Mestre Zezinho veio me acordar às cinco da manhã, batendo na porta com força. No dia anterior, comemoramos até muito tarde a primeira navegada com a Escuna.
Tínhamos ido a Maraú (BA) e lá colocamos mil litros de água nos tanques. Ela já estava quase pronta, faltava só instalar o restante do lastro, que chegara de Travessão; uma tarefa inglória.
Duas toneladas de pedra subiram a bordo e na raça foram colocadas com cuidado na barriga da Anabel I. No final, quase quatro toneladas de lastro. Mestre Miguel sorriu e, com uma frase curta, comentou: “Ela é boiera, Reinaldo. Pode pôr mais uma viagem”.
Dia 13 de abril, meio dia, após cinco meses e meio de muita batalha, ligo o motor, que ronca macio. Levo a manete para avante, o último cabo de atracação é içado. Com maré seca, deixo o Arraial de Cajaiba por boreste.
A bordo seguem comigo os Mestres Mudo e Zezinho e o jovem de convés Sidimar. Em meio a um silêncio total, abro uma lata de cerveja e jogo no convés, ato contínuo um copo de óleo de dendê é derramado na proa.
Mestre Zezinho, com um martelo na mão, enfia um prego de bronze no espelho de popa, e exclama: “Feito está e que ela navegue sempre nas águas calmas de Iemanjá”.
O tempo passou muito rápido, meu compromisso em Cajaiba era montar a Escuna usando a experiência enorme dos mestres carpinteiros e experientes navegadores que lá vivem. Aprendi muito, a minha parte era não deixar faltar nada a bordo, o que foi feito na medida do possível.
Agora, ela já estava com a proa rumo 60 graus indo para Salvador, e para espanto de todos, a Anabel I navegava muito, com o GPS marcando 10 nós e o giro do motor a 2500 rpm.
Sobre a mesa de navegação, uma lista itens faltantes que seriam instalados na Marina Aratu. Setenta e três milhas em seis horas, nada mal para quem pesa 45 toneladas e tem no total 27 metros de comprimento.
Eu, em particular, estava aliviado, pois o que não faltou foi engenheiro de obra pronta a dar palpite e questionar algumas decisões técnicas que os mestres cajaibanos e eu tínhamos tomado.
Nos próximos dias volto para Salvador para instalar os trilhos, catracas, roldanas e aí sim velejar na grande Baia de Todos os Santos para homenagear os velhos marinheiros que fizeram a historia do Recôncavo Baiano.
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Equipe MOTO.com.br
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