BMW K1600 GT: Uma viagem para o futuro
Rodamos 300 km com o novo modelo da BMW, a K 1600 GT, na África do Sul.
Por Roberto Brandão
Por Roberto Brandão
Arthur Caldeira
Podia passar mais tempo no confortável banco, sem ligar a nova BMW K 1600 GT. Afinal, o painel e os comandos nos punhos mais se parecem com os instrumentos de um avião, tantas são as informações e botões disponíveis. Mas já eram oito horas da manhã e a pontualidade germânica exigia que eu escolhesse a rota predefinida no sistema de navegação embutido e partisse para uma viagem teste de exatos 286 km pelos arredores da Cidade do Cabo, na África do Sul, com a nova grã-turismo da BMW.
Entorpecido pelo fuso horário de cinco horas a mais e também pela visão de 30 unidades da enorme K 1600 GT, todas na cor vinho, prontas para pegar a estrada, girei a chave da moto e fiquei hipnotizado por alguns segundos. Uma animação faz surgir um numeral seis na tela de cristal líquido TFT, denunciando logo de cara um dos principais atrativos da nova moto: o motor de seis cilindros em linha e 1649 cm³ de capacidade.
“Nossa experiência em motores com essa arquitetura em automóveis foi fundamental para desenvolvermos esse propulsor inédito em nossas motocicletas”, confessou o vice-presidente executivo de desenvolvimento e novos modelos da BMW, Dr. Christian Landerl. Todo o know-how da marca alemã foi utilizado para construir um motor de seis cilindros bastante estreito (555 mm de largura) e leve (102,6 kg).
Assim que entra em funcionamento, em baixas rotações, as duas ponteiras de escapamento com três saídas cada emitem um som agudo, quase um assovio que instiga a acelerar. Foi o que fiz. Seguindo as indicações do GPS, comecei a contornar as curvas de Franschhoek Pass, uma serra de pedra com um visual arrebatador.
Babuínos na estrada
Todo o aparato tecnológico do modelo pode ser conferido na pequena tela colorida, que tem a mesma tecnologia de aparelhos celulares, e controlado por meio de um inteligente seletor rotativo localizado no punho esquerdo. As informações do computador de bordo; ajuste eletrônico da suspensão em três modos (ESA); configuração do sistema de navegação; aquecimento de bancos e manoplas; configurações... Ou seja, tudo está no painel. Ou quase tudo... Menos a família de macacos babuínos que decidiu cruzar a estrada bem na minha frente. Um indicativo que tanto a motocicleta quanto a viagem de moto pela África do Sul reservava boas surpresas.
Junto com os babuínos, a estrada sinuosa mostrou as qualidades dinâmicas da nova BMW. Para suas dimensões avantajadas – 2,324 m de comprimento e peso em torno dos 320 kg – a K 1600 GT demonstra agilidade em mudanças de direção e bastante disposição para contornar curvas. Na bela serra, com cotovelos de 90°, as pedaleiras chegaram a raspar no chão sem abusar da moto. Mal se nota o elevado peso e as malas laterais de série.
Todo o projeto, do compacto motor montado transversalmente ao chassi construído em liga leve, teve como objetivo centralizar a massa e reduzir o centro de gravidade. Em conjunto com as suspensões eletronicamente ajustáveis – sistema Duolever na dianteira e Paralever com um monobraço que traz o eixo-cardã embutido – faz da GT uma motocicleta bastante estável e ao mesmo tempo confortável. Qualidade indispensável para a proposta touring do modelo.
Com uma posição de pilotagem mais dinâmica, com pedaleiras mais altas e guidão menor que a GTL (versão mais luxuosa), o motociclista vai bem encaixado na K 1600 GT e sentindo-se com total controle da enorme motocicleta. Isso tudo sem deixar de lado o conforto.
Conforto aumentado pelo parabrisa regulável. Ao toque de um botão pode-se tanto desviar o vento ou direcioná-lo para você. Na tarefa de amenizar os 32° C do verão sul-africano, ainda contava com dois defletores móveis na lateral da carenagem.
Baleia à vista
Após a serra, a paisagem continuava bela, porém a estrada ficava mais reta, cortando uma bela planície em direção ao litoral. Na primeira intersecção, o GPS apontava a direção correta, mas minha cabeça ainda não estava totalmente acostumada a pilotar na esquerda, na “mão” inglesa do trânsito sul-africano.
