A fama das motocicletas chinesas está mudando!
Mas será que um dia também podem vir a conquistar o mundo?
Por Trinity Ronzella
Por Trinity Ronzella
Texto: Luiz Mingione
Se antes o rótulo “Made in China” em motocicletas era para se esconder, a vergonha da vergonha, hoje não é bem assim. A fama de inferioridade das chinesas está mudando. Algumas empresas vêm se reformulando internamente e melhorando a cada ano em termos de design, qualidade, motores e tecnologias.
As motocicletas fabricadas na China desde sempre, receberam muitas críticas por serem abaixo (ou muito abaixo) da média em vários quesitos, em especial, baixa qualidade, mal gosto no design e falta de pós-vendas, que aliás nem existe por lá.
Além disso, várias marcas chinesas que se instalaram no Brasil e em outros países, venderam motocicletas e de repente, sumiram deixando clientes “órfãos”, e um rastro de problemas.
Mas parece que a fama de inferioridade das motocicletas chinesas está mudando. “Made in China” é agora motivo de orgulho para alguns fabricantes chineses, cujo principal objetivo passou a ser o de se estabelecer no exterior com marcas próprias de qualidade.
Durante vários anos tive a oportunidade de viver de perto boa parte do interessante mercado chinês de motocicletas. Estive na China indo e voltando a trabalho desde 2007, e a cinco anos atrás, de 2017 a 2018, morei e trabalhei por lá em uma das grandes fábricas de motos chinesas, a Zongshen, que tem uma parceria de desenvolvimento com a italiana Piaggio.
Nesse período de vivencia na China, conheci muitas fábricas de motocicletas, scooters e motores, e o que eu já sabia foi confirmado: os chineses nunca se preocuparam em desenvolver suas motocicletas, sempre foi muito mais fácil, barato e rápido copiar ou fazer semelhante, e o pior de tudo, na sua grande maioria sem nenhuma qualidade.
Bem diferente da indústria de duas rodas de outro país asiático, o Japão, onde também morei durante um ano, de 1998 a 1999, fazendo um estágio na Honda Asaka Research & Development, e de 2000 a 2005 por períodos de 15 a 30 dias trabalhando em algum modelo da linha Honda do Brasil. (Trabalhei na Honda R & D Brasil 14 anos)
A China é um país continental com paisagens incríveis, alimentação e muitas outras particularidades, bem diferente para nós. Além de acumular uma história de mais de 4.000 mil anos e ser uma potência mundial que tem a economia que mais cresce no mundo. Já o Japão, também é uma potência mundial, muito menor territorialmente, mas também economia de primeiro mundo, um país maravilhoso e milenar com mais de 3.000 anos, “bem mais novo" que a China.
O Japão tem como parte da sua cultura, o respeito em preservar sua história passada. O antigo consegue conviver com o que tem de mais moderno em termos de tecnologia e novidades no mundo. Isso foi uma das coisas que eu vi dentro da própria Honda e no meu dia a dia, e foi o que mais me encantou por lá, além da comida é claro que aprendi a apreciar ainda mais.
Outra coincidência da minha admiração pela cultura japonesa é minha família, minha mulher é filha de japoneses, nascida no Brasil e meu filho é mestiço. Para “quem acredita”, acho que eu devo ter tido alguma vida passada na terra dos samurais.
Voltando as motocicletas, apesar de os dois países serem muito interessantes, cada um com sua cultura e história, voltando ao assunto desenvolvimento de motocicletas, o Japão está anos luz à frente da China.
A maioria dos fabricantes chineses de motocicleta, mesmo com uma indústria que pode ter à disposição os melhores maquinários, mão de obra, além do poder do dinheiro sem limites para investir em desenvolvimento, infelizmente “desde de sempre” tem sua cultura baseada em fazer cópias “descaradas” das motos estrangeiras.
