Mobilidade Urbana: Ciclofaixa solução ou mais um problema?
Especialista em gestão e direito de trânsito aborda tema das ciclofaixas e mobilidade na cidade de São Paulo
Por Paulo Souza
Por Paulo Souza
André Garcia
A Lei de Mobilidade Urbana é o resultando de longa discussão no Congresso Nacional, que começou em 1995 com a apresentação do projeto de lei (PL nº 694/95) do então deputado federal Alberto Goldman (PSDB/SP) que instituía diretrizes nacionais para o transporte coletivo urbano, já que segundo estudos do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada a falta de políticas públicas para transporte de massa aliado a alta tarifa provocaram uma queda de 30% na sua utilização nos últimos 10 anos (1985-1995).
Durante sua tramitação na Câmara dos Deputados, outros projetos de lei , como PL 1687/07 do Poder Executivo se juntaram, até que em 2010 a Câmara encaminhou um substitutivo ao Senado – PLC 166/10, que foi aprovado e então sancionado pela Presidente Dilma em 2012, como Lei 12587 que institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
A lei estabelece princípios, diretrizes e instrumentos para orientar os municípios a planejar o sistema de transporte e infraestrutura viária para circulação de pessoas e cargas, capaz de atender o desenvolvimento urbano sustentável.
Para isso, prevê mecanismos para garantir preços acessíveis no transporte coletivo, vias exclusivas para ônibus e bicicletas, restrição de circulação de veículos privados em determinados horários e cobrança de tarifa para utilização de infraestrutura urbana, como estacionamentos públicos.
Municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar o Plano de Mobilidade Urbana em até três anos, de forma integrada ao plano diretor previsto pelo Estatuto da Cidade. Quem não apresentar o plano no prazo ficará impedido de receber recursos federais destinados à mobilidade urbana, está na lei. (§§ 3º e 4º, do artigo 24).
Portanto, independentemente de qualquer afinidade política, o que o Prefeito Haddad, para quem não votei, está fazendo na cidade de São Paulo é dar cumprimento literal a Lei de Mobilidade Urbana, sob pena de em três anos a cidade não mais receber recursos federais destinados à mobilidade urbana, ou seja, a discussão deve se dar de forma apartidária.
Que a bicicleta tem seus benefícios, como não poluir o meio ambiente, não ocupar espaço público relevante, com acontece com as SUV´s, além de exercitar o condutor não há dúvidas, todavia, é necessário separar a bicicleta, em via própria, dos automóveis, ônibus e caminhões, segregar o espaço a ser utilizado como acontece na Alemanha.
Muita gente talvez não saiba, mas o artigo 58, do CTB – Código de Trânsito Brasileiro, apesar de nada mencionar literalmente, não permite a circulação de bicicletas em vias de circulação rápida e rodovias sem acostamento ou faixas proibidas (como de ônibus) sob pena da multa do artigo 244, § 1º, ‘b’, do CTB. O problema reside no fato da dificuldade de punição, já que são veículos que não necessita licenciamento, nem emplacamento, salvo quando determinado pelo Município como preceitua o artigo 129 do mesmo diploma.
A Lei de Mobilidade Urbana não faz qualquer menção específica à circulação de motocicletas e aqui está o grande equivoco.
Enquanto em cidades como Paris, Milão e Roma vemos uma total conexão de transporte público, especialmente o ferroviário, com bicicletas e motocicletas, já que vemos grandes bolsões públicos de estacionamento nas entradas das principais estações do Metrô, no Brasil e principalmente na sua maior cidade São Paulo, a motocicleta e motoneta (scooter) são totalmente ignoradas.
Mesmo a Lei de Mobilidade Urbana ignorando a motocicleta, o Prefeito da maior cidade do Brasil não pode cometer o mesmo equívoco por razões óbvias que envolvem a segurança direta do motociclista.
Com a criação das ciclovias, haverá o estreitamento das faixas de rolamento, como é o caso da Avenida Paulista e se nada for feito, aumentará os acidentes de trânsito envolvendo motociclistas. Basta ver o que aconteceu com a Avenida 23 de Maio quando foi criado a 5ª faixa de rolamento, ante as quatro largas faixas que propiciava conforto e maior segurança a todos os usuários do sistema.
Sugestão: 1) aumentar a largura e compartilhar o uso da ciclofaixa entre ciclistas e motociclistas, reduzindo a velocidade para 40km/h para via em sentido único com ciclista sempre trafegando a direita da faixa, quando a faixa estiver pintada a direita da via e a esquerda quando pintada a esquerda da via, e 30km/h para sentido de fluxos opostos, sem poder ultrapassar acessando sentido contrário, ter forte fiscalização e adotar pardal posicionado para fotografar a traseira da motocicleta onde fica a placa. Estou sendo enfático na posição do pardal, porque a CET em São Paula posiciona o pardal para fotografar a dianteira dos veículos e depois sustenta a ideia esdrúxula de colocar placa dianteira na motocicleta, o que é inviável tecnicamente; 2) campanhas educativas para ambos (ciclistas e motociclistas) para compartilhamento do espaço; 3) pensar na possibilidade de emplacamento das bicicletas como meio de punir o infrator ou criar sistema pelo CPF, nesse caso só para autuação pessoal; 4) tornar a multa por excesso de velocidade com pontuação única de 7 pontos quando trafegar em tais faixas ou ciclofaixas e com valor máximo da multa; 5) incrementar a campanha educativa para outros veículos não trafegar ou estacionar na faixa, informando as penalidades.
Enquanto isso não acontece, trafegar na Ciclofaixa que é sinalizada pela placa R-34, é infração gravíssima com 7(sete) pontos na Habilitação e multa de R$ 574,62 (quinhentos e setenta e quatro reais e sessenta e dois centavos).
André Garcia é motociclista, advogado especialista em Gestão e Direito de Trânsito, colunista na imprensa especializada de duas rodas, idealizador do Projeto Motociclismo com Segurança que busca aculturar a sociedade em segurança viária por meio de palestras e aulas de pilotagem, laureado com o Prêmio ABRACICLO de Jornalismo em 2008 – Destaque em Internet e 2013 – Vencedor na categoria Revista com matérias de segurança viária e homenageado na Câmara Municipal de São Paulo pelo Dia Internacional do Motociclista em agosto de 2013 com o Troféu “Marco da Paz” por sua atuação no trabalho de ação social e pela construção da cultura de paz no mundo. [email protected]
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