Muita disposição e braço, sentido Uruguai

Antonio Carlos Ferreira conta uma belíssima e descontraída história digna de um motociclista.

Por André Jordão

Antônio Carlos Ferreira

Nossa idéia inicial era fazer um passeio de moto a Buenos Aires na semana de carnaval/2009, nos dias 20/02/2009 a 27/02/2009, portanto, oito dias livres para a viagem.

Após meses de planejamento, reuniões e mudanças de traçado nos roteiros, conciliações dos dias disponíveis de cada casal integrante, com quem ficariam nossos filhos, chegamos a um denominador comum.

Saindo de Guarapuava, centro-oeste do Paraná, decidimos conhecer Montevidéu e Punta Del Este, entrando no Uruguai através do Chuí, extremo sul do Brasil. Na teoria rodaríamos uns 3000 km.

Fizemos vários convites aos amigos mais chegados, disseminamos a idéia, no final das contas, ficamos em 4 valentes motociclistas na faixa dos 40/50 anos, decididos a enfrentar esse desafio.

Sendo a minha “menina” uma HD Electra Glide Classic, que foi “batizada” nessa viagem, duas Suzuki V Strom DL 1000, uma do Geraldo e outra do Zito e a quarta moto, uma Aprilia Pegaso 650 do Paulo, único que estava solteiro.

Preparamos nossos passaportes, cartas verdes, atestados de vacinação da febre amarela, documentos pessoais e das motos, todos os apetrechos que julgamos necessários na bagagem e pé na estrada.

O mapa do traçado planejado estava no tanque bag do Geraldo, que iria puxando a fila. Dia 20/02/2009, sexta feira às 6hs da manhã, horário combinado para eu, o Zito o Geraldo e nossas amadas esposas/namoradas, devidamente equipados para nos encontrarmos no Posto BR Mania, ponto de partida, e zarparmos até a Colônia Samambaia.

Região de Entre Rios para o Paulo unir-se a nós e darmos início à jornada com o grupo completo. O planejado para esse dia era sairmos de Guarapuava (PR) e pernoitarmos em Santa Cruz do Sul (RS), trecho de mais ou menos 660 Km.

Estávamos eufóricos e a estrada estava uma delícia, passamos por Foz do Areia, município de Pinhão que é uma Usina Hidrelétrica. Nessa represa há uma cerração típica todas as manhãs, atrapalhando um pouco a visibilidade de quem utiliza a rodovia.

Quando passamos a represa, em direção à cidade de Bituruna, após a primeira curva da estrada observei pelo retrovisor que o Geraldo acionou o pisca e foi ao acostamento com sua V Strom, e acenava vigorosa que havia acabado sua viagem.

Pensei comigo, não é possível, rodamos apenas pouco mais de 100Km... Parei e desci de minha HD e fui verificar o que aconteceu. Ela havia passado por um buraco no asfalto, ou melhor, uma “bruta panela” entortando a roda dianteira murchando o pneu.

Nessa altura, o Paulo e o Zito que estavam na frente, já haviam sumido de nosso campo visual, continuando a viagem. E agora, o quê fazemos?

Nossas esposas ficaram cuidando da V Strom na beira do asfalto e o Geraldo subiu em minha garupa, fomos até a cancela/guarita da represa, felizmente, através do segurança conseguimos um telefone fixo para acionar o 0800 do seguro, solicitamos um guincho às 7h40 da manhã.

Quando retornamos ao local onde havíamos deixado a V Strom “baleada”, o Paulo e o Zito já haviam retornado para ver o que aconteceu. Levamos as motos no primeiro mirante existente no alto da represa e ficamos aguardando a chegada do guincho.

Ele foi acionado pelo seguro em União da Vitória (PR), chegando ao local por volta das 11h30. Nos dirigimos até a oficina MOTOZEN em Bituruna, onde a moto foi concertada, almoçamos e saímos por volta das 14h00.

Já havia passado boa parte do dia e ainda estávamos a apenas 130Km de casa. Continuamos a jornada, atravessamos SC sem problemas e entramos no RS por boas rodovias, porém, há muitas cidadezinhas próximas e muitos trevos com redutores de velocidade, pardais e muitos caminhões, ocasionando uma velocidade média muito baixa, atrasando ainda mais nosso cronograma.

