Reinaldo Baptistucci: Sejam bem-vindos

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker fazem um panorama do mundo das duas rodas e suas diferentes propostas

Por Aladim Lopes Gonçalves

 

Reinaldo Baptistucci e Karin Birgit Stoecker
Mais que motociclistas e fãs de motos, são hábeis contadores de histórias e profundos conhecedores do mundo das duas rodas, sendo verdadeiros apaixonados por viagens e aventuras pelas rodovias do país e nações vizinhas.

 

- Alô, bom dia, quando vocês zarpam.

Do outro lado da linha uma voz conhecida se apresenta, era meu irmão que ainda não sabia para qual lado do Brasil a gente iria viajar.

- Abel, tudo bem por aí?

- Sim Reinaldo, e com vocês, já está tudo certo?

- Sim, estamos estudando o tempo e as temperaturas, fiquei sabendo que no Rio a sensação térmica chegou a 50 graus.

- Pra onde vocês vão desta vez?

- Cabrobó – Pernambuco.

Na verdade, eu estava preocupado, pois já sabia que passaríamos por uma região que não vê chuva a mais de três anos, um deserto. 

26 de Dezembro de 2016

Espeto a primeira, são 5 da manhã e depois de tanquear, entramos na Dutra com respeito.

As motos já estavam prontas e revisadas e quando amanhece já estamos longe no trecho com destino a Piraí/RJ. Mas a viagem propriamente dita começou há quase dois meses antes, com a preparação detalhada de todo o equipamento que levaríamos incluindo Câmaras de Ar, Barraca e Ferramentas para, se preciso, desmontar quase toda a Moto.

O roteiro que escolhemos nesse primeiro dia deixou claro nosso acerto, Piraí – Mendes – Além Paraíba com temperaturas beirando 38 graus, mas sem trânsito, com muitas curvas e montanhas, um belo visual que passamos sem chuva. Melhor assim. 

27 de Dezembro de 2016

Mais uma vez logo pela manhã já estamos aquecendo os motores, hoje é dia de retornar a BR 116 com destino a Governador Valadares/MG.

Estamos na Rio-Bahia. Em 1974 rodei por ela com uma RD 350 hoje vou de F 800 GS, lógico que muita coisa mudou mas a estrada continua muito igual para um 2016, poderia sim ter melhorado o que de fato não ocorreu. Seguimos com muito cuidado mantando os 80 km/h, está bom, sem pressa vamos seguindo, para nosso novo Rumo, Teófilo Otoni/MG. 

Uma Pedra no Caminho.

Minas, ficou para traz, entramos na Bahia, com um sol enorme e céu cheio de nuvens que mais pareciam chumaços de algodão. Pouco trânsito e retões que nos levariam a Feira de Santana/BA. A viagem e motos estavam indo muito bem e aos poucos fomos nos habituando a um clima pra Lá de Seco.

Já passava das 16 horas do dia 28 de Dezembro quando encostamos no Posto Irmão Caminhoneiro a 7 kms da cidade de Milagres/BA.

Seria o início de uma longa espera, minha parceira estradeira não esta se sentindo muito bem, atribuímos essa sensação ao calor exagerado pois durante o dia as marcas ultrapassavam 42 graus, mas não era o que realmente estava acontecendo.

As dores que a Pinny sentia eram na lateral do corpo, próximo à cintura e uma suspeita se transformou em realidade. Uma Pedra no Rim.

Resumindo: quem já passou por isso, sabe que é impossível pilotar com segurança uma Motocicleta se você está com uma Pedra a te Corroer por dentro. Tomamos uma decisão; após a Pinny ser Medicada, ficamos no Posto esperando uma melhora.

Dia 29, 30, 31 e 1 de janeiro de 2017 ficamos quietos, vendo o sol nascer e desaparecer no Horizonte, a Pedra estava andando em direção a bexiga e seu estrago era visível, elevando a temperatura corporal da Pinny para 39 graus e tudo era uma questão de tempo e sorte. Eu fui mais de uma vez para Milagres providenciar os remédios que já estavam acabando, normalmente o lance de Remédios fica por conta da Pinny, mas com certeza a medicação não podia falhar e com a ajuda providencial do farmacêutico não faltou nada.

