BMW GS TROPHY 2020 Nova Zelândia
Quer entender tudo do Trophy e sentir como foi a final de 2020 na Nova Zelândia?
Por Trinity Ronzella
Por Trinity Ronzella
BMW GS TROPHY
Um evento para poucos…
O que é o BMW GS Trophy?
Uma competição organizada pela BMW MOTORRAD desde 2008 que acontece a cada dois anos em um país diferente, para proprietários de motocicletas BMW da categoria GS acima de 650cc.
Como participar?
Sendo proprietário (a) de uma motocicleta BMW GS, você está qualificado para se inscrever. Os países participantes organizam seletivas com exercícios individuais, em grupos e depois de 2 dias de atividades com e sem moto, são definidos os três proprietários e uma pessoa da imprensa que vão para a final em algum lugar paradisíaco do mundo. Nas edições atuais a imprensa já não participa mais e duas mulheres serão classificadas para uma final feminina.
Quanto custa?
Para participar das seletivas, existe uma inscrição a ser paga que vale para toda eliminatória, da seletiva até a final. Para os classificados de cada país, não custa nada para ir as finais em algum lugar do planeta. Além de receber, de presente, uma mala enorme com equipamentos que serão usados durante a final, a passagem, hospedagem e alimentação, já estão inclusas no prêmio por ter ficado entre os três finalistas. A parte de providenciar os documentos obviamente é de responsabilidade/custo de cada um, juntamente com gastos extras durante o evento.
História
Aconteceram 7 BMW GS Trophy até hoje:
O Brasil participou de 04 BMW GS Trophy:
Seletivas Brasil
As seletivas vem evoluindo bastante em termos de organização e exigência. A cada ano se torna um evento mais especial que depende de vários fatores para acontecer.
Em 2019 foram realizadas 3 seletivas do BMW GS Trophy: Cabreúva (SP), Pirenópolis (GO) e Urubici (SC). Os classificados nessas seletivas participaram da final que aconteceu no município de Socorro, interior de São Paulo, junto com o BMW Motorrad Days, uma festa incrível!
Os classificados para ir a Nova Zelândia foram:
- Pedro Marchioretto
- Felipe Hawerroth
- Claudinei Silva
- Cleuci Agnew Ronzella “Trinity" (Imprensa)
Minha experiência
Eu já havia participado das eliminatórias de 2012 onde fiz vários amigos que viajamos juntos até hoje, mas em 2014 conquistei o primeiro lugar, e junto, o direito de ir para a final com mais 3 pessoas muito especiais. A final aconteceu nas Montanhas Rochosas do Canadá com as BMW GS 1200. Foi uma experiência alucinante! Devido a ser minha segunda participação numa final do GS Trophy dava para ter uma idéia do que os meninos do Brasil estavam sentindo, desde o momento das qualificatórias até quando se encerrou o evento na Nova Zelândia. Isso marcou a vida de todos os participantes com certeza e, mais uma vez, fez outra marca na minha!
BMW GS TROPHY 2020 - NOVA ZELÂNDIA
Imprensa
A imprensa foi convocada a chegar na Nova Zelândia com dois dias de antecedência para passar por alguns testes relacionados a pilotagem. Isso ocorre pois, cada país pode escolher seu representante de imprensa e enviá-lo para a Nova Zelândia sem passar pela qualificatória mas, com isso, pode acontecer dessa pessoa não ter a habilidade necessária para acompanhar um BMW GS Trophy.
No Brasil, o representante da imprensa faz a seletiva junto com os participantes e, o melhor colocado, ganha o direito de ir a final.
Nossa obrigação, além de estar pronto para substituir algum piloto da equipe, é registrar e reportar o que se acontece durante o Trophy, é trabalho!
Para se ter uma idéia, nos dias de teste da imprensa na Nova Zelândia, um integrante da imprensa com pouca experiência de condução teve que acompanhar a prova de carro.
Comboio
Como fazer para percorrer toda essa distância, 50% em terrenos off road, com aproximadamente 140 motos?
Os Marshalls são os únicos que tem GPS e sabem o caminho, cada um deles conduz duas equipes de quatro pessoas, ou seja, 9 pessoas no total. Cada Marshall e seu grupo tem um canal de rádio para usar, portanto, o que ele fala todos ouvem e, o que qualquer um fala, todos ouvem também… Eles impõe o ritmo, decidem onde e quando parar durante os deslocamentos, e nos levam até onde acontecem os testes especiais.
O ritmo não é de corrida, mas também não é de passeio. O importante é que ninguém é obrigado a acelerar forte, ou passar dos limites pessoais, e a regra de que o da frente cuida quem vem atrás deve ser seguida, ou seja, enquanto o Marshall enxerga o segundo no retrovisor, o “bonde" segue. E todos devem fazer o mesmo. Nesse ponto o rádio ajudou bastante mas, uma das regras que foi passada era para falar só o necessário porque a bateria não aguentaria o dia todo… hãhã…Poucos conseguiram se segurar…
Chegada dos participantes
O time brasileiro começou a viagem saindo de São Paulo e passando por Buenos Aires, onde encontrou com o time Argentina e seguiram por mais 14 horas até Auckland.
No aeroporto de Auckland havia uma comissão de boas vindas que encaminhou todos para um ônibus, e seguiram por aproximadamente mais 4 horas até o local onde seria a largada, o Lakes Lodge Okataina, as margens da Tauranganui Bay.
Esse local foi onde todos montamos as barracas, e eles tiveram um tempinho para tentar se acostumar com o fuso horário (+16hs), além de apresentar a documentação, conhecer outros participantes, espiar as motos de longe, dar uma caminhada e tomar um banho no lago antes do jantar de boas vindas.
Após o jantar foi hora de acalmar e tentar dormir com tanta adrenalina e emoções tomando conta de nossas mentes!
Para tentar mostrar mais para quem lê esse texto vou colocar, de vez em quando, algumas coordenadas para te levar no local, ou bem próximo de onde estivemos, e assim você pode curtir um pouquinho do que vivemos lá. É só copiar a coordenada e colar no Google… E para ficar completo, acessar o street view, beleza? Você irá ficar surpreso!
Dia 0: Lakes Lodge Okataina - 38°06'01.6"S 176°25’46.4”E
Muitas atividades pra fazer.
O dia começou cedo pois a uma da manhã escutamos pingos nas barracas! Sim, chuva! Um monte de roupas espalhadas para secar, correria e, volta pra barraca…Mais tarde foi a hora de torcer toalhas, camisetas e tudo que ficou esquecido para fora… até isso foi engraçado!
O dia foi corrido: fotos da equipe com a moto na praia, treinamento para instalar o comunicador SENA (tivemos que desmontar, instalar e montar o capacete), pegar carregadores de bateria para levar no dia seguinte, apresentação dos Marshalls, uma prévia do que viria pela frente, regras, etc, etc.
Enquanto isso as motos foram alinhadas e, em determinado momento, os participantes foram conduzidos para o primeiro contato e ajustes da parceira personalizada (com seu nome e tipo sanguíneo) para os próximos 8 dias de pilotagem. Emocionante ver a expressão no rosto dos participantes ao ter o primeiro encontro com a moto: indescritível!
Ajustes feitos, almoçamos e na parte da tarde, tivemos uma apresentação da cultura Maori com direito ao assistir uma demonstração do Haka, dança típica local imortalizada pela seleção de Rugby da Nova Zelândia (All Blacks). Fomos até ensinados a fazer, fantástico!
Depois era hora de bater papo, jantar e tentar segurar a ansiedade para a largada na manhã seguinte, para aproximados 2.400 km atravessando a Nova Zelândia de Norte a Sul.
Vamos começar então!
Dia 1: Rotorua - Napier Beach - 340km - Equipe USA
O amanhecer foi na adrenalina, ainda não tínhamos o tempo que gastaríamos para preparação de todo equipamento para conseguir fazer as coisas no horário, por isso, ficamos apreensivos desde o momento que levantamos. É impressionante como as coisas não cabem dentro de onde saíram - você não acha o relógio que está no pulso, não lembra se escovou os dentes e, na hora de subir na moto, a 5 minutos de largar, aquela vontade de voltar ao banheiro e o pensamento: “o que estou esquecendo?”. Nossa, que complicado!
