De Cunha a Cruz de Ferro com a BMW F 800 GS

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker fazem um panorama do mundo das duas rodas e suas diferentes propostas

Por Alexandre Ciszewski

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker

Mais que motociclistas e fãs de motos, são hábeis contadores de histórias e profundos conhecedores do mundo das duas rodas, sendo verdadeiros apaixonados por viagens e aventuras pelas rodovias do país e nações vizinhas.
 
 
 
Década de 1980. Reinaldo conta uma história:

“Bom dia, enche o tanque por favor. ”
Chove de cachorro beber água em pé.
Mais uma vez eu estava retornando de Paraty para Ubatuba.
Naquela época a Estrada que ligava Paraty (RJ) a Cunha (SP) era de terra, e o subidão não perdoava, principalmente no verão quando chovia e tudo virava uma lama só. 
Tentei várias vezes fazer a rota, tanto de Cunha a Paraty quanto ao contrário, mas por conta das dificuldades encontradas eu voltava sempre para o ponto de partida. Foi assim também com a Cruz de Ferro no tempo das grandes pirambeiras. Eu era garoto e a viagem de Taubaté a Ubatuba era sempre recheada de emoção, que me lembre, nunca foi fácil rodar por aquelas bandas.

Completar a Estrada Real estava em meus planos, mas quem conseguiu foi a Pinny, com direito a passar também em São Luiz do Paraitinga, seguindo uma sugestão que dei a ela. Mas toda essa História começou com nossas idas e vindas nas rotas Mineiras e também uma vontade natural de completar o percurso que desde 2014 já havíamos traçado.

Suba a Bordo e boa viagem!

Pinny em julho 2017, quinta, dia 13, 5h30 da manhã – frio – 10 Graus, mas nada tira minha vontade de rodar. Vou pra Cunha. Saio de São Paulo começando a relaxar e curtir a viagem. Não tenho palavras para descrever como me sinto ao ver o sol nascer entre a neblina. Uma enorme bola branca, quase parece uma lua gigante. A dia vai clareando e logo chego na Dutra. Passando por Aparecida não posso deixar de agradecer em pensamento por estar viajando na minha GS. Logo avisto a Placa: Cunha! Uma euforia toma conta do meu estado de espirito e tudo muda. A estrada fica calma, pouco trânsito, uma paisagem bucólica, muito verde, araucárias me fazem lembrar do sul. É minha primeira viagem por caminhos novos sem a companhia do meu grande parceiro e maridão Reinaldo. Aliás foi ele que me incentivou a terminar o que havíamos começado em 2014 - Quando voltávamos de Goiás passando por Minas Gerais: A Estrada Real. Uma rota cheia de curvas, paisagens lindas, fazendas, muitas igrejas, pousadinhas charmosas e lugar para comer também não falta.

Na moto relembro de tudo que já fizemos juntos e agora estou sozinha com meus pensamentos. Para mim a melhor terapia. Logo na minha primeira parada no Km 22 da Rodovia Paulo Virgílio subo para visitar a linda Igreja que pertence a Guaratinguetá. A Paróquia do Santo Expedito. Logo vejo outro apaixonado pelas estradas que vinha de Curitiba e também tirava fotos. Sempre é bom encontrar com viajantes principalmente quando se está só.



Volto para a estrada com o coração acelerado de alegria pois ainda tem muito mais para ver. A serra é encantadora, mais e mais igrejas. Faço questão de parar e tirar fotos até chegar a divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro, quando começa a serra bloquetada. São quase meio dia e há muita humidade, a mata é linda e bem fechada em alguns trechos. Penso comigo: “muita calma, pois o piso está liso. ” Viajar sem a companhia do Reinaldo significa que preciso ter atenção redobrada. Não posso cometer erros. Parar a F 800 GS não é sempre uma tarefa fácil para mim. Tenho apenas 1,69m de altura mas alcanço o chão confortavelmente com a ajuda da minha Bota da Vilela Boots. E se o piso for irregular, faço uma boa análise antes de parar a minha menina.

