De Floripa à São Miguel das Missões (RS)
O professor Lobo percorreu cerca de 720Km a fim de conhecer toda a Região Missioneira.
Por Roberto Brandão
Por Roberto Brandão
Professor Lobo
Sou do tipo que viaja para conhecer. E, entendo que conhecer um lugar é saber de sua história, lendas, culinária, música, folclore, de sua gente, enfim, sua cultura.
Quando escolho um lugar para ir, busco conhecê-lo. Isso facilita, pois procuro comer comidas típicas, ouvir as rádios locais, ir a pontos turísticos interessantes e, principalmente, fazer amizades.
Em uma das muitas conversas com meu “irmão” Barreto (um grande Guru), surgiu o interesse pela história dos Sete Povos das Missões. Reduções jesuíticas que se distribuíram pelo noroeste do Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai.
Sabe a história dos Incas, Astecas e Maias na América Central? Aquela idéia de comunidade perfeitamente organizada, fraterna, evolucionista e iluminada? Acredite, houve no Sul do Brasil e com as mesmas características.
Atualmente, São Luíz Gonzaga é considerada a capital dos Sete Povos das Missões, mas, preferimos ficar em São Miguel, estrategicamente localizados, pois iríamos visitar toda a Região Missioneira. Então foi pra lá que fomos eu e minha filha Juliana.
Numa Kawasaki Ninja ZX10 partimos de Florianópolis – SC, onde moramos, em direção à Lages (cidade do meio Oeste catarinense) pela BR282. Daí para Vacaria – RS via BR 116, onde pegamos a Rota dos Campos de Cima da Serra, nome dado pelos gaúchos a BR 285, até São Miguel das Missões. Num total de 720 Km percorridos em ótimas estradas quanto a pavimentação, sinalização e segurança.
Um relevo de serra recortado por rios cria cenários espetaculares sob o clima ameno, que mesmo no verão requer uma boa jaqueta.
Nos hospedamos na Pousada das Missões, que é a mais próxima das Ruínas de São Miguel. Tão perto que íamos a pé para a visitação, o show - Espetáculo Som e Luz e as lojinhas de souvenirs.
Em 1938 foi declarado Patrimônio Nacional e pela magnitude de seu significado São Miguel das Missões foi reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade em 1983. O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) - ligado ao Ministério da Cultura - é o responsável pela sua conservação e preservação.
Para o leitor entender o porquê deste local ter sido considerado especial, vamos a um pouco de história.
Os povos missioneiros se organizaram num conjunto de Trinta Reduções em territórios pertencente à Espanha, hoje Argentina, Brasil e Paraguai. No atual território do Rio Grande do Sul, os jesuítas iniciaram sua obra em 1626, frustrando-se tal iniciativa devido aos ataques dos bandeirantes. Retornaram em 1682 fundando os históricos Sete Povos das Missões.
As cidades teriam estado todas ligadas quer pela cultura, quer pela visada (pontos visualmente estratégicos) que se tinha de uma a outra, quer por túneis que as ligavam.
Estes túneis, as pedras que foram deslocadas para construir a cidade, as construções edificadas sem argamassa, bem como, os tesouros escondidos, são lendas daquela região e se algo disto é estória, o certo é que o povo Missioneiro que lá viveu, deixou-nos relíquias históricas e, principalmente, uma história de lutas pela liberdade.
O legado de ruínas da Redução de São Miguel Arcanjo oferece uma demonstração do que foi a redução em seu apogeu e, através do espetáculo de som e luz, podemos reviver algo do que foi a história daquela nação. O Espetáculo Som e Luz, através do qual é possível compreender como surgiram, desenvolveram e foram destruídos os 7 Povos das Missões. Com duração de 48 min., é apresentado diariamente ao anoitecer. Vários atores famosos fazem parte do espetáculo como: Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo, Juca de Oliveira, Armando Bógus, Maria Fernanda entre outros.
Mas, somente circulando na região missioneira, visitando seus campos, convivendo com sua gente, ouvindo suas histórias é possível sentir o que foi a grandiosidade do conjunto de fatos históricos que aconteceram naquela região.
Região entrecortada pelos rios Paraná e Uruguai, que inclui territórios do Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai e Uruguai, escondem-se os vestígios de um dos mais importantes – e desconhecidos – capítulos da história da América Latina. Um capítulo que começou em 1603, quando os padres jesuítas, a serviço de um amplo projeto de conversão espiritual dos povos indígenas da Bacia do Prata, fundaram a primeira redução-jesuítico guarani da região.