Chegamos a Passo Fundo (RS) no início da noite abaixo de uma forte chuva, com a moto do Paulo dando uma pane elétrica, falhando e apagando o motor e as luzes.

Na entrada da cidade chovia forte e eu estava logo atrás dele, sentindo sua dificuldade de tocar sua moto naquele transito urbano com aquele problema, quando de repente vi em minha frente ele passando por uma poça de enchurrada, mas não era uma simples poça, era um enorme buraco no meio da rua cheio de água, a moto desceu, sumindo mais da metade das rodas e subiu novamente, pois o buraco estava camuflado pela água da chuva causando um enorme susto.

Rodamos apenas 450km. Pernoitamos no ótimo Maitá Palace Hotel. Dia 21/02/2009, sábado. Hoje nosso objetivo é chegar ao Chuí (RS), será um trecho desconhecido por nós de mais ou menos 750Km. Tomamos um belo café da manhã, o Paulo foi a uma concessionária próxima ao hotel para concertar/verificar a pane elétrica de sua moto.

Por volta das 10hs da manhã, tudo beleza, motos abastecidas saímos com tempo bom. Repetiu-se a situação, trevos, redutores de velocidade, pardais, caminhões e principalmente muita atenção para não nos perdermos um do outro.
Nesse dia a temperatura ambiente estava terrível, chegou a 35ºC.

Chegamos a Pelotas pela BR 392, ótima rodovia pedagiada, motocicletas são isentas, existe um corredor sinalizado à direita dos postos de pedágio por onde as motos passam com velocidade reduzida e sem necessidade de parar. Parabéns aos gaúchos por essa atitude extremamente positiva que agradam os motociclistas.

Atravessamos a Reserva do Taim no início da noite, nesse trecho, sentimos um vento diferente que nos atinge do lado esquerdo, a vegetação próxima ao acostamento é naturalmente inclinada para a direita em função do vento.
Paramos em um posto para abastecermos as motos e fazermos um lanche.

Fomos informados que estávamos a 60 Km da fronteira Brasil/Uruguai. Por volta das 11hs da noite chegamos a Santa Vitória do Palmar (RS), decidimos dormir ali, estávamos a 15km do Chuí, telefonamos e não havia hotéis disponíveis.

Começamos a procurar um bom hotel em Sta Vitória do Palmar, pois uma cidade com mais de 30 mil habitantes já tem alguma estrutura hoteleira. Para nossa desagradável surpresa, após procurarmos vagas em todos os hotéis da cidade, estavam todos lotados.

No centro da cidade havia a rua principal interditada para os foliões pularem carnaval por vários quarteirões, atrapalhando ainda mais nossa procura.

Um cidadão local nos informou que havia um tal Hotel Taperinha, próximo à rodoviária, fomos até lá conferir, mas, após vistoria dos dois únicos quartos disponíveis, não deu coragem de dormir ali, o cheiro de mofo era fortíssimo, o visual do quarto era muito desagradável com uma luz fraquinha, camas, lençóis e travesseiros de aparência péssima, além do banheiro ser coletivo ao final do corredor.

Estávamos cansados, suados e precisando de um bom banho e um sono reparador. Ficamos na esquina discutindo a situação, isso já era 1h da manhã, quando um senhor taxista de cabelos brancos e voz mansa nos interrompeu perguntando: Desculpe me meter na conversa de vocês, mas o quê vocês procuram?

Perguntei a ele se havia algum motel na região, ele nos informou que havia dois motéis na cidade, mas o da beira da estrada, próximo à Polícia Rodoviária estava interditado judicialmente e proibido de funcionar. Também nos informou que havia outro motel ao lado de uma usina, mas que nós não íamos gostar dele, pois era muito “ruinzinho”.
Perguntei a ele se me levava até lá e quanto cobrava. Imediatamente respondeu-me que levaria e cobraria sete “pila”.

Eu e minha esposa entramos no táxi e fomos conferir. Lá chegando, na frente do estabelecimento estava escrito no muro “Motel Del Fuego”.

Entramos e perguntei à funcionária se havia quatro quartos disponíveis e se era possível vê-los. A funcionária gentilmente pegou as chaves e nos mostrou os dois únicos quartos que estavam disponíveis, eram extremamente simples e ainda inacabados, faltava o forro das garagens e a pintura, mas seus banheiros eram razoáveis, em um dos quartos havia além da cama de casal, um velho e surrado beliche com colchões descobertos e a espuma visivelmente manchada.

