África do Sul: As montanhas de Sani Pass
Na terceira parte, motonauta conta como ele e seus amigos encararam as decidas de Sani Pass.
Por André Jordão
Por André Jordão
Bruno Bonotto
Nós acordamos em uma manhã de frio e neblina em Nottingham Road. No café da manhã Marius indicou que está melhor para pilotar no dia de hoje. Decidirá na base de Sani Pass se vai subir ou não. Todas as motos descarregadas e os pilotos equipados para o bate-volta.
Neste momento percebemos que Pieter tinha o pára-brisa quebrado. Pieter, Eu e Ethienne conversamos com o Capitan Morgan (Run Jamaicano) a noite inteira e não conseguimos descobrir quem foi que derrubou a moto de Pieter. Descobriu-se então que o side stand da moto cedeu durante a noite e tombou para cima da moto do Drix e rachou o pára-brisas, nada demais, consertado com durepox no local.
Pegamos o asfalto para Rosetta. Em seguida, para Kamberg por terra. Passamos por algumas das estradas de terra mais bonitas e cênicas que a África do Sul tem para oferecer. Fomos pela área de conservação da natureza Kamberg, depois por Lower Lotheni, em seguida para Himeville para o início do aguardado Sani Pass!
Sani Pass
A partir de Himeville anda-se de 30 km para o topo de Sani Pass. Esses 30 km podem ser divididos mais ou menos em três seções, cada uma mais difícil do que a outra.
Aproximadamente assim:
i) + ou - 10 quilômetros ao Sani Pass Hotel - muito fácil (Nível 1) - Esta secção está em vias de ser asfaltada(brita)
ii) + ou - 10 quilômetros ao posto de fronteira SA - ficando um pouco mais áspero (Nível 3-4)
iii) + ou - 10 quilômetros ao topo - Esta é difícil (Nível 4-5)
Todo mundo chegou ao posto de fronteira da África do Sul sem qualquer aborrecimento, todos nós fizemos o trâmite dos passaportes e estávamos prontos para enfrentar a subida. Nós desconectamos o reboque e o deixamos no posto de fronteira.
Dani, sabiamente, decidiu não tentar o passe. Marius decidiu que iria tentar com a F 800 GS da Dani. Após cerca de 300m havia uma colina rochosa e esburacada para subir, Marius, que não estava acostumado com a GS 800, muito consciente decidiu não se arriscar. Voltou ao posto de fronteira para deixar moto de Dani.
Então, agora na Toyota SW4: Brian, Ethienne, Marius, Dani, Daniela e Keegan. Sani Pass estava em péssimas condições e a Toyota foi sacudindo, subindo e descendo todo o caminho até o topo.
Perdemos o contato com o apoio, uma vez que se fazia necessário tocar e manter o “momentum” (a inércia dinâmica). Havia agora 5 motos no passe, Pieter, Marnus, Drix, Bruno e Shangali. Depois de cada curva, ficava pior e pior e eu rezei para que todos nós 5 pudéssemos conseguir!!!
Cerca de 5 km para o topo, Shangali estacionou em um dos cantos, ele estava cansado, e eu não quero dizer cansado como após uma corrida rápida, quero dizer que o homem estava perto de desmaio. Agora para você que não sabe, Shangali é um suíço amputado da perna inferior direita. É muito difícil para ele ficar de pé, muito menos em pé sobre as pedaleiras, lutando com uma 1200GS em uma subida de gradiente 12%, sobre rochas extremamente soltas. Nós não podíamos acreditar no que ele fez até agora. Mas fez o bastante, ele estava desidratado e tinha muita dor na perna. Ele tomou a decisão inteligente de descansar até recuperar-se o suficiente para enfrentar a estrada de volta para baixo.
Algumas centenas de metros adiante Eu e Marnus tivemos que esperar por algum tempo o tráfego de 4 x 4 descendo passar. Acontece que são poucas as opções de traçado a escolher e, com as caminhonetes descendo, elas chegam a ZERO!. Nós estavávamos muito cansados e ofegantes (Altitude!!!).....
