Uma aventura de Minas Gerais ao Chile

Uma viagem solitária pelo Brasil, Argentina, Chile e Uruguai com várias histórias e lembranças

Por Aladim Lopes Gonçalves

Moacir de Souza Junior

Meu nome é Moacir e eu tenho 28 anos. Sou de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais. Trabalho como analista de sistemas e tenho na minha moto, uma BMW G650 GS - 2010, um meio de transporte e lazer. 

A viagem que relato aconteceu em outubro de 2010. O que conto para vocês é a realização de um sonho, que até a cerca de cinco meses atrás se mostrava bem distante, mas aos poucos as coisas foram se ajeitando e o que parecia difícil, complicado e caro, foi se mostrando cada vez mais fácil e possível!

Inicialmente eu tinha férias planejadas com minha namorada, Andrea, para o mês de outubro, mas devido a complicações no trabalho dela, no final de Julho, ela me contou que as férias dela precisariam ser canceladas. Naquele, momento o que seria uma notícia ruim se mostrou como uma oportunidade: um mês de férias só para mim! Pela primeira vez eu poderia desfrutar das férias que eu quisesse.  Então, arregacei as mangas e fui me preparar.

O primeiro passo da preparação foi definir um trajeto e encaixá-lo no tempo disponível – 25 dias. Logo em seguida, tentei encontrar um parceiro que pudesse viver comigo esta aventura. Mesmo depois de recorrer a todos os meus amigos motociclistas, não encontrei ninguém que estivesse disposto a me acompanhar, afinal, entendo que realmente seja difícil encontrar alguém para tamanha aventura a tão pouco tempo de ela acontecer.

Fiquei por cerca de um mês com a ideia fixa de que precisava de companhia, mas à medida que o tempo foi passando, eu continuava com os preparativos e fui dando menos importância a uma companhia, até que isto deixou de ser uma condição e eu entendi que poderia fazer sozinho. Está não foi uma decisão fácil.

Conheci pessoas que já haviam feito viagem semelhante e que me orientaram a não fazê-la sozinho, ao passo que também conheci pessoas que a fizeram sozinhos e recomendavam. Como problema que não tem solução, resolvido está, eu tinha duas opções: Não realizar a viagem porque não tinha companhia ou realizá-la sem companhia. Não precisa nem dizer qual eu escolhi...

A conversa com as pessoas foi importante, mas a Internet foi uma peça fundamental na minha preparação, praticamente tudo se deu por meio dela. É surpreendente o poder de comunicação proporcionado pela internet. Comprei coisas, conheci pessoas, escolhi lugares, solicitei documentos, tudo pela internet.

Para a moto, tomei o cuidado de deixá-la tinindo para a viagem. Fiz revisão, comprei um par de pneus novos e troquei as pastilhas. Minha moto foi comprada 0 km em abril de 2010 e embora estivesse nova, já tinha quase 13.000 km quando iniciei a viagem.

Outras aquisições importantes foram as malas laterais, o baú e o GPS. Para mim, comprei um protetor de coluna e um localizador pessoal. O localizador foi uma excelente aquisição, ele permitiu a minha família e amigos saberem exatamente onde eu estava. Eles podiam acompanhar, pela internet e em tempo real, meu deslocamento. Também me preocupei em aumentar o perímetro do seguro da minha moto e fazer um seguro de viagem.

Um cuidado que tomei foi emitir todos os documentos que havia lido na internet que alguma pessoa já tinha precisado em viagem semelhante. Isto me deu muito trabalho, acabou que não usei nada, mas valeu pela minha tranqüilidade.

Algumas pessoas chegam a gastar até mais de um ano para planejar este tipo de viagem, mas acreditem ou não, eu preparei tudo em 73 dias, de 27/07 a 08/10 que foi o dia que minha segunda via de identidade ficou pronta, um dia antes de eu iniciar minha viagem. Este era o tempo que eu tinha para me preparar e este foi o tempo que eu usei.