Como diz minha amiga Francis, aquilo tudo era um verdadeiro “muquifo”. O motel todo só tinha três quartos e um deles estava ocupado por um cidadão local que, segundo a funcionária, desocuparia logo.

Vejam bem a situação, tinha dois quartos para três casais e um solteiro. Falei com a funcionária para reservar esses dois quartos que iria buscar o restante do pessoal e as motos. Eu e minha esposa voltamos ao centro da cidade, paguei os sete “pila” da corrida e agradeci aquele abençoado homem.

De encontro com a turma na esquina da rodoviária, eles já haviam se instalado debaixo de um pequeno toldo, na calçada de uma mercearia, juntamente com as motos, estava uma garoa fina e fria, a namorada do Zito estava “puta” da vida, não queria dormir na rua e nem ficar ali.

Contei que o motel era nossa única opção e estava reservado os dois únicos quartos, fizemos uma fila indiana, isso já eram 2hs da manhã, e fomos em direção ao Motel Del Fuego.
Chegando lá o problema era quem iria para qual quarto. A namorada do Zito, àquela altura da madrugada, já incomodava todos nós com seu mau humor e intolerância, demonstrando infantilidade, estava bastante irritada com a situação, o jeito foi acomodá-los imediatamente em um dos quartos.

Já acomodados, dava para ouvi-los de fora discutindo. Agora, restou um quarto para dois casais e um solteiro... Àquela situação inusitada, era engraçada.

Eu e a Rose, o Geraldo com a Fabíola e o Paulo chegamos a cogitar um sorteio para o quarto restante. Fazíamos barulho e ríamos ao lado da janela do quarto ocupado para apressar a saída daquele cidadão local.

Alguns minutos depois, mais ou menos 2h15 da manhã, a funcionária do motel anunciou que o outro quarto estava sendo desocupado, fizemos uma gritaria para festejar a desocupação, que o casal ficou sem jeito e constrangido (rsrs), indo embora o mais rápido possível.

Agora mudou a situação, o Geraldo com a Fabíola ficaram com o quarto recém desocupado, o único com ar condicionado, um luxo (rsrs). Eu e a Rose ficamos no terceiro quarto com beliche e adotamos o Paulo, cuja solução foi tomar seu banho primeiro, pegar o melhor colchão do beliche e tentar dormir um pouco na garagem, junto com as motos.

Após todos tomarem banho, o sono sumiu e deu uma fome danada. O Geraldo com a Fabíola, eu, minha esposa e o “adotado” Paulo resolvemos falar com a funcionária do motel para solicitar uma pizza para nós comermos.

Ela respondeu que não podia autorizar, era proibido comer no motel, claro que no sentido gastronômico, rimos muito desse episódio. Disse que teríamos que falar com a dona do estabelecimento para ela autorizar a vinda da pizza.

Um telefonema e logo chegou à dona com cara enfarruscada em um fusca branco 69, contamos a ela nossa “penada” história e ela mudou completamente sua fisionomia, rindo, pegou seu celular e mandou vir duas pizzas grandes, duas cocas de 2 litros e copos descartáveis para cinco pessoas.

Naquela altura da madrugada, o Zito e sua namorada parecia que tinham “morrido” no outro quarto. Passado alguns minutos, chegou o moto boy com a encomenda, comemos sem pratos nem talheres, somente com as mãos em cima do baú da moto do Paulo, foi a melhor pizza que de nossas vidas.

Dia 22/02/2009, domingo. Após aquela noitada “revigorante” no motel Del Fuego, hoje nosso objetivo é chegar a Montevideo e hospedar-nos no Holliday In Hotel, nossas reservas já efetuadas e pagas antecipadamente por intermédio da CVC, eram de 22 a 24/02/2009, rodaremos mais ou menos 360 Km.

As nuvens daquela manhã denunciavam chuva, saímos agasalhados para em direção ao Chuí (20km), extremo sul do Brasil e fronteira com o Uruguai.

