A partir desta semana, o MOTO.com.br passa a contar com um novo colaborador, este apaixonado por viagens e aventuras pelas estradas do país e nações vizinhas. Temos o prazer de apresentar Reinaldo Baptistucci, solteiro, físico de profissão e estradeiro há algumas décadas, que toda semana irá relatar um episódio de sua carreira nas rodovias.
“Estou com 57 anos, sendo 41 deles como motociclista”, afirmou o hoje responsável pela divisão de motocicletas e quadriciclos da empresa EBC Brakes. “Eu comecei a andar de moto aos 16. Meu avô pilotava motocicleta e na época que ele andava as ruas tinham paralelepípedo e São Paulo era a terra da garoa. Não preciso falar mais nada, né? Dá pra se ter uma idéia do número de tombos que o cara tomou”, brincou.
“Mas o vovô gostava muito de guiar e teve vários tipos de motos. Teve inglesa, européia, alemã, francesa. Isso tudo na década de 1920 e 1930. A gente sempre conversava sobre o assunto, mas ninguém deixava eu andar. Minha família achava muito perigoso. Com 16 anos eu andei com a mobilete da época, uma bicicleta a motor. Comecei a andar e não parei mais”, disse o paulista, que tem a máquina de duas rodas como único meio de transporte.
“Não tenho carro já faz muito tempo. Afinal de contas, na minha casa eu já tenho um sofá e duas poltronas bem confortáveis. Portanto, eu não preciso do automóvel, algo de que eu nunca gostei. Eu me sinto dentro de uma sardinha, desconfortável. Até ando, mas morro de medo. Eu acho um equipamento estranho”, explicou entre risos.
Sobre o que o atrai nas motos, Baptistucci não soube responder. “Eu não consigo explicar. É difícil alguém entender. Eu me sinto muito bem em cima da motocicleta. Vivo em liberdade quando estou em viagens, despreocupado com as coisas. Gosto de moto por ser um veículo extremamente prático e um equipamento de comunicação imediata”, destacou.
“Onde você pára, não tem um que não venha conversar. Em qualquer parte que você esteja viajando. Seja criança, mulher grávida, idosos, casais. E isso acontece independente da moto que a pessoa tiver. Alguém vai querer puxar conversa, saber de onde você veio, quanto a moto anda, quanto custa, as perguntas básicas”.
E qual seria a sensação mais gostosa numa viagem de moto? “Para mim, o maior tesão é o dia anterior, porque a moto está pronta, equipada, você também já está preparado, com as coisas certinhas e a certeza de que na madrugada vai cair na estrada. A ansiedade é algo muito bom, a sensação de que você vai pegar estrada”, comentou.
Motociclista caminhoneiro
Sem saber quantas viagens já acumula em seu currículo, Baptistucci fez uma comparação inusitada. “Penso que o motociclista acaba virando um caminhoneiro, sabe? Eu já filosofei muito sobre essa história e encontrei sentido nela, pois na estrada você acaba ficando com um monte de manias, superstições, medos; conhece um monte de gente que conta histórias absurdas. Isso tem muito a ver com o que está na estrada e com quem vive nela, por exemplo os caminhoneiros”.
Uma mania
“Olha, meu querido. Eu viajo com meus patuás: santinhos, a minha antena corta pipa, eu normalmente só viajo de preto para não sujar muito. O preto é básico para facilitar na hora de lavar. Sou religioso, portanto Aparecida do Norte sempre está no meu caminho. Em toda grande viagem eu dou um jeitinho de passar por lá. E toda moto nova que eu pego, independente dela ser zero ou usada, eu também passo em Aparecida. Muita gente faz isso”, atestou.
“Todo mundo tem uma mania: carregar um canivetinho, viajar somente com uma luva...Eu tenho a minha jaqueta de guerra, que vai pra tudo quanto é lugar. Comprei ela em 1990 e está comigo até hoje. A anterior eu tinha há mais de dez anos, mas dei para um garoto que vi na estrada. Estava um baita frio e entreguei a jaqueta a ele”.
“Esse meu apego com a jaqueta tem haver com fidelidade. Já passei por situações em que ela me ajudou muito. Serviu durante muitos anos como travesseiro. Então temos uma história juntos”, revelou Baptistucci.
Medo
“Meu temor são os acidentes. Eu jamais caí na estrada e isso é um problema muito sério. Quanto mais você anda de moto e não cai, quer dizer que o seu dia vai chegar. Isso assusta. Por tal motivo, de uns anos pra cá eu só ando muito devagar. E mesmo assim você está arriscado a sofrer alguma coisa”.
Uma história marcante
“Eu estava em Sooretama (ES), voltando para São Paulo a bordo de uma DR 800 da Suzuki. De repente, uma Fiorino cruzou a pista com tudo; e do meu lado esquerdo tinha um caminhão. Eu simplesmente não sei como consegui saí daquela situação, porque não bati em nada. Nem no caminhão, nem no carro”, contou.
“Na seqüência, eu até parei em um posto de gasolina para pedir um café. E na hora eu pensei: ‘se o cara não me oferecer o café é porque eu estou morto’. Ainda bem que ofereceu. Esse lance sempre passa em minha cabeça. Isso foi em 1999”.
