Relato: ''Ainda bem que eu estava sozinho''

Fatos que acontecem em viagens que valem boas histórias e ótimas risadas.

Por Adilson

José Maurício

Viajo de moto há muitos anos e sempre prefiro estar acompanhado de amigos e bons parceiros de viagem. Mas, daquela vez, gostei de estar sozinho! Foi há uns 10 anos... Era uma sonhada viagem até o Chile.

Sonhada porque nunca havia conseguido o tempo necessário para a empreitada, pois as férias do trabalho nunca eram suficientes. Mas, naquele final de janeiro recebi a notícia: “Estamos desligando você da empresa e agradecendo a importante colaboração durante estes anos”.

O choque foi inevitável: E agora? Como saldar meus compromissos? E minha família, como ficará? O que farei? Bem, passada a fase do susto, alinhados os pensamentos e avaliadas as novas oportunidades que se apresentavam, tomei a decisão: Vou usar 20 dias para viajar! Na volta retomo o que deve ser retomado.

Finalmente minha viagem para o Chile sairia! Sem qualquer planejamento, apenas bem equipado e carregado de experiência, parti de São Paulo, capital. A viagem acabou sendo parcialmente frustrante, pois fui impedido de fazer a travessia da Cordilheira dos Andes, pois na minha opinião seria o ponto alto da viagem, mas por uma violenta nevasca, que durou mais de 15 dias, não foi possível.

Entre tantas coisas que acontecem em viagens grandes, o fato que destaco agora é pitoresco, aliás, cômico, um “mico” mesmo! Foi na Argentina. Desde Passo Fundo (RS), já rodando há dois dias e cerca de 2.000 km sob chuva torrencial, estava então na Ruta 8 (assim são chamadas as estradas na Argentina).

Chegando à divisa das Províncias de San Luis e Mendoza, me deparei com uma barreira rodoviária. Diminui a velocidade e li a placa que dizia para os caminhões seguirem em frente e para os autos e motos usarem uma passagem pela direita.

Numa rápida avaliação, notei que a tal saída pela direita era um verdadeiro atoleiro, se seguisse em frente me manteria na excelente pista asfaltada. Nova avaliação e não vi ninguém ao redor! Estava preocupado em respeitar a sinalização de um local onde não havia rodado, ainda mais fora do Brasil, mesmo assim, decidi: Nem a pau vou me meter nessa lama e cair com minha BMW R1100 RS toda carregada! Vou continuar em frente, pois é asfalto e afinal não há ninguém olhando.

Acelerei e me mantive em frente. Poucos metros depois passei por dois pequenos postes, um de cada lado da estrada, nem notei que eram fotocélulas. Assim que passei por elas, dispararam do chão vários jatos de spray com óleo e inseticida! A moto e eu ficamos completamente lambuzados!

Aquela era uma barreira fito-sanitária para desinfecção de caminhões, por isso a saída para carros e motos ao lado... Continuei tocando assustado, mas rindo e pensando: Ainda bem que não tem ninguém viajando comigo! Já imaginou a gozação no Pacaembu? Ninguém vai falar sobre a viagem, vai ser só sobre o banho de óleo que o Zé levou! E fui embora naquela chuva que, no final, lavou a mim e a moto de todo o óleo.
 
O “motonauta” José Maurício participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.
Fonte:
Moto Repórter

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