Estacionamos e travamos as “meninas” ao lado da Aduana uruguaia, solicitamos informações e fomos educadamente bem atendidos. Preenchemos os formulários, carimbamos os passaportes, pegamos as autorizações como turistas para 90 dias, apresentamos as cartas-verdes (foram exigidas), os documentos das motos e entramos no Uruguai sem problemas, demoramos uns 40 minutos para todos esses procedimentos.

Havia um grupo de cinco motociclistas de Porto Alegre que foram impedidos de entrarem no País vizinho devido à falta das cartas verdes.

Começamos a rodar em estradas Uruguaias pela ruta nove, asfalto liso e maravilhoso, bem cuidado, estrada bem sinalizada e os motoristas andando rigorosamente na velocidade especificada nas placas. Achei impressionante a educação no trânsito dos Uruguaios.

À medida que avançamos Uruguai adentro, o vento ficava mais intenso e começou a garoar fino, passamos por Castilos, Rocha e San Carlos. Fizemos um “pit stop” no Parador 19 de Abril, na beira da estrada, nesse local há uma lanchonete, posto de correios e duas bombas de gasolina.

Primeiro abastecemos as motos com a gasolina 85, que é a mais fraca, porém é pura. Depois resolvemos fazer um lanche, café com leite e medialuna (pão de massa foleada c/queijo e salame fatiado), estava muito bom.

Tiramos algumas fotos e seguimos em frente. Passamos por um posto de pedágio, motocicletas são isentas, isso é ótimo.

O tempo foi ficando cada vez mais fechado, começou a chover e ventar mais forte, nosso campo visual foi diminuindo, as copas dos eucaliptos existentes na beira dos dois lados da estrada arqueavam com a força dos ventos que foram intensificando, fazendo um barulho assustador. Nessa situação, é prudente reduzir a velocidade e redobrar a atenção, pois alguns carros começam a fazer ultrapassagens.

A chuva juntamente com o vento ficou mais intensa, chovia horizontalmente devido ao forte vento, da esquerda para a direita, dava para visualizar apenas uns 10m com certa nitidez, eu era o terceiro da fila indiana.

Estávamos andando em primeira marcha, em minha frente via as V Strom do Geraldo e do Zito andando inclinada lateralmente devido à pressão do forte vento (parece mentira, mas é verdade), olhei o retrovisor direito e avistei o pisca do Paulo acionado indo ao acostamento e sumindo do meu campo visual, ele estava parando no meio do temporal. Aquele não era local adequado para parar.

Nós três seguimos em frente muito devagar, quase no acostamento e à procura de um abrigo. A mais ou menos um km à frente havia uma placa sinalizadora no acostamento de policia, ali nós três paramos as motos, acionamos o pisca alerta, descemos, nos reunimos e trocamos idéias.

Verificamos com dificuldade visual que não havia nenhuma guarita de polícia. Nossas luvas e botas estavam encharcadas. Há uns 70m adiante havia uma casa de uma propriedade rural com a porteira aberta, decidimos entrar ali com as motos e tentar falar com o proprietário. Buzinamos em frente à casa, mas não apareceu ninguém.

Avançamos mais alguns metros e deixamos as três motos
estacionadas no pátio ao lado da casa, e nos abrigamos em um barracão nos fundos dela.

No interior desse barracão havia de um lado, um grande trator Valmet amarelo traçado com muitos perus empoleirados em cima do trator e um bonito pavão, do outro lado havia uma estrutura instalada para ordenha de vacas, com muitos sacos de insumos agrícolas amontoados em um dos cantos.

O telhado era de zinco, a chuva e o vento forte faziam um barulho infernal e assustador, a tempestade naquele momento era extremamente violenta, acho que foi o seu ápice.

Em meio a esse cenário, minha esposa assustada e séria comentou incisivamente: Vou chegar a Montevidéu e vou pegar o primeiro avião para casa. Você vai terminar essa viagem sozinho.

O Geraldo comentou que iria colocar sua moto em um
caminhão fretado e enviá-la para casa, depois também pegaria um avião. O Zito e sua namorada estavam ao lado da estrutura de ordenha, ambos calados e visivelmente assustados.

E o Paulo? Cadê o Paulo? Será que ainda está lá na beira da estrada? Ficamos preocupados com ele, cogitávamos sobre ele. Aqueles minutos de temporal violento pareciam uma eternidade.

