Uma incrível expedição de moto para Ushuaia em 3 dias
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Por Aladim Lopes Gonçalves
Por Aladim Lopes Gonçalves
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Gustavo Veríssimo
Meados de maio de 2016. Eram 12:30, hora de dar um break na rotina para almoçar com os parceiros do GS-22 Adv Rider's. Rumo ao local marcado, no caminho o assunto moto já começa a permear os pensamentos. Para onde podemos ir?
Ao chegar lá já estavam Gustavo (Guguzão) e Hélder (Meme), nos cumprimentamos e ao sentar e olharmos-nos, antes mesmo de pedir o almoço, simultaneamente nos perguntamos. E aí, vamos viajar de moto?
A resposta foi unânime e contundente.
"Borá", responderam os três instantaneamente.
Foi o único ponto em comum, pois daí pra frente se desenharia o maior desafio de nossas vidas.
Guguzão já sabia para onde iríamos e não teve muito trabalho para nos convencer. O destino seria o Fin del Mundo - Ushuaia a cidade mais ao sul do planeta, onde se consegue chegar com uma motocicleta.
Mas ir à cidade mais emblemática para motociclistas da América do Sul e talvez uma das mais desejadas rotas no mundo, não era o suficiente, pois tínhamos acabado de completar um ano do Challenge Day. Desafio realizado em abril de 2015 que consistia rodar de Santos-SP até Colônia del Sacramento-Uruguai em 24:00. O fato de ter conseguido completar os 2.200 km em 23:24 com 10 motocicletas, nos motivava a buscar algo maior.
Foi quando o Meme sugeriu irmos até o Ushuaia em 3 dias.
Na hora disse não dá! são 5.200 km em 3 dias, você só pode estar louco!
Mas ao dizer isso, fui tomado por sentimento de angústia, pois o tempo e o espaço talvez estivessem limitando minha imaginação. O espírito livre que habita nosso corações de motociclistas estava aprisionado. Acorrentado na razão do que a experiência já havia nos mostrado. A dureza de acumular horas intermináveis e km, que para qualquer um já faria desistir da idéia assim que a mesma tivesse sido proferida.
Hora de voltar à rotina, para de sonhar e encarrar o trabalho.
Mas ao tomar o caminho de volta ao escritório eu sabia que uma semente acabara de germinar e que depois daquela conversa, com algumas horas debruçado sobre mapas, calculadora e GPS, eu daria um telefonema aos percursores do projeto e por acreditar em nossa capacidade de realização em grupo, fui categórico:
"Se vocês acreditam que podemos, então vamos fazer."
E partir de então começamos a recolher as informações e planejar para por em pratica esta odisseia sobre duas rodas.
Com a data definida para a partida 07/10/2016. Fomos em busca de mais alguém que topasse dividir este calvário conosco. E se vocês pensam que foi difícil encontrar malucos que acreditassem que era possível realizar tal feito, se enganam redondamente, par a este desafio a única exigência era que todas as motos fossem iguais e logo Leonardo Lourenço (Leozinho) e Leonardo Viana (Leozão), se mostraram aptos e integraram a equipe que totalizou 5 integrantes.
Apesar de certa experiência em viagens pela América do Sul, achar o melhor caminho, definir a km que rodaríamos por dia e onde iríamos pernoitar, não foi tarefa fácil. Apesar de termos tudo isso mapeado sabíamos que nossa planilha só serviria há título de orientação, pois em uma viagem de motocicleta existem tantas variáveis que só Eistein conseguiria colocar todas em uma equação de tempo e espaço para estabelecer a porcentagem de sucesso desta Viagem.
Como fomos todos alunos medianos no período escolar, nossa vontade e determinação eram as únicas variáveis que apontavam para o êxito, dentro daquilo que havia sido proposto.
O tempo, o elemento inexorável na vida de qualquer ser vivo, nos colocou de pé no dia 07/10/2016 e às 04:40, foi percorrido o 1º metro desta jornada que começava chuvosa e sem perspectiva de melhora ao decorrer do dia. Sabíamos que o Clima seria um de nossos maiores inimigos, pois esta época que foi escolhida justamente porque o frio nos traria em tese um caminho mais livre para que pudéssemos cumprir o que estava determinado.
O Caminho seguiu chuvoso até Curitiba e quando começou a secar a capital Paranaense mostrou o porque tem a fama de ser uma das mais frias do país. Confesso que rodar com 14ºC não é uma experiência muito agradável, mas não tínhamos do que reclamar, afinal estava calor, perto do que iríamos enfrentar.
Uma parada em Florianópolis para pegar uma encomenda feita pelo Guguzão, mas que na verdade se revelaria em dado momento um presente divino.
