Viagem de 3.000 quilômetros pelos EUA
George Alexandre conta sobre sua melhor viagem em duas rodas, passando pela famosa Rota 66.
Por Roberto Brandão
Por Roberto Brandão
George Alexandre
Tudo começou em Janeiro de 2006 quando eu comprei minha primeira moto, uma Suzuki Savage 650. Comprei por necessidade, pois estava sem carro e sem dinheiro para comprar um. Peguei gosto pela coisa e comecei a imaginar como seria uma daquelas grandes viagens, que às vezes lemos nas revistas especializadas ou na Internet.
A idéia foi amadurecendo e no início de 2009 decidi que era o momento de fazer a sonhada viagem e os EUA foram eleitos, por ser (em minha humilde opinião) o berço da humanidade motociclística, a Rota 66 e Harley-Davidson. O primeiro desafio foi convencer a esposa a fazermos o investimento. Comecei a pesquisar na Internet, relatos de pessoas que haviam viajado pela 66. Foram semanas de pesquisas e anotações, buscando o melhor local para alugar a moto e dicas de roteiros de viagem.
No início eu estava buscando por uma agência de viagem daqui do Brasil, para contratar a locação da moto ou um pacote para uma viagem guiada (guided tour). Conversei com vários agentes de viagem, mas sentia que faltava algo, pois eles nem sempre tinham as respostas para minhas perguntas sobre detalhes da viagem. Perguntas que consegui resposta na locadora de motos Eaglerider, a maior do mundo, com sede nos EUA. Atendimento de primeira e sem aquela conversa de vendedor pra você fechar negócio logo. Além do mais, as empresas daqui vendem o pacote da Eaglerider. Depois de muitos e-mails trocados e telefonemas, fechei o pacote de oito dias de viagem, passando pela Route 66, diretamente com a Eaglerider de Los Angeles. Comprei o pacote do tour saindo de Los Angeles e chegando à Las Vegas. Este pacote pode ser parcelado em 4 vezes no cartão de crédito.
Depois do passeio contratado fui pesquisar as passagens aéreas, saindo de São Paulo, com destino a Los Angeles e retornando de Las Vegas para São Paulo. O melhor preço encontrado foi de US 1.100, pela American Airlines. Alguns cuidados devem ser tomados com a compra das passagens aéreas: atenção ao tempo de espera por conexões, pois sua viagem pode ficar muito longa; procure não chegar ao destino final (LA) muito tarde, pois os serviços de transportes para os hotéis terminam às 22 horas. Passado o horário, você vai ter que pegar um táxi, e lá também tem os picaretas que ficam rodando com você. Decidi então chegar em LA quatro dias antes do início do passeio, que seria dia 26 de julho. Comprei a passagem para dia 21 de julho e reservei hotel em LA para os quatro dias, pois os hotéis durante o tour, já estavam reservados pela Eaglerider. Para a volta, optei por ficar cinco dias em Las Vegas, descansando e conhecendo a cidade.
Em Los Angeles, reservei o hotel Ramada por US 50 a diária, sem café da manhã. Este hotel fica perto da Eaglerider e do aeroporto de Los Angeles (LAX). Se pegar um táxi do aeroporto até o hotel, o custo será de US 18 (valor mínimo da corrida). Deve-se tomar cuidado com hotéis mal localizados, em regiões muito distantes. Em Las Vegas, o hotel escolhido foi o Hotel Cassino Excalibur, onde as diárias variam de US 36 (durante a semana) e US 160 (sexta e sábado), também sem café da manhã. Porém no Excalibur, você paga US 25 por dia e come a vontade o dia todo no restaurante do hotel. O Hotel fica muito bem localizado e perto de tudo. Partimos de Guarulhos, SP, dia 21 de julho, pela manhã, com chegada prevista para 22h30 em LA (horário local). A diferença de fuso é de 4 horas a menos em LA. A viagem foi tranqüila e a conexão foi em Miami, onde passamos pela imigração. Quando você faz uma conexão nos EUA, você deve retirar a bagagem e embarcá-la novamente. Quando retornar e tiver conexão dentro dos EUA, não precisará retirar a bagagem.
Primeiro dia em LA
Depois de chegar ao aeroporto às 22h30 e pegar um táxi para uma corridinha pequena de US 18,00 e ouvir o motorista indiano praguejando, estávamos bem instalados no Ramada LAX e fomos dormir. Manhã do primeiro dia em LA e saímos para tomar café no Jack in the Box (lembram dele?). Cuidado com as calorias. Terminamos o café e pensamos em sair para conhecer a cidade. Descobrimos que o transporte público é muito deficiente, inclusive o metrô serve muito mal a cidade. Quem não tem carro não vive bem em LA. O que fazer, pois a moto só estaria disponível dia 26 e ainda era dia 22. Vamos na Eaglerider ver se conseguimos adiantar o aluguel. Fomos até a Eaglerider (a pé mesmo) e conversamos com a pessoa que havia nos vendido o pacote, que nos ofereceu a mesma moto, para quatro dias extras a um valor irrecusável (US 49, a diária extra + seguros). Pegamos a moto ali mesmo, uma Electra Glide azul.