Então ligam-se as motos, testamos o rádio com os companheiros, pedimos proteção para todos, e na hora de largar eu olho para quem é meu guia no primeiro dia e lembro de tantas conversas desde 2012 que tivemos a respeito desse momento acontecer algum dia, e não é que o momento chegou?! Ambos trilhamos nossos caminhos sempre em contato e nos divertindo bem menos do que gostaríamos mas, é emocionante estar com um amigo que o Trophy me deu em 2012 como guia! É um capítulo a parte poder estar com o Frazão nesse Trophy! Mas vamos ao primeiro dia do Trophy!
Esse foi um dos dias mais tensos, pois tínhamos que estar muito atentos com a mão de direção invertida, nos acostumar com a moto que tinham em média 2 km rodados, tentar olhar para as paisagens com segurança, não fechar as curvas para direita, cuidar dos companheiros, enfim, tudo isso acontecendo junto não é uma tarefa fácil de acostumar, mas, necessária!
As estradas eram sempre com muito cascalho e poeira para, depois de rodarmos aproximadamente duas horas, chegamos ao primeiro Special Test!
38°38'29.4"S 176°53'47.1"E
Cruzar um pequeno rio com muitas pedras no leito e nas margens, depois passar pelos locais demarcados por cones. Cruzar novamente o rio e subir um barranco alto, parando no topo. Ao fazer isso, dava a largada o segundo integrante e depois que o segundo terminasse, o terceiro!
Nosso time não foi bem devido a queda de um dos integrantes que ocasionou a quebra da corrente, isso nos tomou muito tempo. Tive que ir ajudar a completar a volta empurrando. Quantas vezes você viu quebrar uma corrente? Uma moto com menos de 500km? Pois bem, aconteceu… Os outros dois conseguiram completar a prova, mas nosso tempo foi ruim e devido a isso amargamos um vigésimo lugar.
Pegamos uma moto reserva no local e agora era trabalhar o psicológico para seguir, pois tinha muita coisa pela frente…
Voltamos para o rípio e mais poeira, até chegar próximo ao Lago Waikaremoana, onde aconteceu o desafio SENA.
Olhe como eram as estradas e o tamanho do lago: 38°43'22.9"S 177°04'00.0"E
O desafio era: um integrante colocava um óculos que não permitia enxergar nada, subia na moto e teria que percorrer um trajeto curto, porém, passando por cones que marcavam a rota. Para isso, os outros dois integrantes teriam que passar as informações de direção usando os comunicadores SENA que havíamos instalados nos capacetes! Nessa atividade se podia colocar o pé no chão, só perdia ponto se derrubasse a moto ou estourasse o tempo.
Com muito cuidado, os meninos terminaram a prova sem problemas, porém, o tempo era o que contava e outros times foram mais rápidos que nós, mas, garantimos o décimo primeiro lugar.
Seguimos em frente, e nossa primeira parada para lanche foi no Waikaremoana Holiday Park, um lugar muito bonito que foi nosso cenário enquanto degustávamos um sanduíche e tomávamos suco. Que lugar show!
Seguimos, sempre em direção a costa Leste e a paisagem sempre repleta de árvores e muito verde! Subíamos e descíamos constantemente, um roteiro lindo! A paisagem mudou e as matas antes fechadas, deram lugar a pastagem, o que nos permitia ver longe e observar o quanto o relevo é acidentado, justificando a infinidade de curvas pelas quais passamos!
Nosso objetivo era chegarmos a Hawke’s Bay, e um visual do Oceano Pacífico e uma praia de pedras, zero de areia! Era uma região caracterizada por um relevo mais acidentado e ovelhas… muitas ovelhas.
Nosso local de acampamento foi o Napier Beach Kiwi Holiday Park, a poucos metros da praia. Pegamos nossa bagagem no caminhão, montamos barracas, banho, e após tudo pronto, nosso jantar a poucos metros dali, no Crab Farm Winery.
O primeiro dia chegou ao fim, os meninos estavam chateados com o desempenho mas, uma boa noite de sono recarrega as baterias e um novo dia começa!
Terminamos em décimo sétimo lugar, mas conscientes que estávamos bem longe do que poderíamos fazer e que precisávamos nos acalmar!!
Dia 2: Napier Beach - Castlepoint - 380km - Equipe UK
O segundo dia do Trophy foi uma boa esticada para o Sul percorrendo estradas asfaltadas, de terra, trechos em areia na praia enfim, de tudo um pouco!
Fomos os primeiros a largar e, para isso, às 4h30 estávamos desmontando barraca. No caminho para café da manhã, já com tudo pronto e vestidos, tivemos um visual do sol nascendo no mar e, antes dele, tinha um navio que só dava para ver a silhueta e suas luzes acesas. De fundo, um laranja-avermelhado colado ao horizonte, que mudava de tonalidade enquanto o sol dava sinais que iria aparecer, mesmo a lua estando presente do outro lado. Sensacional o visual!
Um dos testes desse dia era produzir a foto para ser votada on-line e, para isso, nosso Marshall Jean-Luc, quando chegou a uma praia disse que estávamos a vontade para produzir a tal foto, mas que não poderia demorar muito. Poderíamos fazer isso ao longo de todo o dia, mas tínhamos que avisá-lo para não perder tempo. Até segurar a adrenalina de ficar acelerando e derrapando na praia (alguns até tiveram que levantar a moto, mais uma vez), deu tempo para pensar no que fazer.
Um detalhe: O famoso navio de pesquisa da Marinha Real Britânica HMS Endeavor, do capitão James Cook, teve um fato histórico nessa praia: em 1769, um dos seus tripulantes foi sequestrado por guerreiros Maori e devido a isso deu-se o nome de Cape Kidnappers a essa parte da costa.
Poucos quilômetros adiante estava o primeiro teste: Gravel Push!
Se liga no lugar: 39°37'31.0"S 176°58'02.2"E
Uma moto desligada, em uma praia cheia de cascalho no lugar de areia, os três pilotos teriam que empurrar/puxar uma das F850 GS o mais rápido possível por um curto trecho (cerca de 50 m), que não era reto e no menor tempo possível! A organização ainda fornecia duas fitas para ajudar… "muita moleza"! Nesse teste ficamos em décimo terceiro lugar.
Seguimos nosso roteiro percorrendo uma região produtora de uvas e com algumas vinícolas no caminho, às vezes por asfalto, outras por terra, bem dividido eu diria. O cenário, é incrível! Colinas atrás de colinas, sem conseguir enxergar muito além. A estrada vai serpenteando entre as elevações, cruzamos pontes e às vezes surgia o oceano azul esverdeado, contrastando com os campos secos de um capim fino, que balança ao sabor do vento, formando uma imagem incrível!
Curiosidade: No caminho passamos por um local com uma placa comprida, cheia de letras, mas beeeemmm comprida, 85 letras! Esse era uma homenagem a Tamatea, um Maori explorador que andava pelas terras do país. Batizaram uma colina com os nomes pelo qual ele foi sendo conhecido, para honrar suas façanhas. Quer saber o nome? Tá aí:
Taumatawhakatangihangakoauauotamateaturipukakapikimaungahoronukupokaiwhen
Quer ver o local? Coloca no Google Maps: Longest Place Name in The World
Seguimos a estrada para, uma hora e meia depois, chegarmos a outra praia. Lá seria nossa parada para lanche e nosso segundo teste do dia que, para minha surpresa, era uma homenagem a Burt Munro! Quem é?? Um piloto Neozelandês que bateu o recorde mundial de velocidade em 1967 no deserto de Bonneville pilotando uma Indian Scout Streamliner 1920 a incríveis 296 km/h! Esse fato virou um filme incrível que recomendo assistir, chama-se: Desafiando os Limites, estrelado por Anthony Hopkins!
Vamos ao teste: Um da equipe que ainda não havia participado de nenhum teste, teria que sair com a moto o mais rápido possível, percorrer aproximados 50 metros, curva a esquerda, mais uns 15 metros, curva a esquerda e acelerar até o fim para dentro de um retângulo feito na areia de praia! Alguns trechos de areia fofa mas, a maioria, areia compactada. Nem preciso dizer que alguns acabaram caindo, mas não foi o caso do Felipe, que mandou muito bem fazendo o quarto melhor tempo da prova! Ânimos subindo, mesmo sabendo que só teríamos o resultado a noite. Fim dos testes de hoje.
Seguimos para Castlepoint Holiday Park & Motels por estradas incríveis, não dava vontade de parar de pilotar mas, chegamos ao nosso novo camping de frente para o mar!