Passados mais ou menos uns 40 minutos com essa situação, o tempo foi melhorando, o barulho foi diminuindo, as aves saíram do barracão e nós ficamos de olho na estrada para ver se avistávamos o Paulo, ainda ventava com chuva bem mais fraca.

Saímos, avaliamos e decidimos tocar em frente. Pegamos a estrada e logo adiante avistamos um eucalipto grande que havia caído diagonalmente, afetando as duas pistas do asfalto, amassando o “guard rail” dos dois lados do acostamento da pista, felizmente não atingiu ninguém.
Os funcionários do pedágio já estavam cortando aquela enorme árvore com motosserras e desviando/orientando o transito com segurança.

Encontramos um grupo de harleyros que vinham de Porto Alegre em direção a Punta del Leste, perguntamos a eles se haviam avistado o solitário Paulo, disseram que não o viram no trajeto que fizeram.

Fomos tocando com atenção, cada posto ou local onde nossa
vista alcançava, procuramos o Paulo. Assim foi até chegarmos a Montevidéu. Lá chegando ainda com chuva fraca, por volta das 16hs, entramos na portaria do Hotel Holliday Inn.

Adivinhem quem encontramos lá? O bendito Paulo! Já estava de banho tomado, sequinho, de bermudas, camiseta e chinelo. Ele também estava preocupado conosco.

Contou-nos que quando parou, momentos depois, no ápice da tempestade houve a queda de uma árvore na pista, alguns metros em sua frente, ficando impossibilitado de seguir naquele momento e nos encontrar.

Fizemos nosso chek in no Hotel e combinamos de nos encontrar às 20hs, fomos nos instalar, tomamos um ótimo banho, nos arrumamos e descemos ao saguão do hotel.
Solicitamos ao porteiro uma indicação de restaurante com uma boa carne. Às 20hs, todos juntos pegamos dois taxis e nos dirigimos a um local no centro especializado em parrila.

Neste local escolhe-se apenas um tipo de carne por vez conforme o menu. Os pratos são muito bonitos em sua apresentação, razoáveis no sabor, porém muito caros.

O meu e da minha esposa totalizou 930 pesos uruguaios, mais ou menos 100 reais. Terminamos nosso dia retornando ao Hotel comentando sobre a situação vivida durante aquele temporal.

Dia 23/02/2009, segunda-feira de carnaval. O dia amanheceu bonito. Após o café da manhã, fizemos um city tour completo em Montevidéu, através de uma agência de turismo, com um ônibus fretado e guia turístico ao preço de 20 dólares por cabeça, com ônibus lotado.

Nessa manhã inteira, nos foi apresentado os principais pontos turísticos, com paradas para fotos, etc. Terminamos o city tour descendo ao meio dia no portão principal do Mercado Del Puerto.

É um prédio histórico e antigo de arquitetura muito interessante, frequentado por turistas do mundo todo, com muitas lojas especializadas em souvenirs, ambulantes, artesanatos em geral, muitas áreas de alimentação com várias opções.

Decidimos almoçar uma parrilada completa, essa sim, estava maravilhosa com preço razoável, comemos muito bem. Após o almoço, pegamos dois táxis e nos dirigimos ao Shopping Punta Carretas, no centro. À noite fomos ao Cassino Victoria Plaza conhecer e trocar mais reais por pesos.

Dia 24/02/2009, terça-feira de carnaval. Saímos do hotel por volta das 9h00 com tempo bom, céu limpo. Paramos em um posto para abastecermos as “meninas” e o Paulo “puxou” a fila, pois conhecia a cidade.

Na saída paramos no trevo principal de entrada da cidade, cuja estrutura moderna e imponente merece ser registrada em algumas fotos. Depois seguimos para a rodovia em direção a Punta Del Este.

Nesse trecho encontram-se vários “cemitérios” de carros antigos. Mais ou menos 70km adiante chegamos a Punta. Sua entrada é muito bonita, na bela bahia avistava-se no horizonte próximo dois enormes navios transatlânticos de cruzeiro ancorados.

O movimento de carros importados e caros era intenso. Nos hospedamos no Tanger Hotel, único que tinha 3 quartos disponíveis, sendo um deles conjugado. O Geraldo e a Fabíola ficaram em um, o Zito com a Simone no outro. Novamente eu e minha esposa “adotamos” o Paulo, que ficou no conjugado de duas camas de solteiro, eu e minha esposa ficamos no quarto de casal.