Muito diferente dos japoneses que começaram também copiando, mas que se desenvolveram com sua própria indústria de duas rodas.
A muito tempo atrás, final dos anos 40, início dos 50, os japoneses, que iniciaram em pequenos galpões e oficinas fabricando máquinas ou bicicletas motorizadas, começaram a trazer modelos de motos da Europa (que já estavam bem avançadas para a época) para adquirir conhecimento e assimilar tecnologia, e não somente copiar.
O objetivo dos japoneses na época era tentar aprender com as motocicletas europeias, melhorar, e assim se desenvolver para fabricar modelos próprios, e foi desta forma que eles se tornaram ao longo dos anos em uma das mais poderosas potências industriais de duas rodas do mundo.
Mas hoje, mesmo com um pouco do conhecimento que tenho da linha de trabalho chinesa no desenvolvimento e fabricação de motocicletas, desta vez, tenho que me render a duas empresas da província de Zhejiang, localizada no leste da China que vem crescendo nos últimos anos, muito acima da média e fora do padrão chinês de desenvolver e fabricar motocicletas.
A indústria chinesa sempre foi voltada para motos de baixa cilindrada que são o maior volume dos modelos consumidos por lá, além da Ásia, Leste Europeu, África, América do Sul e Central.
Mas recentemente, algumas marcas melhoraram muito seus produtos, arriscaram em inovação de design, que sempre foi de gosto duvidoso, nova motorização e tecnologias. Como exemplo duas marcas, a Benda Motorcycle e a CFMOTOS, empresas que vem se expandindo para novos mercados fora da China, introduzindo algumas motocicletas únicas e atraindo os olhares do mundo.
A Benda surpreendeu, com a naked B LFS 700, e a cruiser B LFC 700. A CF Motos também com sua linha de motos diferenciadas, a CF Moto 700 CL-X Heritage e Sport.
As duas marcas foram agressivas em inovação em se falando de motos chinesas e usaram de criatividade e motores de média cilindrada para concorrer na Europa no mesmo segmento que Ducati e Yamaha, por exemplo.
Para estas duas empresas chinesas conquistarem outros mercados, ainda vai ser um desafio e tanto, mas não impossível. Além dos detalhes técnicos interessantes de seus modelos e a reformulação no gerenciamento de estratégias, contam com a vantagem do preço mais competitivo e acessível que só os “chineses conseguem” comparado com marcas europeias e japonesas.
Agora é preciso aguardar como vai ser a questão da qualidade, que infelizmente sempre foi um “assunto mal resolvido” nas motocicletas chinesas, (eu sofri muito com motos chinesas, tentando solucionar problemas de qualidade, design e motorização nas empresas que trabalhei na China e no Brasil).
Mas com as “revoluções” internas que estas duas empresas fizeram ao longo dos anos, eles devem ter se preocupado com essa questão, e podem vir a surpreender também na qualidade, que é um item muito importante se querem mesmo ter destaque dentro do concorrido mercado mundial de motocicletas. Dinheiro para gastar com desenvolvimento e melhorias os chineses tem sobrando.
Também acredito que se prevalecer a cultura chinesa de copiar, provavelmente isso vai levar outras empresas locais irem na “cola” da Benda e da CFMOTOS, repensando suas estratégias de produto, e assim provavelmente um novo momento poderia estar começando no mercado chinês de motocicletas. Será?
Eu acho que ainda vai demorar um pouco para a grande maioria das fábricas de motocicletas chinesas se desenvolverem de verdade, principalmente ganhar credibilidade de produto confiável
e sem qualquer semelhança, para não dizer cópias idênticas das grandes fábricas japonesas, europeias ou americanas.
Mas uma coisa é certa, nunca duvide do que um chinês motivado em querer superar o seu concorrente da fábrica ao lado é capaz de fazer para se destacar, e também se tornar um nome forte no mercado mundial de motocicletas. Seria isso tudo um sonho....
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