Moto Grupo conquista o Iron Butt 2008

Sahara Maníacos do Brasil encararam quase 2.500 quilômetros em um prazo de 36 horas.

Por Leandro Alvares

Movidos pela paixão de pilotar uma moto e conhecer novos lugares, nós do Moto Grupo Sahara Maníacos do Brasil decidimos mais uma vez realizar o desafio norte-americano denominado Iron Butt.

O desafio é proposto por uma Associação Americana que testa os melhores motociclistas de todo o mundo em provas de longas distâncias, nas quais os próprios competidores escolhem o percurso e enviam os comprovantes de abastecimentos, fotos e planilhas com assinaturas de testemunhas na largada e chegada para assim serem certificados.

Tínhamos este ano sete integrantes dispostos a percorrer 1.500 milhas, o equivalente a 2.414 km, num prazo de 36 horas: Paulo Henrique "Corinthiano" (XTZ Super Ténéré 750), Henrique Lemos (XT 600), Ulisses (NX 350 Sahara), Edinho (NX 350 Sahara), Rodolfo (NX 350 Sahara), Cris (NX 350 Sahara) e Willy "Justi" (NX 350 Sahara).

Destes participantes, três já fizeram as 1000 milhas no ano passado: Willy e Cris, que completaram o desafio, e Edinho, por causa de um acidente (bateu em uma vaca na Rodovia) não conseguiu finalizar.

Os veteranos e outros quatro novos desafiadores testaram seus limites em mais uma edição do Iron Butt realizada no Brasil. O percurso escolhido foi sair de São Paulo (SP) em direção a Brasília (DF), passando na volta por Goiânia (GO) e retornando até São Paulo via São José do Rio Preto, Ourinhos e finalizando em Campinas, onde nossos amigos aguardariam nossa chegada.

Aventura, adrenalina, lazer e muita vontade de alcançar um objetivo. Assim, os sete integrantes saíram em direção a Brasília no dia 11 de outubro, às 3h30. Na largada, muitos amigos saharamaníacos compareceram para testemunhar o início do desafio e assinar as planilhas.

Na madrugada de sábado, o tempo estava ótimo, não estava frio e o encontro inicial fora marcado com todos os desafiadores em um posto na Marginal Tietê. A partir de lá, poderíamos percorrer toda a extensão da Rodovia Bandeirantes em uma velocidade média de 120 a 130 km/h.

Nada de imprevistos e tudo correndo como planejado, logo pegaríamos a Rodovia Anhanguera (SP 330), onde um festival de radares que nos obrigou a reduzir a velocidade. De Vera Cruz (SP) saía também Rodolfo com sua NX Sahara 350cc em direção a Ribeirão Preto, onde iria nos encontrar em um posto nas margens da rodovia.

No caminho, um treminhão passou em sentido contrário e com a grande vibração arrancou fora a carenagem direita de sua moto. Apesar do susto, Rodolfo perseverou, parou em um posto da Polícia Rodoviária para colher informações sobre a rodovia e amarrar a carenagem (antes andando com ela pressionada pelo joelho).

Após entrar na Rodovia Anhanguera, sincronizadamente nos encontramos em um posto. Agora o grupo estava completo, os sete participantes estavam juntos para a longa jornada.

Estávamos entrando no Triângulo Mineiro, olhávamos admirados para os lados e aquelas planícies repletas de plantações que se confundiam com o horizonte. Logo começaram os imprevistos, bem próximo a Uberaba (BR-050), uma rajada de vento lateral mantinha as motos em quase 45 graus. Rodamos assim por uns 200 km e às vezes a moto do Corinthiano (Super Ténéré) chegava até a "morrer" devido à falha na queima provocada pela falsa entrada de ar.

O vento incomodava e chegava até a ameaçar nossa segurança. Devido a esse primeiro obstáculo natural tivemos que reduzir bastante a velocidade. Havíamos nos programado para que nossas paradas fossem de 10 a 15 minutos, porém na prática não conseguimos manter a regularidade, pois em muitos postos havia apenas uma bomba de combustível para abastecer todas as motos e estas longas paradas deixavam nosso tempo cada vez mais escasso.

Não tínhamos muito espaço para longas paradas. Os sete motociclistas precisavam parar para abastecer, pegar comprovantes e esticar as pernas, isso despendia bastante tempo e tínhamos que tirar toda a diferença na estrada, andando cada vez mais rápido.

Ainda na BR-050, onde dividíamos o espaço com carros e caminhões já em pista dupla, nosso grupo se dividia, pois as ultrapassagens aumentavam as distâncias entre nós. Contávamos com o auxílio de nosso amigo Edu Fernandes, em São Paulo, que monitorava nossa posição via celular e junto ao nosso site na Internet (www.saharamaniacos.com.br) em tempo integral.

Um pouco antes de chegar a Cristalina (GO), Rodolfo teve seu pneu traseiro furado. Os sprays que levávamos para estes incidentes não funcionaram e o rebocamos até o borracheiro mais próximo, a uns 3 Km dali. Corinthiano ficou com ele enquanto os outros seguiram até o próximo posto para adiantar os abastecimentos.

