Motociclista festeja ''nascimento'' de escuna

Em breve retorno a São Paulo, colunista fala sobre sua recente aventura pelas águas da Bahia.

Por Leandro Alvares

Mestre Zezinho veio me acordar às cinco da manhã, batendo na porta com força. No dia anterior, comemoramos até muito tarde a primeira navegada com a Escuna.

Tínhamos ido a Maraú (BA) e lá colocamos mil litros de água nos tanques. Ela já estava quase pronta, faltava só instalar o restante do lastro, que chegara de Travessão; uma tarefa inglória.

Duas toneladas de pedra subiram a bordo e na raça foram colocadas com cuidado na barriga da Anabel I. No final, quase quatro toneladas de lastro. Mestre Miguel sorriu e, com uma frase curta, comentou: “Ela é boiera, Reinaldo. Pode pôr mais uma viagem”.

Dia 13 de abril, meio dia, após cinco meses e meio de muita batalha, ligo o motor, que ronca macio. Levo a manete para avante, o último cabo de atracação é içado. Com maré seca, deixo o Arraial de Cajaiba por boreste.

A bordo seguem comigo os Mestres Mudo e Zezinho e o jovem de convés Sidimar. Em meio a um silêncio total, abro uma lata de cerveja e jogo no convés, ato contínuo um copo de óleo de dendê é derramado na proa.

Mestre Zezinho, com um martelo na mão, enfia um prego de bronze no espelho de popa, e exclama: “Feito está e que ela navegue sempre nas águas calmas de Iemanjá”.

O tempo passou muito rápido, meu compromisso em Cajaiba era montar a Escuna usando a experiência enorme dos mestres carpinteiros e experientes navegadores que lá vivem. Aprendi muito, a minha parte era não deixar faltar nada a bordo, o que foi feito na medida do possível.

Agora, ela já estava com a proa rumo 60 graus indo para Salvador, e para espanto de todos, a Anabel I navegava muito, com o GPS marcando 10 nós e o giro do motor a 2500 rpm.

Sobre a mesa de navegação, uma lista itens faltantes que seriam instalados na Marina Aratu. Setenta e três milhas em seis horas, nada mal para quem pesa 45 toneladas e tem no total 27 metros de comprimento.

Eu, em particular, estava aliviado, pois o que não faltou foi engenheiro de obra pronta a dar palpite e questionar algumas decisões técnicas que os mestres cajaibanos e eu tínhamos tomado.

Nos próximos dias volto para Salvador para instalar os trilhos, catracas, roldanas e aí sim velejar na grande Baia de Todos os Santos para homenagear os velhos marinheiros que fizeram a historia do Recôncavo Baiano.

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Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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