Esse cômodo conjugado custou 180 dólares. Fomos almoçar por volta da 13h, comemos camarão e peixe ao molho com purê de batatas, estava ótimo. Após o almoço, fomos visitar a famosa Playa Brava, onde há uma grande escultura em concreto de uma mão com os dedos saindo da areia, símbolo de Punta, tiramos algumas fotos com o mar ao fundo e passeamos pela orla.

Depois, fomos visitar o Hotel Cassino Conrad, famoso por receber artistas e espetáculos do mundo todo. Em frente à elegante e pomposa entrada, havia uma limusine preta estacionada, lindíssima, que é utilizada para transportar os clientes mais abastados.

Entrando no estabelecimento, observa-se o luxo do local do piso em granito ricamente trabalhado ao teto com lustres gigantescos. Nos grandes e bem confeccionados cartazes das entradas internas laterais, havia anúncios de shows com Liza Minelli, Julio Iglesias, etc.

O Cassino é maravilhoso, pelo movimento que vimos lá dentro, conclui-se que rola milhões nos jogos. No ambiente que abriga o Cassino é proibido fotografar e filmar.

Da luxuosa sacada envidraçada existente acima da entrada, a
vista da bahia é de tirar o fôlego, simplesmente belíssima. Em outro ambiente lateral reservado, porém aberto, minha esposa encantou-se com o desfile de modas feminina da grife Valentino, fechado apenas para algumas madames “bem nascidas”, que aparentavam ser milionárias.

Ao final da tarde eu e minha esposa visitamos uma feira de artesanato local na praça da cidade, ela adquiriu uma corrente de prata com um pingente cuidadosamente confeccionado em lâmina de chifre polido, lapidado e trabalhado com prata, muito diferente, uma bela peça.

À noite fomos fazer um lanche em uma pizzaria, lá descobrimos que as pizzas são comercializadas em tiras de mais ou menos uns 15 cm em metro. Isso mesmo, em metro.
Estava muito boa.

Após esse passeio, resolvemos nos recolher ao Hotel e descansarmos, pois já era noite. O Paulo consultou o site “climatempo” na internet e nos informou que a previsão para o restante da semana, era tempo chuvoso. Com essa notícia, decidimos nos prepararmos para voltar para casa.

Dia 25/02/2009, quarta-feira de cinzas. Levantamos às 7hs, tomamos nosso café da manhã, preparamos e acomodamos as bagagens nas “meninas” e saímos, rumo a Pelotas/RS.

Esse trecho será de aproximadamente 400km. Antes de sairmos do Uruguai, paramos em um posto para abastecermos e gastarmos nossos últimos pesos uruguaios.
O Paulo distraidamente colocou a gasolina 95, a mais “forte” de todas com alta octanagem, e alguns kilometros adiante teve sua moto “engasgando” nas baixas rotações.

Passamos pela Aduana, carimbamos os passaportes, registramos nossa saída do Uruguai sem problemas e nos dirigimos à cidade de Chuí. Lá paramos por 2hs para visitar as lojas. É um local parecido com Ciudad de Leste/Paraguai, bastante movimentada, com inúmeras opções de compras, desde eletrônicos, queijos, bebidas a vestuário.

Após a visita e algumas compras, atravessamos a Reserva do Taim, que é uma reta de uns 200km, com velocidade média variando de 130 a 140km/h. Aquele vento “diferente” agora soprava do lado oposto, do nosso lado direito.

No meio da tarde, resolvemos entrar na Cidade de Rio Grande, 40km antes de Pelotas, para irmos a uma oficina de motos verificar a pane da moto do Paulo.

Enquanto os mecânicos a concertavam, fomos informados pelo dono da oficina que a cidade tinha vários atrativos como a Praia do Cassino, que é a maior praia em extensão do mundo, que está registrado no Guinness Book.

Também tinha o maior Museu Oceanográfico da América Latina, que a estrutura portuária produzia as plataformas da Petrobras e ainda, que se pegássemos um barco e atravessássemos a Lagoa dos Patos, até uma pacata cidadezinha chamada São José do Norte, comeríamos o melhor kit de frutos do mar com ingredientes frescos de nossas vidas.