Após esta parada como diria o Leozão, foi "Pau no Cats" até chegarmos as 20:30 h na Fronteira do Brasil (Jaguarão) com o Uruguai (Rio Branco) imigração e aduana relâmpagos nos permitiram realizar a 1ª refeição do dia. Após mais 3 horas rodando debaixo de intensa chuva e um vento lateral característico da região é uma temperatura de 7ºC, chegamos em Minas-Uruguai depois de 1.800 km rodados no 1º dia.
08/10/2016 - Este seria o dia D, pois teríamos 2.093 km pela frente, pão seco nos quartos e sucos de caixinha foram nosso café da manhã, pois o hotel só serviria o desajuno a partir das 07:00 e francamente à esta hora já estaríamos bem longe do hotel. Nos aproximando de Pando subúrbio de Montevidéu, nos deparamos com uma variável que pouco nos preocupava, mas que neste segundo dia nos segurou em demasia, o trânsito da capital Uruguaia em dia chuvoso refletia em um raio de 35 km, o que nos obrigou a percorrer rotas alternativas e andar por áreas residências que diminuíram é muito o ritmo da viagem. E qualquer atraso em uma aventura justa como está cria um efeito dominó devastador, conseguimos chegar em Colônia del Sacramento as 09:30 para embarcarmos no Buque Bus (Transporte Fluvial realizado por embarcações para transpor o Rio da Prata) e nos colocar em Buenos Aires bem na hora do Rush, isso nos tomou muito tempo e percebemos que o que nos ligava ao nosso objetivo era a vontade e o apoio dos 5 integrantes mais o restante do grupo que ficou em Santos na torcida para que conseguiremos atingir o objetivo proposto. Deixamos a capital portenha para trás e conseguimos impor um ritmo confortável, buscando uma árdua recuperação do tempo perdido. Paradas em barreiras policiais, que sempre rendiam boas fotos, mas que nos roubavam preciosas aceleradas dos ponteiros do relógio que em momento nenhum nos deu trégua e tão pouco aliviou a barra daquilo que naquele almoço nos parecia impossível. Chegamos em San Antonio Oeste as 23:30 para fazermos a única refeição do dia, em todas as outras paradas só nos hidratamos e comemos frutas secas e castanhas do Pará. Como um padrão que um desafio deste requer comemos Bife a Cavalo o mesmo cardápio do dia anterior. Com um déficit de 682 km, pois só conseguimos percorrer 1.411 km neste segundo dia. O Dia D havia mudado de data e o dia seguinte seria com certeza o mais desafiador.
09/10/2016 - Acordamos às 04:00 e resolvemos tomar nossa café da manhã, juntamente com o 1º abastecimento do dia, começamos a rodar ainda escuro e com 4ºC de temperatura, mas o dia se mostrava promissor e fomos presenteados com o mais bonito nascer do Sol, e naquele momento de céu avermelhado e dourado, criou-se um momento de êxtase, pois o cenário era exatamente igual ao por do Sol do dia anterior, o que nos permitiu sonhar que o tempo havia parado par que pudéssemos correr atrás do nosso sonho, aquele momento nos motivou e nos fez lembrar do quanto tinha sido difícil chegar até ali e a partir daquele momento nada mais nos tiraria a vontade de completar aquela planilha que outrora nos amedrontava. Toda vez que parávamos para abastecer éramos informados pelo Guguzão que dezenas de mensagens de incentivo chegavam através do celular e o Hélder com sua alegria nos empurrava cada vez mais em direção ao nosso objetivo. À noite caiu e estávamos à beira do estreito de Magalhães, apenas 453 km nos separavam de nosso destino eram 22:00 e fomos informados que a fronteira do Chile estava fechada e que teríamos que pernoitar em Cerro Sombrero, para então a partir das 07:00 h podermos seguir até o destino final. Pois as 07:00 h após uma breve pausa estávamos rodando novamente. Vocês lembram do presente divino recolhido em Florianópolis no 1º dia da viagem, pois este presente se fez útil depois de 50 km de começarmos a rodar a encomenda que o Guguzão recolheu em Floripa era uma bota de Motocross que calçava seus pés que evitou algo muito pior na queda que ele sofreu, pois estourou ligamentos e quebrou a fíbula esquerda, nos deixando uma lição que nunca ignoramos em nossas viagens, que é sempre em qualquer situação é independente da distância, andar equipado. O mais incrível foi depois do ocorrido que nos deu um banho de água fria, mesmo sem saber a gravidade da lesão, foi ver o Guguzão subir em sua moto com dor e sofrimento e completar os 400 km restantes com garra e determinação que é a marca registrada do GS-22 Adv Raider's.
