Moto Repórter: Atrás do tanque

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Por Gabriel Carvalho

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Alethea Torres Gabrielli

Desde criança o motociclismo fez parte da minha vida: experimentando o prazer em ir para a pré-escola na garupa do meu pai com aquele pequeno capacete CBP, ou numa persistente marca de queimadura, adquirida na teimosia em subir na moto recém estacionada.

O fato é que ao longo da vida vamos nos encaixando em vários papéis, alguns por escolha, outros sem nem mesmo perceber e nesse caminho não tinha uma referência feminina que me levasse a sonhar em pilotar uma moto. Adorava a sensação de liberdade, de percorrer os trajetos sentindo todos os cheiros do caminho, porém ainda achava que na garupa tinha ainda mais liberdade de somente curtir, olhar, sem responsabilidade de guiar.

Porém, um dia me vi renegada dos passeios seja porque minha garupa começava a ser reivindicada pelo filho, ou exatamente por não ter com quem deixar os filhos. Então, aos 40 anos, tomei a decisão de aprender a pilotar!

Ouvi críticas de muitos lados e os preconceitos também começaram a aflorar. Do próprio instrutor, ouvi que já teve muitas alunas que tentaram e desistiram por considerar que eram melhores fazendo torta de frango. Respondi prontamente que não era muito boa na torta, então que teria que ser a moto.

Outros me perguntavam qual o exemplo estava dando para minha filha. E essa foi fácil de responder: o de que ela pode por si mesma fazer o que quiser e não precisa montar na garupa de qualquer um só por curiosidade.

E assim, segurando as rédeas - ou seria o guidão? - do meu caminho hoje sigo pelas estradas. No comando da motocicleta me dispo de todos os papéis que desempenho com muito orgulho no meu dia a dia.

Pilotando não sou mãe, esposa, mulher, filha, irmã, amiga ou profissional. Sou só uma alma jovem, fazendo parte da paisagem e desfrutando do caminho, sem pressa de chegar.

Alethea Torres Gabrielli, nascida em 1976, Escrivã no Tribunal de Justiça, casada e mãe de um casal de futuros motociclistas

Foto: arquivo pessoal


Fonte:
Moto Repórter

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