De São Paulo a Fraiburgo com o BMW Riders
Participamos do IV aniversário do grupo BMW Riders do Brasil, que aconteceu no interior de Santa Catarina.
Por Roberto Brandão
Por Roberto Brandão
Roberto Brandão Filho
Fomos convidados pelo presidente do BMW Riders do Brasil, o gaúcho Laury Koch, para participarmos do quarto aniversário do Grupo. A festa aconteceria nos dias 23 a 26 de junho, no hotel Renar, na cidade de Fraiburgo, Santa Catarina. Mas para participarmos do encontro precisávamos de motocicletas – duas, uma para mim e outra para Márcio Viana, editor do MOTO.com.br – para viajar de São Paulo até lá. Para nos ajudar, a BMW nos forneceu dois modelos de sua frota e por isso fomos capazes de fazer o relato desta viagem para vocês, nossos leitores.
Nossa intenção era descer até Curitiba pela serra do Rastro da Serpente, que no fim das contas aumenta a viagem de ida em quase 200 km (o que não é nenhum sacrifício devido à beleza do trecho), e dormir na capital do Paraná. No dia seguinte pegaríamos a BR 116, sentido Porto Alegre, e depois mais 60 km de uma estrada paralela até nosso destino. E antes de começar o relato dessa “trip”, preciso explicar o porque esta cidade foi escolhida.
Fraiburgo, ou Terra da Maça como é conhecida, fica a 700 km de São Paulo, 500 km de Porto Alegre, 385 km de Florianópolis e a 300 km de Curitiba. Cidade na região do Vale do Contestado faz parte da Rota da Amizade, que desde 2004 inclui as cidades de Frei Rogério, Videira, Treze Tilias, Joaçaba e Piratuba, cada uma com sua respectiva característica. A primeira se destaca pela cultura japonesa trazida por alguns sobreviventes da bomba atômica de Nagasaki que se instalaram na cidade. Videira tem colonização alemã e italiana, é a capital catarinense da uva, berço da Perdigão e tem um Observatório Astronômico. A cidade de Treze Tilias é muito charmosa e é a maior colônia austríaca fora do país. Joaçaba atrai seus turistas por conta de seu carnaval e Piratuba por suas águas termais.
A terra da maçã, Fraiburgo, foi fundada pela família Frey, originária da Alsácia, que chegou à região em 1919, atraída pelo ciclo da madeira, e instalou ali uma serraria. A família abriu as primeiras ruas e construiu uma barragem – que deu origem a um lago artificial, o Lago das Araucárias, verdadeiro cartão-postal da cidade. Com o rápido desenvolvimento da região, em 1949 ela se tornou distrito e cidade em 1961, desmembrando-se de Videira e de Curitibanos. Com a diminuição das matas devido à exploração da madeira, os colonizadores começaram a buscar outras fontes de renda. Além de plantar uva para fabricar vinho, os Frey plantaram mudas de macieiras para exportação para a Europa, o que deu início à transformação de Fraiburgo na Terra da Maçã - a fruta que melhor se adaptou à região e ao clima.
Além da maçã, Fraiburgo também é a cidade mais aventureira da Rota da Amizade. No parque da Mata nativa René Frey tem o passeio do Jagunço e o parque de Aventuras. O parque de aventuras conta com parede de escalada, paintball e tirolesa. O passeio é feito num caminhão preparado para um circuito alagado e cheio de lama chamado de Kaigang. Este monstro das terras anda no meio de lagos artificiais e desce ladeiras bem íngremes.
Antes disso, o município vivenciou a sangrenta Guerra do Contestado, que aconteceu entre outubro de 1912 e agosto de 1916. O conflito envolveu cerca de 20 mil camponeses que enfrentaram forças militares dos poderes federais e estaduais. O nome de Guerra do Contestado foi dado devido aos conflitos que ocorrem numa área de disputa territorial entre os estados do Parará e Santa Catarina.