Depois dessas dicas, decidimos procurar um Hotel e pernoitar ali, pois os atrativos ficaram interessantes além de culturais. Registramos nossa hospedagem no Taufik Hotel, próximo ao Porto, ao lado da Lagoa dos Patos.

Tomamos nosso banho e pegamos o barco das 9hs da noite, atravessamos a ponta da Lagoa dos Patos rumo a São José do Norte, a travessia demora exatos 30 minutos, fomos degustar o tal Kit de Frutos do Mar no único restaurante da cidade.

Realmente maravilhoso. Lá nos serviram três tipos de camarão (cozido ao bafo, à milanesa e pirão), casquinhas de siri, filé de peixe fresco à milanesa, bolinhos de bacalhau, salada e arroz branco, ufa. Cada vez que esvaziávamos um daqueles pratos, um simpático senhor o substituía por outro cheio.

Comida farta e excelente, recomendo aos viajantes. O preço por toda essa fartura? Apenas 20 reais por pessoa! Saímos de lá com o pecado da gula cometido. Voltamos ao Hotel para dormirmos com o estomago pesado.

Dia 26/02/2009, quinta-feira. Tomamos o café da manhã e
nos dirigimos ao Museu Oceanográfico Prof. Eliezer de C. Rios, maior do gênero da América Latina.
Essa visita foi muitíssimo interessante, rico em informações, lá se encontra também um centro de recuperação de animais marinhos. Havia um tanque com muitos pingüins de duas espécies recuperando-se, outro tanque com um leão marinho também em recuperação.

Ao lado do prédio do Museu Oceanográfico, no mesmo pátio, há o Museu Antártico, com containeres de paredes duplas, adaptados para o frio antártico com todos os apetrechos reais utilizados pelo Brasil nas pesquisas Antárticas.

Esses containeres possuem uma porta de entrada aberta para visitação e fotos. Foi uma visita de cunho cultural muito interessante.

De volta ao hotel, passava das 10hs da manhã, fechamos as contas. Preparando as bagagens na moto, comentei baixinho com minha esposa que eu sentia um pequeno desconforto na barriga, um movimento intestinal diferente.

Saímos da cidade, com tempo nublado e agasalhados para chuva, passamos por Pelotas abaixo de chuva constante, com caminhões e muito “spray” no capacete. Fomos em direção à Santa Maria.

Nesse trajeto meu intestino começou a incomodar. Rodando com chuva, cólicas intestinais violentas e necessitando de um banheiro imediatamente. Olhei no retrovisor, avistei o Paulo que levantava a mão esquerda sinalizando que precisava parar.

Alguns quilômetros à frente, paramos desesperados em um posto, próximo à Caçapava do Sul. Desci da moto correndo para os fundos à procura de um banheiro, achei, entrei, mas em nenhum dos “cômodos” com vaso sanitário havia papel higiênico.

Entrei em pânico, saí com as pernas travadas, andando pressionando as nádegas tentando segurar aquilo tudo.  Minha esposa viu meu semblante desesperado e perguntou: O quê aconteceu? Respondi que não havia papel higiênico, ela imediatamente gritou para mim: Vai cagar logo que te levo o papel. Entrei rapidamente ouvindo o pessoal rir.

Fui ao último cubículo do banheiro, quando abaixei as calças, quase não deu tempo de sentar, foi uma “explosão” seguido de uma diarréia violenta e extremamente fétida. Fiquei chateado por “poluir” o ambiente, mas foi um alívio.

Depois soube que o Paulo também estava com seu intestino “frouxo” desde a hora que levantou, e, naquele mesmo posto havia “atropelado” a Fabíola para ocupar primeiro o banheiro da lanchonete do posto.

Depois das descargas minha e do Paulo seguimos em frente, abaixo de forte chuva. Esse trecho da rodovia merecia muita atenção e velocidade reduzida, pois estava com trilhos em baixo relevo formados no asfalto devido ao peso dos caminhões, formando “calombos”, que com chuva ficava perigoso uma tocada mais agressiva.

No início da noite chegamos a Cruz Alta (RS). Resolvemos pernoitar ali. Hotel Santa Helena foi onde nos hospedamos.