Armamos barracas, tomamos banho, jantamos e tivemos uma apresentação bem interessante de cães conduzindo um rebanho de ovelhas. O dono das ovelhas, apenas com um apito, dava os comandos aos seus aproximadamente 10 cães que, em dupla ou trio, partiam para conduzir o rebanho morro acima e depois morro abaixo, incrível!
Terminamos o dia em décimo terceiro lugar, já melhoramos!!
Depois de assistir o vídeo do primeiro dia, saber quem será nosso Marshall e equipe parceira, é hora de dormir, pois o dia seguinte começava às 4h30 de novo!!
Olha o visual de Castlepoint: 40°53'54.2"S 176°13’14.5"E
Dia 3: Castlepoint - Wainui, 370km - Equipe Russia
Já estamos pegando o jeito (alguns): acordar às 4h30, desmontar a barraca, vestir o equipamento, guardar a mala, tomar o café, se juntar com o grupo e partir, cada dia em uma ordem diferente. Tem dia que largamos em primeiro e outro em último… sempre variando horário e equipe que vai junto.
Nesse dia, estávamos com a missão de carregar o caminhão, junto com o time Russia que deu um “migué” e chegou mais tarde! Mas tudo ok… quando eles chegaram, assumiram a função. Isso significava que seríamos os últimos a largar… tranquilo!
Após largarmos com o Marshall Brian, em pouco mais de um quilômetro já estava o primeiro teste, tendo o Castlepoint Lighthouse como pano de fundo. Olha lá: 40°54’10.5"S 176°13'37.3"E
Um circuito montado em meio a areia, variando entre fofa e dura, teria que ser percorrido por outro piloto que ainda não tivesse participado individualmente, no menor tempo possível - Pedrinho!
Ele teria que fazer o percurso, podendo tocar o chão com os pés (se ele conseguir), deixar a moto cair enfim, o que conta é o tempo, quanto menor, melhor!
Ele cumpriu com o objetivo e mandou bem, como deveria fazer o campeão do Brasil!
Seguimos em frente, tínhamos muitos quilômetros para rodar ainda!! Nosso roteiro seria pela praia mas, a maré fez mudarmos os planos, mal sabíamos que era para melhor! Fomos por um caminho paralelo, off road, só com as trilhas das rodas dos carros, contornando e subindo pequenas colinas. Repentinamente aparecia uma "janela" e podíamos avistar o mar. Foi o trecho mais gostoso até então, onde nos sentimos mais a vontade devido ao terreno. Exigia atenção, técnica e era lindo! Fomos assim por um tempo e depois, voltamos a estrada de terra com muito cascalho até o mar.
Ao chegar a costa, estava nosso segundo teste do dia e uma parada para lanche. O visual era lindo também, uma praia de pedras escuras, bem pequenas e já dentro d’água uma formação rochosa que gerava uma imagem sensacional. Colada a ela, na areia e pedrinhas misturadas, nosso segundo teste!
Uma linha demarcada no solo e três protetores de pescoço colocados na areia, um mais longe que o outro em relação a linha demarcada. A prova era a seguinte: cada piloto teria que arremessar suas duas luvas para tentar acertar dentro do protetor Leatt Brace. Simples assim, igual ao parque de diversões - arremessos com argolas…
Nossos pilotos são ótimos pilotos, mas se depender de ganhar o ursinho para a namorada no parque de diversões….virxe! Vão morrer solteiros! Fizeram um mísero pontinho porque uma luva terminou encostada em um Leatt…e foi só!
Quando digo que para ir ao Trophy não basta ser bom piloto, tá aí a prova!! kkkk
Fomos mal, paciência! Vida que segue!
Mas, o visual do lugar, conhecido como White Rock, vale a pena. Dá uma olhada:
41°34'00.4"S 175°23'45.2"E
Continuamos rodando pelos sempre incríveis visuais neozelandeses até chegar ao nosso camping e também, ao segundo teste do dia.
Teste: Uma trilha curta em meio a mata, um piloto teria que percorrer no menor tempo possível. Logo de cara, tinha um pequeno riacho para cruzar e, em seguida a trilha seguia estreita, e zigue-zague, passando por arvores e raízes, impossível mudar de marcha, primeirinha diretão, embreagem e freios! Todos poderiam ajudar se fosse preciso, mas não foi! Ao final, teria que parar dentro de um quadrado demarcado, deixar a moto e se posicionar dentro de um círculo também demarcado ao lado! O Claudinei mandou bem!
Hora de banho, jantar e checar a pontuação: nossa classificação final hoje já melhorou, estamos em décimo lugar!!
Dá uma olhada no Google Maps e escreve lá: Camp BMW GS Trophy, Wainuiomata, Lower Hutt, Nova Zelândia. Essa localização ajuda a entender a logística do dia de amanhã. Os pontilhados azuis na Baía de Wellington, é o roteiro das balsas para ilha sul.
Dia 4: Wainui (Ilha Norte) - Pelorus Bridge (Ilha Sul) - 204km
Esse dia foi marcante de uma forma diferente…
Tínhamos que fazer uma segunda foto para outro concurso nas mídias sociais da BMW Motorrad. Teríamos o dia todo para produzir essa foto e entregar no final do dia!
No briefing, dado pelo Marshall Leonard na noite anterior, ficamos sabendo que teríamos o time Middle East conosco e uma travessia de barco para ser feita de aproximadamente 3 hs.
Mas para isso, o horário de acordar foi uma hora mais cedo, ou seja, 3h30 da manhã! Não tem jeito, é o Trophy!
Despertadores tocando no camping todo, uma sinfonia de sons diferentes foi o start! Colocamos a head lamp e começamos a levantar acampamento para ir tomar café, deixar a bagagem e se preparar para a saída, pois iríamos todos juntos dessa vez.
Ainda escuro saímos todos, estava bonito, pena que muito cedo para a população local assistir o espetáculo de todas as motos juntas e iguais, pilotos com as mesmas roupas, desfilarem pela cidade até o porto onde pegaríamos o Ferry, em Wellington!
Deixo aqui meus parabéns a BMW Motorrad pela organização e sincronismo para embarcar todas as motos e carros de apoio em tão pouco tempo, foi muito bem feito! A imagem de mais de 140 motos iguais perfiladas no porão de um navio é inesquecível! Em poucos minutos estávamos em uma área reservada para o Trophy dentro de um barco com 3 andares, sofás, mesas, bar, deck, carpete, som, etc… muito legal!!
Seria ali o primeiro teste do dia, para nossa surpresa… Não tem moleza!
Acordamos às 3h30 da manhã e nos avisaram só dentro do barco que teríamos um teste de conhecimento sobre a BMW GS, que está comemorando 40 anos de produção da primeira GS, show né? Uma prova mesmo, com poucas questões, mas exigentes!!
As equipes, cada uma em uma mesa, receberam um papel com algumas questões tipo:
1- Qual o primeiro modelo de GS produzido e qual a potência?
2- Quantas GS foram vendidas até hoje?
Quem se deu bem foi o time Japão, se mostraram afiados no quesito conhecimento e faturaram o primeiro lugar! Nosso time não foi muito bem não, ficamos em décimo segundo lugar, apesar deles saberem tudo a respeito das GS! Esses pontos perdidos fariam muita falta no final…
Após o teste, os participantes foram se ajeitando em qualquer cantinho, sofá, em baixo de mesa para tirar uma soneca e aproveitar para descansar…alguns não tiveram esse trabalho e dormiram sentados mesmo!! Qualquer cochilada era bem vinda. E, quem estava acordado, conseguiu registrar boas e hilárias cenas!
Um detalhe que quase esqueço: tanta gente reunida não era difícil que houvessem aniversariantes em alguns dias do evento e, sempre que havia, a organização colocava no telão e se iniciava um parabéns a você! Ao final surgia a simpaticíssima Amelie Diehl-Thiele (GS Trophy Project Lead) com um presentinho para cada um deles, legal demais não é? Detalhes que marcam!
Bom, nesse dia o aniversariante era um dos caras mais carismáticos do evento, nada menos que Hyun Wookkim, um dos Coreanos que roubava a cena em animação e simpatia!!
A Amelie foi até onde ele estava (quase dormindo), cantamos parabéns e ele ganhou uma lembrança da BMW. A “cereja do bolo”!
Chegando a ilha sul, era hora de subir ao deck do navio para observar a paisagem incrível que nos esperava! Um relevo bem acidentado onde as montanhas terminam no mar. O caminho que o barco faz até o porto de Picton é quase um labirinto de ilhas e baías repletas de vegetação. Se puder, dê uma olhada de cima no Google Maps (41°14'19.1"S 174°15’24.4”E)… A visão que tivemos de dentro do barco não passa nem 1% do que realmente é, do que vem por trás da montanha que estamos vendo… uma região realmente incrível!