Chegamos a Brasília às 19h, com 1000 km rodados. Paramos para tirar algumas fotos e, como o tempo não estava a nosso favor, seguimos em direção a Goiânia sentido BR-153 para chegarmos ao nosso destino final, pois restavam ainda 1.400 km para completarmos o desafio.

Decidimos formar três grupos menores para diminuir o tempo das paradas e conseguir terminar a prova. À noite, começamos a enfrentar nossas maiores adversidades. A chuva apertou e tivemos que parar para colocar roupas apropriadas. A "tocada" das motos já não era a mesma do início, mas a missão ainda tinha que ser cumprida.

Tínhamos muita estrada pela frente, mas por sorte a chuva não demorou a passar. Saímos do último posto, em Teresópolis (GO), determinados em completar as 1000 milhas e depois pensar nas 500 milhas restante.

Às 23h, em Goiânia, surge outro problema: nosso amigo Willy parou no acostamento com problemas na moto. Rodolfo, Edinho e Corinthiano pararam com ele. Tentamos de toda forma fazer com que a moto funcionasse, mas depois de várias tentativas ela não dava sinal de que continuaria a viagem.

Willy pediu para que os outros seguissem viagem, já que ali não tinha mais o que fazer, e só perderiam mais tempo (já passava de 1h). Rodolfo não se sentia bem, tinha tontura e até refluxo por causa da ansiedade do desafio e porque estava muito cansado. De forma sensata, resolveu ficar com o Willy, desta forma acabando ali o desafio para os dois.

Porém, isso ainda renderia muita história para contar, já que ali começava uma nova aventura. De alguma forma eles teriam que voltar para suas casas. Rodolfo e Willy foram atrás de algum lugar para descansarem e, no dia seguinte, voltaram ao posto onde a moto se encontrava e foram atrás de mecânicos, que detectaram que a única forma seria abrir o motor. Isso fugia de cogitação — depois de voltar para Salto (SP) achou o problema: a corrente de comando quebrada ao meio.

No outro dia, Rodolfo estava mais disposto e decidiu seguir viagem. E ali ficou Willy sozinho, que depois de conversar com algumas pessoas encontrou um caminhoneiro (Anderson) para voltar a São Paulo. Para ele, era o fim do Iron Butt  em uma boléia de caminhão.

O caminhão levou Willy até Campinas, onde a Cris foi buscá-lo de Pick-up e levá-lo até Salto (SP). Finalmente, na terça-feira às 16h, Willy chegou a salvo em casa. Edinho e Corinthiano seguiram viagem, depois de deixarem Rodolfo e Willy em Goiânia, mantiveram-se na estrada e não pararam para descansar até às 3h da manhã quando foram vencidos pelo cansaço e resolveram fazer uma pausa nos fundos de um posto de abastecimento.

O dia já clareava quando retornaram à estrada. Em seguida um forte barulho na Super Ténéré preocupava, passaram a rodar em velocidade reduzida sabendo que as chances de concluir eram poucas, e em plena BR-153 na divisa entre Goiás e Minas Gerais lamentavelmente Corinthiano e sua Super Ténéré se despediam também do desafio.

E agora, parados na rodovia deserta, o que fazer? Por um “milagre”, surgiu um caminhão, da mesma cidade do Edinho, que se prontificou a levá-los para São Paulo em segurança. A partir daí foi uma corrida contra o tempo para Edinho, que tinha menos de 12h para percorrer 1.000 km ainda restantes.

Uma viagem a 130 km/h com paradas apenas para abastecer. Para ele, nessa hora não havia mais nada pela frente, apenas estradas e o desejo enorme de chegar, já que no desafio do ano passado não conseguira concluir devido ao acidente.

O grupo de Cris, Ulisses e Henrique, com o tempo esgotado e com alguns km ainda a percorrer, decidiu mudar o percurso para rodarem em maior velocidade em boas rodovias já no estado de São Paulo e foram os primeiros participantes a concluírem as 1.500 milhas, faltando apenas oito minutos para o encerramento do prazo.

Nossa amiga Cris é uma forte candidata a ser a primeira mulher a realizar tal desafio (pelo menos até onde pesquisamos). Logo em seguida chegou Edinho, que também conseguiu concluir o desafio.

Os quatro vencedores foram recepcionados pelos amigos e familiares e em meio a uma pequena confraternização sentiram a emoção e orgulho de poder vivenciar essa viagem ao lado de pessoas tão maravilhosas integrantes deste moto grupo.

Com certeza, o Iron Butt foi mais do que uma prova de resistência, foi também uma lição de companheirismo, amizade, superação, fé e força, que jamais iremos esquecer! Além de amigos (alguns dos quais a gente não conhecia, apenas por meio virtual!), somos uma família que pode confiar uns nos outros.

Cada um deu sua contribuição para que o grupo todo voltasse para casa satisfeito: Rodolfo com sua perseverança, Edinho com liderança, Corinthiano com alegria, Ulisses com tranqüilidade, Henrique com seu companheirismo, Cris com garra e coragem e Willy com determinação. Mais importante do que ter concluído é sem dúvida ter tido a coragem de participar.

Este texto foi enviado ao Moto Repórter, canal de jornalismo participativo do MOTO.com.br. Para mandar sua notícia, clique aqui.


Fonte:
Moto Repórter

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