Nesta área foram organizados pelos jesuítas trinta povos que, por 150 anos, abrigaram mais de 100 mil guaranis numa sociedade altamente desenvolvida, tornando-se uma experiência única no mundo.
Lá viveram milhares de índios guaranis catequizados, num sistema de cooperação social que combinava o solidarismo e a reciprocidade da cultura guarani às inovações técnicas trazidas da Europa (como a escrita, a imprensa e a metalurgia). Além disso, desenvolveu uma arquitetura, um planejamento urbano e um modo de vida considerados únicos em toda a história da humanidade.
Disputas pelo controle desse território, envolvendo as coroas portuguesa e espanhola, determinaram a decadência e a gradual dissolução das Missões jesuítico-guarani. Nos locais onde elas floresceram restam hoje apenas as ruínas de uma sociedade dizimada através da força colonialista e do derramamento de sangue indígena.
Em São Miguel das Missões encontramos o principal tesouro arqueológico missioneiro do Brasil: as ruínas de São Miguel Arcanjo, antiga capital dos Sete Povos das Missões.
Basicamente, o que sobrou em pé foi a estrutura da igreja principal. Sua visão, no entanto, é de uma grandiosidade e beleza arquitetônica impressionantes.
Além disso, o fato de ser erigida, basicamente, sem argamassa nos deixa perplexos. Incrivelmente talhadas, o encaixe das pedras é perfeito, uma a uma se completam e dão sustentabilidade para as estruturas e paredes.
Próximo à igreja fica o Museu das Missões (projetado por Lúcio Costa - o criador da planta urbanística de Brasília) e abrigo de peças de arte sacra produzidas pelos habitantes das antigas reduções jesuítico-guaranis.
Hoje vivem cerca de 200 guaranis na região, em uma reserva criada recentemente a 30 Km de São Miguel das Missões. Lá eles buscam meios para garantir sua sobrevivência física e cultural, através da caça e da manutenção de plantações tradicionais, entre outros hábitos típicos. Os guaranis vendem artesanato dentro do parque.
As reduções eram cidades nas selvas, com toda a infra-estrutura.
A igreja, era o centro de tudo, havia hospital, asilo, escolas, casa e comida para todos em abundância, oficinas e até pequenas indústrias. Fabricavam-se instrumentos musicais, e, tão bem fabricados quanto na Europa. Imprimiam-se livros em plena selva, alguns até em alemão.
Possuíam observatório astronômico, editavam carta astronômica e um boletim meteorológico. Foi nessas reduções que se começou a industrializar o ferro, a produzir os primeiros tecidos, e a se criar gado no continente. Foi esse gado, espalhado pelos pampas de todo o Sul, que acabou definindo a vocação econômica do Rio Grande do Sul: a pecuária, de alguma forma ligada a todos os seus acontecimentos históricos.
Em Santo Ângelo, outra cidade missioneira, há uma igreja perfeitamente conservada.
Em São Nicolau ruínas da parte administrativa da redução. Infelizmente, muitas outras foram destruídas por saqueadores a procura de tesouros, ou simplesmente para roubar as pedras para construírem suas próprias casas, já que pedras são raras naquela região.
Ops!!! Pedras raras na região?
Acredite, diz a lenda que elas vinham de até sessenta quiilômetros de distância.
Escrevendo este artigo relembrei muitos detalhes, mas dois são especiais: Da noite que deitamos no chão, nas pedras que formavam o anfiteatro admirando o céu. O céu missioneiro é intenso, há uma grande quantidade de astros que parecem estar ao alcance das mãos, nunca havia visto nada igual. E do pôr do sol, que tem um brilho e cor avermelhada que dão um espetáculo à parte. Conversando sobre isto com uns fotógrafos que viajavam por lá, me explicaram que era devido a posição geográfica em relação ao Paralelo Trinta (linha imaginária que corta o planeta 30˚ ao sul do Equador) e que este fenômeno só acontece nesta condição. Deve-se a isto a quantidade de fotógrafos que visitam a região.
E foi com essa aura cultural, épica, esotérica e mágica que deixamos a região, carregados de boas energias e rumamos para Mata, ainda no Rio Grande do Sul, para visitar a `Cidade da Pedra que foi Madeira`.
É verdade, uma parte de floresta petrificada com fósseis de 200 milhões de anos, mas isto é um assunto para um próximo texto.
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