Mário Sérgio Figueredo
Comprei minha primeira moto num final de novembro, quando tinha apenas 17 anos. Meu aniversário é no início de dezembro, mas só poderia tirar a carteira em janeiro - que espera torturante.
Só pra vocês terem uma idéia da “fome” de moto, tirei a moto numa sexta-feira depois do trabalho, tipo 18h30 e na segunda-feira, 2 dias depois, levei-a de volta à concessionária para a revisão dos 500 km. E na outra segunda retornei para a revisão dos 1500 km.
Tudo isso apenas no meu bairro, pois sem carteira não dava pra se aventurar muito longe. A moto, uma Yamaha RD-50, motor 2 tempos. Moto boa de briga, principalmente quando abastecida com gasolina de aviação, dava fácil mais de 120km/h no plano - nem a Honda CB-125 andava tudo isso na época.
Depois de esperar quase um mês pela sonhada carteira de motociclista, no primeiro sábado fomos para a Estrada da Graciosa, aqui pertinho. Marinheiro de primeira viagem, pouca experiência, a terceira ou quarta curva da estrada é daquelas que têm duas tangências, ou seja, fecha e termina de fechar. Pista molhada, não deu outra: CHÃO.
Caí na curva descendo a serra e estava subindo um caminhão. Fui deslizando com a moto na frente e bati com o fundo do motor na roda traseira do caminhão na pista contrária e voltei para a minha pista.
Para minha sorte, por ser uma subida de serra, bem íngreme, o caminhão não estava a mais de 10 km/h. Meu anjo da guarda estava de plantão naquele dia, pois se eu chego um décimo de segundo antes, tinha sido esmagado pelas rodas e hoje faria parte do piso centenário da Graciosa.
Levantei-me de calça rasgada, joelho, nádega e cotovelo esfolados e doendo muito, mas em nada disso eu prestei atenção na hora. A preocupação foi só com a moto: espelho e manete quebrado, borracha do estribo rasgada, estribo torto, ambos os piscas do lado direito inutilizados. Que tragédia!
O corpo a natureza consertava, mas a moto ia custar uma grana que eu não tinha, pois usava quase todo o meu salário pra pagar as prestações. E como continuar a viagem sem a manete do freio. Mas demos um jeito. Tirei a manete da embreagem e coloquei no lugar do freio (benditas ferramentas da moto) e continuamos a viagem até o nosso litoral retornando a Curitiba, sempre sem embreagem, trocando as marchas no tempo do motor.
Ótima oportunidade de aprendizado. Quanto ao trauma, até hoje tenho pesadelos com aquele incidente e durante algum tempo andei com o “fiofó” na posição “locked”. Como tudo na vida, este episódio também teve o seu lado positivo, pois passei a maneirar na forma de pilotar e talvez esteja vivo até hoje por causa disso.
Perdi muitos amigos em acidentes de moto, a chegada da RD-350 foi devastadora. Amigos que poderiam estar vivos até hoje se tivessem tido uma experiência parecida quando ainda andavam em motos pequenas.
O “motonauta” Mário Sérgio Figueredo participou do Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.
Fonte:
Equipe MOTO.com.br
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