Racha histórico
Motociclista estradeiro relembra episódio curioso e espantoso, do qual terminou derrotado.
Por Leandro Alvares
Por Leandro Alvares
Junho de 1998, sexta feira, 11 horas da noite, inverno gelado em São Paulo. Cheguei ligeiro a minha casa e mergulhei no meu macacão de couro preto. Passei a mão na barraca e no cobertor, peguei o elevador e fui me encontrar com a Kawa ZX 11, que me aguardava ansiosa na garagem. Dei partida, esquentei o motor e saí para a rua, com destino ao Rio de Janeiro para participar de um encontro de motos.
Com garoa fina, farol baixo e pista escorregadia, segui viagem ultrapassando os eventuais carros que estavam à minha frente, rodando a exatos 120 km/h que, francamente, eram poucos para tanta saúde da ZX 11. Cheguei rapidinho na Rodovia Dutra.
Pista seca e trafego pesado, estou sozinho no meio de tanto caminhão. Já passava da 1h da manhã, quando parei para abastecer. O frentista enrolado em um espesso cobertor dá boa noite e avisa que tem café quente lá dentro.
Ligo a moto e paro mais pra frente. O posto está às escuras, vou tomar o tal café dentro da borracharia, que tem as paredes decoradas com folhinhas das primas. O silêncio é absoluto, só sendo cortado pelo barulho dos escapes dos brutos lá na pista. Volto procurando o frentista para agradecer e não encontro alma viva, já era hora de seguir viagem.
Aproximo-me da Kawa e percebo que alguma coisa estava errada; a frente da moto e o piso estavam encharcados. Chego mais perto e confirmo: está tudo molhado mesmo. Na hora penso: “foi o fluido de freio ou o óleo da bengala que vazou”. Coloco a mão na pinça de freio gelada e o líquido está quente, sem viscosidade. O cheiro é forte, nesse momento sinto uma sensação estranha. Tem alguém por perto, olho em volta e não vejo nada. Fico em pé e monto na moto, dou partida e sou surpreendido com um forte puxão no calcanhar. Viro a cabeça e olho para baixo, tem um cachorro enorme e peludo bem do meu lado, estou frito.
O bicho não balançava a cauda, muito menos latia. Isso era um mau presságio. Espeto a primeira e saio devagar. Ele investe, paro e toco a buzina. Ele de novo investe, desligo a moto e o danado senta bem ao meu lado, babando e mostrando os dentes brancos. Ligo a moto de novo e acelero com vontade, a Kawa urra e o cachorro não toma conhecimento. O giro cai, espeto mais uma vez a primeira, com aquele famoso som de cleck da caixa de marcha. No mesmo momento o bicho emparelha e me encara.
Eu estava em desvantagem, o piso era irregular e com pedra britada. Mesmo assim, saio a milhão com a Kawa chicoteando de traseira, mas o peludão acelera junto e some na minha frente. Tinha acabado de tomar um sonoro pau de um cachorro que fez de 0 a 100 km/h em muito menos tempo que a minha ZX 11.
Tempos depois passei no tal posto e conheci o cachorro e seu dono, que comentou o seguinte. “O Lico é assim mesmo. Ele se diverte tirando racha com os motoqueiros”.
Reinaldo Baptistucci.
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