A chegada ao porto foi avisada, seguimos para nossas motos e foi outro show! Todas as motos deixando o navio organizadamente - outra imagem inesquecível, bonito demais!
Os times se juntaram com os Marshalls e, no nosso caso, seguimos para o centrinho de Picton, uma cidadezinha muito charmosa e simpática, para tomarmos um café, comer alguma coisa, esperar os grupos se distanciarem… Enfim, o combinado eram 20 minutos de parada e nos encontraríamos nas motos para seguir. Aproveitamos para fazer a segunda foto que seria postada e votada no site da BMW Motorrad - fizemos uma pirâmide humana que ficou bem legal, e durante as tentativas, arrancaram muitas risadas dos turistas que estavam no centrinho pitoresco da cidade!
Chegamos no horário marcado e nada da equipe do Middle East aparecer…passaram 15 minutos e nosso Marshall Leonard (Africa do Sul) estava "soltando fogo pelas ventas”. Quando os caras chegaram, deu dó do "pito"! Mas regras são regras, e como nós estávamos no horário combinado, só escutamos antes de seguirmos viagem…
Saímos de Picton e as estradas, apesar de asfaltada, mantinham os visuais!
Nosso destino era o Pelorus Bridge Cafe & Motorcamping as margens do Pelorus River, na Rodovia 6, um lugar lindo que, logo que chegamos começamos a mesma rotina! Eu tinha que entregar a foto para organização, pegar a mala no caminhão, achar um local para montar a barraca, separar roupas, tomar banho, opa! Aqui vale um adendo: o camping foi ao lado do rio Pelorus, inevitável tomar um banho de água cristalina, temperatura agradável e um cenário maravilhoso! Depois voltar para a barraca e seguir para as próximas provas, que seriam ali no camping mesmo.
Prova 1: os meninos teriam que tirar a roda traseira da GS 850, um deles contornar a moto carregando a roda, levar de volta e montar no menor tempo possível. Terminado, uma pessoa da organização iria testar para ver se estava correto e tudo funcionando, principalmente o freio. Tudo ok!
Os brazucas deram show: fizeram tudo isso em 1’24”, por via das dúvidas vou esclarecer: um minuto e vinte e quatro segundos, isso mesmo! Mandaram muito bem! Esse desempenho rendeu o primeiro lugar nessa prova e uma brincadeira na hora de informar a pontuação: O responsável da organização por passar a pontuação falou para os mecânicos: “o time Brasil trocou a roda mais rápido que os nossos mecânicos, o emprego de vcs está em jogo!”
Seguindo o cronograma, hoje os mecânicos da BMW iriam trabalhar duro pois, como as motos eram zero quilômetros, era a hora de fazer a primeira troca de óleo. Eles trocaram o óleo de todas as motos para o dia seguinte!! Incrível!
Ainda tínhamos mais uma prova para encerrar o dia - GPS!!
Nessa prova os meninos recebiam um GPS e uma coordenada, tinham que colocar a coordenada no GPS e seguir onde ele mandava (meio da mata com trilhas). Chegando lá, receberiam outra coordenada, colocar no GPS e voltar o mais rápido possível. Simples, se não fosse a ansiedade novamente…Fomos tão rápido que deixamos de acreditar no GPS, perdemos muito tempo e ficamos em décimo sétimo! Outros pontos fáceis que fizeram falta…
Enfim, esse dia com 3 Special Tests, poderiam ter rendido muito mais, bobeamos! Foco no jantar, nos amigos, no vídeo do dia de ontem e ir descansar, pois o dia seguinte começava as 4h30h novamente!
Obs: saiu o resultado do concurso da primeira foto e ficamos em décimo segundo lugar com 806 votos, enquanto a primeira colocada, África do Sul teve absurdos 5.975 votos. A outra foto iria ser postada e teriam mais 24 horas para votação.
Dia 5: Pelorus Bridge - Punakaiki Beach - 360km - Marshall: Brian
Mais um dia se iniciava e, daqui para frente a organização já nos informou que os caminhos iriam “melhorar”! Muitas montanhas, subidas, descidas e sempre, visuais incríveis!
Nossos companheiros seriam os japoneses, aqueles que ficamos batendo papo logo no primeiro dia… Estávamos em família!
Detalhe: no primeiro dia, após o jantar, ficamos mais tempo no restaurante e estavam os times Brasil e Japão sentados e conversando! Olhei, “re-olhei” e fui lá para entender o que acontecia. Enfim, o time do Japão tinha um aparelho, menor que um celular, que traduzia tudo! Tanto do português para o japonês, como o inverso. Um falava na sua língua natal, passava para o outro que ouvia tudo já traduzido! Fiquei pasmo! Perguntei ao time Japão, e me disseram que isso tem lá a mais de um ano!
Se meu filho visse isso, iria ser complicado ir para aula de inglês!!
Nossa largada foi às 7h40, então conseguimos fazer tudo com certa tranquilidade para seguirmos a viagem. Café da manhã às 5h30, deixar bagagem às 6h30, ou seja, não muda, alvorada foi às 4h30! Já estava acostumado…
Saímos na expectativa do que vinha pela frente, o dia prometia ser mais “exigente” tecnicamente devido ao relevo, estávamos ansiosos para “melhorar a brincadeira”.
Dito e feito, uma subida de 20 quilômetros com muita pedra em meio a mata nos levou ao topo do Mount Richmond. Sabe aquelas subidas que você não pode perder o embalo? Se perder tem que voltar e começar de novo? Ou procurar um lugar para conseguir um "embalinho"? Era assim!
Os dedos, braços e pernas finalmente tiveram trabalho para chegar ao primeiro teste do dia que ficava na altura das nuvens, com outra paisagem magnífica, o local se chama Maungatapu Saddle, e está a apenas 754 m de altitude. Quer ter uma idéia do pico? Coloca aí no Google Maps essa coordenada: 41°18'26.7"S 173°26’06.4"E
Olha no mapa: Saímos de Pelorus Bridge - dá para ter uma idéia do roteiro: aumenta zoom, tira zoom, olha o entorno… Pois bem, foi nesse local o primeiro Special Test do dia: Emirates Test!
Existe uma torre de energia nesse local e, ao pé da torre era a largada para um trecho curto, muito sinuoso por uma trilha de caminhada. O teste era: Os três, um de cada vez, tinham que percorrer esse trecho no menor tempo possível mas, durante esse trecho haviam três informações que eles precisavam memorizar que estavam em placas: número do vôo, horário do vôo e número da poltrona.
Podiam memorizar de qualquer maneira, um memorizar todos ou cada um memorizar um. O importante era falar no final da trilha todas as informações corretas no menor tempo!
O segundo só poderia sair, após a chegada do primeiro e assim com o terceiro.
Fomos bem nesse teste, ficamos em quarto lugar!
Seguindo em frente, era hora de descer, bastante! Tudo que subimos iríamos descer pelo mesmo tipo de estrada: terra, pedras soltas, vegetação, abismo de um lado, barranco de outro e muita diversão! Esses trechos normalmente são feitos mais devagar por segurança, acabam se tornando mais exigentes tecnicamente e mais tensos, pois não dá para errar. Automaticamente você acaba abusando bem menos.
Seguimos para Nelson, uma cidade maior e bem estruturada, onde o forte é a pesca, frutas, vinhos e cultura, foi apenas passagem, parada para abastecer e seguimos estrada novamente.
Nosso próximo trecho de off road, já havia sido avisado, seria mais subida/descida, um grau técnico um pouco mais elevado que o anterior, poeira e paisagens, sempre.
Dava pra perceber a alegria de todos pelo rádio! Algumas (muitas) vezes, quando me deparava com uma paisagem deslumbrante, esquecia que estava com rádio conectados a todo nosso grupo e soltava uns “uhhuuuuuu!!” bem alto dentro do capacete, em seguida vinham xingamentos em português, japonês e inglês, pelo susto causado, e em seguida risadas! Imagina rodando na Nova Zelândia, quantas vezes isso aconteceu?!
Sempre focado na segurança, tentávamos aproveitar um pouco do visual rapidamente, mesmo assim, acidentes acontecem…uma escorregada, uma freada errada…chão! E se tiver só chão está ótimo!! O que não pode é rolar ribanceira abaixo! Por sorte um dos integrantes do time que estava conosco escorregou devagar e deitou a moto na nossa frente, foi só susto. Em frente aos fotógrafos!