Nosso primeiro passeio foi para as praias de Santa Mônica e Malibu. Tudo era novo para nós e estávamos aprendendo a andar de moto pelos Estados Unidos e tentando aprender um pouco da cultura motociclística local. Para nossa surpresa, tudo funciona muito bem no transito, moto respeita moto, carro respeita moto, moto respeita carro e assim vai. Neste dia paramos em uma praia para curtir o verão. Todos que estão de moto se cumprimentam, sem utilizar a buzina, estendendo o braço esquerdo para baixo. Isso eu aprendi em 20 minutos de estrada, dado ao grande número de motos que cruzei. O melhor do dia estava por vir.
Voltando da praia, em um determinado ponto, eu estava no centro da pista e ouvi um “sonzão” de motor atrás de mim. Era um senhor com uma HD (V-ROD) customizada, que se aproximou e não me ultrapassou. Achei estranho, pois ele poderia dar uma “forçadinha” e me ultrapassar sem utilizar muito a outra pista. Coloquei minha moto no canto esquerdo da pista e ele se aproximou mais e não ultrapassou. Enquanto não o chamei para me ultrapassar, ele não veio. Após meu sinal ele emparelhou comigo, deu aquela acelerada fazendo o motor gritar e me agradeceu balançando a cabeça.
Segundo dia em LA
No segundo dia, tentamos visitar os estúdios da Universal, mas um “probleminha” não nos deixou chegar até lá. Fui sair do posto de gasolina e não percebi que no meio do posto a guia não era rebaixada. Resultado, a moto bateu embaixo e quebrou a mola do pezinho. Depois de amarrar o descanso com um arame, fui até a Eaglerider, que estava a 40 km de distância, para fazer o reparo. Com isso perdemos toda a manhã. Para não perder o dia, fomos à Malibu pra tomar uma cervejinha no Neptunes.
Terceiro Dia
Vamos pular este dia, pois passamos o dia todo em visita a uns amigos: Mickey, Pateta e Pato Donald, na Disney
Quarto Dia em LA
Neste dia aproveitamos para fazer compras, pois foi nosso último dia em LA. No dia 27 vamos colocar o pé na estrada rumo a Palm Springs.
Quinto Dia
Neste dia nos juntamos a um grupo de mais seis motos, para fazer o passeio de 2.400 Km por estradas dos EUA. Saímos 10 horas da Eaglerider, com destino a Palm Springs. Na primeira parada já pudemos ter uma idéia do que nos aguardava. Mirante para o lago Elsinore. Nesta parada fomos alertados para utilizar camiseta de manga comprida, pois o sol seria muito forte a partir dali. E assim foi, por três dias consecutivos. Nossa parada para o almoço foi em um simpático restaurante da cidade de Hemet. Dali seguimos viagem passando por San Bernardino, Palm Desert e Palm Springs onde passamos a noite. Neste dia rodamos 252 km.
Sexto Dia
O dia em que encontramos a 66. O passeio está maravilhoso, as estradas são lindas e o visual é indescritível. Neste dia Nossa primeira parada foi no parque Joshua Tree (no deserto) onde a Marcy deu uma voltinha pilotando a Electra Glide. Depois disso atravessamos 130 Km de deserto, sem nenhuma sombra, enfrentando 44 graus de calor, quase insuportável (um insuportável maravilhoso) e impossível andar de manga curta. Exagere no protetor solar (mínimo FPS 30 e passando de hora em hora). Para terem uma idéia, minha perna queimou por causa do sol (eu estava de calça jeans) e minha mão também, mesmo utilizando luvas. Sinceramente não sei como estas motos aguentam. Dica: leve algumas bandanas para que sejam enroladas (molhadas) no pescoço e não deixem de carregar muita água para atravessar o deserto. Provavelmente você vai precisar parar para se refrescar.
Às 13 horas chegamos na 66, onde paramos no posto Hoys (na cidade de Amboy). Um local histórico, porém sem muita atratividade. O bom mesmo é a sombrinha para se refrescar. Não gaste dinheiro com bugigangas ali, pois no dia seguinte terá melhores oportunidades. Depois desta parada, seguimos para o destino final deste dia, Laughlin, que é uma mini Las Vegas. Nunca vi lugar mais quente a noite. Na rua soprava um vento quente, que parecia ar quente de carro, ligado em pleno verão.