Preparativos superados, eis que chegou o grande dia: 09 de outubro de 2010. Sai de casa por volta das 11h da manhã. Foi fantástico, estar saindo para a realização de um sonho, eu não tinha a mínima idéia do que eu encontraria pela frente, apenas tinha a certeza de que seria uma experiência única pela qual eu me lembraria pelo resto da minha vida. Deixar meus familiares e a Andrea chorando para trás não foi nada fácil, mas certamente valeu a pena.

Em meu primeiro dia segui para Ribeirão Preto – SP, passando pela MG-50 em vez de seguir pela Rodovia Fernão Dias. Quando eu comecei mesmo a pegar estrada, à medida que Belo Horizonte ia ficando para trás, foi batendo uma empolgação e uma euforia muito grande, afinal eu estava seguindo para o Chile!   

O meu primeiro objetivo era Foz do Iguaçu, conhecer as cataratas, Itaipu e o ainda passar no Paraguai. Tudo correu muito bem. Conheci tudo que eu queria e de quebra ainda usufrui os prazeres mais incríveis de uma viagem como esta: as pessoas. Embora eu tenha saído de casa sozinho, companhia foi uma coisa que definitivamente não me faltou. Todos os dias eu era agraciado pela presença de pessoas maravilhosas ao meu lado.

Inicialmente eu tinha planejado passar pelo Paraguai, mas depois do que eu vi e ouvi das pessoas em Foz do Iguaçu eu achei mais prudente apenas visitá-la. Digamos que eu não tenha ficado com uma boa impressão. Tenho certeza que a minha impressão não reflete o que é o país, até porque mal conheci uma cidade, mas sinceramente, não gostei muito do que eu vi. Espero ter a chance de pensar diferente em outra oportunidade.

No meu quarto dia de viagem eu fui promovido a “motociclista internacional”, foi o dia que sai pela primeira vez do Brasil pilotando a minha moto. Confesso que fiquei com um friozinho na barriga, com receio de que algo pudesse dar errado na aduana do Brasil ou da Argentina, mas felizmente tudo correu bem. Entrando na Argentina eu tinha o objetivo de seguir até Resistência, mas hipnotizado por um visual maravilhoso do pôr-do-sol na ponte que liga Corrientes a Resistência, acabei decidindo por ficar em Corrientes.

Acordei no hotel e enquanto tomava meu café da manhã eu acompanhava na TV o resgate dos mineiros que estavam soterrados a cerca de 700 m de profundidade na mina de San José, em Copiapó no Chile. Café tomado e um DVD de músicas brasileiras deixadas para o atendente do hotel, era hora de seguir viagem. Destino: Salta – Argentina. Já haviam me falado que este seria o trecho mais difícil da viagem e realmente foi.  De Corrientes a Salta são cerca de 750 km e depois que se passa por Presidência Roque Sáenz Peña sobram apenas pequenos vilarejos no meio do caminho. As retas são intermináveis, o vento é assustador e o calor escaldante.

Neste dia eu passei por dois “probleminhas”. Primeiro eu perdi uma mala lateral da moto, ela se soltou. Eu cheguei a voltar uns 160 km para ver se eu a encontrava, mas infelizmente sem sucesso. Enquanto eu lamentava a perda da mala comecei a conversar com um senhor, um caminhoneiro, que com toda a sua sabedoria disse as palavras que eu precisava ouvir naquele momento e foram estas as palavras me ajudaram a recuperar o animo e seguir em frente.
Para fechar o dia, nas proximidades de El Quebrachal a uns 250 km de Salta a minha moto resolveu arriar a bateria. O primeiro problema, o da mala, de certa forma, me deixou preparado para qualquer outro problema que viesse. 

Das coisas ruins as coisas boas, era o que eu repetia para o senhor que me ajudou a chegar a Salta, rebocado. Sem bateria e sem a possibilidade de conseguir uma solução para a moto ali naquele lugar, o que me sobrou foi conseguir um reboque. Até que não foi de todo ruim. Chegamos em Salta já era madrugada, encontrei um hotel, descemos a moto e fui descansar enquanto que meu reboque pegou estrada de volta para casa.