Sumiram as dores, a Pedra rolou e a infecção urinária cedeu e junto com ela a temperatura se estabilizou em 37 graus, febril, mas melhor que nos dias anteriores. Foi aí que mudamos todo plano de viagem, o que nos levou a rodar no dia 2 de janeiro com destino certo à Camamu e Barra Grande na Península de Marau/BA, por lá estava o pessoal da nossa família, foi bom revê-los.

Os dias passados na Península foram Ótimos, a Pinny se recuperou totalmente para nosso alívio e desta forma já estava na hora de seguir viagem com destino a Cabrobó/PE. 

De Camamu a Canudos

Saímos de Camamu com destino marcado, passaríamos em Canudos/BA, terra de Antonio Conselheiro, local que foi palco de uma Guerra Feroz que entre os anos de 1896 a 1897 causou a morte de 25.000 pessoas. Sempre quis conhecer Canudos e desta vez deu certo. Andamos pelo povoado e aproveitamos para ir ao mirante, um lugar muito especial, de um lado uma represa cheia de água e do outro um deserto Árido. 

Pernambuco

Estamos mais uma vez na Estrada, calcinada pelo sol impiedoso, a caminho para IBÓ que faz fronteira BA/PE - muito animal solto na pista, cabras e cabritos aos montes, num retão sem fim, impressionante a quantidade de Bois, Cavalos, Jegues atropelados, o mais incrível ainda é a ausência de Urubus, por falta total de água os animais mortos secam e ficam com aparência de Múmias.

Neste trecho também a presença de Retirantes nos chamou a atenção, uma situação crítica e insustentável faz com que muitos abandonem seus lugares de origem e percorram a pé centenas de kms.

Não vamos esquecer as cenas saídas de algum livro imaginário que se torna verdade a cada pedaço da estrada percorrida, muito triste. 

Piranhas AL

Ela está a Margem do Rio São Francisco, espremida entre montanhas esse famoso povoado Alagoano tem muito a oferecer. Aproveitamos para fazer um passeio de Catamarã pelos Canyons da Barragem de Xingó, foi incrível poder constatar a água Roxa em alguns lugares, fazendo um contraponto impressionante com a secura do entorno. 

Tempo de Voltar

Mapa na mão e a pergunta?

- Pinny sua vez ... pode escolher a vontade, estrada e cidades não falta no Cardápio

- Canavieiras/BA...vamos mais uma vez ver o mar.

- Gostei vamos ver quantos kms?

- De Piranhas a Canavieiras ... 952 km - BR 110 e BR 101.

Perfeito, rota traçada, no dia seguinte ligamos os motores e fomos. 

Canavieiras BA

Em 2012 passamos por lá antes de subir para Sergipe, agora em 2017 estávamos fazendo o caminho inverso depois de PE / AL / SE voltaríamos a rever essa cidade que fica de frete para o mar e é totalmente plantada com coqueiros com um núcleo histórico bem preservado.

Passeio de Voadeira estava incluso no nosso modesto roteiro.

Côco gelado, isca de peixe e caipirinha com brisa do mar e uma vegetação verde esmeralda, quanto contraste. 

Hora de voltar, mas bem devagar.

De Canavieiras para SP faltavam 1.644 km via BR 101 (ES / RJ / SP).

Liguei para Sampa e fiquei sabendo que não parava de chover e a previsão é que passaríamos por um Rio de Janeiro em baixo da água, mas depois de tanta secura nós não víamos a hora de pelo menos receber uns pingos em nossas jaquetas ressecadas. 

Um fim sem fim

Nossa viagem foi única, como todas as que já fizemos, voltamos melhores e mais antenados ao que realmente está acontecendo por aí.

Gastamos pouco e rodamos 6.000 km e por todos os lugares que passamos o que mais escutamos foi a emblemática frase. 

Sejam bem-vindos.

E de fato fomos. 

Abraços aos Irmãos Estradeiros!


Fonte:
Equipe MOTO.com.br

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