Por Alex Schultz
Esse ano chegarei na "maioridade" em cima da motocicleta: 18 anos de habilitação e entrando no oitavo competindo como piloto profissional de motovelocidade, e ainda não tenho todas as respostas sobre a razão de sermos apaixonados por algo tão maravilhoso e libertador como o de voar a um metro do chão em cima de nossas motos.
Talvez seja pelo motivo de estar sempre em busca do equilíbrio, pois uma moto parada, ela cai. Na vida estamos sempre em movimento também e, da mesma forma, buscando nosso equilíbrio. Então com o passar do tempo, além da metáfora que podemos fazer com nossa própria vida e andar de moto, também vamos adquirindo experiência e a certeza de que o aprendizado nunca acaba...
Podemos ser surpreendidos por alguma situação nova a qualquer momento, mesmo nos atentando em não repetir os erros após os ensinamentos já aprendidos e as lições que os anos vão nos apresentando. A certeza que podemos ter é que, assim como alunos "da vida", no quesito motociclista não é diferente, senão mais desafiador. E o risco é sempre nossa integridade física. Levanto a bandeira da "conscientização" dos riscos sempre, a ideia é trazer mais uma vez à tona a exposição ao risco que podemos nos colocar, andando tanto nas estradas como nas pistas.
No feriado da Semana Santa, um colega fez sua última curva na estrada, e na vida, antes de partir pra uma outra dimensão. Apaixonado e entusiasmado em cima da moto, era visível sua habilidade, porém praticada em lugar impróprio.
Sempre busco ter conversas com motociclistas sobre os diferentes "mundos" que podem ser habitados dependendo da busca de cada um. Para quem quer passear, andar na boa, ter um momento de prazer e interagir com a natureza, as estradas e serras são maravilhosas, desde que sempre muito bem equipado. Não tem nada de errado nisso, a não ser que a pessoa use esse mesmo ambiente para tentar evoluir suas técnicas de pilotagem. Estrada não é feita pra ficar ralando o joelho nem colocar a vida dos outros em risco. Quer acelerar pra valer e gastar toda essa ADRENALINA ? Você deve ir num ambiente muito mais seguro, e até melhor dizendo, CONTROLADO, que são as pistas.
Muitos questionam sobre os
valores de cursos, track day, pneus, manutenção da moto, etc... que é caro e que não cabe no bolso! Enfim, se você é um desses, procure refletir o preço então de um acidente grave na estrada... Se não for pagar pelo hospital, pelo risco de ficar imobilizado pelo resto da vida ou ainda que nem possa voltar para casa, deixando aqueles que te amam na mão por uma imprudência sua.
A vida é realmente um suspiro e, sim, podemos deixar esse plano a qualquer momento por qualquer motivo, mas a ideia da conscientização, é que não seja por um motivo besta e que possamos ao menos minimizar os nossos riscos. Me considero um privilegiado, pois já acelerei forte nas estradas com moto speed, já fiz as serras igual um maníaco, já cheguei nos 299 km/h, já caí e tentei aprender com os meus erros e dos amigos próximos.
Se vê com muita frequência os vídeos de acidentes de motos nos grupos de WhatsApp, a maioria deles com fatalidade. Quando digo privilégio, é por ter descoberto o "mundo" das pistas antes que algo pior ocorresse comigo. Pois não importa quanto tempo possa estar ileso de acidentes, uma hora pode acontecer, ainda mais abusando no lugar errado. Já na pista, é o lugar onde você vai sempre buscar o seu limite e a alta performance, e mesmo que sofra um acidente, como sofri ano passado, em pouquíssimo tempo você já esta sendo socorrido. Quebrei o fêmur e tive um leve coágulo no cérebro, mas graças ao equipamento de ponta que utilizo (AGV/DAINESE) nada pior aconteceu. Imagina se esse acidente fosse em uma estrada por ai?!
"Tá, então esse cara tá falando de ir pra pista caso eu esteja acelerando de forma errada nas estradas, mas mesmo assim ele vai lá e se estoura?! Como assim?!" Sim, a ideia aqui é se você se encaixa nesse perfil, ou conhece alguém assim, que comente sobre o assunto. Levou mais de sete anos pra poder me machucar de verdade. Nunca havia quebrado nem um dedo sequer! E olha que sofri alguns acidentes bem rápidos (a mais de 200 km/h) e alguns onde minha moto deu Perda Total! Mas nenhum deles me aconteceu nada mais grave, a não ser esse último. E o motivo é, que mesmo ganhando a "consciência" de parar de abusar nas estradas e ir para as pistas, agora espero ganhar uma nova "consciência": sobre a diferença de Autódromo e Motódromo!
Meu acidente foi no Autódromo de Interlagos, o templo sagrado nacional, mas como o próprio nome diz: para AUTOs, ou seja, CARROS! O acidente só foi grave porque caí bem rápido em um lugar sem muita área de escape e colidi numa barreira de pneus bem próxima da saída da curva. Se eu estivesse em um Motódromo, onde basicamente a diferença seria uma área BEM maior de escape, seguido de caixa de brita e, por fim, um colchão de ar antes da barreira de pneus, nada teria acontecido comigo. Levantaria como de costume, bateria a poeira e seguiria.
Não temos esse esporte (motovelocidade) como cultura em nosso país, mesmo com grandes pilotos tendo feito história no circuito mundial, como Alex Barros, que tem centenas de corridas profissionais (MotoGP) e vitória sobre o Valentino Rossi, até o Eric Granado, que corre atualmente no Mundial de MotoGP na categoria Moto2 e dá show em solo brasileiro, ainda não temos um Motódromo 100% seguro para a prática do esporte. Vem crescendo muito nesses últimos anos em qualidade técnica, visibilidade e número de equipes e pilotos, porém ainda estamos engatinhando em relação a SEGURANÇA. Espero muito de todos os organizadores de campeonatos regionais e nacionais que também se atentem por esse ponto importantíssimo, pois trará ainda mais pessoas das estradas para as pistas!
Após 9 meses de fisioterapia e muita reflexão, compartilho com você essa experiência na tentativa de que possamos pesar melhor sobre nossas atitudes. Pense melhor quando for tomado pela adrenalina nas estradas e começar a abusar... Aos que já correm em Autódromos, reflita também sobre o quanto vale a pena abusar naquele setor do circuito que não é tão seguro. Ninguém pode persuadir outra pessoa a se modificar. Não podemos abrir a porta da mudança de outra pessoa. Cada um de nós toma conta da porta da mudança, que só pode ser aberta pelo lado de dentro. Mas tentar trazer a tona essa realidade, possa ajudar!
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Auuuuu
Alex Schultz é piloto de motovelocidade da Pitico Race Team, patrocinado pela BDO Brazil, AGV/Dainese Brasil, De Rose Method Morumbi
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Fotos: SampaFotos/Arquivo Pessoal
Fonte:
Equipe MOTO.com.br
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