Um dos últimos episódios de contestação da população urbana do Rio Grande do Sul contra autoridades, com conseqüências fatais, foi a Revolta de Motoqueiros, espécie de levante popular ocorrido entre cinco e sete de fevereiro de 1979, em Passo Fundo.
É a única revolta contra a ditadura militar, no Brasil, liderada por motociclistas. O estopim foi o motoqueiro de 17 anos, Clodoaldo Teixeira, ter sido perseguido e alvejado por policiais militares em frente à casa dos pais após fugir de uma batida policial.
O assassinato ocorreu em um período especial. Havia desacordo de camadas da população com as lideranças militares, devido à truculência de alguns oficiais e os desmandos de uma ditadura militar que apresentava sérios sinais de agonia, devido à crise econômica mundial iniciada em 1974 e ao autoritarismo que tolhia a liberdade de expressão e de, portanto, intervir nos rumos da cidade ou da nação.
Os mais profundos exemplos desse descontentamento eram as greves dos metalúrgicos no ABC paulista e um ainda insipiente movimento de redemocratização, reforçado pela volta dos exilados pela ditadura militar, entre eles Leonel de Moura Brizola — o caudilho que enfrentou os militares, quando governador, com a Campanha da Legalidade.
Havia, também, o ressurgimento da luta pela reforma agrária, impulsionada pelo movimento dos atingidos por barragem na Encruzilhada Natalino, próxima a Passo Fundo. Na cidade, os motoqueiros e cabeludos eram perseguidos pelos policiais. O assassinato de Clodoaldo gerou revolta dos motoqueiros e da população contra a brigada militar, cujas lideranças se negaram a punir os responsáveis.
Os protestos iniciaram com a tentativa de linchamento do autor dos disparos, por parte da vizinhança, e alastrou-se pela cidade por mais três dias, envolvendo cerca de dez mil pessoas e gerando a morte de outros dois jovens: Adão Faustino e Joceli Joaquim Macedo, ambos mortos em protesto diante do CPA3, na Avenida Brasil. O episódio marcou o cotidiano dos passofundenses e o imaginário da nova geração.
Muitos dos envolvidos mudaram-se do município após o ocorrido, seja por perseguição ou busca de melhores oportunidades. Os que permaneceram compuseram lados distintos da bipolar sociedade local e hoje estão nos setores mais diversos — indústria, comércio, comunicação, serviços, entre outros.
Há dois estudos acadêmicos sobre a Revolta: um capítulo de uma tese de doutorado de José Ernani, professor de história da Faculdade do Planalto, e a dissertação de mestrado de André Martinelli Piasson. Em outubro de 2006 foi lançada uma ficção sobre o tema, intitulada Revolta dos Motoqueiros, de .
Rediscutir a intitulada Revolta dos Motoqueiros é uma forma de retratar um importante fato do imaginário local e observar as conseqüências da ditadura sob o viés dos motoclubes.
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Equipe MOTO.com.br
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