Coluna Motostory: Nossas origens

Conheça os primeiros personagens a marcarem época no motociclismo brasileiro

Por Gabriel Carvalho


Foto: Acervo Antonio Lage/Edgard Soares/Motostory

Texto: Carlãozinho Coachman

O hoje é resultado do que fizemos ontem… Amanhã, a consequência do que fizermos agora! Como ignorar a história? Curiosa a missão de vasculhar a história em busca das origens do motociclismo brasileiro, das motos e dos personagens que construíram o quinto maior mercado de motocicletas do mundo. É uma forma interessante de desvendar o passado, os caminhos que nos trouxeram até 2017, e de relembrarmos quem foram as pessoas e suas motocicletas, que percorreram esta viagem de mais de um século de história. 

AS MELHORES MOTOS DO BRASIL ESTÃO AQUI!

Valorizar a história e seus personagens sempre foi o propósito primeiro do Motostory – a História da Motocicleta no Brasil. Desde que a ideia surgiu, ainda em 2004, nosso objetivo sempre foi manter viva a memória das pessoas que construíram nosso mercado. O que até certo ponto já esperávamos era descobrir novos personagens e suas histórias. O que não esperávamos era receber tamanho apoio desses personagens e seus familiares e descendentes. E agora estou aqui para dividir com vocês os resultados de anos de trabalho e dedicação na busca pelas nossas origens, seus personagens, suas histórias e, claro, suas motocicletas. 


Foto: Acervo Motostory

Lidar com a história é algo libertador. Quando eu deixei a escola, a menor partícula conhecida do universo era o átomo… hoje sabemos que a coisa vai muito mais longe, ou muito mais dentro. Por isso mesmo, até onde sabemos, a primeira referencia de uma “motocycleta” no Brasil aparece em um anuncio de classificados do jornal O Estado de São Paulo de 1904. Uma “Motocycleta Peugeot de 2,5 HP, em bom estado de conservação.” Aliás, entre 1904 e 1909, os anúncios aparecem apenas na seção de classificados e a única marca identificada é a Peugeot. Os outros anúncios fazem apenas referencia à motocycleta, ao seu estado de conservação e a potência, descrita em cavalos. Não se falava da cilindrada como fazemos hoje. As poucas notas reportam apenas alguns episódios com motos em outros países. 


Foto: Acervo Motostory

Na década seguinte aparecem os primeiros importadores ditos oficiais e outras marcas entram em cena. Harley-Davidson, Indian, Henderson, Cleveland, Excelcior, Wanderer, além de empresas como Paul J Christoph Co., Antonio do Santos, A. Dias Carneiro, Auto Geral e AutoSport são algumas das importadoras da época. 

A riqueza dos acervos familiares  

Entre os anos de 1910 e final da década seguinte, começam a surgir os documentos e personagens que reconhecemos até hoje. A motocycleta era importada naqueles tempos e chegava ao Brasil através de seus dois principais portos, no Rio de Janeiro, então capital federal, e em Santos, SP, distante apenas 60 km da já mais importante cidade da economia brasileira, São Paulo.

Estes mais remotos documentos chegaram até nós através de três famílias, os Ceccarelli, de Campinas, Edgard Soares, de São Paulo, que nos trouxe também o álbum de um personagem até então desconhecido por nós, Antonio Lage, e os Bezzi, de Santos. Certamente, a razão pela guarda deste incrível acervo tem a ver com o fato de que o motociclismo impregnou nestas famílias no início do século 20 e perdura até os dias de hoje através de seus descendentes. Muitos deles são motociclistas envolvidos com o esporte ou com o negócio, outros “apenas” motociclistas. 


Foto: Acervo Edgard Soares/Motostory

Outros acervos mais recentes, não menos importantes, estão conosco para trabalho, digitalização e pesquisa desde os primeiros dias de nosso projeto. Com muita paciência, Denisio Casarini, Edmar Ferreira, Gilmar Vidal, Aguinaldo Fonseca, Alex Barros, a família Tognocchi, Santo Feltrin, Antonio Jorge Neto, nos confiaram seus originais. Muitos mais nos enviam regularmente arquivos digitais e dicas que nos ajudam a montar esta verdadeira colcha de retalhos. Colecionadores, clubes, organizadores de eventos e encontros, fãs do “antigomotociclismo” têm ajudado diariamente. Obrigado, mais uma vez! 

O que sabemos até o momento 

Os primeiros documentos das décadas de 1910 e 1920 mostram alguns nomes que dominaram as primeiras corridas em terras brasilis. Antonio Lage, personagem trazido a nós por Edgard Soares, foi “o cara” das primeiras provas de motos (e muitas de carro também). Ele e sua Harley-Davidson, ou seu automóvel Manon, foram protagonistas durante anos, mas não os primeiros vencedores.

Em um recorte de jornal, cuja data anotada à mão mostra o dia 17 de abril de 1921, a publicação, escrita em italiano, retrata a vitória de Antonio Lage no “Campionato Motociclistico Paulistano – Stabilendo un meraviglioso record.” A reportagem ainda trás “O libro D’oro del Campionato” com os seguintes resultados: 

• 1915 Alessandro Grazzini, N.S.U, 3, 1/2 HP, 
Moto Club Italia – 3:55 
• 1916 Adolfo Lupatelli, Triumph, 3, ½ HP, Soc. 
Sportiva Paulista – 4:15 
• 1917 Non disputato 
• 1918 João Gual, Harley-Davidson, 8 HP, S. 
S. Paulista, 3:43 
• 1919 Guglielmo Spera, Triumph 2, ¼ HP, 
Tourig Club, 4:20 3” 
• 1920 Antonio Lage, Harley Davidson, S. S. 
Paulista, 3:35 14 1/5 

 
Naquele ano, Antonio Lage venceria as três voltas pelo Circuito de Itapecerica, totalizando 210 km, com o tempo recorde de “3 Ore e 35 14 1/5.” A lista de inscritos, que largavam a intervalos de três minutos, incluía: Guglielmo Spera, F. Piza, Luigi Zanetti, Alessandro Paiva e Antonio Lage. Pouco mais adiante no álbum de relíquias de Lage, dois outros nomes que marcaram época surgiriam nas reportagens. 

Constante Ceccarelli e sua B.S.A., de Campinas, bisavô do amigo e piloto Gustavo Ceccarelli, naufragava nas a areias alagadas da Praia Grande, em Santos, assim como o santista Luiz Bezzi e sua Guzzi, ambos com problemas em suas motocycletas. Mais uma vez, vitória de Lage. 

Analisando muitos outros materiais que nos chegaram, como aquele cedido pela família Ceccarelli, descobrimos muitos outros nomes, além das vitórias de Constante que aconteciam no mesmo período, tornando-se ídolo na região de Campinas ainda em meados dos anos 1920. Sobre os Bezzi ainda, as décadas em que pai e filho, Luiz e Franco, dominaram corridas no Brasil e na América Latina ao lado de outros tantos ícones da nossa história. Mas estes e outros personagens ainda serão desvendados ao longo de nossas publicações. 


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

Compartilhe:

Receba notícias de moto.com.br