No outro dia eu levantei, fiz meu desjejum e parti na minha busca por um mecânico que pudesse identificar o problema da moto, até então, eu não sabia que se tratava da bateria. Encontrar o mecânico não foi a tarefa mais difícil, o complicado mesmo foi encontrar uma bateria que coubesse na moto, mas acabou que tudo se resolveu, gastei o dia todo, mas resolveu.

Sai de Salta no dia seguinte e segui até San Antonio de Los Cobres. Sentir a subida das cordilheiras já estava valendo a viagem. Que lugar incrível! Muito exótico, diferente de qualquer vilarejo que eu já tenha visto. O lugar está a 3.700 m de altitude e já conta com uma paisagem desértica. Penso que as dificuldades do lugar só não são maiores do que a cordialidade das pessoas que vivem ali.

O meu primeiro contato com a altitude até que estava indo bem se eu não tivesse resolvido fazer uma “pequena” caminhada com alguns nativos. Enquanto as senhoras que eu acompanhava esnobavam fôlego eu me sentia muito cansado e com uma dor de cabeça terrível. Felizmente, depois de um chazinho, um comprimido para dor de cabeça e uma boa noite de sono tudo voltou ao normal.

Para o meu oitavo dia de viagem estava reservado umas mais fantásticas estradas em que eu pude pilotar em toda minha vida. O caminho de San Antonio de Los Cobres – Argentina a San Pedro de Atacama – Chile é simplesmente maravilhoso. Foi neste trecho que eu cheguei à maior altitude registrada pelo GPS em minha viagem: 4.569 m. O vento e o frio eram constantes, mesmo com um sol forte e um céu totalmente azul, não era possível avistar nenhuma nuvem.

San Pedro de Atacama é um pequeno vilarejo. Embora no meio deserto é um lugar com bons recursos para os turistas. As atrações são várias, do turismo de aventura à meditação se encontra de quase tudo. Como eu não tinha muito tempo, com a ajuda das pessoas que conheci na cidade, elegi para visitar: os gêiseres, o Valle de la Luna e o Valle de La Muerte e o que vi me deixou maravilhado.

Ainda na região do deserto, eu fui para Calama, cidade com a maior mina de cobre do mundo e depois para Antofagasta, onde me encontrei com o Oceano Pacífico pela primeira vez.  O vento frio e o agito do mar são muito diferentes do nosso quente e, geralmente, calmo Atlântico.

Sai para jantar em Antofagasta e me chamou atenção que nas proximidades do mar existiam placas indicando o sentido para evacuação em casa de tsunami. A geografia da cidade é muito interessante, trata-se de uma pequena faixa de terra que espremida entre o mar e as montanhas luta por seu lugar.

Aproximadamente 40 km ao sul de Antofagasta existe um monumento chamado “Mano Del Desierto”. Em vários relatos de viagem que eu tinha lido na internet a foto desta mão sempre aparecia e para mim aquele lugar se transformou em parada obrigatória. Esta grande mão, pelo que me explicaram, é um símbolo da chegada ao deserto para quem está vindo do sul.

O meu próximo destino foi Copiapó. Quando eu estava no Brasil eu tinha previsto passar por esta cidade mas não tinha associado o lugar à mina que estavam presos os mineiros. Cheguei à cidade no final da tarde e após me informar decidi seguir até a mina. Tive muita sorte, pois além de entrar na mina ainda consegui conhecer uma dos mineiros que estavam soterrados.

Seguindo novamente o litoral, no sentido sul, parei em La Serena. Um local muito bonito e se tivesse o clima um pouco mais agradável certamente não ficaria devendo para nenhuma cidade pequena e turística do litoral brasileiro. O visual da praia é muito bonito. Depois de fazer um tour pela cidade, encontrei um ótimo lugar na beirada da praia onde resolvi passar a noite.

