase 1.800 metros de altitude, encontramos a pacata cidade de Bom Jardim da Serra. A cidade fica no topo da serra e nos acolheu em um hotel pequeno, mas que nos surpreendeu na qualidade dos aposentos. Pernoitamos após uma pizza caseira e alguns chocolates incríveis.
No dia seguinte, conversando com o pessoal do hotel, descobrimos que a região estava cheia de turistas e que estava acontecendo a 18ª Festa da Maça, em São Joaquim, cidade bem próxima dali. Essa informação nos fez entender a quantidade de maças próximas ao acostamento da estrada, em diversos pontos notamos grandes quantidades da fruta ao longo da rodovia. Então seguimos para São Joaquim, onde tivemos algumas surpresas. Primeiro que a tão comentada festa, parecia não estar acontecendo, com exceção de alguns avisos e cartazes a rotina da cidade parecia normal. Paramos no centro da cidade para comer algo, abastecer e pegar informações sobre o roteiro. Então surge a segunda surpresa, o caminho que havíamos planejado para seguir até Gramado era de terra e muito ruim para o estilo de moto que estávamos. Foi necessário desviar por Lages, descendo até Caxias do Sul, o que aumentou um pouco nosso planejamento. Resultado: só chegaríamos a Gramado após anoitecer.
Com essa idéia em mente, seguimos viagem. Sem muitas paradas para fotos, tentamos rodar a maior quantidade de quilômetros ainda sobre a luz do dia. Seguindo pela BR116 por volta das 17 horas, já estávamos em Caxias. Paramos para abastecimento e um rápido descanso, afinal tínhamos passado o dia inteiro em cima da moto. Saindo de Caxias já escurecendo, pegamos a estrada sentido Gramado, muito movimento e curvas.
Seguimos pelo caminho de Nova Petrópolis que é mais “perigoso”, mas com cautela e paciência deu para seguir viagem. Após um dos pedágios, pegamos a saída e logo percebemos que seguíamos na direção errada. Paramos para pegar informações e realmente estávamos enganados. Segui no acostamento para fazer o retorno e percebi muitas pedras grandes jogadas pela pista. Tomando cuidado fiz o retorno e segui. Poucos segundos depois um susto anunciado pelo inter-comunicador, meu pai pedindo para eu retornar, pois ele havia caído. No momento em que ele iria fazer o retorno surgiu um carro e ele teve que abortar a manobra, ao parar pisou em uma das pedras espalhadas pela pista e escorregou, perdendo o apoio da moto. Nada grave, apenas o susto, após uma rápida parada para recuperação do único evento desse tipo na aventura, seguimos até Gramado para pernoitar.
A idéia era ficar em Gramado e Canela um dia e conhecer as atrações turísticas da região, mas analisando a previsão do tempo, muita chuva estava para cair naquela região e já acordamos com a confirmação do que dizia os sites meteorológicos. Chuva pela manhã e mudança nos planos, decidimos seguir em direção ao extremo sul, onde a previsão estava mais otimista. Saímos de Gramado sob chuva, sentido a Porto Alegre, seguindo com cuidado devido à pista molhada. Antes mesmo do almoço, olhando em direção ao Sul na linha do horizonte, já avistávamos a melhora do tempo. Fizemos a escolha certa. Seguimos sentido a Pelotas e depois Rio Grande, pretendendo chegar ao destino final ainda neste dia. O Objetivo era o Chuí, o extremo sul de nosso país, o ponto mais ao sul do Brasil.
Após a cidade de Rio Grande, pegamos uma estrada diferente das demais, é uma característica que ainda não conhecíamos em tamanha proporção. A rodovia é uma reta infinita, com a mesma paisagem e quase sem movimento. Mais de 200 km em linha reta procurando algo no fim da linha do horizonte. A única distração deste trecho são os pássaros que vivem em bandos e habitam a pista. Sim, a pista da rodovia. São muitos pássaros de porte pequeno que circundam a rodovia. É possível encontrá-los por quase toda a extensão desta região e conforme você se aproxima, eles voam! Porém são bem ousados deixando sempre para o último momento. Em algumas situações foi necessário diminuir a velocidade para garantir a segurança.
Ao anoitecer estávamos cruzando a aduaneira da Policia Federal onde já encontramos a placas de divisa do Brasil com o Uruguai. Para os que duvidam, podemos garantir, SIM o Chuí existe. É bem pequeno, não há nada para fazer além de compras, mas existe. Hospedamos-nos no único hotel com garagem fechada e no dia seguinte fomos conhecer os “freeshops” e comprar algumas lembranças. Após um dia de passeio e compras era hora de começar o retorno para São Paulo, mas ainda tinhamos quatro dias para conhecer alguns lugares pelo caminho de volta.
Saímos de Chuí bem cedo. O planejamento era rodar cerca de 900 km e pernoitar próximo a Gramado, onde iríamos compensar aquele dia que adiantamos por causa do mal tempo. Uma olhada na previsão meteorológica e más notícias, mas o pensamento positivo estava em alta. Seguimos pelas mesmas rodovias e no horário do almoço já estávamos em Porto Alegre novamente. Nesse meio tempo, pegamos algumas pancadas de chuva forte e a garoa nos acompanhou por longos trechos. Lá decidimos que não seria uma boa idéia subir direto para Gramado devido as chuvas, então seguimos sentido litoral pela Freeway, rodovia bem sinalizada, de grande porte, muito parecida com a nossa Imigrantes aqui de São Paulo. O tempo melhorou um pouco e nos animamos, passamos por Osório onde contornamos uma linda represa, vimos cenários perfeitos e finalmente chegamos em Terras de Areia para decidir o local de pernoite.
