Financeiras preferem o hobby
Segmento de baixa cilindrada sente as restrições de crédito, ao contrário das motos de média e alta cilindradas
Por Leandro Lodo
Por Leandro Lodo
Aldo Tizzani
Que o segmento de duas rodas não passa por um bom momento todo mundo sabe. E a falta de crédito como o principal vilão da história já virou notícia velha. Mas um olhar mais atento enxerga pontos positivos no meio desta crise que se instalou nos produtos de baixa cilindrada. O mercado de motos no Brasil é dividido em dois blocos: o até 450cc, que representa 97,6% de todas as motos vendidas no País, e as de média e alta cilindradas - que somam apenas 2,4%. Parece pouco, mas não é!
Em agosto, o setor teve um leve aumento de 1,56% no comparativo com julho. Foram emplacadas 140.641 unidades contra 138.485 motos do mês anterior. Mas ao ser comparado a agosto de 2011, o setor apresentou retração de 22,45% e, no acumulado, a queda chegou a 10,48%. O futuro não parece tão promissor já que o setor deve encerrar 2012 com retração de 12%, totalizando 1.707.754 unidades comercializadas. A projeção, divulgada em 4 de setembro pela Fenabrave, coloca o setor em patamares próximos aos obtidos entre os anos de 2009, com vendas de 1.609.180 unidades, e 2010, ano que apresentou uma leve recuperação, acumulando 1.803.769 motos emplacadas.
A região Nordeste domina o mercado nos últimos quatro meses, com mais de 35% de participação. Em segundo lugar, perdendo terreno gradualmente, está a região Sudeste. Um dos motivos para este crescimento do Nordeste é o aumento da renda da população e também uma maior criatividade e lastro financeiro por parte das concessionárias para concretizar suas vendas, sem depender das financeiras. Um exemplo é a Aliança Motos, revenda Honda de Pernambuco, que tem oferecido aos seus clientes financiamento próprio. Na maioria são pessoas que buscam na moto uma solução para transporte ou mesmo instrumento de trabalho, um consumidor que parece não interessar às financeiras.
Hobby em alta
Enquanto isso, o usuário que usa a moto como hobby tem maior oferta de crédito e isso impulsiona esse comércio. Em 2005, foram vendidas 9.436 motocicletas acima de 450 cc, que correspondiam a apenas 0,9% do mercado de motos. Em 2011, seis anos depois, as vendas dessa categoria de motos quadriplicaram: 39.892 unidades.
Esse tipo de consumidor tem como comprovar sua renda, mas vender para ele exige investimentos dos fabricantes em pontos de vendas diferenciados. Um exemplo é a Honda que tem 73 lojas baseadas no conceito “Dream“, revendas especializadas em comercializar as motos de alta cilindrada – desde a CB600F Hornet até a GL1800 Gold Wing.
"Quando lançamos o programa Honda Dream, no segundo semestre de 2011, a participação da Honda no segmento acima de 450cc era de aproximadamente de 27%. A variação desde então foi positiva e atingimos um market share de 30,1%, no primeiro semestre, com pico de 33%. No acumulado de 2012, de janeiro a agosto, tivemos 9.473 unidades vendidas, contra 7.014 do mesmo período do ano passado", avalia Alexandre Cury, gerente geral comercial da Moto Honda. Segundo Cury, atendimento diferenciado e pós-venda eficiente também consolidam uma marca.
Outro exemplo são as marcas BMW e Harley-Davidson, fabricantes de motos de alta cilindrada com metas ousadas no Brasil. A BMW emplacou 5.553 unidades em 2011. Até agosto já foram licenciadas 4.703 motos da marca bávara, que corresponde a 0,42% do market-share do total de motos vendidas no País. “Com um crescimento bastante acentuado este ano, quase 60%, queremos superar seis mil unidades até o final de 2012 e bater nosso recorde histórico no Brasil”, comemora Rolf Epp, diretor da BMW Motorrad Brasil.
Na cola da BMW está a Harley. Depois de implantação da nova gestão no Brasil, a marca norte-americana não para de crescer. De janeiro a agosto foram emplacadas 4.438 unidades (0,39% do share total do segmento moto), contra 5.200 motos em 2008. Se tudo caminhar conforme o “script”, a HD vai bater seu recorde histórico este ano. “Os números demostram que estamos no caminho certo e consolidam nossa participação no mercado de motocicletas Premium. Vale lembrar que nessa mesma época no ano passado, tínhamos apenas quatro concessionárias funcionando, sendo que as primeiras só passaram a comercializar motocicletas em abril de 2011. Hoje temos 11 revendas”, explica Júlio Vitti, gerente de Marketing, Produtos e Relações Públicas da Harley-Davidson do Brasil.
Outro nome associado a motos de alto desempenho que se destinam a motociclistas em busca de um hobby é a japonesa Kawasaki. A marca apresentou números semelhantes entre agosto de 2011 e agosto de 2012. No ano passado a marca vendeu 3.927 unidades. Já em 2012 esse número é de 3.966 motos licenciadas.
omo mostram os emplacamentos, o motociclista que usa a moto como hobby tem correspondido aos investimentos das fábricas e recebe o respaldo das financeiras na hora de concretizar o negócio. Enquanto as motos de baixa cilindrada, usadas por mais de 95% dos motociclistas no Brasil, dependem muito mais da criatividade e fôlego das concessionárias do que interesse das financeiras.
Fotos: Arquivo/Agência Infomoto/Divulgação
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