No dia seguinte fui para Vina del Mar. O centro da cidade com suas praças e flores me vez lembrar Petrópolis. A cidade é muito movimentada e me pareceu bastante freqüentada por turistas. Um lugar que estava fazendo muito sucesso no dia que eu estava por lá era um cassino que estava sorteando um Porche entre seus clientes.

Eu havia previsto passar mais um dia em Vina Del Mar, mas achei melhor seguir para Santiago onde parei em uma concessionária para trocar o óleo, o filtro e aproveitei para repor a mala lateral que eu havia perdido no início da viagem.

Não rodei muito pela capital, apenas resolvi o que e tinha de resolver e continuei na estrada até Los Andes, onde entendi que fosse melhor passar a noite.  Ficar em Los Andes foi uma ótima decisão, pois isso me permitiu amanhecer o mais próximo possível da fronteira do Chile com a Argentina.

Saí de manhã e segui para Argentina. A subida da cordilheira, ainda no Chile, começa margeando um rio bastante acidentado e truculento e quando não é possível mais acompanhá-lo a estrada passa a ser bastante íngreme e sinuosa até chegar a seu ápice, “Los Caracoles”, uma seqüência de curvas em um “U” de onde se despede do Chile.

A passagem do Chile para a Argentina acontece dentro de uma passagem subterrânea, o Túnel Redentor. Ao redor da estrada, os picos, ainda cobertos de neve, compõem a paisagem gelada da fronteira. Assim que se chega à Argentina é possível ver o Aconcágua, o ponto mais alto do continente. Como no dia que passei o tempo não estava muito bom, resolvi ficar em Uspallata, na expectativa de no dia seguinte estar com tempo melhor. Fiquei em um hotel cujo dono já tinha subido o pico 12 vezes.

Como quem espera sempre alcança, o dia seguinte amanheceu maravilhoso, com céu azul e poucas nuvens. Peguei estrada e segui para o parque. Vislumbrar aquele gigante foi outra experiência incrível. O cume branco, ajuda a formar um contraste perfeito que começa com as rochas e termina com o gelo se confundindo com algumas nuvens que eram cortadas pelo pico.

Do Aconcágua eu segui direto para Mendoza. Diferente do lado chileno onde a subida foi íngreme e rápida, a descida do lado argentino é lenta e suave, ela acompanha as margens do largo rio Mendoza.

O meu próximo destino seria Buenos Aires, um pouco mais de 1.000 km que eu pretendia fazer em apenas um dia, mas um novo e providencial problema na bateria me fez parar na metade do caminho, em um lugar chamado General Levalle.

Para minha felicidade eu fui ajudado por um generoso argentino que me rebocou da estrada, me indicou a única oficina de moto do lugar.  Neste dia, realmente eu tive muito sorte, a única oficina de moto do lugar tinha uma única bateria e era justamente a bateria que cabia na minha moto. Para fechar com chave de ouro este anjo da estrada ainda me levou para jantar em sua casa com sua esposa e filhos.

No dia seguinte, com a moto tinindo novamente, percorri os 550 km que faltavam para Buenos Aires. Me acomodei e fui fazer um tour pela cidade que com suas construções antigas e com seus bares e teatros se pareceu bem ativa. O que vi na cidade me passou a impressa de que os portenhos gostam muito de cultura: música, teatro, livros. Os locais com estes atrativos estavam bem movimentados.

A minha passagem por Buenos Aires foi rápida, não deu tempo de aproveitar muita coisa. Sinceramente não me aborreço muito com isso, sempre preferir a tranqüilidade do interior frente à vida agitada das capitais, além do mais, as pessoas do interior têm muito mais tempo para ser amáveis e receptivas do que as pessoas da capital.

Assim que cheguei ao hotel, pela internet eu mesmo comprei a minha passagem para no dia seguinte seguir de barca para o Uruguai – Colônia del Sacramento. A idéia de ir de barca não foi para economizar quilômetros, era uma coisa que eu já tinha planejado fazer e valeu cada centavo.

