Paranapiacaba: a 'Silent Hill' brasileira
Cristiano Gusmão, colunista convidado do MOTO.com.br, conta mais uma experiência de viagem, desta vez para a Vila de Paranapiacaba, no estado de São Paulo
Por Gabriel Carvalho
Por Gabriel Carvalho
Ir de moto à Vila de Paranapiacaba é sem sombra de dúvida um passeio original e diferente. Cercada de verde, perfeita para o ecoturismo e a prática de esportes radicais, também se mantem fiel às tradições.
Distrito do município de Santo André no estado de São Paulo, tem sua origem em 1862, com a chegada dos funcionários da companhia São Paulo Railway à região. A implantação do sistema funicular foi praticamente artesanal em função da instabilidade do terreno e dos riscos de desmoronamento.
Essas condições, no fim do século XIX, contribuíram para uma série de acidentes, que aliados a espessa neblina constante no local, foram a motivação para a criação de lendas horripilantes contadas até hoje. Passam por gerações e fazem de Paranapiacaba, o principal polo de exploração de um turismo pouco comum no Brasil: O turismo fantasma.
A bem da verdade, mesmo na capital paulista é possível fazer um tour guiado por lugares supostamente assombrados, mas é bastante inconsistente diante do ritmo frenético e da modernidade da megalópole.
Em Paranapiacaba, o tempo passa devagar. O silêncio é contundente. O cenário é real. A atmosfera é precisa.
Em um sábado de novembro, saímos do Rio de Janeiro as oito da manhã, com o tempo bastante nublado e sujeito a chuva. Uma dupla interessante na estrada. Meu amigo Luiz Cláudio Lemos, pilotando uma Harley Fat Boy e eu na minha CG 160 Titan, ilustrando que o motociclismo é muito maior que as diferenças! Seguimos em ritmo forte pelas rodovias Presidente Dutra e Carvalho Pinto, saindo no rodoanel sentido litoral. Passamos pelos municípios de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra nessa altura já bastante molhados pela chuva intermitente.
Com cerca de seis horas e meia de viagem, deu-se a mágica de Paranapiacaba. Ela começa no início da serra. Durante a subida encontramos a famosa neblina, que cobre toda a região e permaneceu firme durante as 24 horas que estivemos por lá! Diz a lenda que ela é o véu de uma noiva que foi abandonada no altar e se suicidou. Depois disso voltou para assombrar os moradores da vila.
Cruzamos a linha do trem para uma estrada de terra que com toda essa chuva, virou lamaçal. A parte baixa da vila só pode ser acessada por ela, enquanto na parte alta se chega pelo asfalto.
A linha do trem divide a vila em duas partes, separadas por uma longa passarela de madeira. Na parte alta, de origem portuguesa, está localizada a Igreja Matriz e também o cemitério local. A parte baixa, de origem inglesa, é formada por casas que pertenceram aos funcionários de diversas patentes da ferrovia, no melhor escalão.
Optamos por nos instalar em uma típica habitação inglesa do século XIX e fomos conhecer as atrações turísticas fantasmagóricas do local. O pau da missa é uma árvore de aspecto sinistro, onde ficavam fixados os anúncios funerários da estrada de ferro. Na mítica, é possível falar com os mortos através dela.
O clube social da vila, chamado União Lyra Serrano, conta com uma das lendas mais famosas do local. O balanço infantil do parquinho foi visto diversas vezes mexendo sozinho. O problema foi resolvido pelas bruxas, que realizam anualmente um famoso Coven na região. Posso garantir que ele não se mexeu nessa noite! Minha janela ficava de frente pra ele! Aliás, à noite passamos pelo chamado caminho do Mens, onde ficava a casa do engenheiro chefe, conhecida como Castelinho. Para passar por ela é preciso seguir algumas regras específicas, caso contrário você vai levar “um corre” da assombração do referido gestor, residente no local em forma de espírito. Diz a lenda que ele passa nas casas dos moradores verificando se está tudo bem dando três batidas na porta.
A antiga estação ferroviária se transformou no Museu Funicular, onde podem ser vistos os maquinários envolvidos nesse processo de locomoção, além do antigo locobreque, atualmente em decomposição. Muitos aventureiros seguiam em direção do chamado 13º túnel, o mais próximo de Paranapiacaba vindo de Santos. O acesso foi proibido por causa do estado de deterioração em que se encontra.
Durante todo o tempo em que estivemos em Paranapiacaba, conversamos com os moradores da Vila que demonstram um enorme prazer em falar sobre a sua história, a sua sobrevivência depois da crise do café, suas lendas e seus fantasmas! Não fomos assombrados em Paranapiacaba, mas conhecemos pessoas simpáticas em um ambiente acolhedor, repleto de histórias incríveis no mais perfeito cenário de um filme de terror. Uma espécie de Transilvânia à brasileira. A nossa 'Silent Hill'!
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