Aventura de Royal Enfield Classic 500 pela América do Sul
Alemã Simone Maria Richardt já rodou por nove meses de Medellín a São Paulo e conta experiências em duas rodas pelo continente
Por Alexandre Ciszewski
Por Alexandre Ciszewski
Foram mais de 25 mil quilômetros, da Colômbia ao Brasil, percorrendo por quase todos os países da América do Sul em uma Royal Enfield Classic 500. Esse é o roteiro escolhido pela engenheira alemã Simone Maria Richardt, em uma viagem que já tem nove meses pelo continente e chegou nesta semana a São Paulo. Aos 36 anos já conheceu mais de 100 países, a maioria deles em duas rodas.
A alemã decidiu deixar seu emprego em uma fabricante de peças automotivas para aproveitar melhor a viagem, sem pressão de tempo. A escolha pela Classic 500 vem de seis anos atrás, quando se apaixonou pelo modelo na Índia. "Eu estava na cidade de Goa e queria alugar uma motocicleta. Olhei para ela, decidi testá-la e me apaixonei. Ela é fácil de pilotar e confortável, foi sempre uma máquina confiável durante minhas viagens", conta Simone. A alemã tem uma ligação especial com a Índia, pois trabalhou em Nova Délhi e, no ano passado, viajou por 10 dias e mais de 3.000 quilômetros no Himalaia, também com o modelo Classic 500.
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O roteiro sul-americano teve início em Medellín, na Colômbia, onde Simone adquiriu o modelo escolhido. Depois disso, passou por Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai antes de chegar ao Brasil. "A América Latina é uma das partes mais incríveis do planeta. Tem muito a oferecer, com maravilhas naturais e fatos históricos e culturais únicos e muito interessantes. Há muita tradição de culturas nativas dos povos que habitaram os continentes antes da chegada dos europeus", destaca Simone.
A viajante deixou pela primeira vez sua pequena cidade natal, Hechingen, de quase 20 mil habitantes, no sul da Alemanha, aos 16 anos. "Sempre fui uma pessoa aventureira e amo aprender novas coisas para ampliar meus horizontes. Você encontra beleza em todos os lugares, quando aprende a não ter medo de olhar", explica.
A opção pelas duas rodas
A motocicleta é uma companheira habitual em suas viagens. Antes da América do Sul, rodou por Tailândia, Vietnã, China, Estados Unidos e pela maioria dos países da Europa. "Quando você viaja em uma motocicleta, a sensação é de liberdade total, de realmente mergulhar no cenário ao seu redor. O sol aquece seu rosto e uma brisa sopra seu cabelo. Além disso, você conhece todos os tipos de pessoas na estrada", explica. Dessa forma, segundo ela, forma-se uma soma de piloto, máquina e terreno que nenhum outro tipo de viagem pode proporcionar.
Os anos de experiência em duas rodas ensinaram como aproveitar melhor o tempo e entender os limites do corpo. Na viagem pela América do Sul, fez trajetos mais longos nos primeiros dias, de até 600 quilômetros, mas depois encurtou para 300 quilômetros. "Pilotar por muito tempo pode parecer uma eternidade. Em trajetos mais curtos é possível parar com mais calma nos destinos, conhecendo melhor as cidades que se gosta mais", comenta. Outro segredo para suportar as longas viagens? "Yoga me ajuda a manter o corpo equilibrado, pois dá a sensação de relaxamento e, ao mesmo tempo, constrói a força muscular necessária para pilotar durante horas".
Diversos trechos de off road fizeram parte do roteiro de Simone, testando o desempenho da Royal Enfield Classic 500 nas mais diversas condições. "Estava pilotando em uma estrada que tinha um trecho de passagem de águas. Não tive outra escolha, senão atravessar e a água, que subiu até o tanque, fez o motor desligar. Me senti como num barco à deriva, mas a motocicleta se saiu bem. Também fiquei presa na lama durante uma tempestade no Salar de Uyuni, na Bolívia. Ali o desafio foi sair da chuva e tentar encontrar um lugar seguro para me esconder. Tudo isso sem nenhuma outra pessoa a quilômetros de distância para ajudar", comenta.
Simone ressalta que viajar com uma motocicleta impõe uma série de cenários desafiadores e inesperados, mas que isso impulsiona o viajante a crescer como pessoa. "Aprendi a respeitar cada cultura, compartilhar alimentos, histórias, músicas, experiências de vida e sorrisos. Isso traz felicidade, pois se aprende muito com os outros", analisa Simone.
Os ensinamentos da América do Sul
Entre as paisagens do continente sul-americano, a que mais impressionou foi a Cordilheira dos Andes, com seus picos nevados, geleiras e vulcões ativos. Nas pastagens secas do Cone Sul, que apresentam um clima seco e frio, o modo de vida da população local ensinou importantes conceitos. "Fiquei fascinada com o fato de que muitos povos indígenas conseguem viver lá em circunstâncias muito humildes. Vivem apoiados pela criação de lhamas e porquinhos-da-índia e pelo cultivo de plantações, como quinoa, batatas e amendoim", relembra.
No Brasil, o que chamou a atenção da viajante foi a diversidade, com belas praias, montanhas e florestas. Além disso, o que a cativou foi o misto de culturas, vistos na música, cultura e culinária, e a maneira com que os brasileiros convivem. "A população brasileira é um misto de outras culturas – muitas delas europeias. É ótimo ver o respeito com que todas elas vivem no mesmo espaço. A amabilidade, felicidade e hospitalidade dos brasileiros são notáveis".
É por motivos como estes que a viagem, prevista para durar apenas dois meses, já tem nove meses de duração. Ela garante, certamente, que voltará à América do Sul, "seja para morar, trabalhar ou para mais uma viagem". "Sempre fui aceita, ajudada e respeitada. As pessoas são incríveis, fizeram me sentir em casa, com familiares. Aprendi muito com todos". Na próxima vinda ao continente, a Amazônia será um dos destinos escolhidos.
"Poderia escrever um livro sobre essa viagem, mas, em resumo, para amantes da natureza, de uma cultura rica, culinária e música, é um roteiro certeiro. Conhecer tudo isso em uma motocicleta, ainda mais uma Classic 500, torna tudo mais inesquecível", finaliza a viajante. Além do crescimento pessoal e aprendizados, Simone levará de volta ao Velho Continente o hábito e paixão por tomar mate. A motocicleta fica em Montevidéu, última parada da viagem, e aguarda a volta da viajante para novas experiências.
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Fotos: Arquivo Pessoal / Simone Maria Richardt
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