Bem-vindo às Serras: Uma Gatinha que faz Curvas

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker fazem um panorama do mundo das duas rodas e suas diferentes propostas

Por Alexandre Ciszewski

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker

Mais que motociclistas e fãs de motos, são hábeis contadores de histórias e profundos conhecedores do mundo das duas rodas, sendo verdadeiros apaixonados por viagens e aventuras pelas rodovias do país e nações vizinhas.

Dizem que o mundo gira e por ele girar o tempo passa. Aliás e por vieses de por onde a Pinny andou passando nesse tempo que já passou e que ainda passará, ela teve o prazer de vivenciar não só o passado que já foi, bem como o futuro que a recebeu de portas abertas.

A Geometria das linhas mostra em uma linha reta, apesar de tantas curvas, que por onde ela andou rodando com a GS e cansou de deitar nas Estradas Sinuosas, ela também teve a oportunidade de experimentar o convívio único e muito antigo de pousar nas casas de família. Tempo das antigas.

Saindo de Paranapiacaba passou por Suzano, Mogi das Cruzes, Guararema, Jacareí, Paraibuna, Natividade e Redenção da Serra, São Luiz do Paraitinga, Lagoinha e Cunha.

Inclua nesse pacote Serrano a ida à Paraty e Ubatuba com direito a Cruz de Ferro.

Caso você goste de curvas, neblina, paisagens de tirar o fôlego e muita comida boa, é um trajeto que você pode sim rodar na maior tranquilidade. Na verdade, você estará percorrendo o espigão histórico de toda a Serra do Mar e da Bocaina, em uma mistura energética de paisagens únicas.

E, pensar que no passado bem próximo da gente, e da nossa memória, tudo era feito com Mulas e Carros de Boi. Tempos Heroicos de personagens históricos que deixaram a marca, não só da força, mas também de uma determinação única. Rodar por essas paragens é ter de volta toda a memória das Serras, bem como de todo o Litoral e Vale do Paraíba.



Bem vindos às Serras

Reinaldo Baptistucci

Depois de fazer mais uma revisão no Betinho, monto na minha gatinha, a tão querida BMW F 800 GS. Já no posto da Ayrton Senna encontro irmãos de estrada que iam para Ilha Bela. Por um trecho pilotamos juntos. Mesmo viajando sozinha, não se está realmente sozinha. Motociclistas tem ímã.

O percurso não é novo para mim. Início da Serra de Cunha com saída para Lagoinha. Um trecho cheio de curvas, fazendas, chácaras, sítios, vales e montanhas. De tão delicioso, não queria mais que acabasse. Chego em Lagoinha uma vila que seria um entreposto entre Cunha e São Luiz do Paraitinga. Como de costume pergunto pela hospedagem da Nadir e claro que o frentista muito solícito me informa com precisão: “É fácil, volta aqui, entra a primeira a esquerda, depois a direita a esquerda e esquerda de novo e já chegou na rua. Aí é só perguntar pela casa da Nadir! ” Sorrindo agradeço enquanto ele enchia o tanque.

Havia uma lagoa perto do mercado central que infelizmente foi aterrada, por isso o nome da Vila “Lagoinha”. Há muitas pousadas no caminho e na vila. Ela é pequena e um ótimo lugar para quem não quer pagar muito. Os preços são mais em conta do que em Cunha e São Luiz do Paraitinga. Uma questão de opção.

Dou uma volta a pé pela vila, tiro fotos e o dia acaba com um lindo pôr do sol. Na manhã seguinte abro a janela e o céu está pra lá de azul. 7h30 da manhã – me visto, tomo um café e feliz da vida subo na moto para fazer mais e mais curvas. “Parece que o tempo está bom” penso eu e saio menos agasalhada e sem luvas. Mas ... logo passando pelo Cristo e dobrando a direita sentido São Luiz do Paraitinga me deparo com neblina e temperatura de 6 Graus.

Além da umidade, meu capacete começa a embaçar e enxergar fica difícil. Visibilidade quase zero. Mas o pior foi o frio nas mãos. Queridos leitores, amantes das duas rodas, nunca senti tanto frio nas mãos. No lugar do frio cortante começa a dor. Não pensei que o frio pudesse doer. Isso com as manetes aquecidas ligadas no máximo. Não havia a menor condição de parar e pegar as luvas que deixei presas com elástico na bagagem no lado de fora. Carros e ônibus circulavam de quando em vez, um trânsito local das pessoas que trabalham ou vão estudar. Se eu parasse naquela neblina eu corria o risco de sofrer um acidente.

3 km – entrada para a linda cachoeira de Lagoinha (ponto turístico). Paro a moto e finalmente visto as luvas e mais um agasalho de plush. Agora sim. Me sentia muito melhor. Valeu a lição, pois a moça da hospedagem havia me avisado: “Olha! Faz muito frio aqui viu! ” E eu subestimei.

Ao chegar no trevo da Cruz de Ferro (Serra de Taubaté) resolvo não voltar para casa ainda. “Está tão bom!”, pensei. Entro para Redenção e Natividade da Serra. Caramba! Que trechinho gostoso de motocar. De novo: curvas e mais curvas, vales, montanhas, água e todo este visual deslumbrante no meio da neblina que estava se dissipando. Um pensamento rápido me ocorre: “Ainda bem que meu tanque está cheio e que bom que estou com aquela meleca no pneu para fechar um eventual furo, além do tubo reparador de pneus que Reinaldo colocou no meu baú junto com 2 câmaras novinhas.” Pois não havia ninguém na estrada. Eu pilotava completamente só. Que sensação maravilhosa.

Fim da linha. Chego em Natividade da Serra e pergunto se dá para continuar até Paraibuna. O frentista explica que até dá. Tem uma balsa que te atravessa pela represa de Paraibuna e daí são mais 40km de terra. É claro que sozinha voltei pelo mesmo caminho. Não sou tão corajosa assim. A GS é pesada e se eu caísse não tenho certeza de conseguir levantá-la. Mas isso não me incomodou, pois, esse caminho é tão lindo e tão agradável que não me importaria de fazê-lo mais e mais vezes.  Aliás, comentando com Reinaldo depois, em Igaratá, destino final – lembrei que já havíamos feito juntos esse trecho há 5 anos. E assim termina meu mês de férias.

Fortes Abraços a todos irmãos estradeiros e a todos amantes das duas rodas como nós.

Karin Birgit Stoecker (Pinny)

Fotos: Acervo Pessoal


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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