Depois de quase entrar na contramão, aproveitei a enorme reta à frente para, enfim, experimentar o motor. Com o conta-giros de leitura analógica marcando 10.000 giros queria ter a sensação de, pela primeira vez, ver as rotações alcançarem a faixa vermelha que começa as 9.000 rpm.
A aceleração não é impressionante como em uma superesportiva, mas também não deixa nada a desejar. Os giros crescem rapidamente e o ronco do motor aumenta e torna-se indescritivelmente encantador. O assovio fica mais alto e o som se parece muito com um automóvel BMW de seis cilindros, porém mais agudo.
Com potência máxima de 160 cavalos a 7.750 rpm, o propulsor impressiona também pela sua docilidade. Com três modos de gerenciamento – Rain, Road e Dynamic – selecionáveis por um botão no punho direito, o funcionamento do motor é bastante suave e linear: nada de respostas bruscas ou trancos nem mesmo no modo “Dynamic”, quando as respostas ao acelerador são mais instantâneas. A opção “Road”, diríamos, é a normal; enquanto no modo “Rain”, a entrega de potência é mais suave e a curva de torque mais “plana”, ideal para pista molhada. Os modos ainda atuam sobre o controle de tração (Dynamic Traction Control) alterando seu funcionamento.
Apesar de dócil, os 160 cv do motor são suficientes para manter velocidades de 140, 160, 180 km/h. Ou até mesmo para se atingir 220 km/h – apesar de funcionários da BMW afirmarem que os jornalistas ingleses foram os recordistas de velocidade com 243 km/h! Marca dedurada pelo GPS.
Depois de uma centena de quilômetros, chegamos a primeira parada do dia: um restaurante a beira da Baía de Walker, famoso ponto de observação de baleias no Oceano Atlântico na África do Sul. As baleias não apareceram, mas fiquei impressionado pelas qualidades do propulsor.
Confesso nunca ter antes pilotado uma moto com seis cilindros em linha – a Honda Gold Wing GL 1800 tem motor com meia dúzia de cilindros opostos. Para se ter uma idéia de seu comportamento o torque máximo de 17,85 kgf.m a 5.250 rpm faz a GT chegar a 100 km/h em 3,4 segundos, de acordo com a fábrica.
Mas o mais importante é que 70% de toda essa força já aparece a 1.500 rpm. Com isso, nem é preciso se preocupar em reduzir as marchas no suave câmbio de seis velocidades, basta girar o acelerador e colocar a central eletrônica e os pistões para trabalharem.
À beira mar
Mesmo suando sob o sol africano, era hora de vestir luva, jaqueta e capacete para encarar os 180 km restantes. E mesmo no anda e para nas ruas do balneário de Hermanus o calor proveniente do motor não incomodava. Prova de que o sistema de refrigeração e dissipação do calor do motor funcionava bem.
Seguindo por uma bela estrada à beira mar, o vento ajudava a refrescar e a perceber que a aerodinâmica do conjunto também foi bastante estudada pela BMW. Mesmo com as fortes rajadas laterais, a K 1600 GT mantinha-se em linha reta e permitia admirar a paisagem.
Oportunidade para testar as maravilhas eletrônicas dessa grã-turismo bávara. O menu é bastante intuitivo e fácil de controlar. O consumo instantâneo informado era de 5,9 litros para cada 100 km, ou seja, média de 16,9 km/litro. Com tanque de 24 litros, a autonomia da GT supera os 400 km – mas nem precisei fazer contas, afinal o computador de bordo também traz esse dado.
É possível também alterar a o retorno e compressão das suspensões, nos modos Normal, Sport, Comfort; assim como a pré carga da mola para piloto; piloto e bagagem e piloto e garupa. Achei o modo confortável, macio demais; e Sport muito rígido, mas bom nas curvas e serras. Optei pela configuração normal.
Foi a ideal para rodar com conforto de sobra até alcançar a Baía de Gordon, de onde dava para avistar a bela Cidade do Cabo. Distraído pela paisagem e pela eletrônica da K 1600 GT, perdi uma entrada que me levaria de volta a Franschhoek.
Sem problemas, o sistema de navegação da Garmim recalculou a rota e me indicou um retorno. O saldo foi “apenas” 30 km a mais na viagem. O que, confesso, foi um prazer.