Moto de pé, chacoalha a poeira e segue o "bonde", porque a descida foi longa para chegarmos dentro do Nelson Lakes National Park, as margens do Lake Rotoroa. Nosso caminho foi pela Porika Rd, que dá para ver no mapa. Só de olhar o caminho dá para imaginar por onde passamos!
Pelo rádio, em português, avisei os moleques, “gente, dá uma parada rápida aí que tenho que fotografar esse lugar!", já que o nosso Marshall Brian não curtia muito parar para foto, eu tinha que registrar aquele visual, por mais que ele não represente 0,5% do que sentimos ao deparar com tão bela paisagem.
Seguimos até Murchison, uma cidadezinha “mal" localizada, na “quina" de dois rios (Matakitaki River e Buller River), que data de antes de 1900, com aproximados 492 habitantes (censo 2013) onde paramos para abastecer. Imagine uma cidade dessas com a chegada/passagem de mais de 100 motos! Muito legal!
Bom, seguimos por asfalto agora, por uma estrada incrível em meio ao vale que acompanha o Buller River e, depois de uns 70 km paramos para um café (Berlins cafe & Bar: 41°51'29.8"S 171°50'17.3"E ) com direito a um “luxo”: eu e um integrante do Japão, olhando o cardápio, batemos o olho em uma foto de um café todo diferente, com sorvete, canela, enfim, os olhinhos brilharam e nos demos o direito de fazer um gosto!
Esse café está as margens da rodovia de frente para o rio, lindo!
Pausa feita, pé na estrada e em 7 minutos parávamos novamente, agora por necessidade imposta pela estrada.
Onde era uma parede de rocha que chegava até o rio, foi escavado o suficiente para fazer uma pista e passar um carro por vez. Apenas com placas avisando para espera vir de um lado, depois você segue! Mais uma foto!! 41°51'53.7"S 171°46’50.2”E. Era como um “túnel" sem a parede da direita, que permitia ver o rio, com seu leito largo e rochoso.
Cem metros antes tem um mirante - Kilkenny Lookout, de tão bonito que é o lugar. A vontade era de fazer essa estrada à pé! Mas nosso querido Brian não parava…Seguimos pela bela rodovia com destino a Punakaiki Beach.
Alguns quilômetros a frente, uma curva fechada a esquerda, não sei o que aconteceu mas, uma moto novamente foi ao chão, novamente devagar e sem consequências, e novamente onde estavam os fotógrafos e cinegrafistas…coincidência?
Mas nada aconteceu e voltamos para fazer a tomada de imagem novamente. Ali era outro ponto lindo para parar e fotografar…mas, nosso Marshall nem deu bola… eu já estava “de bode” com isso!
Chegamos ao nosso destino final em mais alguns minutos… Punakaiki Beach Camp (42°06'22.7"S 171°20’07.8”E), colado a praia e com uma estrutura bem legal.
Pegamos nossas bagagens, armamos as barracas e fomos para o segundo teste do dia, que era o seguinte: todos na praia, uma pequena trilha em meio a vegetação (10 metros) levava para dentro do camping onde tinham duas barracas montadas e fechadas, com um saco de dormir ensacado na porta. Time Brasil e Japão largavam juntos - um do Brasil com um do Japão, saiam correndo, davam uma volta em uma moto que estava parada e corria para uma das barracas.
Chegando nas barracas tinham que tirar as botas, abrir o saco de dormir, abrir a barraca, entrar dentro da barraca, dentro do saco, fechar o zíper do saco e esperar o ok do fiscal. Feito isso, tinha que fazer tudo ao contrário e deixar como encontrou, calçar a bota, voltar correndo e bater na mão do outro integrante da equipe e esse repetir tudo! Objetivo: tinham que fazer os três no menor tempo!
Derrapadas, desespero para guardar o saco de dormir, correr com as botas abertas, enfim, nem preciso falar que houveram derrapagens e capotamentos hilários que nos custou alguns pontos e ficamos em décimo quarto lugar nessa prova.
Prova feita, era hora de tomar banho, jantar, ver resultados e instruções para o dia seguinte mas, com um detalhe: A BMW montou toda estrutura na praia! Telão, som, projetor e até uma fogueira. O Sol se pôs às 20h37 e depois começaram a passar os resultados, vídeo do dia anterior e as instruções para o dia seguinte. Há, e ainda tinha um canhão de luz que projetava MAKE LIFE A RIDE em um paredão rochoso imenso a uns 300 m de distância. Soma-se a isso o espírito da galera, a alegria de um dia incrível, um lugar mágico e a fogueira na praia com pessoas especiais do mundo inteiro - inesquecível!
Ops! Quase esqueci…estávamos em sétimo lugar na classificação geral!
Dia 6: Punakaiki Beach - Lake Tekapo - 440km - Marshall: Faizal S.
Esse dia rodaríamos com o time Austrália… Pensa em caras que gostam de falar! Impossível de ficar com o rádio ligado! Até o nosso time que falava “um pouco” não aguentou, era o tempo todo! Bom, a regra era falar o necessário e manter o rádio ligado mas, muitas vezes o comunicador ficou off! A desculpa era economizar bateria. Independente da tagarelice, os caras eram figuras e gente boa!
Bom, o dia de hoje foi bem rodado. Quase cruzamos totalmente a ilha sul de Oeste para Leste, de costa a costa, faltou pouco!
Um detalhe legal é que, além das paisagens deslumbrantes, praticamente vivemos as quatro estações do ano em um dia!
Aproximadamente 40 minutos após sairmos, estava o primeiro teste.
Em um lugar onde se aluga quadriciclos para trilha, os pilotos deveriam fazer o seguinte: um na moto e um a pé, deveriam percorrer um trecho simples, fácil, sem usar qualquer ajuda eletrônica, passando por pontos demarcados e até uma parte alagada. O cara a pé estava ali para, se precisar, ajudar a levantar a moto, levantar algum cone derrubado, enfim, se ele não quisesse acompanhar a moto, ok. O ponto era que, a primeira dupla saía e voltava com o Marshall marcando o tempo. O outro piloto mais o mesmo cara a pé, teriam que fazer o mesmo percurso no tempo mais próximo do anterior. Lembrando que sem usar celular, relógio ou qualquer outro eletrônico para marcar o tempo, só o Marshall tinha um cronômetro.
Ficamos pensando em como fazer isso de um jeito mais preciso e veio a idéia. Estava marcando o tempo das outras equipes e dava em média de três minutos e meio a quatro. Gastei alguns neurônios e lembrei do nosso glorioso Hino Nacional que dura por volta de 3:45 minutos. Sorte que não precisava saber a letra, simplesmente murmurar o hino já bastava. E foi o que fizemos! Todos ficaram pasmos com nosso desempenho, menos de 1 segundo de diferença de uma volta para outra, primeiro lugar garantido!! Isso deu uma animada boa para seguirmos!
Muitas travessias, subidas e descidas e uma curiosidade…em determinado momento, logo no início, em um momento de conversa com um local ele perguntou: "Tem roupa de chuva? Vocês vão pegar chuva do outro lado da montanha”. Olhei para o céu azul e respondi um “Ok, thanks” desacreditando, e seguimos…
Fomos para a parada de lanche e o horário limite para entrarmos nesse próximo trecho seria as 15:30h. Como éramos o segundo grupo do dia, estávamos tranquilos e seguimos para a melhor parte do dia!
Essa estrada é linda, estávamos cruzando, por asfalto, o Arthur's Pass National Park. Uma região que no inverno é uma dos pontos turísticos com neve, que separa a costa Oeste da Leste. Uma estrada de pista simples, repleta de curvas que passa entre o Mount Rolleston e o Mount Temple e, em determinado ponto, permite avistar a Devils Punchbowl Waterfall, no sentido que estávamos, a nossa esquerda.
Logo que cruzamos, no “centrinho”, fizemos uma pausa no Arthur’s Pass Store para um café, e o tempo lindo!
Seguimos e menos de uma hora depois o tempo mudou totalmente, mas sem chuva ainda, só esfriando. Pegamos o trecho de off road e seguimos, do mesmo jeito! Após rodarmos 3 horas, o tempo mudou novamente e paramos logo antes de uma das subidas que exigiam certa técnica, e colocamos a blusa de chuva, começava a pingar!
