Na Estrada: O pouco que aprendi e venho aprendendo
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Por Alexandre Ciszewski
Por Alexandre Ciszewski
Tiago Feliziani
Não tive a sorte de ter irmãos nem a felicidade de ter filhos.
Logo, são mínimas as chances de passar adiante os poucos conhecimentos que adquiri ao longo do tempo, seja com meu avô, meu pai ou amigos de infância. Não que eu fosse bom em alguma coisa. Pelo contrário. Nunca aprendi como fazer e empinar uma pipa, mas conheço os perigos de linhas com cerol. Também não aprendi a manejar bolinhas de gude com a destreza do meu avô, ou a girar o pião por longos minutos com apenas um barbante. Futebol: nem vale a pena comentar sobre a minha total falta de talento com uma bola nos pés.
Porém, uma das poucas coisas valiosas que aprendi foi a aproveitar o prazer e a liberdade que duas rodas proporcionam. A maioria das pessoas aprende a pedalar e abandonam esse hábito quando crescem. Alguns passam para a mobilette ou compram algo de baixa cilindrada para fugir do trânsito do dia a dia. Poucos transformam essa brincadeira de criança em hobby, em terapia, em estilo de vida. Assim que o meu avô tirou as rodinhas auxiliares da minha primeira bicicleta eu já saquei: opa, esse negócio é muito bom. Desde então é um aprendizado que venho aprimorando – e o melhor, compartilhando – durante a vida.
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Porque, junto com a habilidade que se desenvolve quando se pilota todos os dias ou apenas nos fins de semana, também se cria um sentimento de irmandade, de cumplicidade e de responsabilidade muito grande. Por mais que você rode sozinho, pode ter certeza, com a sua motocicleta você nunca se sentirá solitário.
As amizades forjadas sobre duas rodas são duradouras. Uma das minhas maiores alegrias é dividir a estrada com um grande número de amigos. Olhar para frente ou para trás e ver dezenas de motos rumo ao mesmo destino, seja uma cidadezinha perdida no meio do nada, uma fronteira com outro país ou um boteco para tirar o pó da garganta.
Agora, quando você consegue passar adiante algo sobre o prazer de uma boa pilotagem, alguma ideia sobre a liberdade das duas rodas, a delícia que é visitar lugares desconhecidos e descobrir novas paisagens para alguém que nunca imaginou comprar uma motocicleta, meu chapa, essa é uma das sensações mais gratificantes que existem.
Isso aconteceu há poucas semanas comigo e com um grande amigo que eu não via há anos. Quis o destino que ele começasse a trabalhar no mercado de motocicletas, a se dedicar, a conhecer mais e, enfim, a tirar habilitação. Até aí era apenas trabalho. Então num sábado o convidei para um passeio com outros camaradas. Nós fomos com nossas máquinas grandes, pesadas e barulhentas; meu amigo foi com uma pequena moto de apenas 500 cilindradas e monocilíndrica, emprestada por uma montadora. Depois de rodar por uma rodovia a 120 km/h, pegamos uma rota vicinal chamada Estrada dos Romeiros, que serpenteia por entre morros, paisagens e pequenas vilas.
Chegando perto no final do percurso, paramos para fazer uma foto dos pilotos e das motos, todos felizes e relaxados depois de um maravilhoso passeio. Não tenho ideia de como o sorriso no rosto do meu amigo coube dentro do capacete. Ele estava em êxtase e não tinha palavras para descrever o que estava sentindo. Fizemos a foto, nos despedimos e pegamos a estrada em direção a nossas casas. Uma semana depois ele me manda uma mensagem: comprei uma moto. Dessa vez foi o meu sorriso que quase não coube na cara.
Se não tive irmãos nem filhos, tenho a sorte de ser motociclista e compartilhar um pouco dessa paixão com pessoas que respeito, admiro e quero sempre comigo pelas estradas e caminhos que a vida nos leva.
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Fotos: Arquivo Pessoal
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