De Santa Catarina até o Uruguai
Uma jornada de motocicleta pelos campos do Sul do país com aventuras e belas paisagens
Por Aladim Lopes Gonçalves
Por Aladim Lopes Gonçalves
Giovani Nicoletti
Estando há muito tempo sem ter a viseira do capacete toda grudada de insetos numa longa viagem de moto, era mais do que hora de pegar uma boa estrada. O destino já estava decidido, a cidade de Rivera, no Uruguai, na fronteira com Santana do Livramento (RS).
Tenho 46 anos e sou professor universitário, motociclista há 11 anos, os últimos 10 de forma contínua e moro em Rio do Sul-SC. Sendo a moto, Suzuki Bandit N 600 2004, comigo há 5 anos, muito robusta e mantida de forma impecável, estando com 25 mil km.
Foi a minha terceira viagem de moto (sempre em vôo solo) de mais de 1000 km, não tendo assim, muita experiência no assunto, ainda que conhecendo bem o Brasil e outros países, por conta de atividades profissionais e de turismo realizados.
Na saída, às 7h30 de sábado, o tempo nublado e com chuviscos no trecho sinuoso e perigoso da BR-470, no Alto Vale do Itajaí requereu muita atenção e cuidado na pilotagem. O tempo limpou e a estrada também, após o entroncamento com a BR-116, sinalizando a transição para o planalto catarinense.
O caminho escolhido foi entrar pelo RS via Barracão, ir até Coxilha e logo, pegar a BR-285, passando Passo Fundo até o trevo de Cruz Alta e descer pela BR-158. Parando para abastecer 3 vezes (Barracão, Cruz Alta e Santa Maria) e com mais 2 paradas para breve descanso, consegui tocar sem almoçar, não sentindo fome (incrível o poder de 2 barras de cereais...) até a cidade de Rosário do Sul.
Pilotando a última meia hora de viagem já em plena noite, fiz 846 quilômetros neste dia, numa tocada média de 100 km/h a 110 km/h, apreciando as belas paisagens de campos cultivados, soja e milho em plena colheita, alternando coxilhas e pastagens naturais, em meio a enormes retas de um asfalto bem cuidado e com pouco movimento, numa condução muito prazerosa.
A moto, fazendo uma média de 19 a 21 km/l, dava uma boa autonomia, porém nesta região, os postos de combustível são escassos. Em Rosário, a dica recebida no Hotel Areias Brancas para jantar, foi muito boa, na beira do rio, na praia de mesmo nome, traíra na grelha com arroz e salada e uma cerveja bem gelada, apreciando o movimento do povo, sentado em cadeiras na calçada, famílias conversando e tomando chimarrão num clima de muita tranquilidade.
No domingo, faltando então 115 km para chegar a Santana do Livramento/Rivera, saí às 10 horas da manhã, cruzando os campos do fim do Brasil. Já neste trecho, um vento algo forte e frontal, trouxe um frio, para balançar o calor da tocada de sábado. Parando para fotografar o Cerro Palomas e visitar a vinícola Almadén, estava só a 15 km do destino final.
Após o check-in no Hotel Tamoio, um bom almoço, num bom restaurante e a bom preço, foram o aperitivo ideal para uma tarde de passeio e compras em Rivera, usufruindo dos produtos importados pelas grandes free-shops, que ficam abertas até as 19h no domingo.
Rivera e Santana do Livramento são agradáveis cidades irmãs, originadas no início do século XIX e dentro de um mesmo ambiente urbano, com o centro de ambas em cima de um morro, e os bairros descendo pelos flancos.
À noite, mais passeios pela Calle Sarandi, em Rivera, rua do comércio, restaurantes e do agito da moçada uruguaia, com seus celulares e motinhas chinesas em profusão. E vários turistas brasileiros também, tudo muito tranqüilo, seguro e organizado, bem diferente da fronteira entre Foz/Ciudad del Este, por exemplo.
Na segunda, às 09h50, iniciei o retorno, tocando pelo mesmo caminho (BRs 158 e 285) até Lagoa Vermelha, chegando na boca da noite, após rodar cerca de 650 quilômetros. Com a dica de uma moça logo na entrada da cidade, o Hotel Oro foi uma boa escolha, honesto, limpo e barato.
Jantei na lanchonete Baraios, um incrível bauru ao prato, com enorme e suculento bife mais ovo, queijo, presunto e salada fresca. Acompanhou bem uma cerveja gelada... ora, pois. A temperatura tinha caído para uns 14 graus.
No outro dia, seguindo após Vacaria, pela BR-116 até Lages (parada para um café e leitura de revista de moto),com trechos em manutenção e muito tráfego de caminhões, tomei a BR-282, a SC- 425 e novamente a BR-470, estando de volta a Rio do Sul lá pelas 14h, e com toda a satisfação que só uma viagem de moto pode trazer.
O único porém registrado,foi que logo ao entrar em SC, o painel da moto apagou e rodei os últimos 195 km no escuro, por não desejar ter que liberar a bagagem em cima do banco, sob cujo compartimento estão bolsa com ferramentas e fusíveis.
Em casa, troquei uma peça e o painel acendeu novamente. Talvez por rodar um bom tempo com a luz alta acesa... Quanta diferença em rodar pelas estradas do centro-sul do RS, num cenário amplo, com curvas suaves, em bom pavimento (motos não pagam pedágio) e que, mesmo com algum movimento, caso da BR-285, não se compara as agressivas e perigosas rodovias dos vales de SC, com suas curvas e serranias de intenso movimento.
Aprecio muito os motores de 4 cilindros,por várias razões,porém acho algo problemático, em longas distâncias, o excessivo giro (Bandit 600 a 120 km/h, em sexta, a 6.000 rpm, por exemplo). Estou analisando troca por V-Strom 650 ou por GSXF-650 (Bandit carenada).
O “motonauta” Giovani Nicoletti participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.
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