La Guzzi

Colunista viaja com uma Stelvio 1200 cc e fala das primeiras impressões ao pilotar essa big trail italiana

Por Aladim Lopes Gonçalves

Reinaldo Baptistucci

Estacionei no posto de gasolina ao lado de duas máquinas pra lá de polidas. Desmontei e fui tomar um café, de longe fiquei observando os dois motociclistas olhando atentamente para a moto. Na saída um deles não se conteve e perguntou:
-É chinesa?
  
A semana tinha passado num piscar de olhos e o que eu mais escutei em quase todos os lugares onde parei foi a infalível pergunta:
- É Chinesa ?
- Não, ela é italiana.
         
E vai ai um pouco da história de algumas marcas italianas  - Gilera (1909), Benelli (1911), Aermacchi (1912-1978) e Moto-Guzzi com o "Protótipo G.P." de 1920, que transformou-se no modelo "Normale" em 1921, ambos com 500 cc e 8 cv.

A Moto Guzzi foi precursora da projeção e construção de quadros mais dinâmicos para a prática motociclística e também do motor horizontal (a importância Histórica da Moto Guzzi será ainda mais evidente por, na década de 60, ter aperfeiçoado o motor V Twin transversal). É importante lembrar também da histórica e não menos famosa  Ducati que teve seu início em 1926 e que até hoje é um mito consagrado.

Liguei a Stelvio e ela prontamente respondeu, os dois jovens ficaram
pasmos:
-Vibra um pouco né??
-Sim.
-Tem um "suave" (eles foram educados) deslocamento lateral quando você acelera!!
-Sim.
-Tem ronco de Speed, mas não é!!
-Acertou em cheio, ela é uma big trail italiana, mas com tempero de speed.
-Quantos cavalos tem?
-109 cv.
-Quantas marchas tem?
- 6.
-Quanto pesa?
-251 kg com o tanque cheio até a boca.
-Quantos litros vai no tanque?
-18 litros no total.
-Ela é boa de curva?
-Vai ficar dificil eu responder, mas só vou falar mesmo e poder afirmar qualquer coisa depois que rodar com ela na Rodovia Oswaldo Cruz (SP), (Taubaté-Ubatuba), uma estrada cheia de curvas e uma serra pra lá de travada.
-Dei boa tarde, espetei primeira e fui pra estrada.

Na década de 90 rodei muito com uma DR 800 da Suzuki, mas pra falar verdade já não lembrava mais de como era pilotar uma big trail, não só pelo fato de elas serem muito altas do chão, mas também pelo torque absurdo que esses tipos de motos possuem, de qualquer forma eu ali saindo do posto meio desajeitado estava com uma Moto Guzzi Stelvio 1200 cc,zero bala embaixo das minhas pernas, e isso me dava um pequeno nó na garganta, pois estaria pilotando uma provável pimenta malagueta pra lá de famosa (não por aqui) mas que eu na verdade e francamente desconhecia totalmente.

Primeira, segunda, terceira, até ai as marchas são reduzidas, mostrando claramente que ela foi feita para subir escada, porém da quarta em diante, "ai, ai", sua performance lembra muito a de uma speed, ganhando aceleração e pondo à mostra seus 109 cavalos adormecidos, até a chegada da sexta marcha, que aos 100 km/h mostra o conta-giros a 3.550 rpm, quase um Overdrive.

Incrível também é sentir que ela não pede marcha, tanto faz você rodar em 4ª, 5ª ou mesmo 6ª, ela simplesmente não toma conhecimento, subindo ou descendo ela vai que vai acompanhada com um ronco grosso na ponta do escape e potencia de sobra nas retomadas.

Na Estrada... muitas curvas, na verdade uma baciada delas à minha frente, com a devida e merecida educação que eu fui acostumado a ter com a Suzy 1500, não me atrevi a deitar muito,foi dai que percebi que sim, ela adora um traçado caprichoso e bem travado, e pra quem tava acostumado a sair de frente... com essa “gata italiana” pode esquecer, pois ela segura firme a trajetória e pede mais inclinação.

Resumindo parei no acostamento para tirar umas fotos e mais uma vez cheguei a uma velha e já conhecida por mim... Conclusão:
- Vou, sem dúvida, ter que de novo aprender a andar de moto!

Não vou e nem pretendo traçar paralelos entre as concorrentes (GS e XT), mas que sem duvida essa italianinha apimentada incomoda, isso sem duvida é um fato consumado, não só pela performance mas também por toda a parafernália de tecnologia embutida em dois metros e pouco centímetros de espaço bem distribuídos e como um amigo meu afirmou depois de ter dado uma voltinha na Stelvio:
- Ela só tem um grande defeito... que era o documento estar em meu nome (Reinaldo) e não no nome dele (Claudio-Garage Code).

Em 750 km percorridos ela teve como media de consumo 22 km/l a uma velocidade que variou entre 80 a 100 km/h, aliás, eu nem precisei ficar fazendo as costumeiras contas pois o painel digital passa todas as informações, incluindo tempo de viagem e velocidade máxima no trecho percorrido bem como a temperatura ambiente, consumo de gasolina e AVRG Fuel (consumo médio).

Parte Técnica
1 – Suspensão dianteira e traseira (com muitas regulagens) – Marzocchi
2 – Freios - Brembo
3 – Injetada – Weber Marelli
4 – Motor em V 90º
5 – 4 válvulas por cilindro
6 – Transmissão final por cardan
7 – Projeto original do motor – Lino Tonti

Voltei para São Paulo mais uma vez pensativo, a moto é realmente incrível, e merecia ter um espaço maior por aqui, vamos ver se alguém se habilita e assume a Moto Guzzi no Brasil.

Abraços aos irmãos estradeiros.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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