Três da manhã, na maré alta da hora, já era tempo de colocar a Anabel I em cima do piquete. Mestre Zezinho me alerta sobre a manobra, seria arriscado realizar a ousadia depois que o sol iniciasse seus trabalhos de luz do dia.
Vinte homens em volta da escuna levavam duas vigas enormes para baixo da barriga do barco, tarefa inglória e pesada, com a lua vendo tudo sem as sombras da dúvida e de façanha a ser cumprida a todo custo.
Mestre Miro ria e ao mesmo tempo gritava, dando ordens precisas. As peças finalmente estavam colocadas na posição de lançamento.
Era 9 de janeiro de 2008, data em que a bela iria pôr sua face singela e alva na lama negra da praia Cajaibana, na Bahia. Fui dormir já sabendo que na rasa ela iria correr e que o resto seria feito já com ela ancorada a meia nau.
Depois da corrida, muito vento e maré passaram por baixo do casco roliço e liso. Muito trabalho, bons e maus momentos, e criatividade improvisada de quem já sabia que não seria tão fácil assim ver ela boiar.
Agora no final de março, finalmente vamos rodar o motor. Demorou, mas o tempo aqui em Cajaiba é relativo. O relógio tem ponteiros regidos pelo balançar da água e a luz da prata lua.
Fonte:
Equipe MOTO.com.br
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