Viagens inesquecíveis
“Todas elas me marcaram. Tem sempre um lance diferente que te atrai, chama atenção. São todas inesquecíveis. Já fui para todos os países da América Latina, andei por vários cantos do Brasil, locais históricos, pobres, cheios de desigualdades...tem muito que se conhecer em nosso país, por isso eu considero que eu não conheço nada”.
Aventura mais recente
“Rodei três mil quilômetros pelo Estado de São Paulo, passando pelas principais cidades. Foram 35 no total, em seis dias de aventura. Gastei em torno de 600 reais com combustível, pousada, comida e bebida — a cerveja à noite é imprescindível (risos). Mas enfim, os gastos foram muito poucos, considerando-se tudo o que eu andei”.
Programação
“Eu não costumo planejar as viagens. Faço o roteiro pelo caminho. Só tenho definido o período de partida, sempre à noite ou de madrugada. Assim eu evito o trânsito e os acidentes que costumam acontecer nos horários de pico. Cansaço? Não sinto algum. Acho que cansa mais você ficar sentado numa mesa de escritório imaginando quando você poderá fazer uma viagem”.
Escrever
“Acho isso um comprometimento. Passar as histórias para o público. Fiz faculdade de física, mas já escrevi para algumas mídias especializadas em motocicletas. O primeiro trabalho foi para o já extinto ‘Moto Jornal’, na década de 1970. Agora eu estou comprometido com o MOTO.com.br, numa parceria que estou abraçando com firmeza”.
Cartel de motos
“Já tive de tudo: Ariel 500, BSA, Ducati Elite, várias da Honda, Yamaha, Kawasaki, Suzuki, BMW. Hoje eu tenho uma Harley-Davidson Sportster 883C, a melhor de todas. É a que está comigo, portanto, a melhor”, destacou.
“Mas tenho um desejo de consumo, uma BMW Big Trail. Ela é fenomenal, prática, confiável, transborda segurança. Só que é muito cara, e por enquanto é uma cobiça para a imaginação”.
O estradeiro no trânsito das cidades
“No trânsito eu sou um babaca. Qualquer um xinga a minha mãe. Penso que os motoboys me odeiam. Mas acho que o meu desempenho está ligado ao fato de eu ter a consciência de que moto é algo perigoso. Uma cadeira elétrica. Errou você está no chão. Tem que ter bom senso. E é totalmente imprevisível. Eu posso sair daqui agora e tomar um tombo na esquina”.
“Somos invisíveis no trânsito. Os carros têm muitos pontos mortos, que impedem os motoristas de nos ver. Somos invisíveis. Não adianta colocar faixa luminosa, faróis acesos; seremos sempre invisíveis. A maioria dos motociclistas anda com roupas pretas, capacete preto, vira uma sombra. Mas valem muito as campanhas de segurança; eu as apóio, defendo a idéia de se buzinar, dar seta, enfim, se mostrar presente para tentar não ser tão invisível”.
Off-road
“Eu não gosto, passo mal. Elas (motos) são nossas companheiras. Acho muito triste o que fazem com as máquinas nos passeios off-road. Qual é então a parceria de amor, de identificação? Elas não merecem, acho que nós devemos ter muito respeito por elas. Mas respeito a opinião dos outros e aqueles que gostam de trilhas”.
Próximas viagens
“Vou neste fim de semana para um evento em Paranapiacaba, que será uma reunião de motos antigas. Fora esse, farei um raid para o sul do Brasil. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul numa tacada só”.
O que levar?
“Uma camiseta, uma calça, abrigo de chuvas, pasta e escova de dente e, quando eu lembro, xampu. Não adianta levar muita coisa. Você acaba não usando tudo”, afirmou Baptistucci, cujas horas livres de lazer são reservadas para seus gostos musicais.
“Adoro ouvir música, escutar Renato Borghetti. Gosto de modas caipira e do sul, pois me lembram das estradas, o meu mundo”, finalizou o estradeiro.
Confira agora a primeira colaboração de Reinaldo Baptistucci:
Rota Uno
Dois de julho de 1976 , quatro da manhã , estou parado no posto de gasolina na saída da BR 116 . Aguardo impaciente o Marinho que não chega, faz frio, o frentista serve um café amargo e requentado.
A moto ao meu lado, uma Yamaha TX 500 cc, está pronta e equipada para mais uma esticada rumo ao Sul do país, e não vejo a hora de pegar estrada .
“Bom dia Reinaldo”, finalmente a Suzuki GT 550 chega com o meu parceiro a bordo. Tranqüilo, ele apeia sem pressa. Vamos ter um dia cheio e rodar pra lá de mil quilômetros na matadora Regis Bittencourt.
Um mês antes traçamos nosso destino, iríamos sair de São Paulo e ir para Buenos Aires tomar um vinho e depois despencar para Baia Blanca. A viagem foi boa, rodamos cerca de 5000 km e sem acidentes voltamos para São Paulo 25 dias depois.
Foi só um inicio, o tempo passou, as estradas passaram e vivos continuamos a rodar.
Reinaldo Baptistucci viaja com apoio do MOTO.com.br e da EBC BRAKES.
Equipe MOTO.com.br
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