Perigo no pedágio

Motociclistas se mobilizam para lutar por melhores condições de segurança nas rodovias pedagiadas do país

Por Aladim Lopes Gonçalves

Motociclistas se mobilizam para lutar por melhores condições de segurança nas rodovias pedagiadas do país

 

Aladim Lopes Gonçalves

As motos costumam sofrer nas estradas por causa do tráfego de veículos pesados e das más condições de conservação. Um cenário que prometia mudar com a implantação dos pedágios e obras de recuperação nas grandes rodovias pelas empresas concessionárias. Apesar do custo para o bolso dos usuários, as condições de rodagem vêm melhorando para todos os veículos, mas os motociclistas reclamam que algumas praças de pedágio têm passagens estreitas e com obstáculos, e por isso são perigosas para as motocicletas, especialmente as de médio e grande porte.

Depois de ter tombado com a sua motocicleta, uma Gold Wing 1800, durante a travessia do pedágio da rodovia dos Imigrantes, em abril de 2012, e ter ouvido vários relatos semelhantes de acidentes e quedas nas passagens de motos em pedágios, o advogado Álvaro Nunes Júnior, abraçou o movimento “Não ao Pedágio Perigoso”, reivindicando junto às concessionárias de rodovias e às autoridades competentes mudanças imediatas para melhorar as condições de segurança para as motos nas rodovias pedagiadas.

“Como não há uma regulamentação para as motos nos pedágios cada concessionária faz a passagem como bem entende. O que se vê mais são corredores estreitos e barreiras com cones, blocos e chicanes. Por isso exigimos um pedágio seguro para a circulação de motocicletas de todos os portes com pelo menos 1,80 m de largura, pista em linha reta, piso antiderrapante e sem obstáculos, nas praças com cobrança de motos e nos pedágios de passagem livre”, destaca o advogado.

O movimento já mostrou sua força em duas manifestações em praças de pedágios, uma na rodovia Castello Branco, no dia 17 de junho, e outra no complexo Ayrton Senna-Carvalho Pinto, no dia 1º de julho, que contaram com a participação de dezenas de motociclistas e o apoio de federações e motoclubes de todo o país. Nos dois protestos, realizados de forma pacífica e sem causar maiores transtornos aos usuários, segundo os organizadores, Álvaro Nunes leu um manifesto, cobrando mais segurança nos pedágios e propondo uma padronização na travessia das motos.

- Veja o vídeo da 1ª manifestação dos motociclistas

Mas a indignação dos motociclistas vai além dos danos materiais nas suas motos devido a quedas e raspões, pois também há histórias de pessoas que se machucaram com mais gravidade ao passar com suas motos nos pedágios. Esse é o caso de Felício Marques que caiu com sua Shadow 750 e fraturou a fíbula (osso lateral da perna, abaixo do joelho) e precisou de sete meses para se recuperar da queda.

O acidente aconteceu no pedágio da rodovia Castello Branco, altura de Barueri (Grande SP), há dois anos, e fora o longo período afastado das estradas, a queda lhe rendeu um prejuízo de R$ 1.300 com o conserto da moto. “Sou um motociclista bastante tranquilo. Ando de moto há mais de 40 anos e esse foi o problema mais sério que tive até hoje”, ressalta.

Padronização
Para o professor do Insper e especialista em infraestrutura e trânsito, Eduardo Rossit Padilha, a padronização da passagem de motos nos pedágios é uma medida importante para aumentar a segurança e pode ser adotada pelas concessionárias, mas as pistas menores ainda são necessárias para que as motos de pequeno porte não abusem do limite de velocidade. “O ideal seria que as motocicletas maiores utilizassem as cabines dos veículos convencionais e pagassem o pedágio.”

Segundo Eduardo Padilha, que também é um dos motociclistas que encaram o conturbado trânsito da cidade de São Paulo, a motofaixa das avenidas Sumaré e Paulo IV, que mede dois metros de largura, é um ótimo exemplo e poderia servir como referência. “Acredito que esse modelo deveria ser o padrão para a passagem de motos nos pedágios, porém, com certa flexibilidade para não inviabilizar a sua implantação onde não seja possível atingir uma largura de dois metros.”

A falta de uma normatização induz as concessionárias de rodovias a definirem regras próprias para a passagem das motos nos pedágios. Como esclarece o Grupo OHL Brasil, que possui nove concessionárias no país e se baseia na demanda de veículos e na estrutura das estradas para atender os motociclistas com mais rapidez e segurança. Nesse sentido, a empresa informa que criou uma cabine específica para moto, com largura de 3,30 metros, na praça de pedágio 5 da BR-101, na região de São Gonçalo (RJ).

A concessionária Ecopistas (Grupo EcoRodovias), que administra o corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto (SP-70), também não segue um padrão específico. A empresa informa que as cabines ficam posicionadas nas extremidades das praças e não têm obstáculos. A administradora enfatiza que desde o início das suas operações, em junho de 2009, registra apenas um acidente com motocicleta no pedágio e até junho deste ano já passaram mais de 4.200 motos pelas quatro praças das rodovias.

Apesar de oferecer cabines exclusivas para motos, a concessionária diz que os motociclistas também podem optar por fazer o pagamento da tarifa em qualquer cabine de suas praças. Além disso, a empresa conta que facilita a cobrança e a passagem nos pedágios de integrantes de motoclubes e grupos de motociclistas.

Projetos
Como o tráfego de motocicletas nas rodovias vem crescendo a olhos vistos, resultado de uma frota de mais de 18 milhões e das vendas em alta do mercado Premium (modelos de grande porte), os projetos para a melhoria na segurança, estrutura e atendimento dos motociclistas nas estradas vêm sendo tratados como prioridade por órgãos públicos e empresas que administram os sistemas viários.

Por envolver áreas estratégicas como transporte e saúde, a busca por uma padronização ou regulação para a passagem das motos nos pedágios é um dos temas no topo da pauta de discussões, mas, ao menos por enquanto, o que se vê são algumas ações em desenvolvimento e nenhuma proposta ou projeto definido.

O OHL Brasil e a concessionária Ecopistas participam de um grupo de trabalho juntamente com a Artesp (agência reguladora dos serviços de transporte no Estado de São Paulo) e a Abraciclo (associação dos fabricantes de motos) para estudar propostas de padronização para a passagem de motos nos pedágios.

No entanto, a Artesp informa que não tem previsão para a conclusão desse trabalho e que nesse momento estão sendo feitos testes em pista e estudos. A Abraciclo destaca que as entidades começaram a conversar sobre a adoção de padrões para a passagem de motos nos pedágios no início de 2012 e espera apresentar resultados e soluções em breve.

O OHL Brasil também está com outra iniciativa sendo desenvolvida para os motociclistas nos pedágios das rodovias BR-101, BR-116 e BR-376, trechos no Paraná e em Santa Catarina, que prevê a implantação de uma pista exclusiva para motos com cobrança manual e automática (com sensor que libera a cancela), nos moldes dos sistemas Sem Parar e Via Fácil.

A reportagem do MOTO.com.br também enviou e-mails pedindo informações e entrevistas ao Grupo CCR, que administra rodovias como Castello Branco, Presidente Dutra, Anhanguera, Bandeirantes, entre outras, mas não tivemos resposta. Já assessoria de imprensa da ABCR (associação das concessionárias de rodovias) afirmou que o assunto poderia ser tratado diretamente com as empresas associadas. O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), órgão do Ministério das Cidades, respondeu por e-mail que não dispunha das informações solicitadas. Também foi feito contato com ANTT, mas a agência não deu retorno.

Fotos: Paulo Souza, Reprodução e Divulgação


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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