No outro dia, acordei de manhã e fui para o píer. Fiz os trâmites legais de saída do país, embarquei a moto e pronto. Duas horas depois eu estava no Uruguai. O segundo fato histórico da minha viagem foi a morte do presidente Nestor Kirchner. Eu saí da Argentina com as bandeiras do país a meio mastro e as conversas dos argentinos divididas entre elogios e xingamentos aos anos de poder do Kirchner.

A cidade de Colonia del Sacramento é um charme à parte. Com seus prédios históricos, suas flores e um sol que nunca acaba, é um lugar que com certeza merece uma visita com mais tempo. Como ainda estava cedo, resolvi almoçar antes de seguir viagem. Foi o primeiro dia que almocei antes de pegar estrada.  Depois de um delicioso camarão peguei estrada com destino a Punta Del Leste.

Era tarde quanto cheguei em Punta, eram quase 11 horas da noite. Eu ainda não tinha viajado à noite fora do Brasil, mas como eu estava em Montevidéu quando escureceu de verdade, resolvi tocar o restante, uns 180 km. A noite não deu apreciar muita coisa, foi arrumar um lugar para lanchar e cama.

No dia seguinte, quando eu acordei e vi aquele lugar lindo: céu azul e praia. Foi a única praia que eu vi fora do Brasil que realmente deu vontade de parar a moto e pular na água. Fiz um tour pela cidade e parei em um píer em que pescadores descarregavam seus barcos sendo acompanhados de várias aves e umas cinco focas, que foram uma grande diversão para mim.

Saí de Punta del Leste por volta das 14h rumo ao Brasil. Eu estava voltando para a minha querida terrinha. Entrei no Brasil por Chuí, sem nenhuma dificuldade ou mesmo fiscalização. Atravessei a reserva da Taim obedecendo aos 60km/h indicados nas sinalizações e morrendo de medo de ser “atropelado” por alguma capivara ou algum outro animal.

Como foi bom chegar ao Brasil, resolvi dormir em Pelotas. Mal cheguei à cidade e passei perto de uma grande churrascaria a qual eu não resisti. Parei a moto, desci e entrei como aqueles filmes de faroeste, quando o mocinho para o cavalo e abre as portas e todo mundo fica olhando, sem entender muito bem o que estava acontecendo, afinal, os trajes da moto não eram as melhores vestimentas para o lugar, mas fazer o que, era o que eu estava vestido. Acho que eu nunca comi um churrasco tão bom! Como eu estava co saudade do tempero brasileiro.

Eu saí de Pelotas no meio do dia e segui para Santa Catarina. O objetivo inicial era dividir o trecho em dois, em um dia rodar até Lajes - SC e no outro dia até Blumenau - SC, mas os parâmetros de distância vão ficando cada vez mais distorcidos e rodar 500 km ou 800 km já não faziam muita diferença e assim eu segui. Quando eu vi, já estava em chegando em Florianópolis e bastou um telefonema de um amigo, para eu me animar a percorrer mais 150 km debaixo de muita chuva, a primeira chuva forte da viagem, e chegar até Gaspar – SC, perto das 23h30. Mas valeu, a recepção e a satisfação de rever os amigos não poderia ser melhor.

Dormir em Gaspar, em terras conhecidas e mais ainda, na casa de pessoas conhecidas, foi perfeito! Uma recarga providencial nas minhas baterias. Acordamos no outro dia e fomos para a casa de outro amigo onde um delicioso almoço alemão nos aguardava. Como era bom não precisar falar mais o tal “portunhol”. 

Depois do almoço passamos na Dona Hilda, uma tradicional confeitaria de Blumenau – SC, para comer uma sobremesa antes de pegar estrada novamente. Inicialmente eu tinha pensado em ficar mais uma noite, mas como os meus dias estavam acabando, eu não tinha muito escolha, tive de partir.

Sai de Gaspar - SC eram umas 17h30, inicialmente eu pretendia ir apenas até Curitiba - PR, mas cheguei lá, me senti com energias suficientes para seguir até Registro - SP. No meio eu acabei me arrependendo, mas como já tinha passado de Curitiba - PR e não haviam me sobrado muitas opções além de Registro – SP, tive de continuar. Cheguei em Registro-SP e acabei jantando em uma parada de estrada. Depois do jantar, foi só procurar um hotel e dormir para me preparar para o dia seguinte.

