Um final de semana de motos, música e ação social em Avaré
O MOTO.com.br foi até a cidade do interior do estado de São Paulo para acompanhar a primeira edição do APAExonados por Motos e Triciclos
Por Gabriel Carvalho
Por Gabriel Carvalho
Entre os dias 9 e 11 de novembro, Avaré sediou – mais especificamente a APAE de Avaré – a primeira edição do APAExonados por Motos e Triciclos, encontro de motociclistas regado a muita música – foram mais de 30 horas de shows – food trucks e cervejas artesanais.
Avaré, que detém o título de estância turística, é uma cidade do interior do estado de São Paulo e fica a 263 quilômetros da capital, de onde o MOTO.com.br partiu para acompanhar o evento.
Para a aventura, escolhemos dois modelos da Ducati com propostas distintas: a estilosa e imponente XDiavel, uma cruiser recheada com tecnologia e muita força, e a Multistrada 1200s, uma bigtrail com a mesma potência da XDiavel, mas com um pouco mais de torque (13,05 kgf.m contra 12,84 kgf.m) e suspensão eletrônica - que permite ajuste, por nível de carga e modo de pilotagem, através de botões no punho esquerdo - como diferenciais.
Com as malas prontas, pegamos a estrada na sexta-feira à tarde para chegar a Avaré a tempo de aproveitar o dia de abertura do evento. Na ida, ainda no trecho urbano da Castelo Branco, um pequeno trecho de chuva nos pegou, mas nada que tirasse nossa visibilidade ou nos fizesse pensar em parar, já que as motos se mostraram estáveis e seguras.
A primeira e única parada veio apenas no km 191 da Castelo. Reabastecimento para garantir, alguns minutos de descanso e voltamos para a estrada a caminho da saída 241B da Castelo, que nos levaria à Rodovia João Mellão para percorrer os 22 quilômetros restantes até a APAE de Avaré, sede do evento.
Um breve parêntese: A APAE de Avaré foi criada em abril de 1969. Após algumas mudanças de endereço, a instituição se estabeleceu no local atual, um terreno doado pela família de Donguinha Mercadante, que dá nome à rua que abriga a sede, inaugurada definitivamente em 1999.
Motos estacionadas, capacetes e luvas retirados, fomos apresentados a João Paulo - conhecido na região como “Jepa” – um dos organizadores do encontro, que nos contou um pouco da caminhada no mundo das duas rodas até que ele e a APAE unissem forças para criar a primeira edição do APAExonados.
“Faz alguns anos que eu participo do mundo do motociclismo em Avaré e região. Meu intuito é sempre unir motos, rock ‘n’roll e causas nobres, como ajudar uma instituição ligada ao lado social”, disse, que em seguida explicou como tudo começou.
“Em 2008, eu era membro de um motoclube da cidade e tive a ideia de organizar um encontro de motociclistas. Era para ser um churrasco, algo pequeno. Mas contatos com uma empresa de customização e algumas revistas nos obrigaram a buscar algo maior”, afirmou.
“Depois disso, começamos a trabalhar e a organizar eventos de motociclistas, sempre em parceria com instituições. Isso me deu ‘know how’ e fez com que, de certa forma, eu virasse uma referência. Então sempre que uma instituição da cidade pretende organizar um evento relacionado a motociclismo e rock‘n’ roll, eu sou procurado para dar suporte e respaldo à organização”, destacou Jepa.
Jepa nos levou para o local onde ficaríamos hospedados: o Estância Avaré Hotel, um lugar tranquilo, com quartos bem arrumados e um café da manhã com uma mesa farta.
Ao cortar caminho por uma rua de terra para chegar ao hotel, encaramos um inesperado trecho de terra fofa e as motos chegaram a ‘dançar’ na terra. A XDiavel, evidentemente, está longe de apresentar uma proposta off-road, enquanto os pneus da Multistrada 1200s são mais indicados para o asfalto - embora uma mudança de pneu permita que a bigtrail encare trechos como aquele sem grandes dificuldades.
Ainda assim, as duas motos passaram pelo trecho sem contratempos, bastando para os pilotos dosar o acelerador para não perder o controle. Uma pitada de emoção e desafio, em resumo.
Malas guardadas, voltamos para a APAE e o que se viu foi um evento bem organizado e com ambiente familiar. A música não parava: banda atrás de banda subindo ao palco, despejando riffs e acordes dos clássicos do rock e, conforme a noite se aproximava, o público aumentava.
No segundo dia, antes de ir ao evento novamente, o MOTO.com.br aproveitou a manhã para conhecer um pouco mais Avaré. O clima da cidade, assim como o do evento, é familiar, seja nos comércios locais, seja nas praças.
Dois locais merecem destaque: a Represa de Jurumirim, que banha outros nove municípios da região – contando até mesmo com um trecho de praia – e o Horto Florestal de Avaré. Trata-se de uma área de 95 hectares com lagos, natureza preservada e trilhas para caminhadas.
Além disso, vale a visita ao Cristo Redentor, localizado em uma praça na Vila Três Marias. Subir as escadas em direção ao mirante traz como prêmio uma bela vista da cidade e um cenário ideal para fotografias.
