Viagens
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Saí de casa dia 4 de novembro de 2019 sem saber ao certo o quanto iria rodar. A ideia era conhecer culinárias regionais compartilhando essas experiências nas redes sociais e, claro, fechar o ciclo de moto voltando ao ponto de partida.
Por onde iria passar eu só tinha uma ideia, por quanto tempo nem ideia tinha, mas nunca imaginei que demoraria tanto para fechar esse primeiro ciclo.
Até então ninguém sabia o que estava por vir. Quando a crise sanitária apertou estava no deserto do Atacama, Chile, nos momentos finais desse trecho da viagem por questões financeiras.
No final de março de 2020 as fronteiras entre os países começaram a fechar de um dia para o outro, sem saber muito bem o que ia acontecer, perdi o último dia em que a Argentina estaria aberta para entrada por terra e fiquei com receio de atravessar a Bolívia sem ter certeza que todos os documentos estavam certos.
Voltei para o Brasil de avião adiando por tempo indeterminado o fechamento deste primeiro trecho da experiência.
Um ano e meio depois, na primeira oportunidade voltei a Santiago, Chile, onde a moto ficou parada todo este tempo.
Falei sobre como foi a chegada no Chile aqui no Moto.com.br e depois a passagem por terra do Chile para a Argentina.
Porém o ciclo desta viagem precisava ser fechado e além da ansiedade de entrar em outros países pós Coronavírus, também estava com essa expectativa de concluir o percurso.
Na Argentina passei por Mendoza, por onde entrei, Córdoba e resolvi esticar até Buenos Aires onde quis visitar alguns restaurantes que vi em dois programas de uma plataforma de streaming. Valeu muito essa visita.
De Buenos Aires o plano era entrar no Brasil.
Um dia antes da partida, em uma sexta-feira, tive um problema com a corrente da moto depois que fiz o teste de PCR para entrar no Brasil. De última hora, com a oficina quase fechada, consegui resolver para ter tranquilidade para os quilómetros que me esperavam no dia seguinte.
De Buenos Aires, Argentina, a Uruguaiana, Brasil, foram quase 700 quilômetros de retas intermináveis mas muito bem conservadas.
Não consegui começar a rota cedo, mas, depois do trânsito de mais de uma hora para sair da região metropolitana de Buenos Aires, consegui recuperar um pouco de tempo com a estrada tranquila.
Por volta das 22 horas estava em Paso de Los Libres, última cidade Argentina antes da fronteira que atravessaria no dia seguinte. Consegui um hotel mais em conta para passar a noite por lá.
As 4 da manhã fui acordado com trovões fortes, o tempo mudou completamente depois de um dia muito quente.
Às 9h da manhã, ainda com chuva, ajeitei as coisas na moto e segui viagem.
Uma coisa que gosto nas estradas Argentinas é o padrão dos postos de gasolina da rede YPF que possuem a loja de conveniência FULL, as coisas não são tão baratas, mas em qualquer uma onde passei segue a mesma qualidade - em especial do café expresso que gosto muito.
Outra coisa são os postos de polícia separados a menos de 100 quilômetros de distância um dos outros. Em quase todos os que passei os guardas te fazem reduzir e dão uma olhada por cima para deixar seguir ou não, não fui parado em nenhum.
Depois de rodar menos de 15 min estava no Centro de Fronteira Paso de los Libres. Deixei a moto próxima à guarita e fui na Aduana para darem o visto de saída, tudo muito rápido e tranquilo.
O soldado argentino ainda me indicou duas oficiais brasileiros que só me perguntaram se eu estava carregando algo de valor que poderia ter comprado no nosso país vizinho e indicaram que depois da ponte precisaria passar na Aduana Brasileira.
Segui viagem ainda com chuva.
O local que as duas oficiais me indicaram depois da ponte estava fechado. O posto aduaneiro brasileiro estava completamente vazio.
Ainda parei em uma loja por perto para saber onde poderia oficializar minha entrada, mas nenhum morador de Uruguaiana sabia.
Continuei a viagem pois ainda percorreria 550 quilômetros até Passo Fundo no Rio Grande do Sul.
A chuva só deu trégua 6 horas depois que estava na estrada.
Diferente da Argentina, esse trecho brasileiro é uma região montanhosa, então reduzi bastante a velocidade média nas BRs 472, 285 e 377.
Em estradas com uma pista indo e outra voltando (com acostamento), muito caminhão, chuva e vento, foi um dia bem cansativo.
Além disso, tinha trechos recém pavimentados com as estradas ótimas, mas muito trechos muito esburacados e outros com a estrada distorcida, o que fazia desacelerar ainda mais.
No Brasil também tem postos policiais com recorrência nas estradas, mas quase todos vazios. E, neste trecho, mesmo com postos de gasolina com bandeiras conhecidas, as lojas de conveniência eram independentes, o que acho ótimo para negócios locais, mas sem muito padrão de qualidade.
Depois de passar uma semana em Passo Fundo para poder fazer as entregas de trabalho para meus clientes, dei sequência no último trecho de viagem.
Quase mil quilômetros me separavam do fechamento deste ciclo.
Consegui iniciar o percurso em uma sexta feira que estava mais tranquilo de trabalho. Mas o dia de estrada rendeu pouco.
Consegui rodar pouco mais de 400 quilômetros até São Mateus do Sul. Novamente pelos mesmos fatores: estrada em serra com curvas, muitos caminhões e trechos esburacados.
Foi bom porque experimentei uma Carne de Onça, comida típica do Paraná (não é de onça não, é uma carne moída crua que recebe esse nome porque seria o prato que a onça comeria).
No dia seguinte rodei os 100 quilómetros até Curitiba, PR, e então entrei na BR 116, uma autopista que tornou as coisas mais rápidas até São Paulo.
No final do dia cheguei em São Paulo e consegui, enfim, concluir esse primeiro ciclo de viagem. Foi gratificante chegar de volta no ponto de partida e pensar em tudo o que vivi neste período todo (contando estrada e quarentena).
Foram 20 mil quilômetros percorridos de moto, passando pelo Uruguai, Argentina e Chile, visitando mais de 150 cidades. Conheci bastante gente e experimentei muito gastronomia regional que você pode acompanhar em matérias como essa do Projeto O Mundo em Lanches: Comida Típica do Uruguai 10 Pratos Imperdíveis
Também te convido a seguir meu perfil do Instagram O Mundo em Lanches, a partir de fevereiro de 2022 começo um novo ciclo em uma viagem de moto conhecendo gastronomias regionais do nosso Brasil, claro, também vou mostrar muitos lugares, pessoas e culturas. Acompanhe e me dê dicas de sua região, serão muito bem vindas!