O espaço das mulheres motociclistas

Na rua ou nas pistas, elas se destacam em um segmento até então de predomínio masculino.

Por Leandro Alvares

Em todo o mundo, a participação feminina no motociclismo cada vez mais vem sendo incrementada, não mais somente no papel de acompanhante ou “garupeira”, mas no papel de protagonista, compradora de moto para uso próprio e até “pilota” de competições.

Como prova deste fato, a Honda do Canadá anunciou, como parte de seu esforço para aumentar o envolvimento das mulheres com o motociclismo, que o campeonato “Honda CBR125R Challenge” terá sua prova inaugural com uma etapa exclusivamente composta de pilotas.

Mulheres, a partir de 14 anos, puderam se inscrever neste torneio que também contou com uma mulher à frente da organização: Tina Capell da PMP (Professional Motorsports Productions).

Segundo Tina, “Motociclismo e competições com motocicletas têm ganhado popularidade entre as mulheres do Canadá”. Já nos Estados Unidos. estima-se que o número de pilotas seja de mais de 4,6 milhões.

A indústria americana aponta que pelo menos 10% das motos novas são compradas por mulheres, mas há segmentos em que este número é maior. A Kawasaki, por exemplo, é uma fabricante bem procurada pelas consumidoras. Na sua média geral, tem 15% de compradores do sexo feminino e em alguns modelos este número é ainda maior, como na Ninja 250R, no qual as mulheres chegam a responder por 37% das vendas.

Ser "pilota" nos EUA já não é uma novidade. Desde 2001, é realizado anualmente um evento chamado “Femmoto”, que começou como um “track day”, um “dia de pista” reservado exclusivamente para mulheres que desejassem incrementar suas habilidades de pilotagem, com a devida instrução e apoio.

Atualmente, a “Femmoto” é como uma feira que acontece ao longo de vários dias com diversos expositores e fabricantes apresentando seus produtos e serviços voltados para o público feminino.

Por tudo isso, os fabricantes de motos já começam a dar uma maior atenção para o poder de compra e de influência sobre a decisão de compra das mulheres. Nesta linha, a Ducati já foi patrocinadora principal da Femmoto de 2006 e mantém um espaço especialmente dirigido para o público feminino em seu site (www.ducati.com), o “Desmo Women”, onde as leitoras podem encontrar eventos que lhes são mais apropriados e interagir com artigos e “e-cards”, entre outras possibilidades.

A Yamaha, por sua vez, patrocina a equipe da pilota Jessica Zalusky, que compete profissionalmente nos campeonatos AMA Formula Xtreme e AMA Supersport.

No Brasil, a participação das mulheres é até expressiva. Segundo dados da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Similares), as brasileiras já compram mais de uma em cada quatro motos novas vendidas.

Nas competições nacionais, a participação de pilotas ainda se pode dizer “modesta”. No motocross, principalmente, já existe uma participação mais relevante, com provas exclusivamente compostas de mulheres. Nesta modalidade, não só mulheres, mas famílias inteiras participam das provas, incluindo marido, esposa e filhos.

Patrícia e Greg Fuhr são um bom exemplo desta integração familiar. Eles vivem o motociclismo. O casal tem uma grande loja de acessórios para motos e motociclistas em Novo Hamburgo (RS) e, nos finais de semana de competições, ambos pegam seu trailer, reúnem toda a família e vão disputar as provas como pilotos de motocross.

Um detalhe importante é que Patrícia foi uma das fundadoras participantes do primeiro grupo de mulheres que andam de motocross, desenvolvendo uma prova específica só para mulheres.

Greg já é praticante há três anos e, no ultimo campeonato gaúcho de motocross, obteve a quarta colocação na sua categoria. Patrícia foi mais longe e em apenas um ano de treinamento obteve a segunda colocação no off-road feminino estadual.

Na motovelocidade, infelizmente, a participação ainda é bem rara e praticamente só homens disputam provas e campeonatos. No Rio Grande do Sul, no entanto, há bons exemplos de que as mulheres devem invadir os boxes e as pistas nos próximos anos.

Começando pela própria FGM (Federação Gaúcha de Motociclismo), que é dirigida por uma mulher, Lorena Herte de Moraes. Nos últimos anos, ela vem empreendendo um grande esforço no sentido de revitalizar o esporte, agregando mais participantes e melhores condições de prática nos autódromos gaúchos. As gaúchas, na motovelocidade, são isentas de taxa de inscrição de participação. Precisam apenas entrar com sua moto na pista e competir.

Disputando o Campeonato Brasileiro de Motovelocidade, a gaúcha e aeromoça Michele Carpim vai para os autódromos do Brasil correr entre outros 30 homens, em média, pela categoria 250 cilindradas. Até pouco tempo, Michele era a única mulher em disputas na motovelocidade brasileira.

Outro exemplo de gaúcha intrépida, que não tem medo de competir com homens na falta de outras mulheres para formar uma bateria exclusivamente feminina, é Gisele Flores. Ela é a "pilota" de numeral 18 da FGM e, recentemente, disputou seu primeiro campeonato, a 1ª Copa de Supermoto do estado, terminando a competição em quarto lugar, à frente de outros nove homens que disputaram provas com ela.

E não foi nada fácil não. Na terceira etapa desta Copa, Gisele sofreu uma queda séria durante os treinos, retornou para correr a prova, mesmo machucada, e ainda finalizou em quinto naquele dia. Uma semana depois, desobedeceu ordens médicas, retirou a tala de gesso que estava usando nos últimos cinco dias e foi para a pista novamente, tudo para conseguir pontuar e terminar em boa classificação no campeonato.

“Tenho consciência de que não possuo a habilidade de pilotar como alguns homens, mas tenho muita perseverança e garra. Acredito que mais do que buscar um título, almejo proporcionar um bom exemplo a ser seguido por outras mulheres, incentivando-as a superar o medo, preconceito e receio de mostrarem que também podem ser excelentes com motos.”, afirmou Gisele.

E ela não pretende parar por aí. Gisele está participando do Campeonato Gaúcho de Motovelocidade, na categoria 250 cilindradas, e após três etapas realizadas está em quinto lugar na classificação geral do campeonato, dentre 14 homens.

Vão longe essas mulheres!


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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