Viagem para conhecer o Pantanal Sul e Bonito

Aventureiro viajou mais de 1200 quilômetros com sua XT 660R conhecendo as belezas e encantos do Pantanal

Por Usuário Motoreporter

Thiago Lucas Santos

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"Conhecer um dos biomas mais ricos do Brasil é um preceito para todos os amantes do mototurismo. Com uma área de aproximadamente 228 mil quilômetros quadrados, o Pantanal é considerado pela UNESCO como Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera, e é capaz de render indubitavelmente prazerosos momentos, principalmente àqueles que aspiram um contato mais íntimo com a natureza."

Com a bagagem arrumada e o coração palpitante, parti pela primeira vez rumo ao estado do Mato Grosso do Sul. Percorrendo exatamente 800 km no primeiro dia, cheguei a Ribas do Rio Pardo, "Capital dos Frigoríficos", onde optei por pernoitar nessa primeira noite.  Logo ao alvorecer, aprontei-me e novamente percorri a BR 262, que me levou ao princípio da Estrada Parque de Piraputanga.

Criada em 2000 com propósito de conservação, a Estrada Parque de Piraputanga possui aproximadamente 43 km. Grande parte do seu percurso contorna a Serra de Maracaju. Ela, por si só, merece toda atenção. Essa imponente serra com pontos culminantes de até 750 metros divide o solo sul mato-grossense em dois: a leste ficam para trás os campos de cerrado enquanto se inicia, a oeste, o Pantanal Sul. Daqui em diante o Pantanal seria meu solo. Abasteci em Aquidauana (cidade portal do Pantanal) e prossegui para Miranda pela BR 262. Meu plano era seguir rumo a Corumbá pela Estrada Parque (região rica em biodiversidade).

Porém, com apenas algumas horas antes do sol se por e com tempo ameaçando chuva, optei por seguir para Corumbá por rodovia pavimentada (BR 262). Cheguei à “capital pantaneira” já anoitecendo, e logo procurei um hotel para pernoitar. No dia seguinte, para minha frustração, o dia amanheceu nublado e com temperaturas baixas. Adiei novamente a travessia da Estrada Parque. Situações adversas como chuva, estradas e tempo, nunca me impediram de prosseguir uma aventura. Porém, nessas condições, seria difícil observar a fauna local. Assim com o dia todo disponível, embrenhei-me rumo à região fronteiriça. Pela primeira vez adentraria solo estrangeiro. A cidade Puerto Quijarro, na Bolívia, não me renderia grandes surpresas. O pouco que permaneci no local foi o suficiente para perceber que a cidade, em si, gira em torno do comércio. Confesso que os preços são bem atraentes, mas livre dessa gana consumista regressei desapontado para Corumbá, Brasil.

Localizada às margens do rio Paraguai, grande parte do município é ocupado pelo pantanal sul mato-grossense. Não é a toa que seu apelido é de capital pantaneira. Andei o resto do dia por Corumbá, descendo ao Porto Geral. De um lado o rio Paraguai e, do outro, suas construções históricas deslumbrantes. Com algumas horas ainda antes do sol se despedir de mim, subi a via sacra que leva ao cume do Morro do Cristo. No seu topo é possível observar toda planície pantaneira e as imensas curvas dos rios Paraguai e Cuiabá. Não há como não ficar atônito com tamanha grandiosidade. No dia seguinte - diferente do anterior - o céu amanheceu limpo e com a temperatura amena. Ligeiramente organizei minhas bagagens, abasteci minha guerreira e rumei para a Estrada Parque.

Aberta pelo Marechal Cândido Rondon no final do século XIX, seus 120 km ligam a região de Lampião Aceso, em Corumbá, à BR 262, no Buraco das Piranhas. Embrenhei-me pela estrada e logo no começo do seu trajeto parei para admirar o Maciço do Urucum. É possível observar uma de suas faces vindo pela BR, porém no meu caso, como estava chovendo, passou batida. Depois de algumas fotografias, unido com minha moto, subi um pequeno aclive e desci um pedregoso declive, que me levou à planície pantaneira. Daqui. Essa magnífica região do Brasil provê a vida a mais de mil espécies de animais. Era difícil desenvolver uma velocidade superior a 20 km por hora, já que estava cercado de belas paisagens e rústicas pontes de madeiras, que somadas passam de 70.

Apesar de a estrada estar em boas condições, alguns dias antes seria impossível perambular pela região, pelo menos não com um automóvel ou uma motocicleta. Na época de cheia a estrada vira um rio e é possível atravessá-la somente de barco. Para minha sorte a estiagem tinha começado, as vazantes secaram e os corixos apareceram. A vida pantaneira renasceu. Contudo, o Pantanal se encontrava levemente alagado. Os rios com águas escuras refletiam tudo à sua volta e a cor verde predominava em suas margens. Segui observando as paisagens até o rio Paraguai, onde teria que fazer a travessia via balsa. Até o momento não avistara nenhuma espécie de animal, e isso me instigou a desbravar o Pantanal não só por terra, mas também via fluvial. Vendo um pantaneiro vindo em minha direção, questionei-o a respeito de um barco para desbravar a região. Para minha sorte o próprio se sujeitou a me levar a uma das sub-regiões pantaneiras: o Pantanal do Abobral (é um dos pantanais mais baixos dentre os conhecidos, sendo um dos primeiros a encher com a chegada das chuvas em outubro).