Marnus fez um movimento “ninja” e veio abaixo, não foi uma queda dura, mas a moto estava com ambas as rodas no ar acima do nível do banco — e essa não é a melhor posição para levantar uma 1200 GS. Mas Marnus é um cara grande, e com a adrenalina pulsando levantou a moto como se fosse um 50cc, contornou-a, subiu e seguiu!
Eu fiquei preso um pouco mais adiante e não conseguia obter nenhuma tração nas pedras soltas. Marius desceu do carro e me ajudou. Finalmente consegui prosseguir. Drix e Pieter, apesar de mais experientes, também estavam trabalhando duro no caminho para o topo.
Quando paramos um pouco antes da última curva, Pieter decidiu que poderia ser uma boa idéia reduzir um pouco mais a pressão do pneu. Um pouco atrasado, eu diria, mas deve ter ajudado, uma vez que, na volta, ele quebrou o seu recorde de descida — algo como 14 minutos!
As Vans (Táxis) 4x4 me impressionaram! Em certo estágio, muito difícil, um deles se colocou na pior e mais rochosa parte para permitir minha passagem, já que eu estava um “pouquinho” rápido!. RESPEITO…! O trânsito de 4 x 4 estava agora intenso e os carros descendo não deixavam espaço para passar morro acima, tive que parar na curva e esperar ...
Eu e Marnus, agora à espera para obter uma lacuna no engarrafamento. Você pode ver o carro de apoio de Brian se aproximando em nossa direção... e mais engarrafamento ...
Eventualmente pudemos nos reagrupar para enfrentar as últimas curvas em forma de grampo. Tudo que se sentia era o cheiro da embreagem de Marnus... Mas pelo menos a vista era estupenda!
Finalmente todos nós quatro chegamos ao topo - muito cansados - muito felizes. Após a “terra de ninguém”, entre os dois países, foi duro convencer o funcionário da imigração a me deixar passar sem o visto, mas como o Pub era 300m dali, deixei meu passaporte com ele, junto com a assombrosa quantia de ZAR 20,00 (R$ 5,00!). Após cruzar a fronteira, fomos ao mais alto Pub da África.
Lá havia muitos motociclistas (motocross) e ofereci 200 Rands (R$ 50,00) para um deles levar minha moto para baixo...rsrsrs. Como ninguém se habilitou, tomei um duplo de Captain Morgan e criei coragem para descer!!!!
Esse europeu que vinha do Lesotho e desceria Sani Pass desistiu e usou o apoio da operadora de turismo. A panorâmica lá de cima é de tirar o fôlego...! O tempo estava se esgotando, por isso, precisávamos seguir em frente, ou melhor, abaixo!
Nós tomamos a proa de volta e tive uma ou duas quedas nas rochas soltas, novamente nada de importante. Essa é a coisa agradável sobre dirigir uma GS, 99% de suas quedas são em velocidade muito lenta. Tomando fôlego, na sombra...
No posto de fronteira, nos reunimos com Shangali. Dani e Marius voltaram para as motos, pegamos o reboque e voltamos para Himeville para abastecimento. De lá fizemos todo o caminho de volta para Notties no asfalto, para mais uma vez chegarmos depois de escurecer. Todo mundo estava MUITO cansado após dois dias extremamente duros e longos com as motos. Tivemos um churrasco maravilhoso e todo mundo, após “celebrar” a proeza, foi para a cama.
Tudo somado, um dia magnífico no país. Na verdade, dois países e um trecho da lendária terra de ninguém. Ethienne estava se sentindo culpado pelos dois duros dias e decidiu rever seu planejamento para o dia seguinte.... Ele não queria deixar que nós tivéssemos mais um dia difícil...
Próxima parte....o caminho de volta por antigas e lindas estradas e passes de montanha.
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