Dica: Apesar de ser uma cidade encantadora em todas as estações do ano, o mais interessante é visitá-la no período de colheita da maçã, entre fevereiro e abril. Existem diversos pomares abertos para visitação do público.
Primeiro dia – São Paulo a Curitiba – Rastro da Serpente (clique aqui para ver trajeto no mapa):
Saímos de São Paulo na manhã da quarta-feira, véspera do feriado de Corpus Cristi, com um dia bonito e ensolarado, e o melhor, com duas belas máquinas da BMW – uma F 800 R e uma S 1000 RR. Combinamos com o Fernando, de Ilha Bela, de nos encontrar com um pequeno grupo que sairia de Alphaville às 9hs para irmos juntos até Curitiba pela serra do Rastro da Serpente. Era para ser assim, mas não foi. Atrasamos-nos um pouco e só conseguimos sair de São Paulo depois das 11hs da manhã, tendo que arrumar um jeito para nos encontrar mais para frente. A nossa sorte é que mais tarde o grupo nos confessou que também não saíram exatamente no horário estipulado.
Para pegar a serra do rastro da Serpente até Curitiba saímos pela rodovia Castelo Branco até Tatuí, para depois entrar na Rodovia Antonio Schincariol até Itapetininga, o segundo ponto de encontro do grupo, que pararia para abastecer, esticar um pouco as pernas e tomar aquele cafezinho. Fizemos este percurso de aproximados 185 km o mais rápido possível (sem abusar dos limites de velocidade), e não conseguimos alcançá-los na primeira parada. Pois bem, abastecemos e não perdemos mais tempo. Saímos em direção à Apiaí, cidade mais próxima da Serra e ponto de encontro para almoço, pela Rodovia Raposo Tavares e depois pela Rodovia Prof. Francisco da Silva Pontes (SP 127) sentido Capão Bonito. As condições das rodovias estão boas, mas de certo ponto até Apiaí está uma vergonha. Há trechos que no meio de uma curva o asfalto simplesmente acaba e vira terra, com muitos buracos. Para mim, que estava de S 1000 RR, foi bem trabalhoso. A toda momento tinha que ficar muito ligado, porque na próxima curva poderia ter um buraco bem grande. Na estrada, placas como Perigo de Morte, Meia Pista, Curva Perigosa, nos lembravam a todo minuto sobre a condição da pista.
Entretanto, chegamos bem à Apiaí. Assim que entramos na cidade e demos uma paradinha para tirar uma foto do portal, mandamos um torpedo para nosso único contato até então com o grupo, o Fernando, dizendo que havíamos chegado e que esperávamos instruções para saber se ainda estavam por lá, ou se já haviam voltado para a estrada com destino a Serra do Rastro da Serpente e Curitiba. Por sorte, eles ainda estavam por lá. O Fernando nos falou que estavam num restaurante azul sentindo Curitiba, a Churrascaria Boléia. Assim que avistamos a tal casa azul, vimos diversas GS 1200 paradas na porta, não teve como errar. O grupo era formado por Fernando (Ilha Bela/SP), Luiz Fernando (SP), Marcelo Dourado (RJ), Fernando Pedroso (SP), Mara (Cruzeiro/SP), Nilton (Cruzeiro/SP), Carlos Eduardo e Carmen (RJ) e João Cândido (SP), “o guia” do grupo. Foi muito legal chegar e ver que a Mara, mulher do Nilton, também estava “montada”, e numa bela máquina, uma R 1150R, mostrando que as mulheres também têm “braço” pra superar o rastro da serpente.