Depois de muita comemoração e alegria fomos ver o que tinha realmente acontecido com o Guguzão. Uma outra variável que nunca tínhamos vivido é a 5.200 km de casa, um parceiro de viagem estar machucado a ponto de não conseguir realizar a volta de moto. Começou uma mobilização intensa para que pudéssemos resolver de forma rápida, a ida do Guguzão para o Brasil, pois necessitaria de uma cirurgia. E como despacharíamos a moto para o Brasil. Impressionantemente quando postamos no grupo de WhatsApp se alguém teria a disponibilidade de ir de avião e voltar pilotando a moto, fomos surpreendidos novamente pela força e união de nosso grupo. Em menos de 30 minutos já haviam 3 voluntários dispostos a realizar embarque imediato para que a moto retornasse rodando. Ficou resolvido que o Marcelo Trettel (Trettel) seria o piloto responsável por levar de volta ao Brasil a moto do Guguzão, realizando assim o maior Test Ride que se tem notícias.
Demos início a uma maratona burocrática para que todos os documentos estivessem em ordem, aguardando apenas a chegada do Trettel.
Com tudo resolvido, começávamos a encarar uma realidade que desconhecíamos, pois a Aerolinhas Argentinas estavam em greve é isso retardou a ida do Trettel em 2 dias ao Ushuaia.
15/10/2016 - Enfim chega o Trettel e agora só precisávamos aguardar o embarque do Guguzão, que ocorreria no dia seguinte 16/10/2016, mesmo dia que começaríamos a voltar pra casa.
É assim aconteceu.
Saindo do Ushuaia já recebeu as boas vindas do clima Antártico 0ºC e seu batismo no Rípio com bastante vento lateral.
Chegamos em El Calafate, passagem obrigatória para quem vai ao Ushuaia. Conhecer ou revisitar Perito Moreno sempre é uma experiência Mágica.
18/10/2016 - Começa oficialmente a volta para casa. Um parada em Rio Gallegos para trocar o pneu traseiro do Leozão, que derreteu após 6.000 km, perdemos bastante tempo, pois chegamos em horário de almoço e todas as lojas estavam fechadas e só reabririam as 15:00 isso também alterou nossa programação de pernoite e acabamos dormindo em Puerto San Julian.
19/10/2016 - Começamos a rodar muito cedo é nosso companheiro fiel "O Frio" nos acompanhando incondicionalmente, muita Neblina ao nos aproximarmos de Calleta Oliva e apesar do dia ter sido cansativo, conseguimos rodar bem e ficar 1.520 km mais perto de casa.
20/10/2016 - Partimos cedo e dia começou com céu limpo e frio. Faltando 230 km para chegarmos em Buenos Aires, nos arredores de Las Flores, fomos apanhados por uma tempestade com rajadas de vento muito fortes é uma chuva torrencial, essa chuva nos atrapalharia até o final do dia, mas ainda não sabíamos disso, o ritmo de viagem ficou completamente afetado pela tempestade, a moto escorregava demais, avisando que meu pneu traseiro já não resistiria rodar por muito mais tempo. Ao chegar em Buenos Aires nos encaminhamos ao Buque Bus e fomos surpreendidos pela notícia que o Porto de Colônia del Sacramento, estava fechado em virtude do mal tempo. É que se conseguíssemos embarcar provavelmente seria no último barco as 21:30. Foi então que resolvemos fazer um almojanta em Puerto Madero enquanto minha moto e a do Meme colocavam sapatos novinhos para que pudéssemos continuar a viagem. As 21:30 embarcamos para Colônia onde pernoitamos.
20/10/2016 - Dia de Rodar muito, tínhamos que chegar em Florianópolis, pois no dia seguinte as motos tinha revisão agendada na Concessionária TOP CAR, o que nos obrigaria a rodar 1.470 km para voltarmos ao cronograma original. Sem muitos percalços o dia transcorreu normalmente é cumprimos nosso objetivo.
21/10/2016 - Dia de cuidar das máquinas e de nós mesmos, levantamos cedo e fomos deixar as belezinhas na TOP CAR, para ganhar aquele carinho. Dali fomos todos cortar cabelo e fazer barba, para depois irmos até Ribeirão da Ilha, almoçar no Ostradamus que na verdade é uma extensão de nossa própria casa. Jaime, Maneca, Rafa e etc. realizamos um almoço padrão de 5 horas e depois fomos para o berço no hotel.
22/10/2016 - Hora de voltar pra casa, fomos buscar as motos para pegar a estrada, nos despedimos do Renato e Rodrigo Na TOP CAR. E rumamos para Santos.
A sensação de estar voltando para casa é algo inexplicável um misto de euforia por encontrar quem amamos e a nostalgia de ter vivido dia incríveis com pessoas tão especiais em nossas vidas. Na chegada muita festa e emoção e não há nada melhor depois de rodar 11.000 km no frio, do receber um abraço de um coração cheio de saudades e amor.
Fotos: Gustavo Veríssimo/Acervo Pessoal
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