Descemos cerca de 40 minutos pelo rio Paraguai e adentramos um de seus afluentes, o rio Abobral. A vegetação é do tipo savana e campo. Nela se encontram extensões de campos limpos intercalados com pequenos capões de mata (bosques). A abundância de vida é impressionante: aves sobrevoavam o barco e jacarés inertes tomavam sol às margens do rio. Em um determinado momento, Odair (pantaneiro que pilotava o barco) aproximou-se cautelosamente de um jacaré hirto. Calculo que o réptil tinha 3 metros de comprimento. Talvez pelo seu porte ele não se mostraria acanhado com a nossa presença. Diferente dele fiquei assustado. Afinal, não é todo dia que você encara um predador, que está a pouco mais de um metro de você.

Regressando para o porto tivemos uma surpresa, uma família de Bugios se encontrava nas margens do rio Paraguai. Não há como não se impressionar com seu porte. É considerado o maior macaco do pantanal. O bugio é conhecido por emitir sons que podem ser ouvidos por toda a mata. De volta ao Porto da Manga fiz a travessia de balsa e avancei pela estrada. Daqui em diante a região é rica em animais silvestres. Deparar-se com jacarés tomando sol nas estradas e capivaras cruzando seu caminho é normal. Essa região da estrada é denominada Pantanal da Nhecolândia. Na região da Nhecolândia – diferente dos trechos anteriores da estrada – dificilmente você percorrerá um longo trecho sem parar sua moto para contemplar a fauna e registrar em sua câmera. Um desses registros foi o Cervo-do-Pantanal. Meu camarada Marcos Gazola (Carcará) esteve aqui uns tempos atrás e me descreveu, ao regressar, a beleza desse mamífero, que é o maior cervídeo da América do Sul. Realmente seu porte impressiona. Suas galhadas (cervo macho) podem atingir até 50 cm de comprimento e seu peso pode passar dos 130 kg. Esse foi o desfecho perfeito para o Pantanal.

Ainda na Estrada Parque cruzei a ponte sobre o rio Miranda e o distrito Passo da Lontra, que me levou novamente para a BR 262. Minha aventura no Pantanal terminava aqui. Porém, antes do meu regresso, resolvi estender minha viagem até a região da Serra da Bodoquena. Essa região é referência no turismo ecológico, principalmente Bonito, que é conhecida pelos seus rios cristalinos repletos de peixes e suas grutas. A cobrança de tarifas, reservas ecológicas e guias locais contribuem para a preservação ambiental, mas no caso de Bonito creio que não seja preservação, e sim exploração. Enfim, mesmo com os altos valores dos vouchers (uma espécie de passaporte para as atrações), vale a pena conhecer a cidade.

No meu primeiro dia de estadia, optei por conhecer a Gruta do Lago Azul. Seu lago de  tom azul é quase irreal, devido  à incidência do sol. Entre dezembro e o inicio de janeiro, na parte da manhã, os tons ficam ainda mais intensos. Sua profundidade é desconhecida e há evidências de fósseis pré-históricos (estima-se que o local tenha 10 milhões de anos). De volta ao centro de Bonito, e ainda com tempo, conheci o Balneário Municipal. O local dispõe de estacionamento, lanchonetes e restaurantes, além de quiosques com churrasqueira. A água cristalina do balneário permite uma nítida visão de peixes de cores e tamanhos variados. Não há como resistir a um mergulho no Rio Formoso.

Postergando ainda mais o retorno, permaneci por mais um dia em Bonito e conheci mais dois atrativos localizados no Recanto Ecológico Rio da Prata, em Jardim. O primeiro foi à flutuação no rio da Prata. Apesar do nome, grande parte da flutuação ocorre na nascente Olho D'água. São mais de 50 espécies de peixes. É incrível: você flutua ao lado de gigantes dourados e cardumes de piraputangas e pacus. No mesmo recanto se encontra a Lagoa Misteriosa. Trata-se de uma dolina, formada pelo afundamento de uma rocha. É a primeira caverna inundada do Brasil com autorização para receber turistas. Após uma pequena trilha é preciso descer uma escadaria com pouco mais de 180 degraus. Depois de alguns preparos e devidamente equipado é possível mergulhar em suas águas. O mergulho é fenomenal! A experiência de mergulhar em águas tão transparentes de um abismo é equiparável a de estar voando, como se você estivesse solto no ar. Enfim, minha expedição pelo Pantanal tinha chegado ao seu desfecho, e após rodar mais de 1200 km estava em minha terra novamente.


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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