Então chegou a esperada hora de fazer o percurso que diferencia os homens e mulheres dos meninos e meninas, a Serra do Rastro da Serpente. Até Curitiba, pela Rodovia Sebastião Ferraz de Camargo Penteado e BR 476, são praticamente 164 km só de curvas. O trecho paulista está uma vergonha, mas assim que cruzamos a linha imaginária de divisa de estados, entre São Paulo e Paraná, a estrada virou um “tapetão”. Curva em cima de curva, um belo visual, todos no mesmo ritmo embalado no balé das motos. A serra do Rastro da Serpente impressiona com suas curvas “cotovelo”, mas nem por isso intimida os aventureiros. Só para constar, fiquei um tempo atrás da Mara (que estava de R 1150 R) e posso dizer que ela fez as curvas com muita técnica, e que deixaria vários “marmanjos” para trás. Fomos numa tocada um pouco mais forte, pois o dia já estava acabando e não queríamos pegar nenhum trecho da serra a noite.
Depois de quase duas horas chegamos à Curitiba, capital do Paraná. Na entrada da cidade pegamos um congestionamento gigantesco, muito parecido com aqueles que estamos acostumados na cidade de São Paulo. O ponto de encontro do BMW Riders na cidade era no Hotel Íbis do Batel, onde nos dormiríamos para partir para a segunda jornada da nossa viagem, Curitiba até Fraiburgo. Como muitos de vocês devem saber, os Hotéis Íbis fornecem uma hospedagem com um preço mais em conta, porém cobram a mais para todas as refeições e estacionamento. Às vezes sai mais barato ficar em pousadinhas com o café da manhã incluso, mas como era para apenas uma noite, não vimos muito problema.
Segundo dia – Curitiba a Fraiburgo – BR 116 (clique aqui para ver trajeto no mapa):
Acordamos bem cedo na manhã do dia 23 de junho para nos preparar para os próximos 300 km que tínhamos para seguir. Pela frente, a BR 116 sentindo Porto Alegre. Saímos com o mesmo grupo que chegamos à Curitiba e nosso líder, o JC, disse para fazermos a parada no posto de Mafra, cidade que fica quase na metade do caminho até Fraiburgo. Na saída de Curitiba, porém, alguns integrantes do grupo ficaram para trás por conta de semáforos fechados e outros mais acelerados, como o Pedroso, foram sumindo na nossa frente. No fim, no caminho até Mafra éramos apenas quatro; eu, Márcio, Luis Fernando e JC. Chegando a Mafra há dois postos Ipiranga bem grandes, um de cada lado da estrada. Disseram-nos que o do lado esquerdo (sentido Porto Alegre) tinha um pastelzinho muito gostoso e então fomos conferi-lo. Realmente eram bem saborosos. Depois de tomar mais um cafezinho e nos alimentar, vimos a Mara e o Nilton entrando no posto do outro lado da rodovia. Assobiamos, sinalizamos, tentamos de todas as formas chamar a atenção do casal, mas nada. Então decidimos atravessar a rodovia para avisá-los que estávamos ali, para que pudéssemos continuar a viagem juntos até Fraiburgo.
Voltamos para a estrada sentido interior do estado de Santa Catarina, agora em seis motos. Seguimos pela BR 116 até a entrada antes da cidade de Santa Cecília, onde pegamos a SC 302 sentido a cidade de Lebon Régis. Chegando à Lebon Régis, pegamos mais cerca de 40 km de SC 453 até nosso destino, a cidade de Fraiburgo. Lá tínhamos reservas no Hotel Renar, o hotel mais charmoso da cidade. O hotel foi inaugurado em 1981, fruto do sonho de René Frey, um dos fundadores de Fraiburgo. A família Frey é praticamente dona de toda a cidade.
Uma vez em nosso destino, encostamos as motos e fomos conhecer um pouco da cidade. Com um pouco mais de 34 mil habitantes, Fraiburgo encanta pela sua arquitetura com inspiração alemã. O que mais chamou nossa atenção foi que quase todos os pratos preparados têm a Maçã como ingrediente. Tomamos chá de maçã, suco de maçã, comemos torta de maçã, maçã ressecada, enfim, tudo com maçã nós experimentamos. A cidade é perfeita para casais. A vida noturna é quase nula, e as principais atrações ficam por conta dos simpáticos restaurantes. Infelizmente nós não visitamos a cidade na época da colheita da maçã, que vai de fevereiro a abril.
