Registros do nascimento da Anabel I

No litoral da Bahia, motociclista estradeiro participa da construção de uma escuna.

Por Leandro Alvares

Reinaldo Baptistucci é um apaixonado por aventuras. Em sua última coluna de 2007, o estradeiro fala sobre sua viagem para a ilha de Cajaiba, localizada no litoral da Bahia, onde desde setembro está participando da construção de uma escuna.

Na passagem pelo belíssimo local, o motociclista não contou com a presença de sua Harley-Davidson, mas encontrou uma outra máquina para lhe fazer companhia.

Confira o relato:

Com sol a pino e temperatura alta, cruzei de Barra Grande (Baia de Camamu) para o povoado de Cajaiba com o objetivo de, pela primeira vez, conhecer o abacaxi que teria que lentamente e com toda a paciência descascar.

E lá estava ela, no seco e quase pronta: a já batizada Escuna Anabel I, um enorme barco de 25 metros e 45 toneladas de peso. Feita em madeira de ipê, ela também seria equipada com dois mastros de sucupira de 18 metros de altura e estaria apta a velejar pelos mares baianos.

Voltei para São Paulo com uma lista enorme de itens a serem providenciados, que seriam enviados para Camamu por caminhão. Entre eles, um motor Yanmar 370cv turbo iterculado e instrumentos de navegação que equipariam a Anabel I.

Outubro passou voando, e eu montado na minha moto pra cima e pra baixo providenciado cada detalhe da empreitada. Tudo era importante e indispensável. Juntar todos os itens foi uma tarefa das mais complicadas, pois eu não teria chance de errar. Um parafuso que fosse esquecido poderia causar sérios transtornos na hora da montagem, já que o povoado de Cajaiba fica distante dos grandes centros e o tempo que se gasta para ir buscar qualquer material é de, no mínimo, oito horas só de ida.

Cajaiba está situada às margens da Grande Baia de Camamu, bem em frente à Península de Maraú (sul da Bahia), e tem como atividade básica a fabricação de escunas e saveiros, um trabalho artesanal que envolve toda a população do local.

A grande maioria vive o dia-a-dia em cima ou em baixo de grades esqueletos de madeira que um belo dia vão flutuar e navegar imponentes pelos mares.

Já vai longe essa tradição, que chegou ninguém sabe dizer quando e veio acompanhada por um Ábaco de nome Graminho. Na verdade, uma tabua cheia de marcações que em escala dá a informação sobre os ângulos e curvas do que lá na frente será uma escuna majestosa. Resumindo, uma máquina de calcular precisa e que deve ter uns mil anos de existência.

Fora da minha rotina no estaleiro, aproveitei para velejar de canoa e andar com uma moto que foi feita com parte de outras; uma mistura que para mim dava e sobrava. Sem a preocupação de estilo e performance, ela se tornou uma companheira inseparável para percorrer na lama e no areião o ir e vir. E quando a noite chegava, uma lanterna amarrada no guidão era o farol que me bastava.

Passei 30 dias em Cajaiba trabalhando de sol a sol com o firme propósito de ver a escuna navegar na segunda semana de janeiro de 2008. E aí vale o ditado cajaibano: “Com Fé em Deus e se a Maré ajudar, um dia ela vai boiar”.

Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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