A viagem se torna tão prazerosa que desejo que nunca acabe. A quase 10 km/h sem ninguém procuro por animais. Ouço um pássaro diferente que parece avisar aos outros que tem intruso. Telas largas cobrem a pista para que os animais silvestres possam atravessar de um lado ao outro. As vezes vejo uma clareira. Algumas bicicletas subindo e tropeiros! Uns 20 cavalos sobem de encontro a cachoeira que existe no caminho para beberem água. Comprimento e passo o mais invisível possível para não assustar os animais. Um mais lindo do que o outro.

A Serra parece querer receber turistas, pois o número de pousadas, casinhas de artesanato, alambiques e lugar para comer me surpreendem. Por mim pararia em todos, mas como já disse – com a GS penso 2 vezes. Cheguei até a desejar estar com a minha Ténéré 250. Faço uma parada para comer no Restaurante/Alambique D´Ouro. Do outro lado da pista um bom lugar em frente a mais uma linda Igreja onde posso parar a minha moto. Atravesso a pista a pé para comer um pastel de forno quentinho. Tinha acabado de sair. Relaxo, converso e sigo.



Mais um pouco e ..... Fim da brincadeira: asfalto, buracos e trânsito local pela frente. “Acaba assim? Puxa, estava tão bom”, penso. Mas chegar em Paraty também é legal. Consegui. Chego naquele Posto enorme antes de entrar em Paraty, que muitos conhecem e abasteço. É impressionante como as pessoas se interessam pelo que estou fazendo sozinha numa moto tão grande. De onde venho, para onde vou. Se não ando em grupo, se não é perigoso, mil perguntas que respondo com alegria.

Agora mais um trecho de pura diversão – rumo a Ubatuba onde vou pernoitar, pois na sexta pretendo subir a famosa e linda Serra de Taubaté a Cruz de Ferro! Paro no mirante do Saco da Ribeira para fotografar aquele monte de veleiros. Avistar o mar é sempre uma overdose de emoção. E mais uma vez sou abordada por 3 jovens que vieram me abraçar e dar os parabéns pela minha coragem. Eu retribuo o carinho e confesso que não acho que tenho coragem, eu tenho é curiosidade e paixão pela mototerapia.

No dia seguinte (sexta) acordo animadíssima às 7h30 para continuar rodando e encontrar com Reinaldo na beira da Represa de Igaratá. Não lembrava do que era e Serra CRUZ de FERRO! Tudo começa bem. Até avistar no trecho das curvas fechadas 3 carros e um ônibus em primeira subindo a passo de tartaruga. Para deixar tudo mais animado uma pick-up branca com um motorzão colada na minha traseira. E eu pensando: “Calma! Você sabe o que fazer, você já passou por coisas parecidas. Não é difícil. Só se concentrar e ultrapassar na hora certa, sem pressa.”



Passei o primeiro carro, o segundo e o terceiro. Chego no ônibus que com certeza está queimando a embreagem. O cheiro é forte. Consigo e me sinto trêmula, feliz, aliviada e vitoriosa. Para muitos subir essa serra é uma rotinha, tiro o chapéu, mas para mim foi a primeira vez de moto. E confesso que não gostaria de subir essa serra com trânsito intenso. Você não pode errar em nenhum momento, não tem chão. 10 km de curvas fechadas que foram um ótimo treino.

Ao chegar em Igaratá, em casa, cheia de coisas para contar ao Reinaldo (um dos poucos que vai me entender) – tenho a certeza de que não quero parar de rodar.

Fica aqui meu humilde relato de uma viagem pelas Serras de Cunha e Cruz de Ferro. Fortes Abraços aos Irmãos Estradeiros, aos amantes das Duas Rodas.

Karin Birgit Stoecker
52 anos

Fotos: Acervo pessoal

Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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