Duas CB 500 X e uma XTZ 250 pela Proa
Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker fazem um panorama do mundo das duas rodas e suas diferentes propostas
Por Gabriel Carvalho
Por Gabriel Carvalho
Toca o telefone. Do outro lado da linha, Walter manda o recado: “Mãe, estou indo para Jacareí (SP) visitar você e o Reinaldo. Levo na bagagem uma surpresa incrível: vou viajar, quando chegar por aí contarei os detalhes.”
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No mês de abril de 2018, Walter entrou em contato com o navegador Aleixo Belov, do Veleiro Fraternidade, que estava se dirigindo para Durban, na África do Sul. Seria ali que o filho da Pinny subiria a bordo da embarcação para cumprir a meta de cruzar o Cabo da Boa Esperança, atracar na Cidade do Cabo e se preparar para a travessia do Oceano Atlântico com destino certo: Salvador, na Bahia.
O final de semana que eu e Pinny passamos juntos na beira da represa do rio Jaguari (SP) rendeu muito e foi ali que resolvemos subir de moto para encontrar com Walter na chegada ao Brasil. Seria fácil, mas teríamos que resolver um pequeno problema que enumero abaixo.
1 – Vamos com as duas BMW F 800 GS ou trocaríamos de moto?
2 – No caso de irmos de BMW, teríamos que trocar: pneus, relação, fluidos, além de óleo, filtros de ar e talvez até pastilhas de freio;
3 – Quanto vai sair a brincadeira?
4 – As duas BMW estavam perfeitas, mas rodaríamos no mínimo cinco mil quilômetros;
5 – A moto da Pinny já estava com 85 mil km e a minha com 40 mil km;
6 – A BMW fez o favor de tirar de linha duas motos soberanas;
7 – Sete vidas para as nossas sete gatas, ou... pular fora e ter que procurar no mercado alguma moto que pudesse resolver a questão.
Resumindo, passei alguns dias sem dormir, pensando que uma 650 cc ou 660 cc um cilindro zero bala estaria bem próximo do nosso bolso, mas vê se você acha uma por aí? Tiraram tudo de linha.
A próxima moto deveria atender às nossas necessidades e a grana era curta. Sendo assim, resolvemos vender tudo, através do MOTO.com.br. As duas BMW para iniciar a procura por duas CB 500 X, da Honda, que era a opção mais próxima da nossa realidade. Mas tal escolha seria a mais apropriada?
Confesso que não foi fácil. Procuramos no Vale do Paraíba todinho e as revendas Honda não tinham as motos. O tempo passava rápido, até que num lance de muita sorte achamos as motos em São Paulo. Compramos uma verde e uma vermelha.
Walter já estava cruzando o Atlântico e nós esperando a chegada das motos em São Paulo. Foi um tempo de gestação, mas que de alguma forma deu certo, só teríamos que rodar mil quilômetros em um final de semana para fazer a primeira revisão e assim foi feito.
A CB 500 X é uma Speed disfarçada, tem um apelo off-road mas é dura; dá para perceber que quando você passa por cima de uma moeda se ela é Cara ou Coroa. Na data combinada, saímos para pegar pela proa a temida BR 116 com destino a Feira de Santana, na Bahia.
No caminho para Feira chorei minhas pitangas. A CB judiou não só a mim como também à minha parceira de estrada, mas eu já sabia que de alguma forma resolveríamos o problema durante o trecho. Não deu tempo: rodamos em um trajeto sinuoso, foram 2.150 quilômetros com elas, as speeds que fazem curvas como poucas e são extremamente firmes, também nas ultrapassagens. Uma pilotagem única e vigorosa. Motor não falta e ciclística também.
O encontro
Walter liga inesperadamente do Veleiro Fraternidade.
Chegamos, estamos em Gamboa do Morro, muito próximo ao morro de São Paulo (BA). Vamos limpar o fundo do Veleiro Fraternidade e seguir para o Segundo Distrito Naval. Lá seria o fim oficial da viagem e ao mesmo tempo manda um sonoro recado: “vou comprar aqui em Salvador uma Tenere 250 cc e encontrar com vocês para seguirmos juntos rumo a Paulo Afonso (BA) e o Raso da Catarina”.