Entretanto, havia o APAExonados e para o sábado estava programada a grande atração do evento: o show de Dave Evans, o primeiro vocalista do AC/DC. Jepa contou que estar no lugar certo na hora certa foi fundamental para conseguir levar a atração internacional para Avaré.
“É a primeira vez que trazemos uma atração internacional para a cidade – Dave Evans, o primeiro vocalista do AC/DC. Eu estava em uma casa noturna de rock da cidade quando um empresário me contou que ele viria para o Brasil bem na data de nosso evento. Eu levei a idéia para a instituição, que abraçou a ideia e conseguimos fazer isso acontecer.”
Apesar de anunciar que estava debilitado por ter passado o dia doente, Evans não decepcionou e fez uma apresentação cheia de energia, contagiando o público presente – que foi ainda maior do que o do dia de abertura.
Como em muitos encontros de motociclistas, há pessoas que saem das mais variadas localidades para prestigiar o evento. No caso do APAExonados, a presença internacional não se personificou apenas em cima do palco com Evans, mas também entre os visitantes, na figura do equatoriano Santiago Reascos, que viaja com uma Shineray de 250 cilindradas há um ano e quatro meses.
Em conversa com o MOTO.com.br, o simpático equatoriano conta que vir para o Brasil não estava nos planos. No entanto, Reascos veio e agora quer conhecer o máximo possível no tempo em que estiver pelo território brasileiro.
“Eu não viria ao Brasil, mas o país é muito bonito e agora quero conhecer tudo que puder. Tenho mais seis meses de permissão para estar aqui – que é o que a lei me diz – e quero aproveitar ao máximo”, contou, dizendo em seguida o que já conheceu e qual o roteiro que pretende seguir para, depois de tanto tempo, retornar à terra natal.
“(Visitei) a tríplice fronteira (Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazu), Cascavel, Londrina e Águas de Santa Bárbara, além de Avaré. A ideia é ir a São Paulo, Rio de Janeiro e seguir pelo litoral até o Espírito Santo. Depois Manaus, Venezuela, passar pela Colômbia e voltar para o Equador”, completou Reascos, que vendia pequenos acessórios para ajudar nas despesas da viagem.
No domingo, último dia de evento, a programação ainda estava recheada de atrações, mas era necessário voltar a São Paulo.
No retorno, viagem tranquila e sem problemas tanto com a XDiavel quanto com a Multistrada 1200s, que se mostraram belas companheiras de viagem. A cruiser, apenas com o piloto, fez média de 22 km/l e a bigtrail, com um piloto e toda a bagagem da dupla, fez média de praticamente 18 km/l, número que se justifica pela carga maior.
Para pilotos de menor estatura, a XDiavel pode gerar um certo incômodo com a ergonomia na configuração padrão. Isso não é, porém, um problema, já que as pedaleiras podem ser ajustadas em três posições. Há também a possibilidade de instalar um guidão mais recuado - a peça é um acessório original da fabricante italiana.
As duas motos da Ducati são firmes na estrada e não sofrem com as rajadas de vento que são constantes em uma rodovia como a Castelo Branco, além de possuírem fôlego mais do que suficiente para ultrapassagens e manutenção de velocidade constante – os dois modelos rodam de forma tão suave que é necessário prestar atenção ao velocímetro para não andar acima do limite de velocidade.
Antes de partir, todavia, conversamos com Jepa e ele já fazia um balanço positivo da primeira edição do APAExonados por Motos e Triciclos, mesmo com os diversos desafios enfrentados – especialmente no lado financeiro – para fazer tudo acontecer.
“As instituições no Brasil passam por dificuldades financeiras. Sendo o primeiro evento dentro da APAE, que é uma instituição reconhecida, mas que também luta bastante para manter o atendimento às crianças e todos que possuem necessidades especiais, o principal desafio foi o financeiro.
“Conseguir trazer parceiros para o evento, em um momento difícil que o país vive, conseguir atrair o motociclista para o evento e também, por ser a primeira edição, conquistar a confiança do público também eram desafios.”
“Entretanto, todos os que vieram até a APAE elogiaram muito e isso deve repercutir bem, o que nos permitirá fazer algo ainda maior dentro da instituição unindo rock’n’roll, motociclismo e uma causa nobre.”
“Percebemos que agradamos ao público motociclista e que aos que gostam de rock. Claro que sempre pensamos em metas grandiosas, mas estamos satisfeitos. Plantamos uma semente que vai trazer mais motociclistas para cá”, ponderou, quando então foi questionado sobre quando acontece a segunda edição do APAExonados por Motos e Triciclos.
“No próximo ano. Já temos um esboço para a próxima edição. Estamos, claro, analisando acertos e erros para fazer algo ainda melhor em 2019”, completou.
Antes da próxima edição do APAExonados, Jepa já tem um novo evento para cuidar: o JEPA MOTORS CYCLES & BROTHERHOOD - Motores, Motociclismo e Amizade, que acontece entre os dias 9 e 10 de março, também na APAE de Avaré.
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