Como o tempo havia dado sinais de melhora decidimos seguir viagem pela Rota do Sol e dormir em Canela. Não classifico essa decisão como um erro, mas deveríamos ter acreditado na previsão do tempo. Lição aprendida: Quando o site de meteorologia indicar uma chuva de 88 mm, ACREDITE! Neste trecho tomamos o que consideramos a maior chuva da história das viagens da família Vegas. O recorde anterior, estavamos em um temporal que enfrentamos próximo a Botucatu no ano de 2007, quando fomos para Bonito (MS). Parece engraçado, mas percorremos a conhecida Rota do SOL sob muita chuva e os altos paredões de rochas das encostas nos assustavam. Havia diversas placas indicando o perigo de desmoronamento e deslizamento de pedras e ao prestar atenção no canto da pista víamos que realmente essas pedras caem lá de cima. Até agora não temos certeza que existem cachoeiras nos meio dessas encostas ou eram as águas da chuvas que estavam descendo com um volume impressionante. As roupas impermeáveis não adiantaram 100%, mas nos ajudaram bastante. Era tanta água, mas tanta água que não conseguimos enxergar a placa que indicava a saída para a cidade de Canela. Passamos reto e quando paramos no posto para abastecimento e buscar informações, já havíamos passado 55 km da entrada, estávamos cansados, muito molhados. Já estava escurecendo e havíamos errado o caminho. Tudo indicava para não ir à Gramado e Canela, então respeitamos esses indicadores e seguimos para Caxias do Sul, que estava 50 km à frente onde pernoitamos exaustos.
Acordamos com chuva, café da manhã reforçado e olhada na previsão. A melhor região para seguir viagem com relação às chuvas, era o Paraná, então decidimos conhecer Curitiba. Seguindo sentido norte na BR116 rodamos mais de 500 km, e pra variar, água. Mas em alguns trechos o tempo melhorava. Não chegamos a ver o sol, mas pelo menos chegamos a rodar com pista seca, o que já estávamos com saudades.
Ao chegar em Curitiba em plena sexta-feira a chuva voltou e o resultado foi de chuva + sexta-feira + cidade grande = Trânsito. Demoramos mais de 1 hora para entrar na cidade e chegar ao Flat. Em Curitiba temos um integrante da família Vegas. Meu irmão está morando lá devido ao trabalho, mas como era Sábado ele havia vindo para São Paulo e aproveitamos e ficamos no apartamento dele.
Ao avaliar o estado das motos, percebemos o que mais de 1.000 km sob chuva são capazes de fazer. As motos estavam sujas, imundas, como nunca visto antes! No sábado visitamos diversos pontos turísticos de Curitiba. A cidade disponibiliza pelo custo de R$ 20,00, um ônibus circular de dois andares, sendo o segundo andar descoberto, que passa em mais de 20 pontos turísticos da cidade. O ingresso lhe dá direito a cinco paradas e tem atrações para todos os gostos e idades. Decidimos visitar o lindo Museu Oscar Niemeyer, onde encontramos um local muito bem organizado e repleto de turistas. Também visitamos a Opera de Arame, onde já se apresentou Paul McCartney e para fechar o dia visitamos uma torre de telefonia que possui um observatório no topo com 110 metros de altura, onde é possível visualizar a cidade inteira. E, finalmente, chegamos ao último dia da aventura.
A saída de Curitiba foi sob tempo nublado, mas sem chuva. Seguimos subindo pela BR116 sentido São Paulo. O tempo foi melhorando e voltamos a ver o sol. Antes de Registro, na BR, saímos sentido litoral sul para evitar a serra e o trânsito que pegamos na ida. Percorremos todo litoral desde Peruíbe até a Praia Grande onde acessamos o sistema Imigrantes na subida da serra. Na chegada a SP outro fenômeno climático. Neblina. Era só o que faltava para completar. A neblina estava bem forte, mas seguimos com cautela e novamente acessamos o trecho sul do Rodoanel para chegar em casa depois de nove dias de aventuras, muitas fotos e histórias para contar.
Em resumo essa foi nossa aventura anual sobre duas rodas. rodamos 4.100 km em nove dias, conhecemos várias das serras gaúchas, fomos para praia, sofremos com o calor, passamos um friozinho gostoso em Bom Jardim da Serra e a chuva nos fez muita companhia na volta do extremo sul. Enfim, uma aventura completa que ficará em nossa memória para sempre, assim como as demais.
Recomendo a todos que se organizem e tracem estratégias e objetivos em suas vidas tanto para o trabalho quanto para o lazer. Colecione histórias e momentos especiais. VEGAS Riders: O mundo vive rodando. Nós também!
Participantes da Etapa 2010 (Sul) André Borges P. R. Vegas Idade: 24 anos Moto: Suzuki Bandit 650 S Walter Rosati Vegas Idade: 51 anos Moto: Suzuki Bandit 650 S.
O “motonauta” André Borges Pereira Rosati Vegas participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.
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