Sétimo Dia
Neste dia passamos pelo Colorado e entramos no estado do Arizona. Conhecemos a parte mais bonita e emocionante da 66. Um visual incrível e inimaginável. Lá deixamos a marca dos Maníacos (Moto Grupo). A maioria das motos que encontramos nas estradas são Harley Davidson, raramente encontramos Honda e outras. A segunda mais vista é a Gold Wing e a GS 1200 da BMW. Moto Speedy é raridade. Depois de entrarmos na 66 paramos na cidade de Oatman. Pequena e turística cidade a beira da Route 66, um ótimo lugar para comprar camisetas da rota, baratas e de boa qualidade, com uma série imensa de estampas, para todos os gostos e bolsos, com preços que partem de US 10. Depois seguimos pela parte mais bonita da 66, até chegarmos ao Hackberry General Store, um lugar simples, mas muito simpático, a cara da 66. Um local bem interessante para comprar lembranças (canecas, cinzeiros, adesivos, isqueiros, bonés e camisetas um pouco mais sofisticadas que as de Oatman).
Saímos rumo a Flagstaff, última parada antes do Grand Canyon. Logo na entrada da cidade tem um bar fantástico, Cruiser’s Cafe 66 - com um belo barbecue. Procurando bem, você encontrará camisetas Harley Davidson com preços ótimos. Se deixou de comprar algo de lembrança para os amigos, lá existem boas lojas de souvenirs. Seguimos para o Grand Canyon, e chegamos às 18hs30 no hotel Best Western Squire inn, bem perto da entrada do parque. Quase ia me esquecendo. Na chegada ao Hotel, o alemão que pilotava uma Electra Glide, deixou ela cair quando parava (foi a segunda vez).
Oitavo Dia
Passamos a noite no hotel Best Western Squire inn e logo cedo fomos para o Grand Canyon. O visual é muito bonito e vale a pena visitar este parque. O ingresso para o parque custa US 12,00 por pessoa ou US 25 por veículo. Você pode também comprar um ingresso que vale para diversos parques: Joshua Tree , Grand Canyon, Bryce Canyon, Zion e outros. Este ingresso custa US 100, para duas pessoas. No início do dia, o clima estava bem mais ameno e agradável para pilotar. Depois passamos pela área de deserto, onde a coisa esquentou.
Saindo do Grand Canyon, fomos em direção de Monument Valley. Lugar com formações rochosas muito bonitas. Nesta noite nos hospedamos em um maravilhoso hotel, no meio do nada, Hat Rock Inn. Hotel na beira da estrada, que em um primeiro momento parece muito simples, mas no fundos do mesmo passa um rio, onde existe uma área que dá pra fazer um belo churrasco. Neste dia passamos por regiões com bastante área verde, deserto e montanhas vermelhas. Percorremos 320 Km.
Nono Dia
Saímos de Monument Valley, com destino à Bryce Canyon, onde percorremos um trecho de subida na terra (com cascalho) de 4 km. A paisagem deste dia foi uma das mais bonitas que já vi. Passamos pelo Glen Canyon, com vistas maravilhosas e indescritíveis, como a da ponte acima, que atravessa o Rio Colorado. Almoçamos no Stan’s Burger Shak, na cidade de Hanksville, no estado de Utah. Neste dia percorremos 550 km e passamos a noite ao lado do Bryce canyon Park, no hotel Best Western Ruby’s Inn. Um lugar bem legal e animado.
Décimo e último Dia
No último dia fomos de Bryce Canion para Las Vegas (passando pelo Zion National Parque). Este último parque, o mais bonito e interessante de todos. Neste dia foram 400 km e no final do percurso voltamos a passar por um deserto, onde ventava muito e dificultava a pilotagem das motos.
Las Vegas é uma cidade muito interessante, é a prova de que a arquitetura não tem limites (o dinheiro sim). Vale a pena ficar uns três dias em Las Vegas e ao contrário do que dizem, não é nada caro. Comece bem, hospeda-se bem e por pouco. Só como exemplo, hospedando-se no meio da semana, pode-se pagar US 40 a diária de um bom hotel cassino (Excalibur), que tem quarto grande, confortável e uma ótima cama king, além de uma piscina fantástica.
Foi uma experiência muito interessante, desde o aquecimento nas estradas da Califórnia, até o percurso que passava pela Rota 66 (route 66). Foram mais de 3.000 Km, passando pelos estados, Califórnia, Arizona, Colorado, Utah e Nevada. A melhor viagem da minha vida. Abraço à todos, e até a próxima.
Segue um breve resumo dos gastos, contemplando um casal, todas as refeições, hotéis em um tour guiado (com guia e veiculo de apoio).
Valores em US passagens GRU - LAX 2.020,00 Táxis e ônibus 240,00 Moto + Hoteis + Apoio 4.946,00 refeições 1.200,00 Parques / shows 380,00 outros 150,00 combustível 225,00 hotéis extras 640,00 Total 9.801,00 Abaixo o link dos vídeos que fizemos nesta viagem.
Primeiro Dia
O “motonauta” George Alexandre participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.
Contato George Alexandre: [email protected]
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