Acordei e saí de Registro - SP um pouco antes do meio-dia, o destino era Cotia - SP onde um amigo que eu fiz em Cascavel - PR, no meu segundo dia de viagem, havia me convidado para almoçar. Pouco mais de 180 km depois, estava eu lá em Cotia – SP, saboreando um delicioso frango ensopado. Conversamos um pouco sobre a viagem, contei minhas aventuras, perdi no Playstation para o filho dele, tomei um lanche e sai novamente para a estrada. E de novo eu saí tarde, já eram quase 18h quando eu saí com destino ao Rio de Janeiro.

A saudade da Andrea me movia e à medida que a possibilidade de vê-la aumentava, mais forte eu ficava e mais fácil ficavam as estradas. Eu já havia rodado em estradas muito mais desertas e perigosas e fazer o trecho São Paulo – Rio pela Dutra, foi super tranquilo. A descida da Serra das Araras então, foi deliciosa! Como foi gostoso sentir as reduzidas da moto na entrada de cada curva, deixar todos aqueles carros e caminhões para trás foi muito bom!

A chegada ao Rio foi uma surpresa eu tinha planejado para a Andrea. Inicialmente eu tinha dito a ela que na volta passaria por lá, mas no meio do caminho, comecei a convencê-la de que seria melhor para eu seguir direto para Belo Horizonte – MG. Pronto. Surpresa arranjada, foi só chegar e curtir a sensação de estar “quase” em casa. Como foi bom abraçá-la. Uma foto dela me acompanhou por toda a viagem. A última vez que eu a tinha visto foi quando a deixei chorando no dia da minha saída.

Passei o dia seguinte no Rio. Aproveitei para trocar uns pesos uruguaios que haviam sobrado e no final da tarde fui pegar a Andrea no trabalho. Ter saudade foi muito bom, mas matar a saudade foi melhor ainda.

No dia 2 de novembro, no meu último dia de viagem eu sai do Rio e segui para Belo Horizonte, percorri o meu “caminho da roça”. Acho que estes 450 km que ligam a casa da Andrea a minha casa nunca foram tão curtos! Parei um pouco depois da metade do caminho e no final foi só trazer na “ponta dos dedos” até chegar em casa.

Quando eu entrei em Belo Horizonte e comecei a descer o Anel Rodoviário e me sentir realmente em casa, a lágrima desceu e não teve como segurar. A sensação de vitória foi indescritível, eu havia rodado por 25 dias 11.500 km sem nenhum problema grave e sem nenhum tombo, nem parado! Eu estava concluído com êxito a minha aventura.

A minha chegada em casa foi maravilhosa, o abraço dos meus pais, o arroz com feijão da minha mãe, dormir na minha cama depois de tanto tempo, tudo foi único. Nem vou me esforçar a descrever o que eu senti porque as palavras, com certeza, não são suficientes...

Hoje eu conto para as pessoas, mostro fotos ou escrevo sobre a viagem, para mim, parece até que foi um filme. Eu tenho muito a agradecer, primeiramente a Deus, que me permitiu e me acompanhou por toda a viagem. Em todos os lugares que eu chegava as pessoas se surpreendiam por eu estar fazendo tamanha aventura sozinho, mas eu sempre deixava bem claro que estavam ali: Deus, eu e minha moto, além da minha “senhora”, que me acompanhava em foto.

A minha viagem foi perfeita, tudo deu certo. As dificuldades foram apenas oportunidades que me ajudaram a temperar a minha historia, seja de conhecendo mais gente, seja conhecendo mais lugares. Viajar foi fantástico, mas estar em casa, próximo das pessoas que eu amo é tão bom quanto e por hora é só o que eu quero fazer, curtir todo este amor.

O “motonauta”  Moacir de Souza Junior participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

Compartilhe:

Receba notícias de moto.com.br