Excelência germânica
Com 318 km indicados no hodômetro parcial, cheguei ao destino final. Com gasolina sobrando no tanque e a certeza de que a empresa alemã fez um excelente trabalho em sua nova grã-turismo.
Baseada na Concept 6, apresentada no Salão de Milão em 2009, a K 1600 GT, e sua irmã GTL, vem preencher uma lacuna no line-up da BMW. Afinal, desde que a K 1200 LT (que tinha motor de quatro cilindros) foi aposentada há dois anos, a fábrica alemã não tinha um moto de primeira classe.
Depois de rodar com a K 1600 GT em seu habitat natural, a estrada, posso afirmar que o novo modelo nada tem a ver com sua antecessora: é mais leve, mais rápida e mais baixa (o assento fica a 810 mm do solo). Pesada e com um alto centro de gravidade a K 1200 LT era difícil de manobrar. Oferecia muito luxo, mas pouca emoção. “Defeito” compensado com honra pela nova 1600 GT.
A BMW fez uma moto gostosa de pilotar, ágil e confortável, sem deixar de lado muita tecnologia embarcada e mimos para o piloto. Não é simplesmente a primeira moto com motor de seis cilindros em linha da marca alemã. Os modelos apontam o futuro das motocicletas grã-turismo e definem novos parâmetros para o segmento.
Além de trazer sistema de navegação embutido, controle de tração e freios ABS, é a primeira moto equipada com faróis direcionais (opcionais na GT). Um inteligente sistema que compensa o peso de piloto e bagagem, além de corrigir a direção do facho de luz de xenônio nas curvas. Apesar de ter rodado apenas durante o dia, os engenheiros fizeram uma didática explicação do seu funcionamento à noite. O sistema deverá contribuir muito para a segurança do motociclista.
Além de ampliar sua gama com dois modelos – K 1600 GT e GTL –, a BMW também ataca a concorrência. Pois seu motor de seis cilindros e grande capacidade vem brigar de frente com a Honda Gold Wing GL 1800. Questionado se o modelo Honda estava na mira dos engenheiros alemães ao projetaram a linha K 1600, o gerente de projeto da BMW Motorrad, Gerhard Müller, desconversa: “motos touring estão no nosso DNA. Nossos clientes esperam uma moto assim da BMW. Acreditamos que os pilotos de Gold Wing, e até mesmo das Harley-Davidson Ultra Electra Glide, poderão gostar da K 1600 GTL”.
Resta esperar os dois modelos K 1600 GT e GTL chegarem ao Brasil. A previsão é de que ambos estejam disponíveis a partir de junho em apenas um pacote: a GT com toda a eletrônica embarcada, porém sem sistema de navegação, deverá custar R$ 99.500; enquanto a GTL com todo o que se tem direito, vai ter preço de R$ 108.500.
Ficha técnica:
Motor: Seis cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e refrigeração líquida
Capacidade cúbica: 1649 cm³
Diâmetro x curso: 72 mm x 67,5 mm
Taxa de compressão: 12,2: 1
Potência máxima: 160 cv a 7.750 rpm
Torque máximo: 17,85 kgf.m a 5.250 rpm
Câmbio: Seis marchas
Transmissão final: Eixo-cardã
Alimentação: Injeção eletrônica BMS-X
Partida: Elétrica
Quadro: Do tipo ponte construído em liga-leve
Suspensão dianteira: Duolever com dois braços longitudinais e um conjunto mola-amortecedor com 115 mm de curso – eletronicamente ajustável
Suspensão traseira: Paralever com monobraço traseiro e mola-amortecedor central com 135 mm de curso – eletronicamente ajustável
Freio dianteiro: Disco duplo de 320 mm de diâmetro com pinça de fixação radial de quatro pistões com sistema ABS
Freio traseiro: Disco simples de 320 mm de diâmetro com pinça de dois pistões fixos e sistema ABS
Pneus: Metzeler Roadtec Z8 120/70-ZR 17 (diant.)/ 190/55- ZR17 (tras.)
Comprimento: 2.324 mm
Largura: 1000 mm
Distância entre-eixos: 1618 mm
Distância do solo: não disponível
Altura do assento: 810 - 830 mm
Peso em ordem de marcha (90% do combustível):319 kg
Tanque de combustível: 24 litros
Preço sugerido: R$ 99.500
Fotos: Alberto Martinez/BMW e Daniel Kraus/BMW
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