Viagem à Terra das Lembranças

O motonauta Rafael Zermiani escreveu sobre sua inesquecível jornada à Cordilheira dos Andes.

Por Roberto Brandão

Rafael Zermiani

Eu e mais três amigos, Douglas, Anderson e, o mais experiente viajante, Jaílton, marcamos uma viagem a Cordilheira dos Andes na parte Argentina. Moramos em Santa Catarina, mais precisamente no Alto Vale do Itajaí, região sudeste do estado. Todos nós somos grandes amigos e nos conhecemos há bastante tempo.

Em fevereiro de 2008 fizemos a nossa maior viagem sobre duas rodas, uma jornada de 13 dias de viagem e 4.604 quilômetros percorridos, ida e volta. Eu montava minha Honda XL 1000V Varadero, Douglas com a sua Suzuki DL 1000 V-Strom, Anderson com uma Honda Shadow VT 600 e Jaílton com uma BMW K1200. Todas as motos magníficas, confortáveis e com muita potência para completar com facilidade esse percurso de mais de 4.500 quilômetros.

A viagem foi proposta pelo Jaílton, que é uma pessoa extremamente aventureira e que está sempre disposto a conhecer novos lugares, que pareçam atraentes, pois para ele não existe viagem que não tenha valido a pena. Ele hoje está com 54 anos e um vigor que poucas pessoas de 20 anos possuem. Jaílton já esteve em lugares maravilhosos, nos mais diversos cantos do Brasil e também foi diversas vezes ao Uruguai, Argentina e chegando uma vez ao território Chileno.

Com certeza, todos aqueles que tem a oportunidade de conhecê-lo ficam fascinados com suas histórias e relatos de lugares magníficos, “pikos” que perfeitamente poderiam ser considerados como maravilhas da natureza. Ele sempre mostra as fotos e relata detalhadamente cada acontecimento vivido.

Era manhã de sábado do dia dois de fevereiro de 2008 e eu estava eufórico com o passeio que iríamos fazer naqueles dias. Lembro de ter conferido a bagagem umas oito vezes antes de sair, afinal era minha primeira viagem internacional pilotando uma moto. Dei um beijo de despedida em minha mulher e um abraço em meus dois filhos: Gabriel com 17 anos e Matheus com 15. Lembro-me perfeitamente da Mônica (minha esposa) dizer para me cuidar e dizer que me amava. Nessa hora uma lágrima escorreu de seu rosto. Saí então um pouco preocupado, mas sabia que ela ficaria bem.

Encontrei-me com meus amigos em frente a uma lanchonete. Fizemos então uma oração pedindo a Deus que nada de ruim nos acontecesse em nossa viagem, e que nossas famílias estivessem sob sua proteção. Saímos então, mantendo uma velocidade constante próxima dos 100 km/h e em nenhum momento passamos dos 160 km/h. Registrando cada parada e cada curiosidade que encontrávamos.

Combinamos que se um de nós tivesse qualquer problema ou se sentisse cansado pararíamos e só seguiríamos viagem se todos estivessem bem. Mas graças a Deus não tivemos grandes problemas durante a nossa “trip”, apenas um pneu furado da Suzuki do Douglas, e um problema de refrigeração do motor da moto do Jaílton. Parávamos diversas vezes para abastecer, esticar as pernas e comer alguma coisa. Chegando a noite ficamos hospedados em um hotel, e depois do café da manhã de domingo seguimos viagem.

Domingo então cruzamos a fronteira entre Brasil e Argentina, dormindo naquela noite já em território “hermanito”. Fomos muito bem tratados e a comida agradou mais que o esperado. Passamos por diversos pontos turísticos e ficamos encantados com as belezas que existem por lá.

Chegamos ao nosso destino. Estávamos bastante cansados e ficamos hospedados em um maravilhoso hotel em San Carlos de Bariloche, no alto do Cerro Viejo, com uma espetacular vista para o lago Nahuel Huapi, tendo como plano de fundo a Cordilheira dos Andes. Simplesmente magnífico! Tudo era perfeito naquele lugar. O clima era frio, mas naquele dia raiava um Sol espetacular, dando uma sensação de perfeito aconchego. Ficamos por lá durante três dias conhecendo o lugar.

A hora de retornar, infelizmente, havia chegado. Fomos a uma loja para comprar água, outros mantimentos e algumas lembranças para nossas mulheres. E novamente encaramos o asfalto. Na viagem de volta pegamos um dia de chuva bastante forte que nos fez parar em hotel, o que nos atrasou um pouco.

Em uma de nossas paradas encontramos um outro grupo de aventureiros do Rio Grande do Sul que estavam indo visitar as Cataratas em Foz do Iguaçu. Trocamos experiências, e combinamos de um dia irmos visitar juntos pontos turísticos espalhados pela América Latina.

No final da tarde de sexta feira, dia 15 de fevereiro, chegamos novamente à lanchonete que havia servido de ponto de partida para a nossa aventura. Marcados no painel de minha moto 4.604 km percorridos.

Muitas histórias para contar e a certeza que nada supera a amizade que temos uns pelos outros. Voltamos a nos encontrar no sábado, agora acompanhados por nossas mulheres e alguns de nossos filhos que puderam comparecer. Recordamos de toda nossa viagem, que se tornou tão especial pela nossa amizade e pela liberdade que somente uma moto pode proporcionar. Embora eu tenha 49 anos, me sinto como um garoto de 18 quando estou pilotando minha moto, tamanho o prazer que isto me proporciona. Um grande abraço à todos.

O “motonauta”  Rafael Zermiani participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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