Na Estrada: O meu velho amigo Ruy
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Por Alexandre Ciszewski
Por Alexandre Ciszewski
Conheci o meu velho amigo Ruy num restaurante em Foz do Iguaçu, em 2011.
Ele viu aquele bando de motociclistas se divertindo e veio falar comigo. Contou que estava com a mulher de férias, que também tinha uma moto e ficou impressionado com a animação do pessoal. Dei o endereço do fórum do grupo na internet e cada um foi para o seu canto. O motociclismo tem dessas coisas: unir pessoas que em outro meio nunca se entrosariam, sequer se conheceriam.
Meses depois, eu e os camaradas estávamos quase saindo do ponto de encontro às seis da manhã para uma viagem até Brasília para o Moto Capital e eis que me chega o Ruy e sua mulher numa GS 650, sei lá que ano era a moto. “To atrasado?” e caiu na risada. Bem, ele nos acompanhou até o DF e depois acabou entrando para o clube.
Está fazendo três anos que o meu velho amigo Ruy morreu.
Não que fôssemos velhos amigos. Ele só era bem mais velho que eu. Desde que o conheci, há oito anos naquele restaurante em Foz, tinha certeza de que ele morreria de câncer de pulmão, de tanto que fumava. Aliás, ele fumava como contava histórias: acendia um causo após o outro.
Numa dessas histórias, quando já estávamos bêbados, comemorando a nossa chegada na Argentina depois de uma longa viagem de moto, ele me contou sobre o filho que não via nem falava há anos. Então o meu velho amigo Ruy começou a chorar. Eu o abracei e ficamos em silêncio. O que um moleque de trinta anos como eu poderia falar para um senhor de sessenta sobre rompimentos, família, ressentimentos?
Ali, naquele instante, conheci o Ruy um pouco melhor.
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Não sei por qual motivo, mas decidi que assim que voltasse para casa venderia a moto, sairia do clube de que fazia parte, ficaria mais com a família e beberia menos. Óbvio que continuei bebendo mais que a minha moto e aquele papo com o velho Ruy nunca mais me passou pela cabeça. Até aquela manhã de 2015 quando o meu amigo Ruy morreu.
Um ano depois dessa viagem para a Argentina, o Ruy, que morava em Balneário Camboriú, recebeu quase uma centena de pessoas do clube em sua cidade e fez o possível e o impossível para nos sentirmos em casa, comprando bebidas e cigarros, indicando mecânicos, resolvendo pepinos de última hora, sempre com bom humor e o enorme sorriso de dentes amarelados pelo tempo e pelos dois maços por dia.
Eu sempre tive certeza de que o Ruy morreria por males causados pelo fumo. Às vezes alguém pedia um cigarro e ele dizia: ô meu, não tenho filho desse tamanho não, e caía na risada. Uma risada grande, entrecortada por alguma tosse, mas sempre alegre e debochada.
Então o meu velho amigo Ruy morreu de câncer. Não no pulmão, não na laringe, não no esôfago. Na medula, sem chance. Mandamos coroas de flores, escrevemos para ele no Facebook e, para a nossa surpresa, o filho que não falava há anos com o Ruy respondeu cada um de nós, agradecendo o carinho que tínhamos com o pai dele.
Meu velho amigo Ruy, você e a sua alegria fazem muita falta. Espero que você continue sorrindo onde quer que esteja na sua jornada.
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