Diário de um Futuro Motociclista - Final

Nosso repórter conta o que realmente aprendeu com as aulas e como foi o dia do exame.

Por Roberto Brandão

Quinto Dia – Aulas 13, 14 e 15
Sexto Dia – Exame Prático

Roberto Brandão Filho

Ao chegar ao estacionamento do portão três do parque Ibirapuera para meu último dia de aula, numa quinta feira, um dia antes do exame, fui direto ao encontro do meu instrutor para começar as aulas o mais rápido possível. Naquele horário, o pátio ainda não estava muito cheio, e eu poderia conseguir mais informações com meu professor a respeito de como eu seria examinado no dia seguinte.

O objetivo deste quinto e último dia era focar no traçado e não cometer nenhum erro, pois qualquer coisa acarretaria na minha reprovação. Como já sabia pilotar, meu instrutor me disse que eu deveria tomar cuidado com alguns vícios adquiridos na rua, como parar com o pé errado no chão, não fechar a viseira, parar e colocar a moto em ponto morto, entre outras coisas. O importante naquele momento era “reaprender”.

Juntei-me àqueles que já estavam na fila para entrar no circuito e, rapidamente, a minha vez chegou. Mesmo adorando pilotar motos, e sempre me sentindo uma criança em cima de uma, estava começando a me enjoar de ter que fazer o mesmo trajeto, exatamente igual, durante algumas horas. Mas fazer o que, é assim que se aprende a pilotar, pelo menos é o que o DETRAN pensa. Enfim, entrei no “8” junto com outro candidato a motociclista, passei às curvas curtas e quadradas, onde cometi um erro e coloquei o pé no chão quando fui atrapalhado por outra moto que vinha em minha direção, fora do traçado. Era um senhor, que me pediu desculpas enquanto seu instrutor corria atrás dele para controlá-lo.

Quando estava “seguro”, passei ao próximo passo, o slalom com os cones. Sem dificuldades, percorri o trajeto e fui à última fase do circuito, a “prancha”. Para mim, esta era a parte que necessitava de mais atenção. Qualquer desvio de olhar pode tirar todo o equilíbrio do conjunto e você não conseguirá passar totalmente reto. O segredo, segundo meu instrutor, é nunca olhar para o chão e sempre para o fim da faixa. Ela representa um corredor entre os carros e, ao olhar num ponto fixo no final, seu corpo se equilibra de forma automática. Prossegui sem maiores problemas, e fiz esta parte com perfeição.

Voltei à fila para dar mais voltas no traçado, aproveitando que ainda não estava muito cheio. Dei a segunda volta inteira sem problema algum e percebi que o estacionamento já começava a ficar mais cheio. Meu instrutor me disse que iria encher bastante, pois a maioria das pessoas que estavam ali iria fazer o exame junto comigo, na sexta feira.

Na terceira volta, a fila já era grande, atrás de mim estava um homem que com certeza já sabia pilotar motos e parecia que utilizava uma como forma de trabalho. Por já saber como dirigir ele provavelmente achava que não precisava estar ali e deixava isso bem claro. Parecia que ele estava no trânsito. Se alguém demorasse a sair e entrar no circuito, o cidadão começava a buzinar. Ficava acelerando e soltando a embreagem de pouco em pouco, e até acertou o pneu traseiro de minha moto. Para não me irritar a toa, fui para a fila do lado e deixei o cara passar.

Eu fiquei de olho no homem, sabia que alguma coisa iria causar. Ele entrou no traçado junto com uma mulher, e logo no “8” ele já a pressionava. Ela o deixou passar, quase derrubando a moto no chão, e ele nem ligou. Continuou e passou para as curvas quadradas, que nem fez direito, e correu para o slalom, onde parecia um maníaco costurando o trânsito de São Paulo. Passou pela “prancha”, e na hora que chegou ao final, tomou uma bronca do instrutor da moça que quase derrubou. Com razão, ali, supostamente, é um lugar para as pessoas aprenderem a dirigir, e não um centro de treinamento de malucos por trânsito. Depois disso, o homem sossegou o facho.

