Paranapiacaba (SP): Da Neblina ao Sol

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker fazem um panorama do mundo das duas rodas e suas diferentes propostas

Por Alexandre Ciszewski

Locobreque, uma tremenda engenhoca para frear o trem no abismo. Faz tempo, na década de 1980 saio de São Paulo e vou de trem até Paranapiacaba, só para tentar entender como funcionava o Funicular, aproveitei e lógico rodei a pé pela cidade, mas cometi um pequeno erro, anoiteceu e não dava para enxergar 1 metro.

"Fog" Londrino e um frio de rachar, acabei me hospedando em uma casa de família, o tempo passou. Setembro de 2006 ... quem diria, recebo um convite para participar de um Encontro de Motos em ... adivinha?

Eu já fazia parte da MOTO.com.br e fui sim para Paranapiacaba (SP) e fiz uma singela homenagem a esse lugar misterioso, cheio de história, místico e repleta de lendas para serem ouvidas pelos viajantes. A reportagem saiu e o título foi: "O Futuro foi Ontem" (leia aqui). A ideia da Pinny conhecer Paranapiacaba surgiu de uma conversa que tivemos em Piranhas (AL) às margens do Rio São Francisco... e não é que ela foi?!



Subam a Bordo e Boa Viagem!

Subo mais uma vez na gatinha negra que amo tanto. Meu destino é Paranapiacaba (SP – Distrito de Santo André), sugestão do maridão Reinaldo. Uma Vila Inglesa no topo da Serra que surge no final do século 19 para escoar toda produção do café pelos trilhos. Dizem que é mal-assombrada e eu fui conferir.

Distraída descendo a Imigrantes a 80km/h, pensando na vida, perco a entrada do Rodoanel. Paro no primeiro Posto: “Pode completar, gasolina comum, por favor. Moço? Tem mais uma entrada pra Anchieta? Perdi o Rodoanel.” E abro um sorriso envergonhada. “Claro que sim. Mais adiante. ” E eu pensei: Ufa! estou salva. Mas perdendo a entrada para o Rodoanel, também perdi a entrada para Ribeirão Pires. Não sabendo acabei descendo a Anchieta até o fim. Lá de baixo, vendo aqueles dutos enormes subindo a serra eu pensava: “E Paranapiacaba está lá em cima! Caramba, errei feio.”



Mas para os amantes das estradas, errar não é problema. Errar significa conhecer novos caminhos e lugares. Sem stress subi a Anchieta todinha com muito caminhão que tornava tudo mais divertido, pois adoro ver as placas e cumprimentá-los. São viajantes como eu. Já perto do final da Anchieta (subindo) entro para Ribeirão Pires – sigo com destino a Paranapiacaba e escolho entrar pela parte Baixa (pista de terra). Pois assim eu poderia deixar a minha pequena bem na porta da Pousada.

Chegar, sabendo de toda história do vilarejo, é impactante. Meu coração se enche de emoção. Dou uma voltinha pela Vila que está se preparando para o festival de inverno que começaria na sexta dia 21/07/2017. Pergunto pela Pousada da Karla, Rua Nova, 15. Nessa Vila, todos os moradores se conhecem, são solidários, simpáticos e acolhedores. Aí fica fácil. Chego na Pousada e sou recebida pelos dois cachorrinhos que batizam as minhas duas rodas, abanando o rabinho e me dando as boas-vindas.

Agora é hora de andar pela Vila e conversar com os moradores. Histórias e mais histórias são reveladas pelo João Grilo (61 anos) e Dona Francisca, moradores antigos – figuras lendárias. Mas de todas, a que mais me convenceu foi a do balanço que balança sozinho. “Um turista até fotografou a balança que fica na praça e dava pra ver o vulto de um garoto nela. Uma criança balançando! ” Me confirma séria a moradora.

Verdade ou não, fato é: A Vila é mística. Com o constante vai e vem da neblina, tudo é possível quando se tem imaginação. As pessoas aparecem e no mesmo instante desaparecem, tornando tudo mais misterioso. As casas, esquinas, pontes surgem e descobre-se o encanto desta vila aos poucos. O ar úmido e o frio me fazem querer tomar um chá quente de folha de amora, oferecido pela Karla, minha anfitriã. Depois de ter andado pela Vila mergulhada no fog londrino penso comigo. “Será que vai estar assim amanhã de manhã? ”



E para minha surpresa o dia amanhece impressionantemente claro e limpo. Foi então que fiquei sabendo que a neblina só vem quando o sol vai embora – segundo os moradores. Lá pelas 15h, agora meu destino é Guararema e por dentro. SP 066 – Passando por Suzano/Mogi/Guararema. Uma estradinha deliciosa com diversão garantida para quem gosta de motocar. Lógico que em Suzano me perdi, mas nada de anormal. Perguntando se chega lá. Resumindo, muitos caminhos te levam à Paranapiacaba, e esse caminho também te levará a uma
grata surpresa, conhecer um pouco da História dos Trens, Trilhos e seus Personagens.

Abraços aos Irmãos Estradeiros
Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker (Pinny)

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker

Mais que motociclistas e fãs de motos, são hábeis contadores de histórias e profundos conhecedores do mundo das duas rodas, sendo verdadeiros apaixonados por viagens e aventuras pelas rodovias do país e nações vizinhas.



Fotos: Acervo pessoal


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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