Essa subida causou um pouco de congestionamento pois havia um riacho a cruzar logo no começo, era um pouco íngreme, com muitas pedras soltas e em curva. A moto patinava demais pois não dava para embalar, por isso, teria que saber dosar o acelerador. Logicamente que os “rôia" tiveram trabalho - uns voltavam, outros paravam, e uns paravam, voltavam e, quando tentavam fazer o retorno para uma segunda tentativa de subir, tombavam a moto! Melhor não citar nomes, mas todos subiram!
Continuamos por uma trilha linda e deliciosa, onde a vontade era de ir devagar para poder registar todos os detalhes. Estávamos andando na encosta da montanha, com o rio lá em baixo, na nossa direita! Não conseguíamos ver para onde a estrada iria, pois ela se embrenhava em meio as montanhas, um visual incrível que, através do rádio, dava para perceber que era uma opinião unânime!
Era tão encantadora a vista, a ponto de, apenas mentalmente, comemorar o pneu furado de nosso Marshall. Um dos raros momentos que pude “desligar" e curtir o visual do entorno. Essa região, não consegui achar o caminho exato no Google, pena! Mas cheguei perto: escreve o nome do local (Lochaber Station Homestead) e vai afastando o zoom… é alguma estrada por perto.
Vegetação semelhante aos nossos Campos de Altitude, com pequenas e poucas árvores, predominando um capim na altura do joelho e, mais próximo ao rio, árvores maiores acompanhavam sua margem. Mas é uma área que fica totalmente coberta de neve, um visual surreal comparado com o que nós vimos.
Fizemos algumas travessias de rios nesse trecho até chegarmos ao nosso destino final com aproximadas 12 horas na moto e todos incrivelmente satisfeitos, foi um dia fantástico!
Nosso camping é em Tekapo Springs, um lugar as margens do imenso Lago Tekapo, que dá nome a pequena cidade de menos de 400 habitantes (2013). Esse lugar deve pirar qualquer fotógrafo devido a combinações de paisagens durante as estações do ano. Deve ser lindo em todas elas! O azul-turquesa de suas águas, nessa estação contrasta com a vegetação mais seca, um período do ano está mais verde e no inverno com o branco da neve, deve ser maravilhoso!
Mas, voltando a nossa rotina… Bagagens, montar barraca, banho, jantar, etc… e resultados.
Saiu nossa pontuação da segunda foto que fizemos no quarto dia e ficamos em quarto lugar com 1.780 votos na foto, valeu Brasil!
Na prova do percurso que cantamos o hino, ficamos em primeiro lugar e em segundo, o time feminino 2, as meninas mandaram bem demais!! Mas, nós fomos precisos, o que nos levou ao incrível quarto lugar na classificação geral!!! Uhhuuuuuuuu!!! Demais, imaginem a nossa alegria!!!
Dia 7: Lake Tekapo - Mt. Aspiring - 375km - Marshall - Frazão
Este dia foi junto com o time França, que estão brigando nas cabeças com África do Sul e Itália, outro dia excelente!
Nosso Marshall, mais uma vez seria o Frazão. Brasileiro e amigo, tem um entendimento do Trophy diferente. Ele concorda em parar para tirar fotos e acha isso muito importante, pois quando voltaremos à esses locais novamente? E como já nos conhecemos de outras qualificatórias, cursos e viagens, tinha um pouco mais de liberdade para parar e fotografar sem preocupá-lo… Acho eu, hehehehe…
Ao desmontar a barraca, percebi o nascer do sol do outro lado do lago, olhei a cena e não resisti, pulei a cerca e fui para a margem do lago para registrar o que assistia de camarote, seria egoísmo meu não compartilhar com outras pessoas esse momento! Para completar a cena, existiam patos na água que, com o contraste da luz laranja-avermelhada do nascer do sol atrás das montanhas, denunciava as silhuetas das árvores na margem oposta, algumas plantas dentro do lago e a silhueta de um pato, que por ali tomava seu café da manhã, flutuando tranquilamente, uma imagem de quadro! Com o tempo, as pessoas foram chegando e captando as diferentes cores que o sol proporcionava enquanto subia. Pena que já tinha que nos prepararmos para a largada!
"Quem não arrisca, não petisca” ou “A pressa é inimiga da perfeição”? Qual ditado seguir?
Após largarmos, seguimos um trecho por asfalto e, em menos de 30 km estávamos no primeiro teste, as margens da Haldon Rd.
44°11'41.6"S 170°30'28.8"E
Em um lugar que tiravam terra, formou-se um tipo de lago sem água, grande. Nesse local, foi montado o desafio que testava a destreza dos pilotos em fazer curvas rápidas no chão com cascalho e no barranco. O desafio era tentar ser rápido sem cair! Um trecho relativamente curto em que os três tinham que percorrer tudo no menor tempo, um de cada vez. Pés no chão e quedas não contavam pontos.
Não fomos bem, um da nossa equipe caiu na reta final e nos custou algum tempo, ficamos em décimo sexto lugar… Pena, esses pontos fariam falta!
Seguimos em frente para em algum momento voltarmos a terra e começarmos a percorrer os terrenos mais montanhosos, com belas vistas, curvas….e no sub consciente sempre: curva para direita fazer sempre aberta! Difícil isso!
Em aproximadas três horas estávamos parando para abastecer em Kurow, uma cidadezinha as margens do Waitaki River com menos de 400 habitantes (censo de 2013), onde aproveitamos para fazer um lanchinho e até, um sorvete!!
Motos abastecidas e nós com meio tanque, seguimos por mais uma hora, subindo e descendo montanhas, e adentrando em um vale para aproximados 70 km depois, chegar até o Danseys Pass Hotel (coloca no Google, tem uma visão 360 graus bem legal) onde um belo lanche/almoço nos esperava!
Todos felizes, conversando, se alimentando, uns dormindo, enfim, um clima incrível de confraternização e alegria, em meio a ótima comida!
Alguns longos minutos depois, subimos em nossas valentes motos e seguimos para começarmos a ganhar altitude e, com isso, amplitude no visual.
As estradas escolhidas para esse Trophy são pinturas, tudo que um motociclista que gosta de off-road deseja! Estradas que exigem técnica, atenção, paisagens incríveis e bons companheiros rodando juntos, estava incrível, todos os dias!
Subimos bastante, até chegarmos a um congestionamento! Sim, isso mesmo, um congestionamento dos bons, com umas vinte BMW F850 GS na nossa frente: era o Special Test!
A fila era longa, o que deu tempo de entender o que seria o teste.
Os três pilotos teriam que fazer a moto pegar no tranco no menor espaço possível com um detalhe: tinha uma linha inicial e uma final depois de uns 20 metros. Se a moto ultrapassasse essa linha sem pegar, zero pontos. Se ela chegasse perto demais que não desse para tentar de novo, a equipe tinha que voltar até a linha de largada empurrando a moto para tentar novamente, não podia começar do meio do caminho!
Várias dúvidas surgiram: qual marcha usar? Empurra por onde? Faz força para baixo? Quem vai de piloto?
Nossa equipe fez a moto pegar, mas precisou de aproximados 10,5 metros. Foram bem mas, tiveram equipes melhores, bem melhores! A campeã fez a moto pegar em 2,5 metros!! A França por exemplo, que estava rodando conosco e brigava no top 3, fez em 15 metros… Na hora qual associação fizemos? Pô se a França foi pior que nós, fomos bem pra caramba!! Verdade, fomos bem, mas, cinco equipes foram melhor que nós, dentre elas as que estavam disputando o quarto lugar conosco…
Dá para perceber que existem vários fatores para se sair bem em um GS Trophy? São muitas variáveis…
Mas, o lado bom é que seguimos nas motos com uma sensação boa: fomos melhores que a França e não sabíamos o resultado das outras!
Passado o teste era hora de descer montanha novamente. Era um visual bonito pois, devido a poeira, aumentamos a distância entre nós e, isso permitia que víssemos lá em baixo a poeira na estrada, com as montanhas e um vale mais verde a frente, linda essa variação de cores! Muitas passagens de água e porteiras nesse dia, um tempero a mais no caminho para nosso próximo camping.
Uma hora e meia depois estávamos na civilização novamente. Desta vez em Wanaka, para mais uma abastecida e saída em busca do Wanaka Top 10 Holliday Park, onde seria nossa morada, restaurante, local de trabalho… e veríamos os resultados!
Caímos uma posição, estamos em quinto, nossos amigos Coreanos nos passaram, justo!