A mensagem foi recebida com toda a clareza mas eu não botei a menor fé. O cara tem uma Falcon 400cc carburada que está na família desde 0 km e na opinião do próprio é uma moto completa e extremamente confiável. Porém, a moça já tinha rodado mais de 98 mil quilômetros e a Pinny deu a maior força: “Faça isso - vá de Teneré, um verdadeiro 'burro de carga', ela será útil e confiável na nossa futura e próxima rota”. E assim foi feito.
Posto Piraí (Feira de Santana)
Feira de Santana, lance de caminhoneiro, foi ali partindo de Jacareí (SP) que encontramos com o Walter. Ele vindo da África do Sul e nós de São Paulo. Foi emocionante, duas trajetórias e um mesmo objetivo: velejadores e motociclistas em um posto de gasolina batizado de nome PIRAÍ.
A CB 500 X faz 33km/l e a Tenere 36 km/l - andando a 90 km/h. Estava perfeito, teríamos autonomia para cruzar as rotas nordestinas sem o menor problema. Retas e muita seca por todo o trecho, uma preciosidade que só entende quem já passou por essas regiões sem nada e desprovidas de uma vida mais digna e muito longe de qualquer shopping center. Bem-vindo a um Brasil esquecido pelos que fazem a política e só circulam de jatinhos (abraços aos irmãos caminhoneiros).
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A Trilogia de Joa, Raso da Catarina e o inexplorado
Fomos para o Raso da Catarina participar de seis casamentos na reserva indígena do Raso, uma autêntica festa promovida por brasileiros que moram em regiões na qual a água é sem dúvida uma preciosidade que não tem preço. Um agreste cheio de flores e passarinhos coloridos, uma verdadeira explosão de cores e vida na qual o gado e cabritos nunca beberam sequer uma gota de água, um milagre diário que ninguém merece e poucos brasileiros conhecem.
Rumo à Chapada Diamantina
Virei a chave e o motor pegou. Chegando em Paulo Afonso, fomos a uma autorizada Honda e ajustamos toda a suspensão das CB 500 X e as motos ficaram mais suaves na pilotagem. Assim e dessa forma partimos em direção não muito reta para a Chapada Diamantina, um trecho de total visual, até chegar ao povoado de Igatú, na Bahia.
Igatú e o Diamante
Em lombo de burro e muito suor, quase todo o diamante foi extraído de Igatú. Conversando com os moradores ninguém sabia ao certo qual era a rota do envio. Talvez Camamu ou, quem sabe, Salvador. Uma história que foi perdida no tempo e no espaço, mas que ficou registrada nas casas e construções de pedra desse povoado esquecido, mas preservado pelo tempo. Uma incrível arquitetura e trilhas feitas por garimpeiros em lombo de burros de um tempo registrado na memória do povo brasileiro sem controle de tração, injeção eletrônica e freios ABS.
Igatú é toda construída em pedras - não só as casas, mas também ruas e vielas. Um conselho: pegue sua moto e vá (ela está no mapa e fica no miolo da Chapada Diamantina). A estradinha de sete quilômetros é pura adrenalina.
Um Belo Dia
Voltar sempre foi para mim um problema a ser resolvido.
Walter, Pinny e eu teríamos que marcar a data da volta.
É sem dúvida um transtorno, pois nenhum de nós queria abandonar as estradadas e voltar para São Paulo, mas era preciso.
Navegar é preciso, viver não é preciso.
Voltamos com uma Teneré e duas CB 500 X pela Proa.
O que ficou e sobrou em nossos corações foi a amizade e na parede da memória essa viagem única feita por Pinny, Walter e eu, testemunha de um amor por todos os filhos verdadeiros.
Abraços aos Irmãos Estradeiros e Velejadores,
Pinny, Walter, Reinaldo Baptistucci e Aleixo Belov (Capitão do Veleiro Fraternidade)
Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker (Pinny)
Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker
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