Entrevista: Gilson Scudeler acelera com o Moto 1000 GP

Piloto de motovelocidade organiza competição no Brasil com padrão internacional e participação de pilotos e equipes

Por Aladim Lopes Gonçalves

A motovelocidade brasileira vem passando por um dos seus melhores momentos, tanto para pilotos e equipes, no que se refere a oportunidades de desenvolvimento, quanto para o público e empresas interessadas em acompanhar e fazer parte das competições. Essa evolução e processo de melhoria contínua se devem em boa parte à criação em 2011 do Moto 1000 GP, um campeonato nacional com alto nível de organização e competitividade e com a direção de duas das maiores feras da motovelocidade do Brasil: Gilson Scudeler e Alexandre Barros. Com reconhecimento internacional, não tardou para Alex Barros trocar os compromissos com o campeonato para assumir sua própria equipe na competição. Veterano nas pistas, Gilson Scudeler continua ligado ao mundo da motovelocidade em sua jornada no Moto 1000 GP, sempre trabalhando para sua evolução. Evidentemente que sua experiência nas pistas contribui para o sucesso da competição.

Assim como colega Alex Barros, Gilson Scudeler acumulou conquistas importantes na Europa, como o título de Campeão Português na categoria Superprodução e a Pole Position nas 24 Horas de Montjuic (Espanha), ambos em 1997, além de vitória no Europeu de Supersport, em Braga (Portugal), em 1999. Na sua volta ao Brasil, ele foi sete vezes campeão brasileiro seguido, na Supersport de 2002 a 2005 e na Superbike, entre 2006 e 2008, sendo que nessa última temporada, sua equipe Scud Petrobras venceu cem por cento das corridas. Com tantas conquistas e reconhecimento em competições não foi por acaso que Gilson Scudeler resolveu trabalhar para implantar um campeonato nacional de motovelocidade, com padrões internacionais, que promove a participação democrática de pilotos e equipes e que está em sua quinta temporada e continua crescendo a cada ano, engajado no compromisso de unir aspectos desportivos e comerciais para equipes e pilotos, e não de um campeonato do tipo promocional. Acompanhe o bate-papo com Gilson Scudeler sobre o mundo da motovelocidade e as perspectivas das competições para o Brasil. 

MOTO.com.br: Conte como foi o seu primeiro contato com o mundo da moto e como iniciou a carreira de piloto?

Gilson Scudeler: Meu irmão mais velho, Jeferson, comprou uma CB 350 quando eu tinha oito anos. Depois, num negócio, uma Suzuki 50cc, que comecei andar. Comecei a ver corridas em Interlagos aos 14 anos, aos 16 já estava preparado para correr, tinha moto, tudo. Só não tinha permissão dos pais, que só me autorizaram a correr aos 18 anos. Comecei no Paulista de 125 em 1985.

MOTO.com.br: Como é que se deu essa transição de piloto para organizador do Moto 1000 GP? É mais fácil acelerar nas pistas ou atuar nos bastidores, cuidando de um campeonato tão importante?

Gilson Scudeler: Aconteceu de forma natural, piloto, chefe de equipe e, na sequência, promotor do evento. Na pista é mais fácil, as decisões praticamente só dependem do piloto. O evento é muito mais complexo. Há toda uma estrutura que se movimenta para administrar todo o evento, etapa por etapa. Há o gerenciamento para sincronizar as equipes nas áreas técnica, esportiva, logística, montagem, comercial, marketing, comunicação. Há o componente político e as dificuldades de fazer eventos de velocidade no Brasil, sobretudo pela questão dos autódromos.

MOTO.com.br: O Moto 1000 GP está em sua quinta temporada, então o que o público e fãs da motovelocidade podem esperar, já que teremos disputas em oito etapas em seis autódromos por todo o país?

Gilson Scudeler: Podem esperar a melhor temporada de todas, com pilotos de nível internacional e disputas acirradas em todas as categorias.

MOTO.com.br: Conte um pouco da Classe EVO na competição e como ela deve favorecer a participação de novos pilotos em termos de competitividade e custos?

Gilson Scudeler: É a criação de um degrau nas duas principais categorias. A EVO contará com pilotos de nível mais elevado que os da categoria Light, aqueles que se encontram ainda num estágio de transição, que estão evoluindo para chegar ao nível altíssimo da GP 600 e GP 1000. A Evo permite que essa fase de maturação seja premiada num campeonato em paralelo nas duas categorias. Os custos são os mesmos para todos.

MOTO.com.br: Quais os desafios da organização de uma competição como o Moto 1000 GP para atrair cada vez mais patrocinadores, mais apoiadores, novas equipes e novos pilotos, diante de um cenário econômico conturbado no país e com o mercado de motos em baixa?

Gilson Scudeler: É até mesmo um paradoxo. O Moto 1000 GP está na contramão do cenário de baixa do mercado. Evoluiu e continua evoluindo em praticamente todos os cenários, no técnico, esportivo, marketing, mídia, público, credibilidade enquanto o mercado se retrai. Em outras palavras, evolui acima da evolução do mercado. E aqui outro paradoxo, o mercado se retrai em investimento em competições quando historicamente investir nelas tem sido a melhor saída às crises. Hoje, apesar da crise, o Moto 1000 GP é um evento moderno, pronto, redondo. Tem nível internacional reconhecido e é um espaço de oportunidades aos setores comerciais das empresas.

MOTO.com.br: Como você vê o futuro do Moto 1000 GP e que avaliação você faz da participação de pilotos estrangeiros na competição? Isso parece valorizar e dar um peso internacional para o campeonato, já que temos pilotos de outros países se destacando e sendo campeões, mas, por outro lado, isso não acaba ofuscando os pilotos brasileiros?

Gilson Scudeler: Estamos muito motivados. O futuro do Moto 1000 GP já é hoje. Mais que um jogo de palavras, é uma realidade. O evento está aquecendo o cenário comercial e as equipes. Ao propiciar esse aquecimento, o evento se fortalece ainda mais.

Os pilotos estrangeiros que competem no Moto 1000 GP têm nível de mundial. Um rápido exemplo é o Matthieu Lussiana. Ele venceu a etapa do Mundial Superstock 1000, em Magny-Cours, antes de vencer a disputa no Moto 1000 GP contra Wesley Gutierrez, na última etapa. Foi campeão brasileiro e terceiro no mundial. Os pilotos brasileiros têm evoluído com essa referência. Houve disputas de título de brasileiros e estrangeiros em todas as categorias, com todos sendo decididos na última corrida da temporada passada. Será a partir dessa estratégia que pilotos brasileiros chegarão à Europa mais bem preparados, para que no futuro possamos ter um campeão mundial. Não adianta chegar lá fora cheio de troféus, títulos e nível técnico baixo. Temos que ser inteligentes, não há como fechar os olhos à globalização.

MOTO.com.br: Aproveitando esse gancho dos pilotos brasileiros, como você está vendo esse momento da motovelocidade no Brasil e qual a importância de uma categoria escola como a GPR 250 dentro de uma competição importante como o Moto 1000 GP?

Gilson Scudeler: O momento é bom. Só falta as empresas e montadoras verem e compararem em nível e em qualidade o evento para encontrarem o espaço adequado ao seu investimento. O conceito de formação de pilotos faz da GPR 250 a mais importante no futuro do Moto 1000 GP. As carreiras internacionais que já começam com alguns dos seus pilotos, como de Meikon Kawakami e Lucas Torres, futuros pilotos de mundiais, são modelo e espelho para jovens pilotos.

- Confira o video de apresentação do Moto 1000 GP


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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