Na programação do evento estavam marcados dois “roles” para fora de Fraiburgo. Um churrasco no Stainer Park, sítio próximo a cidade, onde comeríamos Ovelha assada no rolete (chamada de Michuim) e outro para a cidade de Treze Tílias, integrante da Rota da Amizade, que fica a apenas 83 km de Fraiburgo. A cidadezinha foi fundada em 1933 por imigrantes vindos, em sua maioria, do estado do Tirol, na Áustria. Treze Tílias é a maior colônia Austríaca fora de seu país de origem. Almoçamos no parque Lindendorf, com apresentação cultural austríaca, e ainda visitamos a “Mini-Cidade”, uma maquete da cidade inteira.
Outro passeio que estava disponível para nós era o passeio de Jagunço (caminhão preparado para Off Road) pela mata Nativa René Frey. Esse nós não perdemos, e realmente o passeio é bem legal. O caminhão preparado para terrenos acidentados anda no meio de lagos, entra em poças de lama gigantescas, enfim, é uma aventura no meio de uma mata bonita e preservada. Na noite da sexta feira, o Laury organizou uma bela festança pra galera do BMW Riders. No Salão de Festas do Hotel Renar curtimos uma “balada” com música ao vivo.
O Retorno
Depois de curtir alguns dias no Hotel, chegou a hora de retornar a São Paulo. O que queríamos muito fazer era sair de Fraiburgo e pegar a Serra do Rio do Rastro para subir até Florianópolis, dormir lá um dia e voltar para São Paulo direto. Porém, quando acordamos na manhã de domingo, o tempo não ajudou nenhum pouco. Acordamos às 6hs da manhã com o termômetro marcando três graus, uma chuvinha chata e com muita neblina. O Fox, do pisteiros.com.br, nos disse que seria uma roubada se fossemos. Não aproveitaríamos a beleza do local e ainda sofreríamos com o clima. Então decidimos voltar para São Paulo em uma tacada só, pela BR 116, infelizmente, debaixo de chuva.
Fizemos o mesmo caminho da ida até Curitiba, mas da capital do Paraná até São Paulo pegamos a Régis. O trecho de 700 km foi feito debaixo de chuva. E o que falar da Régis? Horrível, principalmente na serra. Muito óleo na pista, muitos caminhões e diversos acidentes. Contamos cinco que, pela cena que vimos, aconteceram pouco antes. Caminhões que não nos respeitam já é de praxe, andar atento a todo segundo é uma obrigação na estrada, principalmente nas condições que pegamos a Régis. Mas graças a Deus (e ao controle de tração) chegamos inteiros, quer dizer, chegamos quebrados, mas com vida.
Gostaríamos de agradecer a toda a galera do BMW Riders, principalmente aqueles que nos acompanharam de São Paulo à Santa Catarina, ao organizador do evento, Laury Koch, à BMW por nos fornecer os modelos e à StarRacer (distribuidora oficial Alpinestars no Brasil) pelos equipamentos de primeira que nos foram cedidos.
Roberto usou jaqueta Alpinestars Ransom Waterproof, calça Alpinestars P1 Sport Touring Drystar e luvas Alpinestars Arctic Drystar.
Márcio usou jaqueta Alpinestars Space Drystar, calça Alpinestars P1 Sport Touring Drystar, luvas Alpinestars Overland Drystar e botas Scout WP.
Serviço:
BMW Riders: http://br.groups.yahoo.com/group/bmwriders/
Hotel Renar: http://www.hotelrenar.com.br/
Alpinestars: http://www.staracer.com.br/
BMW Motorrad Brasil: http://www.bmw-motorrad.com.br/br/pt/index.html
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