Amanhã será o último dia e, nos foi informado que a pontuação é em dobro!! Ou seja, muitas reviravoltas poderiam acontecer!!
Dia 8: Wanaka - Coronet Peak - 265km - Marshall - Frazão
Último dia!
Acordei e me lembrei do último dia do BMW GS Trophy 2014 no Canadá, dos amigos, paisagens, provas, comidas, enfim, tudo o que vivi lá e como era duro voltar a realidade. Eu já sabia o que iria acontecer…mas meus companheiros de equipe não tinham idéia do que esperavam por eles no final desse dia! Mas vamos lá…
Nosso último dia foi escolhido a dedo, time Argentina! Apesar da rivalidade histórica entre nossos países, nunca, repito, nunca nos meus quilômetros fui tratado normalmente por um Argentino nas mesma condições, sempre foi acima do normal! A nossa rixa é de vizinho, quando estamos no mundo e de moto principalmente, somos hermanos! E aqui na Nova Zelândia não foi diferente… Um prazer rodar o dia inteiro com eles! Eles até ajudaram a trolar um certo campeão.
Mas vamos lá. Tomamos um belo café da manhã como todos os dias, barracas e blá blá blá blá…sentamos na moto e seguimos!
Hoje o roteiro seria mais curto, porém, muito divertido e nosso Marshall o Frazão.
Em aproximadamente uma hora após deixar o camping já tínhamos um belo rio para atravessar. Pensa num rio lindo e desafiador! Quer ver onde é? Coloca no Google Maps essas coordenadas 44°56'25.9"S 168°50’25.8"E . Larga o “hominho amarelinho” que dá para ver no Street View.
Era no final da descida da montanha e formou-se um congestionamento antes do rio. Nosso Marshall que valoriza os registros fotográficos falou pelo rádio: “Mídia de Brasil e Argentina, se quiserem passar a fila e esperar antes de cruzar o rio para tirar fotos, podem ir!” Agradecemos e, junto com meu amigo Matias (imprensa da Argentina) passamos toda a fila e nos posicionamos as margens do rio para registrar!
Imagens como essas, vão nos acompanhar para vida toda e, quando estivermos mais velhinhos (daqui alguns meses) e nossa memória falhar, poderemos assistir para relembrar… Obrigado Frazão!
Bom, a travessia foi muito legal, mas nesse número de motos, sempre um ou outro “escorrega”, sem danos… Só molhou mesmo, melhor assim!
Após a travessia, saímos praticamente dentro da cidade e pegamos a rodovia 6 que passa as margens do Lake Wakatipu e, do outro lado, os famosos Remarkables, uma cadeia rochosa que sobe abruptamente e tem como ponto mais alto o Double Cone, a 2.319 m. Frazão como guia = Fotos! Paramos de novo!
Seguimos por essa estrada asfaltada sem saber para que lado olhar de tão linda, uma pena passar tão rápido! Dá uma olhada no Google um visual diferente 45°03’52.3”S 168°45’26.5"E , copia essa coordenada, cola e solta o bonequinho do street view…pelo menos dá para ter uma idéia!
Seguimos pela Kingston Rd até o final do lago e continuamos, nosso destino era a incrível Nevis Rod, a mais alta estrada da Nova Zelândia. É uma estrada de off road que mais parece um parque de diversões! Para se ter uma idéia, foram aproximadamente 24 travessias de água! Mais largas, mais estreitas, mais funda, mais rasa…todas com pedras!
Começamos a subir e foi muito legal, ultrapassamos vários 4x4 com casais mais idosos, barraca no teto, carro carregado, enfim, indo se divertir. Como tinham várias porteiras, algumas abríamos para eles quando estavam mais perto, eles chegavam, paravam, diziam para seguirmos e ficavam esperando os outros! Sempre sorrindo! Deviam pensar: O que esses loucos estão fazendo de moto aqui com esse frio!!
Lembro de em um momento de chegarmos a uma das travessias de água, logo no começo, que tinham várias opções de caminhos para escolher.
Só sei que nesse momento de escolhas de caminho, o Frazão, que também gosta da bagunça, olhou, olhou, desceu da moto e foi dar uma olhada, como todo bom "trilheiro", entrou na água sem a moto para ver o tipo de fundo. Na mesma hora que ele olhava, tínhamos nós e outra equipe se não me engano, quase 20 pessoas, saiu cada um para um lado e fomos procurando caminho, largando ele lá…queríamos diversão! Um de nosso time Brasil quase ficou atolado, a torcida foi grande!
No meio dessa diversão, o comboio de 4x4 chegou e esperavam em fila todos nós passarmos, tirando fotos, rindo, acenando e não entendendo nada!! Emocionante!
E a estrada? Rochas soltas o tempo todo, paisagens cinematográficas, sobe e desce constante em aproximados 70 km.
Mas sabíamos que teríamos um teste neste trecho…andamos e quando chegamos no local do teste, não havia ninguém por lá, como éramos a segunda equipe do dia, creio que chegamos antes do previsto ou a organização se atrasou. Para nós, pouco importava, estávamos curtindo demais! Os Marshalls resolveram que seguiríamos em frente e, depois de mais alguns quilômetros, encontramos a organização, colada em uma travessia de riacho. Seria ali nosso primeiro Special Test.
Montaram um pista na hora, enquanto comíamos um lanche e nos hidratávamos tranquilos, batendo papo, fotografando, dando risadas, lembrando de algumas cenas passadas, enfim, curtindo.
Quando ficou pronta a pista, já haviam algumas equipes no local e pudemos ouvir o briefing.
Uma moto, dois na moto, dois galões de 20 litros com água pela metade, um integrante a pé. Os dois na moto levam os galões por um circuito, as margens do riacho, sobem um morrinho simples, fazem a volta em uma moto, descem um barranquinho e encontram com o terceiro integrante que foi a pé e parou nesse ponto para esperar junto de outra moto. O passageiro da moto entrega um galão para o cara a pé e desce com o outro. Os dois partem em disparada para atravessar o riacho a pé levando os galões. Cruzam o rio e continuam a correr passando pelo lado esquerdo dos cones no caminho, cruzavam o riacho novamente, continuavam correndo por mais uns 30 metros pelos cones e cruzavam a linha de chegada com os galões, no menor tempo possível! Um detalhe dessa prova: imaginem um riacho com fundo rochoso, aproximadamente uns 3 a 4 metros de largura, água fria…Como vc atravessaria isso a pé? Em uma situação normal, olharia, escolheria onde pisar e como pisar para evitar qualquer risco…pois bem, os caras pareciam que estavam atravessando um gramado de futebol de tão rápido e desenfreados, impressionante! E não houve nenhum incidente dentro do rio! Alguns quase infartaram de tanto correr, mas ficou nisso…
O legal era que, em TODAS as provas tinha torcida e vibração. Quando alguém estava fazendo qualquer prova e acontecia algo negativo por exemplo, os outros competidores soltavam um “ahhhhhh”, “ohhhhhh”, de chateação mesmo, sincero. E quando terminavam, sempre tinha cumprimentos, mesmo somando mais ou menos pontos. Na verdade parecia que valiam pontos para todos…
Desculpem os devaneios, quero tanto que vocês vivam um pouquinho do que vivemos lá, que acabo me empolgando! Voltando…
Após o teste, seguimos por mais um tempo por essa incrível estrada, creio eu que no sentido de Cromwell, para depois seguir de volta no sentido de Queenstown.
Nosso destino era Coronet Peak, uma estação de esqui muito famosa na região e que tem uma vista panorâmica belíssima!
Um pouco antes de chegar a estação de esqui, estava nosso último teste do GS Trophy 2020.
Uma pista montada no estilo das eliminatórias do Trophy no Brasil, mas muito mais curta e com bem menos obstáculos, era o teste final. Os competidores, um de cada vez tinham que percorrer a pista demarcada no menor tempo possível e, quando parasse no final, batia a mão no outro piloto, que corria para a moto e partia! Sem muito segredos.
O piso de cascalho obviamente, exigia cuidado para contornar os dois primeiros cones que já encaminhava o piloto para subir um barranco relativamente simples de uns 4 metros e, no topo, curva a esquerda para descer. Depois de descer, passa por um cone e faz um paredão no barranco novamente, antes de entrar no slalon. Saindo do slalon era um pouco reto e, depois do cone, uma curva suave a esquerda até chegar no quadrado onde pára e bate na mão do parceiro. Essa curva suave com muito pedrisco e com pressa, era traiçoeira!