Depois de tomarmos nossos banhos e colocar nossos jeans, fomos a uma pizzaria, comemoramos o aniversário do Zito com um rodízio de pizzas, e ele nos surpreendeu pagando todas as despesas. Ele que tem fama de “pão-duro”. Nesse cinzento dia, rodamos apenas 480km com muita chuva e estrada ruim.

Dia 27/02/2009, sexta-feira. Levantamos às 7h. Hoje teremos pouco mais de 500km para chegarmos em casa. Tomamos nosso café da manhã, enquanto preparávamos as bagagens nas “meninas” no estacionamento, o Paulo comentou ironicamente que estava com seus “países baixos” completamente assados. Já estava usando pomadinha para assadura de neném.

Meu caso foi menos grave, tive apenas duas crises. Com o restante do pessoal, não houve absolutamente nada. Saímos de Cruz Alta em direção a Passo Fundo, depois Concórdia (SC), onde paramos para fazer um lanche em uma barraca de salames e queijos, trecho tranquilo apesar das pancadas de chuvas.

Após o bom lanche, seguimos em direção a Bituruna (PR), depois até a região de Entre Rios, chegamos à Colônia Samambaia, fomos todos juntos até a casa do Paulo.

Em frente à sua casa fizemos um “buzinaço”, atraindo a atenção de sua esposa e filhos que nos receberam calorosamente. Nos despedimos do querido Paulo, mais 18km e finalmente chegamos à nossa querida cidade.

Cansados, mas muito felizes, com nosso objetivo atingido. Ao adentrar em minha garagem, fotografei o odômetro parcial da minha HD, rodamos nessa viagem exatos 3.471,8km.

Integrantes e suas motos. HD Electra Glide; Antonio Carlos Ferreira (50) e esposa Rosemari. V Strom azul; Zito Weber (49) e namorada Simone. V Strom vermelha; Geraldo Rocha (43) e esposa Fabíola. Aprilia; Paulo K. Teixeira (50).

Considerações gerais. Eu, o Zito e o Geraldo formamos um trio que bem “afiado”, o mesmo ocorre com nossas esposas, já fizemos várias viagens juntos.

Em 2006 - Rio do Rastro (SC), 2007 - Bonito (MS), 2008 - Canela, Gramado e Torres (RS). Nessas viagens sempre houve adesão de mais uma ou duas motos.

Esse ano, o “agregado” foi o Paulo que demonstrou ser um bom e responsável companheiro. Quanto às motos utilizadas nessa viagem, apesar da minha HD ser uma clássica touring, bem diferente do estilo big trail das outras três motos, todas se comportaram maravilhosamente bem.

Houve alguns trechos em que andávamos muito bem a 140km/h. O consumo dessas quatro motos foram equivalentes durante todo o percurso, quando abastecíamos, a diferença em litros entre uma e outra era mínima, coisa de 2 a 3 reais.

Não calculamos os km/litro. Quanto a Harley Davidson Electra Glide Classic, adquiri em 2008 zero km. Foi sua primeira viagem “grande” e a impressão que deixa é simplesmente maravilhosa.

É tudo que lia a seu respeito. Extremamente confortável para o piloto e garupa, com bagageiros bons e impermeáveis, o som é ótimo, perfeitamente audível e prazeroso. Painel lindo e completo, com seis relógios, três odômetros, um fixo e dois parciais, A e B.

Mostrador digital de reserva de combustível mostrando quantos km você tem para rodar com a gasolina do tanque. Motor de 1600cc, seis marchas, sem problemas em ultrapassagens ou manutenção de uma determinada velocidade.

O pára-brisa cria um confortável vácuo para os ocupantes do assento, o vento não atinge nem as mãos do piloto devido desenho da carenagem.

Em rodovias com ótimas condições, observa-se que ela está em seu “habitat” natural. Dá para rodar 1000km no dia sem cansar.

Além do seu porte chamar a atenção, confere-lhe um certo “respeito”. Nessa viagem, apesar das variações de qualidade, bandeiras e octanagem dos combustíveis utilizados, sua injeção eletrônica deu conta do recado, não tive nenhum problema. É uma máquina magnífica, perfeita. Digna para um 50ão. Meu sonho concretizado. Um grande abraço a todos.

O “motonauta” Antônio Carlos Ferreira participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Moto Repórter

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