Ao final das 2hs30min, meu professor pediu que encostasse a moto para me passar todas as dicas necessárias para que eu fosse aprovado. Ele me disse que saber dirigir às vezes não basta. A gente esquece de alguma coisa e pronto, está reprovado. A primeira coisa que eu deveria fazer era não esquecer de ligar o farol antes de iniciar a prova. Depois tinha que baixar completamente a viseira e travar o capacete, ai então, poderia começar o exame. Teria que fazer o “8”, passar pelas curvas quadradas, fazer o slalom, parar na parada obrigatória e andar sobre a “prancha”. As coisas que eu não deveria fazer eram, colocar o pé direito no chão, em hipótese alguma, não encostar nenhum dos pés no chão durante o trajeto, não passar em cima das linhas brancas, não derrubar nenhum cone, e por último, não perder o controle na “prancha”.

Para fazer o exame eu tinha que levar RG original ou a CNH (se não estivesse vencida). A prova começava às 7hs da manhã e era por ordem de chegada, portanto quem chegasse mais cedo começaria antes o exame. Meu instrutor me disse para chegar lá umas 6hs30min para que eu pudesse fazer o mais rápido possível e ir trabalhar.

Na sexta feira, fiz exatamente como meu instrutor me indicou. Cheguei ao portão três do Ibirapuera às 6hs20min, e me surpreendi ao ver que já havia umas 40 pessoas na fila. Muitas pessoas marcaram sua última aula para momentos antes de começar a prova, coisa que eu teria feito se soubesse da opção.

O dia estava horrível. Muito frio e chuva bem fininha para atrapalhar um pouco. Perguntei ao meu instrutor se haveria prova se começasse a chover mais forte. Ele deu risada e respondeu, “É lógico. Imagina se por conta da chuva, o DETRAN cancelasse este exame e o passasse para sexta feira que vem. Teriam mais de 800 pessoas para fazer a prova. Nós ficaríamos aqui o dia todo para completar todos os alunos”. É, isso é fato. Com o trânsito na cidade, cada vez mais pessoas procuram as motocicletas, e segundo a Auto Escola, passam cerca de 400 pessoas por dia de exame.

A fila foi crescendo cada vez mais, e às 7hs, eu já conseguia contar umas 60 pessoas. O exame começou e, um por um, éramos chamados para entrar no circuito. Não sei bem o porque, mas estava um pouco nervoso. Fiquei observando como cada um fazia o percurso para tentar perceber como o Delegado avaliava a volta. Teve um homem que achei que reprovaria. Nas curvas quadradas, ele encostou o pé no chão, mas ao sair do traçado e vir entregar a moto para seu instrutor, falou que havia passado. Talvez o examinador não tenha visto. Sorte a dele.

Estava sentado tranquilo na moto ainda sem meu capacete e fui avisado de que era melhor eu colocar meu capacete, pois uma vez em cima da moto, tenho que estar equipado corretamente. Então, levantei da moto, e fiquei ao lado dela. Ainda faltava um tempinho para minha vez.

Às 8hs25min ela chegara. Entreguei meu RG, assinei um documento de presença, e me posicionei para entrar no circuito. Afivelei meu capacete, abaixei a viseira, acendi o farol e esperei o sinal verde do examinador. Fui autorizado a sair. A chuva fina atrapalhava a visão, e o capacete já estava embaçando. Meu nervosismo aumentou e fui com toda calma e paciência do mundo fazer o “8”. Sem nenhum erro passei às curvas quadradas e com perfeição prossegui até o slalom, onde não encontrei dificuldades. Antes da “prancha” fiz a parada obrigatória e esperei o sinal do examinador para continuar. “VAI” disse ele, e eu me concentrei, focalizei o fim da faixa e acelerei por cima da “prancha”. Pronto. Acabou. Parei ao lado do examinador, ele pegou minha ficha e disse “parabéns, você passou, agora pode ir”.

Saí de lá feliz da vida por ter conseguido minha tão desejada carteira de Habilitação de motocicletas. Mas por um lado, fiquei apreensivo. Isso não basta para habilitar as pessoas para a vida sobre duas rodas no trânsito de São Paulo. Muitas das pessoas que estavam comigo alí, naquele dia, sabem o mínimo sobre a funcionalidade das motos. Elas só aprenderam o que é preciso para serem aprovas pelo DETRAN e muitas delas pagaram aulas práticas a mais para se sentirem seguras na hora do exame. Eu mesmo vou procurar outros centros de treinamento para aprofundar meu conhecimento em pilotagem. O trânsito na nossa megalópole mata mesmo, e nossas vidas valem muito. Temos que exigir mais! Pilote sempre equipado, e com segurança. Um abraço.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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