Para se ter uma idéia do stress, um integrante da Coréia, largou e simplesmente esqueceu de fazer o primeiro cone, foi direto para a subida! Todos assistindo ficaram mudos e de boca aberta, sem entender nada!
O time Brasil foi bem conservador para evitar quedas e pés no chão, que contavam pontos, mas, esse cuidado exigiu tempo, que exigiu pontos…fomos bem, mas não fomos, entende? Não tínhamos o que fazer, já estava feito e, querendo ou não, fizemos o melhor que pudemos fazer.
Juntamos com a Argentina e seguimos poucos metros a frente até a recepção da estação de esqui, onde estavam nossas malas e, seria nosso camping, restaurante, salão de festa, mas antes tínhamos uma dura missão: levar as motos até um depósito na cidade e voltar de ônibus… Pensa num momento esquisito: começamos a descer seguindo o Frazão, junto com o time Argentina e fomos chegando na cidade e avistamos a nossa esquerda, carros e bandeirinhas indicando que era ali. Entramos e já tinham dezenas de motos estacionadas. Paramos a nossa, esvaziamos a bolsa da moto, chave no contato, alguns fizeram uma última foto, e o ônibus já estava pronto para levar-nos de volta.
Um misto de sentimentos tomou conta nessa volta para a estação de esqui… É diferente do último dia de uma viagem, pois uma viagem “normal”, você sabe que pode voltar e repetir mesmo que parecida, já um Trophy, não existe essa possibilidade. São muitos detalhes que torna impossível reviver esses dias, as emoções, paisagens, equipes, etc, é ímpar! Só quem passou por isso sabe…
Era estranho olhar a paisagem todo equipado, no conforto de um ônibus, vidros fechados, sem vento, sem retrovisor, enfim, enjaulado seria uma palavra?! Mais ou menos um animal de zoológico sendo transportado para outro Zôo, olhando o infinito… Ops, viajei de novo! Voltando…
Seguimos de volta para Coronet Peak e ainda tínhamos uns 200 m de caminhada equipado, carregando toda nossa bagagem e achar um lugar para montar as barracas, que por sinal, deveria ter sido outra prova, mas será um capítulo a parte.
O local para se montar as barracas era exatamente onde inicia o teleférico para subir a montanha na época de neve, onde esse lugar deve ter um movimento grande. Vale a pena dar uma olhada no Google (44°55'37.0"S 168°44’16.1”E).
Pois bem, só que estávamos no verão e com um vento absurdo que vinha em rajadas e do nada, parava. No meu caso foi assim: tirei o saco com o equipamento de camping, saquei a barraca, abri e joguei ela no chão, nesse momento, escutei um barulho crescente…..”fuuuuuuuuuuuuuuuu" que foi aumentando, aumentando, até que veio a ventania! Só tive tempo de pular em cima da barraca aberta no chão, abrir braços e pernas e tentar segurá-la. Nesse meio tempo, olhava em volta, era saco voando, barraca soltando, gente correndo atrás de roupa, e todos quando não estavam rindo, escutava: Segura!! Owww! Minhas luvas! Ajuda aqui! e risos… Gente correndo atrás de coisas voando, enfim, uma bagunça.
Tive que pegar o “tempo" do vento e, quando parava, saia feito louco batendo estacas e prendendo as extremidades da barraca. E vinha o vento de novo! Pulava em cima e tudo de novo!! E assim foi, até a barraca estar montada e tudo dentro para que ela não saísse voando… Foi divertido!
Barracas montadas, era hora de banho, jantar e encerramento…
O encerramento foi uma festa, todos trocando adesivos, bonés, camisetas, enfim, é uma tradição no GS Trophy que, cada equipe, leva alguns presentes para trocar e distribuir. Nós fizemos algumas camisetas e adesivos, além dos nossos bonés e da camiseta que fizemos para que assinassem nela.
A festa rolou noite a dentro com muita animação mas, como já tínhamos recebido os horários de saída para o aeroporto, aos poucos as pessoas estavam voltando para suas barracas, torcendo para que o vento não tivesse levado!
Finalmente
O time da África do Sul sagrou-se pela terceira vez, campeão do BMW GS TROPHY, deixando a França em segundo e Itália em terceiro, com poucos pontos de diferença entre eles. Foi disputado esse último dia que, valia pontuação dobrada.
O nosso time ficou com a sétima posição na classificação, os pontos perdidos durante esses 8 dias fizeram falta, mas isso não nos deixou nem um pouco tristes pois, o verdadeiro prêmio de um GS Trophy são, além dos 8 dias mais espetaculares fazendo o que mais gostamos, conhecer dezenas de pessoas incríveis do mundo inteiro.
Vale deixar o agradecimento a todos envolvidos na organização desse imenso evento! Todos os detalhes estiveram perfeitos! Em cada lugar que passamos, tinham pessoas envolvidas por algumas horas, dia, dias, e totalmente, e, foram perfeitos!
Agradecer aos Marshalls que nos conduziram com tamanha responsabilidade e eficiência, fazendo nossos percursos sempre emocionantes.
A BMW MOTORRAD BRASIL por organizar junto com a TSO BRASIL, três seletivas nesse imenso país, que reuniram apaixonados pela marca, pessoas com todo tipo de experiência e melhor, pessoas do bem que entenderam o espírito do BMW GS TROPHY!
A BMW MOTORRAD e os patrocinadores obviamente, que mantém esse espírito do Trophy aceso em cada proprietário que participa de uma qualificatória, a ponto de contar os dias para que venham as próximas eliminatórias e, se possível, saborear o que é uma final, seja ela onde for.
A equipe Brasil, representada pelo Pedro Marchioretto, Claudinei Silva e Felipe Hawerroth que, nesses dias, reforçaram o meu ditado: “me digas com quem andas, que lhe direi se vou!” Pois, mais uma vez a classificatória selecionou três pessoas muito do bem e ótimos pilotos! Todos amigos agora, daqueles que, se convidar para dar um rolê, não perguntam para onde…
Time, foram dias incrivelmente especiais, hoje vocês devem estar entendendo melhor e, me desculpem se exagerei em alguns momentos, foi tentando extrair o melhor de vocês, foi uma honra!
Frazione, sem palavras meu amigo, foi uma honra e um prazer vê-lo no lugar que sonhou estar e melhor, poder assistir isso de perto! Ouvir os elogios dos participantes, de outros Marshalls, da organização enfim, felizes somos nós por estarmos próximos de você, obrigado!
Esse foi o meu segundo BMW GS TROPHY e muitas pessoas me perguntam qual foi o melhor… não existe melhor, são tantas coisas legais, detalhes, paisagens, que vivemos num evento desse porte que não dá para fazer uma escolha, eles são únicos. As paisagens são sempre lindas, os dias pilotando são incríveis, as provas sempre exigentes, inusitadas, surpreendentes, os “trophers" incríveis, ou seja, ambos foram espetaculares! Talvez, o único diferencial na minha opinião, é que em 2014 no Canadá, “os mídias” podiam participar de algumas provas e, dessa vez, de nenhuma. Poderia ter alguma prova voltada para a mídia, ou então poder participar de alguma prova. Mas não, ficamos só na vontade e poderíamos, com certeza, ter contribuído para a equipe. Pois é tenso ficar só assistindo!!
É isso aí, começam os preparativos e que venha 2022!!
MAKE LIFE A RIDE!
CURIOSIDADES DO TROPHY!
1- A comida é sempre cheia de surpresas: Estamos em um país diferente e cultura diferente, o hábito alimentar não foge a regra. O café da manhã era mais parecido com a América do Norte: Bacon, ovos mexidos, carne, pães, leite, suco, as vezes yogurte e frutas sempre. Passamos bem! No dia que os competidores chegaram, Paella !
2- Dia de imprensa: A Amelie, antes de nosso primeiro dia de teste com as motos, passou olhando o equipamento de todos da imprensa, para saber se estavam equipados de acordo com as regras que recebemos quando ainda estávamos em nossos países. Por incrível que pareça, tinha gente com botas de On Road. Para esses, ela perguntou o número e trouxe uma bota zero, emprestada obviamente e fez usar.
3- Nosso acampamento tinha banheiro químico, a primeira coisa que o Pedrinho foi incentivado por mim a fazer, foi ver se ele conseguia, quando sentado, apoiar os pés no chão.
4- Claudinei chegou do vôo, montou a barraca e foi tirar um cochilo. Na hora que percebemos fomos acordá-lo o mais rápido possível para entrar no fuso horário, deu trabalho, kkkk!
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